Ventos do destino escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 3
Capítulo 3




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Enquanto sua língua explorava a boca perfeita de Isabelle, saboreando a doçura de seus beijos, David não conseguia pensar em argumentos inteligentes que justificassem ter evitado tais sensações por tanto tempo. Não lembrava de um só dia, desde que a conheceu, que não desejou seus beijos. Mesmo quando estava envolvido com outras mulheres não era indiferente a presença da morena. E quando estava sozinho, longe de um acalento feminino, fazia um esforço sobre-humano para resistir e fingir indiferença aqueles encantos que tão generosamente ela lhe ofereceu algumas vezes. Fidelidade nunca foi seu forte, caso contrário não a teria procurado no convés do Rattler quando ainda estava sobre custódia dos franceses. A lembrança da primeira vez que experimentou aqueles lábios aumentou sua excitação. A questão era: Por que rejeitou tomá-la em seus braços depois disso? Essa não era uma pergunta que ele se fazia com frequência, talvez porque tivesse receio da resposta. Contudo, novamente essa dúvida tornou a visitá-lo enquanto suas mãos se dedicavam a desbotoar a camisa branca dela, a qual, minutos antes, se dedicou a fechar. Não importava por que ele não o fez, e sim, que o faria agora, não hesitaria dessa vez, nem coibiria seus instintos. Isabelle seria sua, ali e agora.

Ela correspondia as carícias dele de forma intuitiva. Todo seu corpo queria aquele momento. Tanto esperou para que David finalmente a enxergasse como mulher que até desistira de conquistá-lo. Seus dedos finos embrenhavam-se em cabelo dele, aquela coloração única castanho dourada pelo sol Tahiti. As mãos experientes do capitão agora percorriam a extensão de suas costas por baixo da combinação de seda rendada. Seu toque era exatamente como ela espera, firme e delicado, capaz de levá-la a loucura com facilidade. Um calor conhecido começou a se manifestar no interior de suas entranhas e ela se sentiu intimamente úmida.

David desceu dos lábios para a volta do pescoço soltando dos ombros dela a manga da blusa e a alça da peça íntima. Sentiu uma certa inquietude quando notou que não havia despido-a totalmente, queria finalmente vê-la, tocá-la, amá-la… logo tranquilizou-se, afinal, não tinha motivo para pressa, estava decidido a apreciar cada instante com ela.

—Oh… David..._ gemeu entorpecida.

—Fique tranquila… isto é o que quero também._ pronunciou sem soltar os lábios de sua pele cremosa.

Isabelle não soube se foram as palavras ou a maneira como foram ditas, mas o fato é que tal afirmação a fez despertar para o que estava prestes a acontecer. Era isso mesmo que ela queria? Se esta pergunta lhe fosse feita há alguns meses, ela não hesitaria em dizer que sim, que desejava desfrutar com David todo o prazer que seus corpos poderiam proporcionar um ao outro. Não importava o futuro, somente o agora. Entretanto, isso foi antes de descobri em si mesma uma nova e admirável mulher. Houve um tempo em que ela julgara seu corpo e sua juventude as únicas coisas que teria a oferecer a alguém, irônico como foi exatamente Grief com sua intensa fé na regeneração humana que a fez encontrar em si própria algo pelo que se orgulhar. Ele não desistiu dela, talvez tenha enxergado o que os outros não viam, o seu coração. Isabelle Reed não era a mesma fugitiva que chegara a Matavai, tinha adquirido o carinho e confiança daquelas pessoas, e mais do que isso, havia recuperado o respeito por si mesma. Esta nova Isabelle não se contentaria apenas com um fugaz e ardente caso de amor. Por mais que sua atração por David fosse quase irresistível, ela merecia mais.

Grief sentiu que a mulher em seus braços tentava ganhar espaço, a princípio ignorou tal atitude, mas, ela persistiu até que a soltou suavemente ainda confuso.

—O que aconteceu? Eu a machuquei?_ perguntou preocupado com o braço ferido.

—Não… não se trata disso… apenas não posso fazer._ela quase lamentava. Precisou de força de vontade para não puxá-lo de volta sobre ela.

—Eu não entendo… você parecia gostar…

—Sim… eu estava._admitiu._Mas não é o que eu quero. Não mais.

—Esse é algum de seus jogos?_sorriu nervoso._Por que se for, sugiro que encerre agora.

—Não é um jogo, David… nem uma tática de sedução.

—Então o que falta?_ele estava irritado com aquela desagradável interrupção._me desculpe citar, mas você sugeriu isso tantas vezes, eu não imaginei que desistisse quando eu finalmente cedesse.

Embora as palavras de David fossem duras e a magoavam, ele não estava muito longe da verdade. Ela não poderia mudar quem foi, mas poderia agir diferente de agora em diante.

—Você tem razão… eu me ofereci muitas vezes a você._disse secamente.

—Eu não quis dizer isso.

—Sim, você quis. E não está mentindo._ela virou-se incapaz de encará-lo e começou a abotoar a roupa dispensando a ajuda dele._Mas isso foi antes de descobrir que tenho um valor… não me contentaria com um simples caso de amor como antes. Caso não tenha notado, eu mudei.

Ele havia notado, talvez melhor do que qualquer outra pessoa. E foi justamente essa encantadora mudança que o fez sucumbir aos seus próprios desejos, era impossível evitá-la mais. Contudo, essas novas exigências dela o deixava enraivecido e somando-se a sua necessidade fisiológica não aliviada David soou grosseiro quando perguntou:

—Está querendo me dizer que Isabelle Reed pretende se casar e ter filhos?

—Acha tão absurdo que alguém pense em formar uma família comigo?_ sua voz era carregada de mágoa.

—Inferno! Não foi isto que eu quis dizer!_quase gritou quando percebeu que suas próprias palavras estavam sendo usadas contra ele._Se bem me lembro você mesma me disse que buscávamos pelas mesmas coisas, mesmos ideais…

—E a mesma impetuosidade, não é mesmo?_ela suspirou_Eu era assim, David… não sou mais, você me fez acreditar que mereço mais… e o que eu quero você não está disposto a me oferecer, não é verdade?

David ficou em silêncio. Do que ela estava falando? De amor? Realmente ele evitava pensar a respeito do que sentia por Isabelle… nunca conseguiu conceituar tal sentimento mas se recusava a admitir que fosse amor. Esta era um a palavra forte demais e da qual ele fugia sempre que podia. Toda vez que acreditou amar foi brutalmente decepcionado, por sorte sempre conseguia se recuperar, mas era melhor não dar vantagens ao azar. Enquanto ainda devaneava sobre o que Isabelle lhe dissera, ela mesma concluiu diante do seu silêncio.

—Como eu imaginei._por mais que esta fosse uma constatação obvia pra ela ainda sim a machucava pensar que jamais teria o amor daquele capitão. Era melhor que se resignasse._Esqueça o que aconteceu aqui hoje, eu buscarei fazer o mesmo. Será melhor para a nossa associação sermos apenas parceiros comerciais. Temos muito a perder apenas por algumas noites de prazer.

Grief ia argumentar quando ouviu batidas na porta.

—Você espera alguém?_questionou surpreso por ela receber uma visita naquele horário matutino.

—Deve ser Benjamin._sugeriu_Ele veio trocar o meu curativo.

O humor de David piorou repentinamente. Era melhor sair dali antes que descontasse sua frustração no rosto do médico perfeitinho.

—Sendo assim… você ficará em boas mãos._foi sarcástico_ Até mais._ saiu pela porta sem nem ao menos cumprimentar o homem loiro que arqueou a sobrancelha confuso.

 

****

 

—A atadura ficou apertada?_Benjamin perguntou quando percebeu a expressão fechada de Isabelle.

—O que disse?_questionou desatenta.

—O braço._apontou para o curativo._perguntei se a atadura ficou apertada. Seu rosto estava fechado como se algo estivesse a incomodando.

—Ah… não… não é o braço. Este é o menor de meus problemas._confessou.

—David Grief é o maior deles, suponho.

Isabelle ficou surpresa com a perspicácia do médico. Embora indiscreto ela não ficou irritada.

—Por que acha isso?

—Ele passou por mim como uma rajada de vento sequer me cumprimentou, e agora você tem o mesmo olhar sombrio.

—Não tem sido uma manhã fácil. _limitou-se a dizer.

—Problemas comerciais?_tentou parecer desinteressado, mas o que realmente queria era saber porque David estava em sua casa àquela hora da manhã. Teriam dormido juntos? Não era da sua conta, mas a simples suposição lhe causou ciúmes. Benjamin havia passado boa parte da noite pensando nos lindos olhos de Isabelle e ansioso para vê-la ao amanhecer. O curativo era a desculpa perfeita para visitá-la pelo menos por alguns dias.

—De certa forma sim… mas se não se importa, eu não me sinto à vontade de falar sobre isto._ela encerrou o assunto.

—Claro… desculpe a minha indiscrição.

—Você não foi indiscreto… apenas eu que não quero falar mais sobre este assunto.

—Ainda não me convenceu sobre a minha indiscrição… talvez se aceitar jantar comigo eu possa desfazer a minha falsa impressão de entrometido._tentou parecer irreverente mas queria muito que ela aceitasse acompanhá-lo ao bar naquela noite. Ansiava por se tornar mais íntimo dela… arriscava-se a dizer que estava se apaixonando por Isabelle.

—Bem… eu não sei se é apropriado…_ela parecia confusa. Seu novo pacote de valores alertava que seria antiético uma intimidade entre paciente e médico.

—Você sabia que médicos também se alimentam, né?_percebendo o motivo da hesitação dela, Benjamin brincou tentando afastar da mulher essas questões éticas._E também podem ter amigos…

Ela ponderou e concluiu que ele estava certo. Benjamin chegara ao Tahiti a pouco tempo e por certo não conhecia muita gente, devia ser solitário viver sem amigos. Ela era alguém que lembrava o seu lar e seria uma grande ingratidão negar isto a ele, ainda mais depois de toda dedicação que tinha dispensado a ela.

—Sendo assim, eu começo a ter fome as 7h.

—Passarei as 6:30 para buscá-la._sorriu satisfeito.

—Oh… isso não é necessário eu posso encontrá-lo lá.

—E perder a chance de conduzir a mulher mais bela de Matavai?_ele piscou maliciosamente._Nem pensar.

Isabelle se lisonjeou com o flerte. Não era a primeira vez que Benjamin usava palavras gentis com ela. Foi impossível não compará-lo a David. Minutos antes o capitão duvidara do seu desejo de se casar e ter uma família. Ela sabia que não era uma pessoa sentimental mas a incredulidade dele a desmotivou. Talvez fosse bom passar um tempo na companhia de um cavalheiro como Dr. Summerlee, ele por certo não tinha um conceito pré-definido dela e trataria como a mulher distinta que havia se tornado.

 

****

 

A oitava cerveja ainda não tinha apagado da memória de David o que aconteceu entre ele e Isabelle naquela manhã. Por que ela precisa complicar tanto as coisas? Pensou irritado. Agora que finalmente se daria ao luxo de se entregar aquela mulher, Isabelle começou a falar de sentimentos e futuro. O futuro, isto era algo que para ele não fazia o menor sentido planejar. Algo impalpável e quase sempre decepcionante. Era muito mais agradável viver intensamente o presente, sem culpas ou expectativas. Foi isto que o impulsionou a deixar a Austrália e tornar sua vida uma interminável aventura. Se morresse hoje saberia que aproveitou o máximo que pudera… ou talvez não. Refletiu tristemente quando lembrou dos olhos cintilantes de Isabelle e de sua boca rosa arfando de prazer quando ele tocava seu corpo. Inferno, devia ter aproveitado a chance quando ela desejava as mesmas coisas que eu, concluiu ainda que sem a mínima sinceridade. Ele poderia ser um imediatista, mas nunca um inconsequente. Respeitava Isabelle mesmo quando ela não sentia isso por si própria, por isto, ele não estava feliz com a impressão que ela poderia ter ficado dele depois da conversa matinal. Nunca foi sua intenção magoá-la só que sua irritação extrapolou seu bom senso e ele disse coisas das quais estava arrependido agora.

Quando Claire lhe serviu a nona cerveja ele aproveitou para perguntar.

—Você falou com Isabelle hoje?

—Sim._respondeu sem muita atenção enquanto recolhia as garrafas vazias.

—E ela não lhe comentou nada?

—Sobre?

—Ora… sobre… sobre… como ia preparar o jantar hoje com aquele braço enfaixado._inventou uma desculpa frouxa.

—Ahh… ela virá jantar no bar hoje._a moça loira respondeu sorrindo.

David olhou o relógio e eram quase sete horas. Conhecia a morena e sabia que ela já devia estar faminta. Talvez tenha tido dificuldades de se vestir e se atrasou. Uma pontada de excitação o atingiu lembrando a ajuda que lhe ofereceu logo cedo. Não seria má ideia tentar ajudá-la novamente.

—Neste caso eu vou buscá-la, talvez precise de auxílio com o braço._David exibia algum entusiasmo. em silêncio. Ambos estavam concentrados em seus próprios pensamentos. David tentava entender o

—Eu acho que ela já teve a ajuda necessária._ apontou Claire para a entrada do bar.

Grief segurou com firmeza a borda mesa descontando na madeira sua ira com aquela imagem. Isabelle caminhava deslumbrante de braço dados com Benjamin Summerlee.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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