Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 25
Capítulo 25




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Aziz entrou no quarto, tirando a jaqueta e arregalou os olhos.

— O que você está fazendo? - gritou.

Sammy deu um pulo de susto, caindo na cama de Aziz, as latas de grafite escorregando das mãos.

— Eu... Eu só... – gaguejou, se levantando, afastando os cabelos escuros dos olhos enquanto voltava a colocar o chapéu.

Aziz o empurrou para fora de seu caminho, para que pudesse observar o grafite que o jovem vilão fez sobre sua cabeceira.

Uma lâmpada dourada da qual caíam estrelas prateadas brilhantes contra um fundo azul escuro. Respirou fundo, umedecendo os lábios tentando se acalmar.

Sammy o observava ansioso, parado de pé ao lado da cama.

— Desculpe por gritar. – Aziz pediu, sem tirar os olhos do desenho. — Não tenho dormido bem. Estou estressado.

Silêncio.

— Mas, o grafite ficou lindo. – murmurou se voltando para o jovem pirata, analisando-o com cuidado.

Sammy tinha cabelos pretos longos e olhos azuis tão claros que eram quase cristalinos. Tinha uma cicatriz longa na bochecha e lábios vermelhos, com dentes um pouquinho tortos. A pele branca pálida por anos sem sol ficava vermelha com facilidade e tinha algumas espinhas no queixo.

Ele sempre usava turquesa e branco, com toques de vermelho. A espada sempre presa ao cinto. Couro da cabeça aos pés como a maioria dos filhos de vilões, cintos vermelhos e um chapéu pirata preto sobre os cabelos, com uma pena de gaivota presa. Musculoso, provavelmente costumava trabalhar nas docas, Aziz pensou. Um pouco mais alto do que o príncipe, mas não tanto.

— Seus irmãos não têm cabelo branco? – perguntou curioso.

Sammy deu de ombros. — Albinos.

— Ah, sim.

— Eu achei que você ia gostar do grafite. – murmurou, sem graça, mexendo nas luvas de couro vermelho. — Por isso fiz.

— É bonito. – Aziz cerrou os lábios sentando na ponta da cama, sem tirar os olhos do colega de quarto. — Você conhece o Harry Gancho?

— Eu sou da tripulação da irmã mais velha dele, a Harriet. – afirmou.

— Mas você foi pra Terra do Nunca com ele?

—... Dia da Família. – Sammy deu de ombros. — Fomos todos os piratas para lá. Por quê?

— Você falou com ele e Gil sobre namoros?

Sammy corou. —... Você pergunta como se já soubesse a resposta.

Aziz sorriu. Era um hábito que adquiriu com a mãe, a sultana Jasmine sempre fazia comentários e perguntas para confirmar desconfianças que já sabia serem certas.

— Senta aqui.

O pirata pareceu hesitar antes de ir sentar ao lado de Aziz, com olhos desconfiados.

— Seu cabelo é lindo. – Aziz murmurou, puxando uma mecha do cabelo do pirata com carinho. Sammy corou mais ainda.

Cabelos longos, pensou. Lindos realmente, mas um problema pra mídia se ficasse sério.

A mídia era péssima com ele desde o incidente de quando tinha 14 anos. Não podia dar um passo em falso. Até estar com alguém fora dos padrões auradonianos era um problema.

Ainda assim, lindo.

Balançou a cabeça, voltando ao foco.

— Olha, eu não gosto quando você fica roubando minhas coisas... E esses grafites são lindos, mas é meio irritante porque agora meus livros estão todos cheios de tinta e é chato você decorar minha metade do quarto. E esses duelos aleatórios... Harry disse que Uma e Audrey se divertem com isso, mas eu acho meio assustador... Na verdade muito assustador. E metade do que você me fala parece ameaças de morte, o que os torna ainda mais assustadores.

Sammy coçou a bochecha e virou o rosto, sem graça. — Ah... Eu só... Hã... Certo. Eu vou parar... Mas, não vou pedir desculpa.

— Claro que não vai. – Aziz revirou os olhos, sem se surpreender. Sabia que as pessoas da Ilha tinham dificuldade em pedir desculpas. — É assim que fazem na Ilha pra demonstrar as coisas? Roubando, duelando e tal?

— Mais ou menos.

— Sabe como demonstramos as coisas aqui em Auradon?

— Não...

— Chamamos a pessoa pra sair. É bem mais fácil.

— Hum... – Sammy ainda parecia desconfiado.

— Quer ir à coroação da Mal comigo?

—... Quero sim. Será legal. – concordou, tentando esconder um sorriso, parecendo um pouco mais relaxado.

Harriet costumava ser mais direta e grosseira nas broncas. Era assustador, mas pelo menos sabia o que esperar e o que estava fazendo de errado. Do jeito que Aziz falou, dando tantas voltas, pensou que estava para levar um fora e ser preso num calabouço de Agrabah, não que era apenas uma leve correção de modos, mas com uma confirmação de interesse.

— Hum... Eu achei que você gostaria dessas coisas de roubar que a gente faz na Ilha. Já que o seu pai...

— Era um ladrãozinho lalau? – arqueou a sobrancelha tentando não se irritar. — E o meu avô era o Rei dos Ladrões, é, eu sei. Mas, meu pai parou de roubar tem muito tempo. E sinceramente, eu nunca nem cheguei a ver o meu avô, então, essa coisa toda de roubo... Meio que não é pra mim. – apesar dos jornais discordarem pensou, mas preferiu não acrescentar essa parte. — Eu não chego a ser um principezinho estilo Chad Encantado, mas, na questão modos, acho que estou mais próximo disso do que de furtos e roubos.

— Não é legal ficar na sombra de coisas que nossos pais fizeram, né?

— Não.

— Sei que é chato quando fazem isso... Não foi minha intenção. – Sammy murmurou, hesitando antes de por a mão sobre a de Aziz.

O príncipe de Agrabah sorriu, virando a mão e permitindo que o pirata entrelaçasse os dedos com os seus. — Eu sei.

Sammy mordeu os lábios um instante, olhando intensamente para o colega de quarto e em um movimento abrupto tentou beijá-lo, puxando seu rosto, mas Aziz se afastou rapidamente, parecendo assustado.

—... As coisas aqui em Auradon também são diferentes para isso? – perguntou, com a voz tremendo, constrangido com a rejeição.

Aziz engoliu em seco. — Não, é só... Na verdade, um pouco diferente sim, eu suponho. Mas... Olha, eu passei a última semana achando que você queria minha cabeça numa bandeja de prata, então... Vamos devagar com isso, ok?

— Ok. Não era minha intenção mesmo parecer isso. – Sammy murmurou, se afastando um pouco. Aziz apertou sua mão para que não soltasse. — Meu pai é meio bobo, mas não é um vilão, é um ajudante e comparado a alguns, ele é bem bonzinho. E eu tenho irmãos mais novos, então... Mais novos mesmo, sabe? Não é tipo os Gastons que são só dois anos mais velhos que o Gil ou a Harriet que é três anos mais velha que o Harry e cinco mais velha que a CJ. Meus irmãos são pequenininhos, então eu tinha que realmente cuidar deles e ser bonzinho com eles pra Ilha ser ao menos... Não razoável, mas ao menos não parecer tão péssima quanto era. Eu realmente não queria parecer um pirata louco e assassino, de verdade. Eu só... – ele parou um instante, escolhendo as palavras enquanto Aziz o olhava atentamente. — Eu era legal com meus irmãos, mas aprendi a esconder isso na maior parte do tempo. Ser legal no convés era uma coisa, ser legal onde outros que não eram piratas podiam ver, como no mercado, era diferente. Então, essas coisas de Auradon de carinho e tal, não me vêm naturalmente, entende? Aí eu pensei em perguntar para o Harry e para a Uma. Talvez tivesse sido mais útil falar com a Evie, mas nunca fomos próximos e eu não saberia falar com ela.

— Entendi. – Aziz concordou, o polegar traçando círculos nas costas da mão de Sammy. — Bom, podemos trabalhar isso, ok?

— Bondade corretiva? Sinceramente, essa aula é uma besteira e entediante.

— Eu estava pensando mais em sairmos por Auradon, fazer um piquenique, conversarmos, coisas mais simples. – Aziz deu de ombros. — Mas, depois, ok? Eu preciso muito dormir um pouco agora que sei que meu colega de quarto não vai tentar me matar no sono.

Sammy riu envergonhado concordando e se levantou. — Eu vou deixar você dormir então.

— E você vai fazer o que?

— Tenho que aprender a usar o celular ainda. – Sammy deu de ombros apagando as luzes do quarto e pegando o celular enquanto Aziz se deitava. — Eu sei usar um pouco, mas o teclado é tão pequeno... É difícil mandar mensagem.

— É questão de prática. – Aziz murmurou, fechando os olhos e antes que Sammy pudesse dizer mais alguma coisa, ele já estava dormindo.

***

Audrey debruçou-se no cesto de gávea, observando o movimento no Lost Revenge. A tripulação de Uma subia e descia, trazendo os carregamentos de comida e suprimentos pro navio.

Olhou o relógio de pulso com lábios crispados e começou a brincar com o colar de concha que Uma lhe havia dado, nervosa.

— Eu acho que você gosta de ficar aqui mais do que o Gil. – Uma riu, entrando no cesto e a abraçando por trás. — Ele costumava ficar aqui o dia inteiro.

Audrey riu baixinho, encostando a cabeça no ombro dela e fechando os olhos.

— Eu gosto daqui. É tão silencioso que não dá pra ouvir nem os próprios pensamentos. – murmurou.

Uma deixou um beijinho atrás da orelha da princesa, fazendo carinho em seu braço.

— Logo tenho que voltar pra casa... – Audrey murmurou, parecendo triste. — Odeio sair daqui.

— Ei, você sempre pode voltar amanhã, sabe disso. – Uma riu, revirando os olhos.

— Não, não é isso, é que... – Audrey suspirou, afastando a mão de Uma e se virando para ela. Tamborilou os dedos um momento, pensando se contava ou não. — Quando eu saio daqui, fico estranha.

— Estranha como? – Uma franziu os lábios, confusa.

— Como... Eu não sei. Acho que estou ficando louca, Uma.

— Audrey?

A princesa desviou o olhar, se focando no horizonte azul lá longe e respirou fundo.

— É como se... Fosse um eco. Como se ainda estivesse ouvindo a voz do cetro na minha cabeça, só que agora muito baixa pra entender o que tá falando. E ainda dá pra sentir a sensação da magia... Aquele frio... Como se eu fosse apagar a qualquer instante e... – ela fechou os olhos, nervosa. — Mas, aqui não. Aqui essa sensação vai embora.

Uma a encarava seriamente.

— Há quanto tempo você tem isso?

— Sei lá, desde que o Hades me acordou, eu acho.

— E você nunca pensou em falar? – a capitã franziu a testa, parecendo furiosa. — Audrey!

— O que?

Uma balançou a cabeça, incrédula.

Mesmo que a magia fosse proibida em Auradon, era de se esperar que os auradonianos entendessem mais sobre o assunto do que as crianças da Ilha.

— Audrey, os poderes do cetro podem ainda estar te influenciando, ou ao menos tentando. A Malévola pode tá na sua cabeça! Isso é perigoso, Audrey!

— Mas, eu não escuto nada, e não é tão forte quanto o cetro, é fraco... Deve ser só tipo, sabe? Membro fantasma, dor fantasma... Magia fantasma. Foi o que eu pensei.

— Magia não funciona assim, Audrey. Pode ter impressões dos feitiços do cetro em você ainda, mesmo sendo pequenas demais para te atingirem de forma séria ainda deve doer! – Uma balançou a cabeça, incrédula. — Como tem dormido? Tem tido pesadelos?

— Às vezes... Frequentemente. – admitiu. — Mas, tudo fica bem quando eu fico aqui.

— Claro que fica. – revirou os olhos. — Os poderes da Malévola não funcionam no mar! Aqui você inatingível pra ela.

Audrey concordou, abraçando Uma novamente.

— Não é nada, de verdade. Vou ficar bem.

— Audrey...

— Vou ficar bem. – repetiu, dando um beijinho na bochecha da capitã e sorriu. — Melhor eu voltar pra casa.

— Espera. – Uma segurou sua mão e puxou o colar de concha mágica que usava, franzindo os lábios, ansiosa. A concha não se iluminou. — Droga. Queria saber controlar isso melhor. Por que a magia tinha que ser proibida aqui? Não tem nem quem me ensine a usar isso! Qualquer um que eu pergunte vão só pedir pra eu entregar pro museu e eu não quero fazer isso!

Audrey deu de ombros, compreendendo o sentimento.

— Eu vou nessa, ok?

— Quer que eu te acompanhe até o palácio? – Audrey sorriu com a pergunta, as mãos de Uma em seu cabelo, fazendo carinho suavemente.

— Bom... Seria muito cordial da sua parte, capitã.

Uma soltou um riso nasalado e concordou, deixando um beijo suave nos lábios da princesa.

 


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