Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 7
Capítulo 7




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Jay poderia matar a avó de Audrey.

Não precisava ser nada demais, se conseguisse fazê-la tropeçar no momento errado... Numa escada... A gravidade e a idade dela fariam o resto, né?

Só um tropeço...

Respirou fundo.

Não.

Observou os conselheiros reais das províncias deixarem o cômodo e forçou um sorriso.

Audrey tomou outro copo de água, o abalo pelas provocações da avó fazia seus olhos relampejar e sua expressão era um misto de fúria e dor. Podiam dizer o que quisessem sobre Jafar, mas pelo menos ele nunca colocou a culpa da existência da Ilha dos Perdidos no filho, ao contrário daquela velha que parecia achar que a culpa de Malévola estar solta por aí e tudo que passaram nos últimos meses eram da neta.

Claro, porque não era óbvio que ter uma filha de vilã como rainha eventualmente levaria a algo como a barreira sendo quebrada?

Os últimos meses tinham sido um cansaço sem fim, virar um membro do Conselho Real de Auradon não estava nos planos de Jay, se o perguntassem, diria que Evie era a que tinha mais jeito com política. Claro que Mal também a havia oferecido um cargo, e um para Carlos também, óbvio. Todos os três aceitaram. Com a barreira quebrada, descobriram que as coisas eram um tanto complicadas...

Vilões querendo vingança e jovens vilões que não estavam a fim de vir para o lado do bem, ameaças aos conselheiros, tentativas de assassinato contra Ben...  E todo o Conselho colocando a culpa dos ataques que sofreram no começo em uma pessoa: Mal. E de repente, ela precisava de aliados no Conselho. Quem melhor que sua antiga gangue? Ela chamou Audrey também. Evie disse que era uma decisão que fazia sentido. Como sendo os primeiros a chegar em Auradon, tinham credibilidade no que se dizia respeito aos jovens vilões e a Ilha. E Audrey era de uma família importante em Auradon. Aliados perfeitos, ninguém podia nem mesmo questionar a escolha olhando assim.

Evie atravessou a sala de reuniões e puxou um candelabro de parede, revelando a passagem secreta.

Agora que a verdadeira reunião começava.

Os reis e rainhas de Auradon estavam mais receptivos, ele concordava com isso. Mas, não foram tão receptivos assim a ideia de mais filhos de vilões no conselho real. Na verdade, Jay estava se acostumando com indiretas bem desagradáveis sobre ser um jovem vilão regenerado.

Bom... Pensava com frequência, pelo menos meu pai tinha bons motivos para falar mal dos outros. O sultão era um idiota, a Jasmine uma arrogante e o Aladdin... Bom, ele era um ladrão!

Respirou fundo, afastando esses pensamentos enquanto cruzava a passagem secreta até a sala íntima de reuniões, onde, junto de Ben, Mal, Carlos, Evie e Audrey, tentavam teorizar e trocavam informações que não confiavam em passar para os demais reis e rainhas já que... Bom, ninguém sabia realmente como a Malévola havia escapado.

A sala intima era de pedras expostas, numa cor cinza, com uma parede vermelha de veludo e uma lareira aconchegante. Uma mesa circular dourada ficava no centro da sala, rodeada por vários pufes, poltronas e almofadas. Tapetes coloridos e flores enfeitavam o local.

Jogou-se numa das poltronas, cansado e Audrey suspirou, sentando-se no braço da poltrona que ele havia escolhido. Ela também parecia cansada após uma reunião inteira ouvindo a vó soltar indiretas como toda a situação com a Malévola era culpa dela.

— Ok, então... – Ben começou, sentado numa cadeira ao lado da poltrona roxa de Mal. — Vamos rever o que temos... Úrsula está atacando o reino do mar e Malévola...

— Incêndios ocasionais, ninguém parece saber o que nenhuma das duas quer realmente. Tudo que elas fazem parece aleatório. – Carlos completou, mexendo em seu laptop, provavelmente avaliando as noticias sobre os ataques.

— Não temos nenhuma ideia mesmo de como ela voltou à forma humana? Isso ajudaria muito a termos ao menos uma pista. – Evie murmurou.

— No máximo sabemos que o corvo dela foi quem a tirou do aquário. – Mal suspirou cruzando os braços, um beicinho irritado no rosto. — Nunca gostei do Diablo.

— E podemos supor que alguém pegou o cetro dela no museu e usou pra ela voltar a ser humana. – Audrey continuou, mexendo nas mechas rosas do cabelo. — E não fui eu! Embora alguns duvidem...

— Relaxa, a gente sabe que não foi você. – Jay riu, colocando a mão no ombro dela. — Você é uma vilã da nova geração agora, Audrey. E nenhum vilão da nova geração é doido o bastante pra soltar aquela chifruda.

Audrey sorriu de canto, ajeitando a jaqueta de couro rosa com botões de caveira feitos de madrepérola por cima do vestido rosa pastel e se levantando, começou a andar de um lado pro outro pelo cômodo.

— Quando eu peguei o cetro... Foi como se tivesse uma voz na minha cabeça, me chamando, me dizendo pra pegá-lo e quando peguei... Aquela voz ainda estava ali, mas tudo parecia tão... Irreal.

— Malévola? – Carlos chutou.

Mal negou com a cabeça. — Não. O cetro da minha mãe controla todas as forças do inferno. Foi à voz deles que ela ouviu.

— Ficava dizendo “faça isso, vai ser mais fácil encontrá-la depois que todos estiverem destruídos.” Talvez o cetro quisesse que eu soltasse a Malévola.

— É possível. – Evie concordou.

— Mas, eu fui atraída por ele porque estava com raiva. – Audrey continuou, olhando para o chão enquanto falava, as bochechas coradas. — Foram meus sentimentos negativos que atraíram a atenção dele.

— E a magia os intensificou. – Jay suspirou. — Então... E se procurarmos por desaparecidos? Malévola com certeza destruiu quem quer que a tenha libertado, ou no mínimo está fazendo de capanga.

— Se fizermos uma lista de pessoas que tinham motivos para se ressentir do Ben e da Mal, ou se ressentir da barreira ser quebrada... – Evie pensou em voz alta.

— E cruzarmos com os nomes dos desaparecidos... – Carlos continuou

— Podemos chegar a uma pista.

— Mas, tem uma coisa que ainda não sabemos. – Ben suspirou. — Claro que descobrir quem a soltou é importante, mas isso não vai nos deixar mais perto de saber onde está agora e de prendê-la novamente... E o mais importante... Ela e a Úrsula estão trabalhando juntas? Como vamos saber?

— Elas se odeiam. – Jay deu de ombros.

— Mas, não seria impossível. – Mal suspirou, levando a mão a testa, como se estivesse com dor de cabeça. — Eu e a Uma nos unimos afinal. Temos que analisar essa possibilidade.

— E de novo... – Audrey voltou a sentar no braço da poltrona de Jay, começando a mexer no colar de concha que estava usando, Evie dizia que contrastava de forma péssima contra o vestido rosa e o colar de pássaro azul, mas Audrey não parecia se incomodar. — Fomos de nada para lugar nenhum.

***

Jay desceu de sua nova moto, parando em frente à Auradon Prep e conteve um bocejo. Odiava reuniões de segurança. De verdade.

“Tudo bem”, pensou, dando um sorriso. Agora iria ter um bom momento.

Desligou o celular para garantir que não receberia mensagens urgentes pedindo que fosse a algum centro de recreação ou algo do tipo e entrou no colégio, subindo as escadas para os dormitórios masculinos e ajeitando os cabelos num coque.

Ainda tinha permissão para entrar na escola mesmo já tendo se formado há quase um ano. Claro, com tantos jovens vilões na escola agora, esperavam que os quatro primeiros os supervisionassem. Então ia, pedia relatórios aos professores, conversava com os VK’s recém-chegados e arranjava uma desculpa para ver Harry e tempo para beijar Gil. Bom... Se bem que agora teria que arranjar tempo para beijar os dois, percebeu com um sorriso de lado.

Mas, nos fins de semana, com todos os alunos saindo para visitar os pais e tal, ele podia simplesmente entrar, sem ter que arranjar desculpas ou driblar o próprio tempo.

Bateu na porta do quarto dos namorados e ouviu a voz abafada de Gil dizendo que poderia entrar.

Encontrou os dois deitados nas camas, grudadas, Gil parecia estar tentando ler um livro e Harry ria enquanto o atrapalhava, cobrindo o livro com uma das mãos ou virando as páginas com o gancho antes que ele terminasse.

— Oi. – cumprimentou, sorridente, sentando-se na beira da cama e observando os dois.

— Oi! – Gil abriu o sorriso, colocando o livro de lado e indo para perto de Jay, passou os braços em volta de seus ombros e o beijou o namorado, brincando com os cabelos dele por um instante.

Harry os observou, mexendo o gancho sem jeito. A sensação de desconforto que normalmente vinha quando via os dois juntos, aos beijos, não veio. Não tinha motivo para vir dessa vez, ambos eram dele. Mas, veio um desconforto diferente. Uma sensação de não saber ao certo o que fazer? Não estava acostumado com isso. Na Ilha dos Perdidos era fácil, roubar dinheiro, empurrar bancas, roubar a loja do pai do Jay, beijar o Jay, fugir do Jay. Fácil.

Mas, Auradon era estranha então, tudo parecia mais complicado para ele.

— Eu não ganho um beijo, Gancho? – Jay mexeu a sobrancelha com seu típico sorriso de escárnio que parecia fazer todos derreterem por ele. Às vezes Harry odiava estar incluído nesse “todos.”

— Não acho que você mereça. – respondeu com a arrogância típica dos piratas. Aquela que ladrões como Jay sempre falhavam miseravelmente em tentar imitar.

O filho de Jafar guardou para si uma risada enquanto revirava os olhos e se debruçava sobre Harry, as mãos sobre seu peito enquanto deixava um beijo sobre seus lábios.

— Eu não preciso merecer. – murmurou antes de morder levemente o lábio inferior de Harry e se afastar. — Então, cê tá pronto?

— Aonde vocês vão mesmo? – Gil questionou, pegando seu livro novamente. Ele o estava lendo há meses. Até onde Jay sabia, foi o primeiro livro que ele pegou quando chegou em Auradon. “Meu pai disse que livros fazem mal” havia dito quando Jay o levou a Biblioteca Real da rainha Bela, que por acaso estava ali, ouviu e logo começou a puxá-lo por toda a biblioteca indicando vários livros e resmungando sobre como Gaston era um idiota.

De qualquer forma, Gil lia muito devagar. Mas, sempre mandava mensagens para rainha Bela, atualizando-a sobre em qual parte do livro estava e o que estava achando da leitura, animado. De que importava o ritmo da leitura se ele estava gostando tanto?

— Uma praia deserta numa estrada desativada. - Jay deu de ombros. — Vou tentar ensinar o Harry a andar de moto, já que ele parece tão entusiasmado para roubar a minha de novo.

Harry riu pra si mesmo, mexendo nas pulseiras de couro que usava. Seria mentira dizer que não estava planejando roubar a moto do namorado. “Pode-se dizer que a linguagem de amor dos vilões é roubar” dizia para si mesmo sempre que se questionava se era uma boa ideia ou não.

— Tem certeza que não quer vir? – questionou para Gil, ajeitando uma mecha de cabelo que havia escapado do coque. — Podemos chamar um carro invés de ir de moto se você quiser...

— Não, não. – Gil riu. — Vou ficar bem aqui. Podem ir, eu tô legal!

— Tem certeza?

Ele apenas assentiu, tentando se focar no livro, mas tanto Jay quanto Harry sabiam que mesmo em absoluto silêncio, Gil encontraria algo para distraí-lo das páginas.

***

— Ok, primeiro, você precisa soltar isso. – Jay decidiu, descendo da moto assim que chegaram à estrada fechada. Ele não se incomodou em ter que passar pela placa:

A estrada tinha sido bloqueada por algum ataque qualquer pouco relevante da Madame Min uns tempos atrás, e outra tinha sido construída. Muito embora a bloqueada tivesse sido restaurada, ninguém voltou a usá-la por alguma razão.

Fobia de bruxas era algo muito comum em Auradon.

— Soltar o que? – Harry questionou, fazendo beicinho, os olhos não escondiam que ele sabia exatamente do que Jay estava falando e não gostava.

— Não se faça de desentendido. O gancho, Harry. Você não pode pilotar segurando um gancho.

— Vamos ver!

— Harry, não. – desligou a moto e tirou o capacete, olhando-o seriamente. — Você não vai quebrar outra moto minha! – e com essa declaração, arrancou o gancho de Harry Gancho.

— Me devolva!

— Depois. – Jay sorriu, guardando o gancho num dos bolsos de seu colete marrom e azul. — Agora, você só precisa acionar a embreagem, empurrar o pedal e soltar a embreagem.

— Como é o que é? – Harry mal tinha dado atenção, os olhos focados no bolso onde Jay havia guardado seu gancho.

— Faz o que você fez quando roubou minha outra moto, mas não acelera muito e aí eu te ensino a... Sabe? Parar!

— Ah... Tá. – fez careta.

— Ok, agora vai devagar... Devagar... Harry, eu disse... Ai! – cobriu o rosto, sem coragem nem de olhar. — Ai, Malévola, minha moto nova!

— Boa notícia! Eu acho que aprendi a frear!

— E a má noticia? – perguntou, com medo.

— Eu não tenho certeza!

Jay respirou fundo e contou até dez mentalmente antes de finalmente erguer o rosto.

Sua moto estava inteira.

Seu namorado também.

De alguma forma, enquanto freava, Harry conseguiu perder uma bota, mas ela estava no meio da estrada e aparentemente estava inteira, então tudo bem.

Respirou fundo, tentando recompor sua pose de cara despreocupado de sempre. Era bem despreocupado normalmente, antigamente ele era bem despreocupado. Mas, sua moto era uma coisa diferente. Claro, as reuniões e o estresse da vida de jovem adulto também estavam perturbando sua usual calmaria, mas a moto... Era um assunto delicado. Ainda estava pagando por ela.

— Ok, Gancho, vamos tentar de novo, dessa vez sem me matar do coração. - murmurou chutando a bota de couro para Harry.

— Mas, essa é a parte mais divertida. – fez bico.

Por um momento, Jay considerou empurrá-lo da moto, mas depois percebeu que não valia à pena. Encontraria uma forma melhor de revidar as provocações depois.

***

Enquanto o sol se punha, os dois encostaram a moto e se deitaram na areia, lado a lado.

Harry percebeu como as praias de Auradon eram diferentes das praias da Ilha dos Perdidos. A areia era morna e não gelada. O mar azul convidava a um mergulho, não era um mar sombrio cheio de segredos que parecia mais uma ameaça. Ah, e também não parecia haver motivo para temer por mordidas de crocodilos.

Era novo e nostálgico ao mesmo tempo.

— Entendi. – afirmou de repente, sentindo a mão de Jay encostar levemente na sua, numa caricia discreta típica das crianças vilãs numa ilha de vilões que ensinam que demonstrações de carinho eram o mesmo que fraqueza.

— O que?

— Porque viemos pra cá. – sorriu de lado virando-se para ele. — É o que fazíamos na Ilha. Depois de passar ouvir nossos pais falarem sobre o quanto só os decepcionávamos, íamos para praia e deitávamos pensando sobre como decepcioná-los de novo.

Jay deu um meio sorriso e encolheu os ombros, sem tirar os olhos do céu tingido de dourado, rosa e roxo.

“Se é os velhos tempos o que ele quer...” Harry pensou, sorrindo de lado, apoiando as mãos no peito de Jay e inclinando-se como se fosse beijá-lo, “são os velhos tempos que terá.”

Afastou-se antes do beijo e sentou-se na areia. Jay o olhou confuso e deu risada vendo Harry exibir o colar que havia tirado de seu pescoço, balançando-o na mão. Jogou-se sobre ele, mordendo os lábios para não rir mais.

Uma pulseira roubada.

Um anel.

Um colar.

Uma touca.

Rolavam sobre a areia, um prensando o outro sobre o chão repetidamente, olhares sorridentes e lábios retorcidos em caretas enquanto tentavam falhamente conter risos baixos e apaixonados, roubando um do outro repetidamente como uma brincadeira.

E quando Jay roubou seu gancho, Harry se viu rindo, deitado sobre a areia, o lápis de olho escorrendo um pouco sobre seus olhos, Jay o prensando ali, com aqueles olhos castanhos sedutores e lábios de beijos que eram tão perfeitos quanto sapatinhos de cristal e baús de tesouros.

Harry passou os braços por seu pescoço, puxando o cabelo preso do namorado que apertava seu quadril, cruzou os pés em torno da cintura de Jay e sorriu durante um beijo demorado, sentindo o rapaz segurá-lo mais perto, ajoelhando-se sobre a areia sem soltá-lo, prendendo-o em seu colo enquanto o dia acabava de escurecer.

Afastou-se um pouco e sorriu com lábios entreabertos e coração acelerado enquanto Jay escorregava o dedo sobre o osso de sua bochecha, descendo os lábios para seu pescoço. Corações acelerados e peles aquecidas pelo sol.

Harry cerrou os olhos para o horizonte longe, desconfiado. Aquilo não parecia uma onda, pensou. Sentia os beijos de Jay sobre seu pescoço, mas já não conseguia aproveitá-los, os olhos nas ondas, tentando avistar novamente o que pensava ter visto...

Definitivamente aquilo era um tentáculo.

— Vamos dar o fora daqui. – falou em tom de ordem empurrando Jay e se levantou, bateu a areia dos joelhos, o coração disparado já não por excitação e euforia e sim por ansiedade e temor.

— O que foi? – Jay questionou confuso, olhando em volta tentando entender o que havia atraído o olhar perturbado de Harry.

Talvez um crocodilo? Os Gancho tinham sérios problemas com crocodilos. Mas, não parecia haver nenhum ali...

— Agora! – insistiu, catando o gancho novamente e puxando Jay pela mão, arrastando-o para fora da praia.

Dois ex-vilões sem magia contra uma bruxa do mar gigante? Ele não apostaria suas chances nesse confronto nem se fosse tão louco quanto o pai. De forma alguma, pensou.

***

— Já voltaram? – Gil questionou, ainda deitado na cama com o livro, muito embora não parecesse ter feito grande avanço na leitura. Talvez dez ou quinze páginas num dia inteiro de leitura? Não parecia muito, mas para ele era um recorde! — Vão parar de tentar se matar agora?

Harry abriu seu melhor sorriso pirado, observando Gil colocar o livro de lado e arqueou a sobrancelha para o loiro, se jogando ao lado dele na cama, tão folgado quanto o gato de Cheshire.

— Ah, claro que não Gil.  – fez bico enquanto falava, passando as unhas pintadas de preto pelo rosto do namorado. — Ameaças são a forma que Jay e eu declaramos nossos sentimentos!

— Há-há. – Jay rolou os olhos se aproximando da cama e dando um beijo em Gil.

Harry aproveitou do momento para arrancar a touca de Jay e pular para o outro lado da cama, rindo. — O Jay é o capanga!

Gil deu um pulo, empurrando Jay e erguendo as mãos para pegar a touca que Harry rapidamente jogou para ele.

— Cês tão falando sério? – Jay arqueou a sobrancelha, olhando, incrédulo, os sorrisos travessos dos dois e tentando não bufar ao perceber que sim, eles falavam sério.

Gil jogou a touca de volta para Harry que não se importava em ter de pular na cama para desviar-se das mãos ágeis de Jay e jogar novamente a peça para Gil, que por sua vez, pulava sobre e da cama sempre que necessário, rindo enquanto fugia pelo quarto, esbarrando no guarda-roupa e nas estantes de livros, cadernos e videogames, aguardando a oportunidade de jogar novamente para Harry.

Jay meio ria e meio fazia careta, indo de um lado para o outro do quarto, tentando tirar a touca da mão de seus namorados. Se isso que namorar dois piratas saqueadores era, ele poderia se acostumar, pensou. Podia não ter o mesmo charme de dançar a luz de velas uma música cantada por um bule de chá encantado ou que voar num tapete mágico ou mesmo voar com pó de fada, mas era divertido!

Harry observou Gil tropeçar quando Jay puxou a touca de sua mão e os dois caírem no chão. Sentou-se na cama, rindo junto a eles e mordeu os lábios analisando como se ajudavam a levantar, Jay segurava as mãos de Gil enquanto perguntava se havia se machucado, olhar preocupado e cuidadoso que apenas ladrões apaixonados tinham.

— Não, eu tô bem.

— Tem certeza?

— Eu tô bem, sério. – Gil riu, as bochechas coradas. — Você se machucou?

Jay bufou, parecendo quase ofendido com a pergunta. Estava acostumado a ter vendedores jogando tomates nele ao notar que estava roubando. Uma quedinha daquelas não era nada.

Gancho ainda mordia os lábios, observando a forma como se olhavam e se encostavam. Cuidadosos. Cuidadosos demais. Jay e Gil pareciam tão carinhosos e protetores um com o outro... Sorriu para si mesmo. Era bonito, pensou, mas não consigo imaginar Jay sendo assim tão carinhoso comigo. E tudo bem. Tinha a sensação de que se algum dia se machucasse, Jay esconderia qualquer sinal de preocupação com provocações sobre Harry estar “enferrujando e ficando descuidado.” Combinava mais com eles. Conseguia imaginar claramente a voz dele “tem certeza que não está precisando de uma perna de pau, Gancho?” com olhos cerrados e lábios comprimidos escondendo a preocupação.

Era engraçado como agiam de formas tão diferentes entre si. Funcionavam de formas diferentes, dinâmicas diferentes e nenhuma era melhor que a outra. Pessoas diferentes com histórias e personalidades diferentes entre si... Precisavam de dinâmicas diferentes. Gostava disso.

Seu coração gelado e ensandecido como um oceano revolto aquecia vendo o carinho dos dois e a forma como Jay segurava o rosto de Gil entre as mãos, com uma suavidade tão extrema que mal se podia acreditar que vivera a maior parte da vida cercado por brutalidade e crueldade, antes de dar-lhe um beijinho e pegar sua touca novamente.

Gil ainda sorria e ria baixinho enquanto se sentava ao lado de Harry na cama, segurando no gancho do garoto. — Então como foi o dia?

— Bom, eu não usei meu gancho nele, então eu diria que foi muito produtivo. – brincou, sorrindo. — Talvez eu esteja finalmente sendo influenciado por Auradon. Ou por você. Porque você é um coração mole, dá ate enjoo olhar pra sua cara.

Gil riu mais alto e balançou a cabeça, abaixando os olhos.

Jay sorriu, sentando-se no chão próximo a eles e soltando o cabelo, apenas para prender novamente e colocar a touca. Quando ergueu os olhos, viu que seus namorados estavam se beijando, de forma ansiosa e ávida. As mãos de Gil passavam pelos músculos dos braços de Harry e Jay engoliu em seco vendo-o usar o gancho para rasgar a camisa do loiro.

— Cês não acham melhor guardar esse gancho antes que alguém acabe se furando? – questionou, legitimamente preocupado.

Ambos piratas o olharam com testas franzidas, confusos.

— Por quê?

— Eu gosto do gancho. – Gil afirmou ainda confuso.

Jay cerrou os lábios e desviou o olhar. — É só que parece um tanto afiado, só isso.

Harry e Gil se entreolharam um instante e Harry bufou se levantando para guardar o gancho na caixa, resmungando qualquer coisa sobre como ladrõezinhos de ruas eram molengas e medrosos.

Gil cerrou os lábios e apoiou uma das pernas no ombro de Jay, usando-a para puxar o garoto para mais perto. Um som surpreso escapou por entre seus lábios, antecedendo um meio sorriso malicioso.

Harry puxou novamente a touca de Jay e jogou-a de lado, agachando-se atrás do namorado, as mãos passando pelos cabelos presos e ombros dele.

Isso que era uma folga, Jay pensou.


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Notas finais do capítulo

O Cetro da Malévola atrair a Audrey é uma informação canon. No livro de Descendentes 3 é dito que o cetro ficava por trás das cortinas porque atraía os visitantes do museu e tentava convencê-los a fazer o mal, no clipe de Queen of Mean (no clipe do youtube, não no filme) é possivel ouvir uma voz chamando pela Audrey.



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