Gil entregou as últimas encomendas para Evie, ansioso.

— Eu fiz o vestido da Jordan diferente do que você pediu, desculpe. – disse apressadamente enquanto Evie conferia. — Achei que muitos detalhes em rosa não ficaria legal, aí coloquei só um pouco e usei mais azul.

Evie franziu as sobrancelhas perfeitas, pegando o vestido citado e analisando cautelosa.

— Sinceramente, eu também não acho que rosa ficaria bom, mas ela insistiu tanto... O que fez com as pedras de ouro?

— Eu usei no vestido da Audrey. Achei que combinaria mais.

— Aham...

— Fiz mal?

A princesa de cabelos azuis sorriu com gentileza.

— Não, claro que não. O vestido da Jordan ficou lindo. Vou explicar a ela o porquê da pedraria diferente do pedido, tenho certeza que ela entenderá, não se preocupe. Agora... – ela pegou uma quantia de dinheiro separada num canto. — Seu salário.

Os olhos de Gil brilharam. — Tudo isso?

— Claro, foi o combinado, não? – ela ainda sorria, ajeitando os vestidos nas araras. — Dois mil por vestido, dezoito vestidos, trinta e seis mil roses, pode conferir se quiser. Por que não aproveita e leva os meninos para tomar sorvete? Tenho certeza que vão adorar.

— Obrigado, Evie! Você é demais! – Gil não se conteve e foi rapidamente abraçar a garota com força.

A filha da Rainha Má deu risada retribuindo o abraço.

— Ah, você precisa passar na Dizzy para um corte de cabelo! – ela observou, se afastando um pouco e mexendo numa mecha loira, com olhos cerrados.

— Eu gosto dele comprido...

— Tenho certeza que gosta, mas... Só pra tirar essas pontas duplas. Talvez mudar um pouquinho o corte e fazer uma hidratação, só pra te deixar um pouquinho mais bonito... – ela divagou um instante e em seguida piscou. — Quer saber? Vou avisar a Dizzy o que estou pensando. Passe lá antes da Coroação da Mal. E acredite em mim, vai ficar tão lindo que até seu pai ficaria com inveja.

— Eu deveria passar lá antes ou depois de ir tomar sorvete? – Gil perguntou confuso, ainda não muito confortável com a ideia.

Evie sorriu paciente. — Pode ir tomar sorvete. Eu marco um horário e te passo por mensagem, ok?

— Ok. Obrigado, Evie.

Ela apenas piscou pra ele, com um sorriso amigável e começou a cantarolar se focando no trabalho.

***

Os três se sentaram numa mesinha na calçada da Sorveteria do Feliz. Jay pegou uma casquinha de chocolate enquanto Harry preferiu um potinho de sorvete de morango e Gil um de flocos.

— Isso é uma delícia. – Harry lambeu os lábios, pendurando o gancho num dos cintos.

— Não toma muito rápido ou vai te dar dor de cabeça. – Jay avisou, arrastando um pouco a cadeira para ficar mais no sol.

Gil lambeu os lábios, dando mais uma colherada no que era seu segundo potinho de sorvete no dia.

— Gil? – Harry chamou.

— Oi?

— Abre a boca. – o pirata sorriu, oferecendo a colher cheia.

Gil sorriu aceitando.

Jay os observou um instante antes de voltar a fechar os olhos, aproveitando o sol e a brisa fresca de Auradon. Podia se acostumar com momentos assim, pensou, ajeitando o cabelo. Sua vida definitivamente precisava de mais momentos assim.

— Acho que poderia ganhar do Jay na queda de braço. – Gil comentou.

— Como chegou nesse assunto? – perguntou, abrindo um dos olhos.

— Estávamos comentando do tempo na Ilha. – Harry revirou os olhos. — Não estava ouvindo?

— Nah, desculpem. – sorriu de lado puxando a mão de Harry. — Comentando sobre as rivalidades?

— Isso! – Gil riu. — A gente não se imaginaria aqui meses atrás. Em Auradon, tomando sorvete e namorando você.

— Mudanças loucas. – Jay concordou. — Quer uma queda de braço?

— Vamos nessa! – Gil sorriu, afastando o potinho de sorvete e Harry soltou a mão de Jay.

Cotovelos sobre a mesa, Jay deu seu melhor sorriso apertando a mão de Gil.

— Três... – Harry começou a contagem. Gil parecia relaxado. — Dois... Um.

Jay fez careta se esforçando para não deixar o braço quedar. Gil nem parecia estar se esforçando ainda, olhos brilhando de confiança enquanto dava risada, como se achasse graça do esforço evidente do namorado.

Gil ganhou, é claro.

— Quase trinta segundos. – Harry sorriu. — Parabéns, Jay.

— Doeu.

— Desculpa. – Gil riu voltando a tomar o sorvete e em seguida fez careta. — Olha, o Aziz tá vindo aí.

— Por que a cara feia? – Harry questionou.

— A gente namorou. – Jay deu de ombros.

— E dai? Você não namorou metade de Auradon?

— Dálmatas! Que exagero! – rolou os olhos e então suspirou. — Gil não vai com a cara do Aziz. Foi o último que eu namorei antes dele.

— Ah.

— Não é por isso. Acho ele metido... Não, não metido. Ele se faz de bobo, eu não gosto.  Ele fala as coisas como se já soubesse e estivesse tentando te por numa armadilha... Tentando testar o que você sabe e eu não gosto de testes. Me lembra a Gothel. – Gil murmurou. — Talvez ele não tenha visto a gente, vai ser bom se ele não tiver visto.

— Por que vocês terminaram? – Harry perguntou curioso.

— Ah... Ele... Tipo, queria que eu fosse mais principesco e tal e a gente brigou porque... – Jay franziu a testa. — Ele queria que eu cortasse o cabelo.

— O que?

— Disso eu não sabia! – Gil franziu a testa.

— O seu cabelo é lindo! – Harry praticamente gritou, parecendo ultrajado enquanto começava a mexer numa mecha dos cabelos de Jay. — Não corte.

— Não planejo. – Jay riu, disfarçando um sorriso amargo e olhando em volta.— Olha, parece que ele tá vindo aqui.

— Oi, Aziz. – Gil cumprimentou, sem conseguir disfarçar uma careta enquanto pensava “por que alguém iria querer cortar o cabelo do Jay?”

— Oi, Gil, Harry. – o garoto parecia nervoso enquanto parava perto deles. — Jay, legal te ver...

— E aí, Aziz? Quanto tempo.

— É... Eu tava querendo falar contigo tem um tempo... É...

— Precisa ser a sós? – Jay arqueou a sobrancelha.

— Hum, não, não. Eu... – ele parecia constrangido e então respirou fundo se voltando para Harry e Gil. — Vocês são piratas, né? Alguma chance de quererem trocar de dormitório comigo? Ou, Jay pode achar alguém que queira dividir o quarto com um pirata meio apavorante?

— Por que eu iria querer deixar de dividir o quarto com meu namorado? – Harry arqueou a sobrancelha, sem disfarçar uma expressão de desgosto enquanto mirava o príncipe de Agrabah.

— Você não pode ajeitar a troca de quartos com a Fada Madrinha? Aziz, eu tô encarregado das crianças da Ilha, mas não cuido disso. – Jay suspirou, voltando a dar atenção ao seu sorvete que já estava derretendo.

— Não! A Fada Madrinha vai perguntar por que eu quero trocar de quarto! E eu não quero contar porque se eu contar ela vai querer mandar o cara pro Reformatório e eu tô apavorado, mas não tanto ao ponto de querer que ele vá para o Reformatório! Essas coisas ficam na ficha da gente, Jay.

Jay franziu a testa.

Agora parecia ser da sua alçada.

— Reformatório? É sério assim?

— Não! Bem... Sim... Digo, mais ou menos. Tipo...

— Aziz? – Jay mexeu a sobrancelha enquanto puxava uma cadeira. — Senta aí e explica.

Aziz suspirou, ajeitando a jaqueta branca sobre a camiseta azul enquanto se sentava. — Certo, certo. Eu... É... Ele fica roubando minhas coisas, tipo, tudo, sabe? Pulseiras, os zíperes das minhas jaquetas, o que eu tiver no bolso, meu broche real, minhas chaves, meus livros, meu laptop, até a faca do meu avô que eu escondo no fundo do guarda-roupa!

— Até aí normal. – Jay deu de ombros. — Crianças da Ilha. Eu também roubava tudo que via pela frente, você sabe.

— Ele também faz grafites no meu lado do quarto, na cabeceira da minha cama, minha estante...

— Certo...

— E batalhas! Ele pega a espada a qualquer momento e me ameaça com ela e ou eu me defendo ou eu me fodo e... E... – Aziz engoliu em seco, as mãos trêmulas. — Pode ser de dia, de tarde, de noite... Eu não durmo tem uns três dias de tanto medo, Jay! E ameaças, tudo que ele me fala parece uma ameaça! É assustador, de verdade!

Gil e Harry trocaram um olhar, de olhos arregalados e boquiabertos, a suspeita os atingindo.

— Qual o nome do seu colega de quarto? – Gil perguntou.

— Sammy. Eu não lembro o pai dele, mas é um pirata.

Harry tossiu, sem graça.

— Sammy Smee? – Jay franziu a testa. — Ele nunca foi desse tipo.

— É... Nunca. – Gil concordou, o rosto vermelho.

Jay olhou para os dois. — Amores?

Gil e Harry não o olharam nos olhos, sem graças.

— Então...

— Sammy veio falar com a gente e com a Uma quando estávamos na Terra do Nunca. Ele fez umas perguntas. – Harry começou. — Tipo sobre a gente e sobre a Uma e Audrey e sobre como fazíamos pra tipo... Mostrar as coisas, já que a gente não faz isso na Ilha.

— E aí contamos que ficamos roubando um do outro e Uma disse que ela e Audrey começam duelos aleatoriamente quando estão entediadas. – Gil continuou. — Harry também disse que ele e você ficam trocando farpas como “demonstração de carinho.” Eu disse que não gostava desse jeito, mas que vocês faziam isso mesmo.

— A gente não sabia que ele estava falando de uma criança de Auradon! Teríamos dito para ele perguntar a Audrey se soubéssemos! – Harry bufou.

— Mas, ele meio que perguntou, né? Audrey disse que as crianças de Auradon se dão quadros e desenhos bonitos. Sammy perguntou se era tipo grafite! – Gil lembrou.

— Espera...

— Bom... Certo. – Jay franziu as sobrancelhas. — Independente da razão, deve ser bem assustador e Sammy não devia fazer esse tipo de coisa. Mas, realmente, considerando o motivo não é o suficiente para ir para o Reformatório. Vou ver se alguma das crianças da Ilha quer trocar de quarto ou...

— Não, não! Quer saber? – Aziz se levantou apressado. — Deixa pra lá. Eu vejo com ele.  Valeu, Jay, valeu vocês dois!