Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 9
Capítulo 9




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CJ e Gil cuidaram de prender todas as cordas do navio enquanto Harry e Harriet conversavam na cabine do Capitão Gancho, que estava ocupado demais, andando de um lado para o outro dando ordens para todo mundo.

— Vocês vão sair? – Harry arqueou a sobrancelha, olhando a movimentação dos marujos.

— À noite. Ordens de baixo.

— Isso não é uma boa ideia. – murmurou. — Sabe que os navios tão proibidos de sair. Vocês podem se dar mal.

— O que espera? – Harriet revirou os olhos âmbar, encostando-se contra o piano do pai, enrolando os cabelos no gancho falso. — Úrsula disse...

— Ao inferno com a Úrsula!

— Harry... – ela arqueou a sobrancelha fina para o irmão em repreensão.

Harriet e Harry eram um pouco parecidos. Tinham mais ou menos a mesma altura e a mesma pele branca e pálida. Harriet era a mais velha dos três filhos do Capitão Gancho. Devido a brigas constantes com o pai, ela roubou um dos navios dele e se mudou para o outro lado da Ilha, agora estava quase sempre ocupada demais com seu próprio navio e sua própria gangue para ter muita atenção para os irmãos mais novos. Harry sempre se surpreendia quando a encontrava na Jolly Roger.

— Vocês têm alguma ideia do que a Malévola queria atacando a loja do Jafar?

— Talvez.

— Harriet...

— Sabe que não posso simplesmente falar. Você é vira casaca agora.

— Okay. – Harry deu de ombros, encostando-se ao lado da irmã. — Então, apenas me diz se eu tô indo pelo caminho certo. Não vai tá me contando nada, só confirmando ou negando.

— Okay.

— Úrsula e Malévola não estão trabalhando juntas.

— Nunca.

— Úrsula queria algo da loja e Malévola tentou destruir pra ela não pegar.

— Sim.

— Vocês sabem o que.

— Nem ideia.

Harry franziu os lábios e coçou o queixo com o gancho, pensando. — Isso não explica o ataque.

Harriet ficou quieta.

— Talvez... A Úrsula quisesse algo que a Malévola não consegue controlar?

— Talvez. – ela concordou.

— Mas o que a Senhora das Trevas não conseguiria controlar? – ele fez careta, confuso.

— Você é muito burro.

***

Após a magia das fadas, a loja de quinquilharias nem ao menos aprecia algum dia ter visto um dia ruim, quem dirá ter sido incendiada.

Harry usou o gancho para forçar cada uma das vinte e quatro fechaduras da porta (ladrões eram os mais paranoicos em relação a ladrões) e entrar na loja, o mais discretamente possível. Gil entrou atrás dele.

— Não seria mais inteligente eu ficar na vigia enquanto você procura?

— Amor, não me leve a mal, mas você não é atento o bastante para ficar de guarda e nem inteligente o bastante para entrar e procurar o que quer estejamos procurando. Então, você vem comigo aonde eu for. – Harry explicou, os olhos atentos as prateleiras da loja.

— Como eu posso não levar isso a mal?

— Sei lá, eu te chamei de amor, já basta. – deu de ombros.

Gil bufou, mas preferiu não se estender nesse assunto, afinal alguém poderia chegar a qualquer momento, então era melhor focar nas estantes e prateleiras, tentando encontrar o que quer que Malévola queria destruir e que Úrsula queria possuir.

Infelizmente, não parecia haver nada de interessante ali. Corpetes, olhos de vidro e sapatinhos de cristal tomavam conta da maior parte das prateleiras, velas candeeiros e cadeiras ocupavam o restante. Colares e pulseiras feitas por Dizzy que Jafar vendia a pedido do filho. Alguns relógios velhos, bolas de cristal e vassouras que não eram mais mágicas, mas que varriam muito bem.

— Alguma coisa?

— Nada.

Gil franziu os lábios e hesitou um instante antes de pular por cima do balcão, derrubando alguns ganchos falsos que estavam ali. Ele não se importou, estava focado na cortina de contas que levava para a sala pessoal de Jafar.

— O que você tá fazendo? – Harry chiou.

— Depois a gente arruma isso. Vem cá. – Gil chamou.

— Achou algo?

Gil deu de ombros. — Vem. – chamou outra vez, passando pela cortina.

— Eu não sei quem é mais burro, você ou eu! – Harry resmungou indo atrás do namorado. — Na verdade eu sei que é você, mas falando assim você não se ofende.

A sala pessoal de Jafar tinha bancos de pedra e almofadas coloridas, cortinas de pedras semipreciosas cobriam janelas com grades e trancas. Havia fotos dos jogos de Jay sobre uma lareira, além de quadros com os troféus e medalhas do garoto. Se não soubesse que a relação do grão-vizir com o filho era mais conturbada do que demonstravam, Harry teria achado fofo.

— Aqui. – Gil apontou para uma estante do outro lado do cômodo, com livros e objetos estranhos que pareciam vibrar e transmitir uma energia própria, fazendo os pelos dos braços de Harry se arrepiarem.

A contragosto, cruzaram a sala.

A estante tinha conchas e pérolas, varinhas mágicas antigas e cajados, cartas de tarô e bonecos vodu, anéis de ouro e livros de feitiço. Gil olhou nervoso para uma maçã incrivelmente vermelha e, apesar da vontade, achou melhor manter as mãos bem longe dela.

— Isso é... – Harry fez careta pegando um caco de vidro espelho. — Não pode ser, né?

Todo mundo da Ilha dos Perdidos sabia que o Espelho Mágico havia quebrado há décadas e que a Rainha tinha apenas um único caco que colocou numa moldura e deu pra filha... E que todos os outros cacos tinham se perdido para sempre, sempre, sempre e... Sempre.

— É maior que o pedaço da Evie. – Gil murmurou, se afastando nervoso.

Harry hesitou antes de puxar um lenço largado sobre o chão e usá-lo para envolver o caco de vidro antes de guardá-lo no bolso.

— Ainda não temos o que a Úrsula poderia querer. Essas conchas são estranhas, mas não parecem nada demais.

— Que tal isso?

Harry olhou surpreso para o pergaminho antigo. — Um mapa da Ilha. Por que ela iria querer isso?

— Como vou saber?

Harry bufou, impaciente. Queria que fosse mais fácil. Algo mais óbvio. Algo que claramente Úrsula iria querer.

— O que Malévola não pode controlar de jeito nenhum? – murmurou para si mesmo, olhando pela sala.

— O mar. – Gil deu de ombros. — Fogo e água não se dão bem.

As engrenagens no cérebro confuso de Harry pareceram se esforçar para girar enquanto analisava novamente aquela estante. Puxou um livro azul e dourado, cerrando os olhos.

— Isso. – sorriu. — Vamos dar o fora daqui.

***

Jay se jogou no sofá da sala do Castelo de Evie.

Observou a noite caindo lá fora e seus amigos, igualmente cansados, jogados em qualquer lugar, tentando se entreter.

Carlos e Dude brincavam com uma bola e conversavam baixo. No outro canto, Evie com uma prancheta na mão, desenhava uma nova coleção. Sentiam falta de Mal ali, mas, a amiga tinha se mudado para o Castelo da Fera. Infelizmente.

Seu celular vibrou no bolso e suspirou abrindo o vídeo de segurança que havia recebido. Franziu a testa e suspirou, respondendo.

Fechou os olhos, cansado, sua cabeça doía.

Não estava acostumado a ter tantas responsabilidades. Cuidar da loja, cuidar do pai, cuidar dos programas de integração, treinar no time de esgrima e de tourney e ainda tentar arranjar tempo para ver os namorados... Sentia que estava para desmontar-se sobre si próprio se isso fizesse sentido.

Daria tudo para uma solução mágica para seus problemas.

Odiava ter sido nomeado um dos conselheiros de segurança da Ilha dos Perdidos. Na época, achou que seria algo que não exigiria muito de si, afinal, Auradon não era um lugar muito agitado.

Agora, queria desesperadamente ter negado.

Desesperadamente.

Um som de carruagem chegou aos ouvidos dos três que suspiraram, deixando suas atividades de lado e levantando-se, tentando parecer sãos e alegres, retomando novamente às tarefas.

Evie e Carlos foram para a cozinha terminar de preparar o jantar.

Jay foi abrir os portões.

Harry e Gil desceram da carruagem.

Jay quis ter conseguido sorrir.

***

Após um jantar saboroso, Harry, Gil e Jay foram para o jardim de Evie.

Gil sorria, puxando frutas dos arbustos e comendo-as, enquanto Harry apenas caminhava de mãos dadas com Jay, ambos observavam o loiro com olhos apaixonados.

— Você tá quieto. – Harry murmurou, preocupado.

Jay soltou sua mão e suspirou, sentando-se sobre a grama, puxou uma frutinha para si. Lembrou-se do ano anterior, quando Mal fugiu para a Ilha e, quando voltou, Carlos forçou todos a sentarem e conversarem. Tinha sido estranho, mas bom...

— Ainda preocupado com seu pai? – Gil questionou, sentando-se ao seu lado. — Ele tá bem?

— Tá sim. Vai ficar uns dias sem abrir a loja a pedido do Ben. Mas, tá ótimo. Precisa mais do que um incêndio qualquer pra perturbar aquele velho.

— Então, qual o problema? – Harry perguntou, tentando parecer-se com um namorado solicito enquanto sentava de frente para os dois.

— O que vocês pegaram na loja?

Os dois trocaram um olhar tenso.

— Do que tá falando? – Harry questionou, antes que Gil desse com a língua nos dentes.

O loiro se esticou para arrancar um ramo cheio de frutinhas, achando muito mais seguro se focar nisso.

— Tem câmeras de segurança lá. – Jay bufou, cruzando os braços. — O alarme é silencioso, envia as gravações para a polícia e para os conselheiros de segurança da Ilha. Tiveram sorte de eu ter visto antes que fossem prender vocês.

— Eu não me lembrava dessas câmeras. – Gil murmurou, de boca cheia.

— Acho que estamos perdendo o jeito. – Harry concordou.

— O que deu em vocês? – Jay bufou. — Qual é? Se queriam roubar a loja do meu pai, podiam pelo menos ter me dito pra eu desligar o alarme! Achei que tínhamos combinado sem tramóias!

— Você tá mais chateado por termos escondido do que por termos roubado o seu pai? – Harry pareceu confuso.

— Sim? E se eu não tivesse visto as gravações a tempo? E se vocês tivessem acabado presos?

— Foi um furtinho de nada! E Auradon não gosta de perdoar?

— Vocês são filhos de vilões e piratas! E como você mesmo gosta de lembrar, piratas servem as bruxas do mar! Acha mesmo que o fato de ter sido "um furtinho de nada" no meio de uma briga com a bruxa do mar mais perigosa do oceano ia impedir que os dois acabassem num calabouço? Sem falar no problema que poderia trazer para todos os filhos de vilões.

— Jay... – Gil tentou.

— Por que não me falaram nada disso?

Harry e Gil compartilharam um olhar, tentando decidir o que dizer. Não que quisessem mentir, mas era muito complicado.

— Tudo seria mais fácil se a gente pudesse resolver isso com um duelo. – Harry resmungou, irritado, tirando o chapéu pirata que usava e ajeitando o cabelo.

Jay revirou os olhos.

— Olha... A gente jura que não quer esconder nada. – Gil garantiu, fazendo bico. — É só que... Ah, e também você não ia poder ir com a gente mesmo.

Rangeu os dentes. — Ok, então, eu não estar tendo tempo é uma justificativa pra vocês esconderem as coisas de mim e fazerem eu me sentir de lado? Bom saber.

— Não foi o que eu quis...

Harry tapou a boca de Gil com a mão. — Em outros tempos, eu te colocaria pra fora agora, você sabe, né?

Gil apenas assentiu, ainda com a boca coberta.

— O que mais vocês dois andam escondendo?

Harry ponderou um instante, soltando o loiro.

— Bom, eu ainda mando no Gil, mas só quando estamos no navio. – respondeu. — E pra constar a ideia foi dele!

Por um instante, Jay se distraiu, ocupando-se em lançar um olhar irritado para o loiro que os observava em silêncio, ainda puxando frutinhas do arbusto e comendo, o rosto vermelho.

— Foi exigência da Uma. Eu achei que você não ia gostar. – se explicou num murmúrio. — Mas eu ia contar! Só... Fui deixando pra contar depois e depois e...

— Vocês dois são tão... – Jay cobriu o rosto com as mãos, tentando conter todo o estresse e a raiva que estava sentindo dos namorados naquele instante.

— Olha só... – Harry bufou, gesticulando com o gancho. — Nós somos vilões, a gente mente, esconde coisas e às vezes a gente rouba, é o que a gente faz! Lide com isso!

Jay respirou fundo. Lembrou-se de que Mal dizia que quando estava muito estressada, contava até dez e resolveu tentar. Sua cabeça doía e o cansaço que sentia não tornava aquela conversa toda mais fácil.

— Eu sei, às vezes quando um príncipe fala algo idiota pra mim, eu tiro o relógio dele e escondo no bolso dele sem que perceba, pra que quando me acuse de roubo, eu possa zombar e até ameaçá-lo de injurio. Não vou julgar vocês fazerem algo parecido! Mas por que vocês querem tanto me excluir?

— Não queremos isso!

— Não é o que parece!

Harry respirou fundo.

Gil pegou mais algumas uvas no arbusto. — Jay?

— Olha... Eu sei que tô sendo ausente, mas vocês me deixarem de fora não ajuda.

— Não queremos deixar você de fora. – Gil garantiu, oferecendo as uvas para o namorado que pegou uma fazendo careta. — É que toda a coisa das bruxas do mar e piratas... É complicado. Não podemos contar tudo que queremos.

— Poderiam contar alguma coisa?

Harry e Gil se entreolharam. Gil deu de ombros, como se passasse a fala pra ele, não confiando em suas capacidades de não falar de mais e se contentando em segurar uma das mãos de Jay.

— Olha... A gente não teria se envolvido nessa história se não fosse por você, ok? – Harry admitiu, fazendo careta. — A gente... Não pode falar tudo, então tenta raciocinar, tá?

— Tá.

— Pensamos que talvez... – Harry cerrou os olhos, girando o gancho na mão, tentando escolher as palavras que usaria. — Talvez, vocês estejam seguindo a linha errada de raciocínio quanto a Malévola e Úrsula.

— Certo...

— E resolvemos ir ver se encontrávamos algo na loja do seu pai que explicasse o ataque.

— E acharam? – o olhar de Jay era cansado, delatando o quanto só queria acabar aquela conversa logo e se deitar.

— Não temos certeza. – Harry deu de ombros. — Pegamos umas coisas lá, mas não dá pra ter certeza. Agora... A gente não quer te excluir. A única razão pra termos nos metido nessa, é porque a Malévola atacou a loja do seu pai e algo podia ter te acontecido. E se ela tivesse atacado enquanto você estava lá? E se algo tivesse te acontecido?

— Harry...

— A gente te ama, ok? – Gil sorriu, deitando o rosto no ombro de Jay por um momento. — Desculpa se te fizemos sentir de lado.

— É, desculpa. – Harry concordou. — Olha, vamos falar com a Uma. De forma geral, como piratas devemos lealdade a todas as bruxas do mar, mas, como fizemos nossos votos pra ela, ela pode nos dar permissão de falar um pouco mais.

— Por que não fizeram isso antes?

— Porque com a gente é mais complicado. – Gil deu de ombros. — A Úrsula é a matrona da família do Harry e... Bom, eu cresci indo no restaurante dela. Mesmo se a Uma nos deixar falar... Se falarmos, a Úrsula pode fazer algo com as nossas famílias.

— É. – Harry fez careta. — Pirataria é um negócio complicado de família. Só não queremos encrenca pros nossos pais ou irmãos.

Jay concordou.

— Não queríamos nos envolver nessa briga por isso. – Gil suspirou.

— Mas, não tínhamos muitas outras opções. Não com o que aconteceu.

— Entendi. Mas... Da próxima, pelo menos me falem, ok?

— Ok.

— Tá.

— Você precisa de descanso. – Gil comentou, passando para trás de Jay e puxando-o para que ele deitasse o rosto contra seu peito e o abraço. Jay sorriu, se ajeitando, a cabeça encostando contra o ombro de Gil. — Tá muito estressado.

— É muita coisa acontecendo, não gosto disso.

— Não pode pedir pra alguém te substituir nos programas de integração por um tempo? – Harry perguntou, apertando a mão de Jay e usando o gancho para fazer carinho no cabelo dele. — Talvez algum dos piratas da Uma.

— Ou a Lonnie. – Gil sugeriu, apertando mais os braços em volta do namorado.

Jay não disse nada, se permitindo um instante de paz, deliciando-se nos braços de um namorado e aproveitando o carinho do outro.

— Vocês podiam dormir aqui essa noite. – murmurou. — Já estão aqui mesmo. E tem espaço no meu quarto.

— Claro.

— Bom... Por que não?


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