Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 6
Capítulo 6




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Gil passou o resto do dia se escondendo de Harry. Mas, com o cair da noite, não teve escolha a não ser voltar para o dormitório, onde o colega/namorado, o esperava pacientemente, sentado na própria cama, o relógio de bolso balançando de um lado para o outro.

— Fugindo de mim?

Gil não respondeu, tirando as botas e fechando a porta do quarto, a fim de colocar um pijama e se jogar na cama. Achava que nada podia ser tão cansativo quando a rotina de treinamento do pai, as corridas de fuga da Ilha e os dias limpando peixe. Mas, seu cérebro parecia querer explodir tendo que se esforçar tanto para entender todas aquelas matérias que estudavam em Auradon. História, geografia, matemática...

Em Dragon Hall só estudavam como serem mais malvados do que os pais, com aulas de Enriquecimento onde aprendiam a roubar, Introdução ao Egoísmo com Mamãe Gothel  para aprenderem a ser o mais narcisistas possível, Planos Malignos com Madame Tremaine para aprender a planejar melhor e acertar onde os pais haviam falhado. Até onde Gil sabia, no Preparatório Serpentes, onde Harry e Uma estudavam, não era diferente. Dragon Hall se dedicava ao estudo do mal e Serpent Prep à educação de desgraçados. Era estranho e cansativo estudar outras coisas, de fato não sabia que havia tanto para se estudar.

— Se arrependeu? – Harry questionou, após instantes de silêncio sem tirar os olhos do relógio.

— De que? – perguntou, confuso, tirando a calça e jogando o colete de lado, dizendo a si mesmo que apenas iria deitar um pouco antes de colocar  as peças de roupa no lugar, tentando se convencer a não deixá-las jogadas pelo chão.

Bagunça era coisa da Ilha dos Perdidos.

— De ter me pedido para namorar vocês.

Gil levou um susto e soltou o pijama, sem se importar em se vestir novamente, indo sentar logo ao lado de Harry.

— Não, nunca! – garantiu, puxando o rosto do Gancho e olhando para aqueles olhos azuis tão cristalinos.

Harry cerrou os olhos, analisando, tentando detectar qualquer sinal de mentira.

Não que duvidasse de que Gil gostasse dele, sabia que isso era verdade. E apesar de desconfiar um pouco dos sentimentos de Jay, no fundo sabia que o garoto também estava falando a verdade, mas...  Era tão complicado.

Depois de uma vida inteira aprendendo sobre como amar era bobagem e que vilões não deviam amar nada além de seus planos malignos, abraçar a ideia de que não era ruim gostar de alguém e tampouco que não era errado ter esse sentimento correspondido... Não era exatamente uma tarefa fácil.

— Uma não deu permissão? – questionou, passando para a próxima suspeita, convencido de que Gil realmente não havia se arrependido.

— Não, ela foi de boa com isso.

— Então...

Gil hesitou, balançando os pés e suspirou, se deitando na cama de Harry e olhando o teto, ajeitando a cueca samba-canção laranja, que no momento era a única peça de roupa sobre seu corpo.

— Gil?

— Ela só quer ter certeza que isso não vai afetar nada. – murmurou sem jeito, cruzando os braços. — A dinâmica do navio tem que permanecer a mesma entre a gente.

— Não parece grande coisa.

— Mas, a gente concordou que não ia ser assim! – Gil bufou, cruzando os braços, irritado. — Combinamos que ia ser uma coisa mais de igual e que você não ia me por pra fora e que ia me ouvir. Não dá pra manter esse combinado e a dinâmica do navio!

Harry hesitou antes de deitar-se ao lado do namorado.

Namorado.

Conteve um sorriso. Iria demorar a se acostumar com isso.

— Te incomoda? – perguntou, baixinho, o nariz roçando na bochecha rosada do loiro.

— Na Ilha não incomodava. - Gil murmurou. — Aqui é diferente. Aqui eu gosto diferente.

Harry concordou, colocando uma perna sobre a perna de Gil.

— Bom... Ela disse que não pode afetar como nos comportamos no navio, certo?

— É.

— Mas, não estamos no navio agora.

Gil o olhou assustado.

Harry sorriu.

— Vamos manter essa coisa toda de marujo e imediato só lá dentro, pode ser?

— Pode. – Gil sorriu de volta, apoiando o rosto numa das mãos, o cotovelo contra a cama enquanto deitava-se de lado, mais perto de Harry agora. — Jay não vai gostar, mas por mim tudo bem.

Olhares trocados deixando claro que Jay não precisava saber. Gil fez careta. Era fácil demais escorregar e voltar ao antigo padrão da Ilha dos Perdidos, percebeu. Fácil demais.

Depois. Deixar para contar depois não era mentir, era? Tinha quase certeza que não.

Harry puxou a mão livre de Gil para seu rosto num impulso, pedindo por um carinho que há muito não recebia, um carinho que nunca admitiria desejar antes.

— Ele disse que viria essa noite. – murmurou hesitante.

— Ele diz isso às vezes. Mas, normalmente não consegue. - Gil encolheu os ombros. — Mas, me mandou mensagem. Disse para te mandar beijos.

Harry rangeu os dentes, a alegria e a raiva disputando espaço no seu peito. — Diga a ele que tem meu número e que pode perfeitamente me mandar esses beijos por mensagem sem você para intermediar.

Gil deu risada. — Não seja assim. Ele sabe que você sempre esquece seu celular por aí.

— Mesmo assim...

— Você se incomoda muito com Jay. – Gil fez careta. — Vocês têm história demais. Achei que iam resolver isso enquanto eu falava com a Uma.

— Resolvemos, eu só... – Harry hesitou, pensando em como articular o que queria dizer. — Eu só... Sei lá. Vocês namoram tem meses, eu entendo que ele se importe mais com você, só... Não quero me sentir em segundo.

— Ele se importa com você também, não tem um segundo lugar e nem um primeiro... Ele só age diferente com você porque sabe que você funciona de um jeito diferente de mim. Vocês dois só precisam de um tempo para se conhecerem desse jeito de novo.

— Vai ser difícil já que ele nunca tem tempo.

— Deviam sair juntos algum dia. – murmurou. — Sair sozinhos.

— Tem certeza que não prefere sair com nós dois já que ele tá sempre ocupado? Tenho certeza que gosta de aproveitar para sair com ele quando ele tem tempo.

— Eu gosto. Mas, vai ser mais legal sair com vocês dois quando não estiverem tentando se matar.

— Isso nunca vai rolar.

— Harry...

Harry sorriu de lado. Gostava de como Gil pronunciava seu nome baixinho, com voz de sono. Gostava de não ter que esconder o quanto gostava quando pronunciava seu nome daquela forma.

— Olha, vamos tentar ficar de boa. É só que precisamos de tempo pra isso, só isso.

— Saiam sozinhos quando der.

—... Se você insiste. – concordou, encostando a testa contra a dele, o gancho fazendo carinho na cintura do loiro. — Sabe o que devíamos fazer?

— O que? – Gil murmurou, fechando os olhos. Achava engraçado como Harry conseguia ser carinhoso quando queria.

— Redecorar. – sorriu se levantando.

— Como é? – abriu os olhos, confuso.

— Vem, me ajuda! – Harry riu, animado, tirando a mesinha de cabeceira entre suas camas do caminho. — O que? Vai me dizer que não herdou nada de útil do seu pai? Só a aparência e a burrica? Use seus músculos!

— Eu não gosto quando você fala assim. - Gil bufou se levantando. — Eu sou mais inteligente do que meu pai.

Harry estava para bufar e argumentar que Gil não era assim tão mais inteligente do que Gaston, mas mudou de ideia, observando melhor a situação. Não era normal ver Gil dizer que não gostava de algo, ainda mais daquela forma tão séria e confiante.

Pensou no que Jay tinha dito, sobre não se irritar sempre que Gil dissesse algo que não o agradasse e se lembrou de respirar fundo. Lugares diferentes, comportamentos diferentes, disse a si mesmo.

— Ok. Só me ajuda aqui.

Gil sorriu, parecendo contente com a resposta e tratou de ajudar.

Juntaram as camas e encostaram a mesa de cabeceira contra uma parede qualquer. Harry tirou a jaqueta e as calças, mantendo apenas a camisa branca velha, a cueca e as meias. Guardou o gancho na caixa de veludo.

Apagaram as luzes e se deitaram na cama, abraçados, a coberta sobre os corpos, os lábios procurando um ao outro.

Harry deslizou os lábios pelo ombro desnudo de Gil, as pernas entrelaçadas e as mãos apertando os músculos dos braços do loiro que o puxava para mais perto pela cintura. Os lábios alcançaram seu pescoço. Depois o rosto, então finalmente se encontraram num beijo doce e gentil, saudoso, muito mais lento do que aquele que trocaram em meio a uma comemoração apressada.


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