Sins of Hope escrita por DGX


Capítulo 29
Saligiam




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Opening

Eles carregam os caídos para o Delito que estava em pedaços. Cadeiras e mesas jogadas, garrafas e barris quebrados, além de penas cravadas nas paredes com buracos e portas quebradas. Skanfy, Asura e Takashi sobem para o quarto de Nier e Camille e os colocam em sua cama, junto de Ryon. 

—Asura, Skanfy, ajudem eles. O capita deve ter um kit de primeiros socorros, ele sempre tem um no seu quarto. Eu vou atrás de coisas na cidade para sei lá, reparar esse lugar e ajudar eles. Virei correndo se achar coisas para recuperá-los. – Ele sai do quarto e deixa os dois a sós. Skanfy olha nas gavetas do balcão ao lado da cama, mas Asura puxa um kit de primeiros socorros debaixo da cama. Os outros receberam algumas instruções de Gwyndolin sobre como lidar com ferimentos assim, mas não fariam um trabalho tão bom quanto ele.

—Aqui está. Consegue ter ideia do que fazer?

—Plus ou moins... O Gwyn nos ensinou, mas mesmo assim...

Eles primeiro colocam as orelhas nos peitos deles e verificam os batimentos. Estavam fracos, mas estavam ali. Então começam a enfaixar os braços de Camille após limpar os ferimentos deles. Vários cortes eram profundos, e sua pele, que já era branca, estava ainda mais pálida. Skanfy torcia para que ela não tivesse perdido sangue demais devido a hemorragias 

—Asura, poderia ir cuidar do Ryon no seu quarto? – Pede uma amuada Skanfy.

—Por quê? – Pergunta Asura sem entender.

—Je vais precisar tirar as roupas dela e não quero nenhum homem olhando. – Ela o encara fazendo bico.

O vampiro então ri, pega algumas bandagens, uma agulha e fio, e sai para ajudar o gatinho e deixar Skanfy a sós, que tira a camisa de Camille, que estava cheia de cortes. Ela começa a desinfetar alguns dos diversos cortes enquanto lágrimas atingem o corpo imóvel da princesa.

Takashi procurava qualquer coisa na cidade. Seja dinheiro, materiais de construção ou até médicos para “educadamente” levar ao Delito. A cidade estava com um murmurinho incessante. “A Saligia está aqui?”, “A princesa do reino veio até essa espelunca?”, “A Psychomachia vai matar todos nós?”.

Ele preferia ignorar tudo isso e focar no que realmente importava. Viu que ao redor de um dos cavaleiros derrotados pelos Pecados, as pessoas faziam uma rodinha, e um tira uma sacola da armadura do mesmo. Takashi se aproximou e viu que ele possuía esferas mágicas, as mesmas desenvolvidas por Krioni anos atrás.

—Me entregue isso. – Ordenou com um tom ameaçador.

O homem que pegou a sacola ignora o pecado, e continua a observar a sacola. Estava fascinado com aquilo, elas eram caras e poderiam lhe render uma boa grana.

—Eu não vou pedir de novo. Me. Entregue. Isso. – Takashi se irritou ao ser ignorado. Não queria demorar demais com isso.

—Sai cara, eu achei primeiro. – Responde desgostoso o homem à sua frente.

Takashi, sem pensar duas vezes, puxou a bolsa de moedas da mão dele. Ele puxou uma faca para o enorme ladrão de armadura, que devolveu o gesto com um soco com sua mão esquerda, explodindo seu nariz em uma poça de sangue, aterrorizando a população. Ao ver que mais gente se reunia ao seu redor, ele teve uma ideia.

—Escutem todos! – Bradou. – Eu sou Takashi, o Pecado da Ganância! – Olhares aterrorizados surgiam de todos os lados. – Acho que todos conhecem o título de Senhor da Destruição, e devem ter ideia do porquê dele... – Ele lança um olhar assustador para as pessoas, que olhavam estarrecidas. – Se não quiserem que eu lhes mostre o exato motivo, quero que me tragam todas as esferas mágicas dos Cavaleiros Sagrados da Ordem do Bode Voador, e seus melhores móveis e portas, juntamente de materiais de construção! – O povo olha confuso para ele. O que diabos ele queria fazer? Construir uma casa? – Vocês têm até o nascer do sol para me trazer isso na entrada da cidade. Se não... – Ele puxa sua Zephyrus e mostra para todos os populares. Eles com certeza entenderam o recado. E era melhor fazer o que Takashi ordenava.

A multidão se dispersa assustada e Takashi para na entrada da cidade. Em questão de minutos, recebe o resto das esferas dos Cavaleiros Sagrados e conta que possuíam duas de regeneração, três de luz e algumas outras que seriam inúteis para seus companheiros. Após alguns outros longos minutos de espera, cerca de seis crianças se aproximam do Pecado.

—Você conhece a Camille? – Uma delas pergunta. Assustado com essa pergunta, Takashi responde.

—Sim, eu a conheço. Mas e você? Como a conhece?

—Ela nos ajudou mais cedo e nos deu dinheiro. – Outro responde. – Ela está bem? Vimos que ela foi na direção de onde o padre estava indo.

Takashi observa os olhares inocentes das crianças. Eles estavam preocupados de verdade com Camille, e ele sabia o que devia responder.

—Não está. Por isso que estou levando essas esferas de regeneração pra ela. E nosso bar está um caos, por isso quero móveis e material de construção.

Eles ficam petrificados ao ouvirem essa notícia. A moça bondosa que os ajudou estava ferida? Por que isso tinha que acontecer?

—Tem algo que a gente possa fazer, moço? – Eles perguntam com os olhos brilhando para Takashi.

—Bem... vocês podem me ajudar a carregar alguns móveis e reparar a nossa base. Lá vem eles. – Ele aponta para alguns moradores assustados que deixam alguns móveis e materiais de construção ali.

Eles se aproximam e Takashi pega a maioria e os coloca nas costas, enquanto as crianças carregam algumas coisas menores e mais leves, e todos partem em direção ao Delito. As crianças sentem certa dificuldade em acompanhá-lo, já que ele estava quase correndo com urgência.

Quando ele entra pela porta do destruído bar, ele vê Asura sentado em uma das mesas que sobraram, acabando de enfaixar o gato que parecia com uma múmia de tantas faixas.

—Morcegão, aqui. – Ele joga uma das esferas de restauração para Asura, e sobe a escada do Delito, após largar os móveis e deixar as crianças na parte principal com o Pecado da Gula.

Quando vai abrir a porta do quarto onde estava Camille, algo segura a porta.

—Nada de entrar num quarto com uma menina seminua, Asura! – Skanfy grita de dentro do cômodo.

—Não é o Asura, sou eu. E eu tenho uma esfera mágica de cura. Creio que se lembra que...

—...se mastigadas e ingeridas seus efeitos são maiores e mais rápidos. Oui, je me souviens. 

Ela abre uma fresta na porta e estende a mão para Takashi, que revira os olhos e coloca a orbe na sua mão. Era uma esfera rosada com um símbolo que Krioni havia visto em um livro estrangeiro, com duas cobras e um cetro. Ela não ligava para aquilo, mas sim para seu efeito. Ela colocou na boca da amiga, forçou o movimento para mastigar e engolir. Os ferimentos foram profundos, mas esperava que aquilo funcionasse.

Então, vestiu novamente a camisa na amiga e fitou Nier, que permanecia imóvel desde que fora colocado em sua cama. Pôs o dedo levemente abaixo do nariz do seu capitão e percebeu que respirava normalmente. Com um suspiro até que aliviado, ela flutua para fora do quarto deles e vai para o seu.

Quando ela viu o estado em que seu quarto estava, sentiu que Nier fez pouco com Zugmon. Ela começa usar sua habilidade de levitar nas coisas para dar uma organizada e limpeza geral, e como estava com muita preguiça de arrumar tudo nos detalhes, decidiu que ia se deitar em sua cama para uma boa noite de sono que ela, em sua cabeça de fada que amava a “arte” da procrastinação, com certeza merecia.

Instantes após colocar a cabeça no travesseiro, começou a ouvir marteladas nas paredes e conversa alta, vindo do primeiro andar do Delito. Irritadíssima por ser acordada no seu sono de beleza, afinal manter a beleza de 413 anos não era uma tarefa fácil, desceu voando, completamente descabelada e ranzinza as escadas da taverna.

—Bom dia Skanfy! – Cumprimentou Asura, que pregava novamente um dos balcões do bar. – Vai fazer o nosso café da manhã? Temos convidados hoje! – Ele aponta para as crianças que entregavam materiais de marcenaria para ele e Takashi, que ajustava o tamanho de uma porta. Ao notarem a fada, todas param e começam a olhar para ela flutuando na descida das escadas. 

—Café da manhã? Vocês estão loucos? – Gritava cheia de ódio, assustando os pequenos. – C'est le meio da madrugada e os imbéciles estão martèlent e serrando coisas!

—Madrugada? – Takashi pergunta sem tirar os olhos da porta. – Esse sol de dez horas da manhã não me parece “madrugada”.

—Eu tentei te acordar algumas vezes, mas você brigava e esperneava, inclusive ameaçou me transformar em um porco espinho se eu não parasse... – Respondeu Asura, fazendo Skanfy voar rapidamente para a janela e notar sua gafe.

—Moça, a gente tá esperando desde às 6 para tomar café, disseram que você cozinha muito bem! – Fala uma das crianças, de aparentes sete anos. – Você poderia fazer?

Skanfy sentia um ódio profundo por mexerem em pontos que não gostassem que mexessem: fofura. Aquela criança à sua frente pedindo por café da manhã, principalmente porque ela cozinha bem, era pura demais para ter seu pedido negado. Em meio a um enorme bocejo, ela começa sua trajetória até a cozinha – ou o que sobrou dela – para fazer um café da manhã para todos.

Se tinha algo que a fada se orgulhava, era de suas habilidades culinárias. Se orgulhava ao ponto de dizer que a única coisa nesse mundo que ela não sentia preguiça era cozinhar, pois era uma arte nobre em demasia para ser feita de forma relaxada. Ela liga o fogão a lenha do bar, e pega uma enorme chapa. Então voa rapidamente para fora do bar atrás de galinhas pela cidade, e pega alguns de seus ovos não fecundados para poder usar nessa sua receita, e leite de duas vacas que achou no caminho.

Ela volta tão rápido quanto saiu, demorando menos de um minuto na sua viagem. Então, pega o resto dos ingredientes já presentes no Delito, e como se fosse uma dança, mistura todos com maestria e em sua ordem correta, e derrama alguns círculos na chapa já quente, começando a cozinhá-las. Ela nota que o barulho das obras parou, e vê que todos estão atrás dela, observando o que estava cozinhando.

—Moça, o que é isso? – Pergunta uma garotinha de uns quatro anos, a mesma do irmão gatuno. Skanfy não resiste a tamanha fofura e passa a mão nos cabelos da criança.

—Crêpes. Nunca comeram?

As crianças respondem que não com a cabeça. A fada se sente triste por essas crianças nunca terem comido coisas tão boas quanto panquecas antes, e volta a cozinhar, mas não sem antes afugentar os trabalhadores da sua área de ação – principalmente os grandões.

Ao ver que estava começando a ficar prontas suas panquecas para um batalhão, ela voa para fora do bar em extrema velocidade, carregando cestas e potes, colhe várias frutas e pega um pote cheio de mel e volta para o bar. Ela pega várias maçãs e laranjas e começa a fazer dois excelentes sucos para todos, e coloca o resto das frutas em uma cesta. Ela pega as diversas panquecas que fez, todas altinhas e fofinhas, como mandava seu manual mental, e coloca em uma enorme travessa, com o grande pote de mel ao lado delas.

As crianças (e as “criançonas” quando o assunto era a comida de Skanfy) se sentam à mesa e começam a tomar seu café da manhã. Algumas crianças choravam de alegria ao provarem a realmente deliciosa comida de Skanfy, que parecia se desmanchar na boca.

Então, ela começa a ferver a água para fazer um ensopado com os legumes e verduras que ainda tinha no bar. Ela sobe para o quarto de Nier, Camille e Ryon enquanto deixa sua comida aquecendo para vê-los. Quando abre a porta, vê Camille deitada semi consciente e Ryon acordado e sentado nos pés de Nier, porém calmo e com um fogo baixo. Nier continuava apagado, na mesma posição da noite anterior.

—Skan... fy...?

Os olhos da fada se enchem de lágrimas, e ela se segura para não voar e abraçar a princesa, pois poderia a machucar. Ela apenas flutua lentamente e senta do lado dela, e segura sua mão fraca.

—Você está bem? Comment está se sentindo?

Camille vira seus olhos esmeraldas para Skanfy, cheios de lágrimas.

—Des... culpa... Eu... fui f... fraca...

—Camille, non! Nous qui falhamos e chegamos tarde demais! – Skanfy grita com lágrimas nos olhos.

A princesa não a responde, se sentia muito debilitada para isso. Com certeza a magia da esfera estava fazendo efeito, pois estava muito melhor que na noite anterior. Ryon olhou a fada e foi caminhando com seu natural reboladinho felino e sentou no seu colo.

—Et toi, Ryon? Como está? – Perguntou Skanfy enquanto alisava seu pelo.

—Cansadinho. – Ele se apoia nas patas traseiras e fica em pé nas coxas de Skanfy, pedindo com esse gesto para ser pego no colo. Skanfy o pega e abraça. Sentia que seu coração felino estava melhor, estava apenas cansado e abatido.

—Bem, je vais voltar lá pra baixo. Trate de descansar bastante, d'accord? – Ela desce carregando Ryon e deixa Camille no quarto, que se encosta em Nier para descansar.

A preguiçosa desceu flutuando com Ryon abraçado em seu pescoço e se senta no balcão para comer alguma coisa. As panquecas foram totalmente devoradas, então o que sobrava eram as frutas. Ela sentou Ryon no balcão e alisava seu pelo enquanto comia uma maçã. Algumas crianças se aproximaram curiosas com o gato não-tão-flamejante. Elas começam a fazer carinho nele, que logo dorme sentado, provocando risos nas crianças, que estavam admiradas com ele. Skanfy então vai conversar com os outros dois.

—Nier continua dormindo. Como vocês podem ver, a esfera funcionou mais rapidamente no Ryon, mas Camille estava melhor.

—Isso é bom. – Respondeu Asura, que arrumava um rachado na parede do bar.

—De fato. – Complementou Takashi, que serrava algumas madeiras para consertar o balcão. 

—Mas ela pediu desculpas por ter apanhado. Pediu desculpas por nós não termos chegado a tempo. – Eles ouviram um leve soluço da fada.

—Saligiam. – Respondeu Takashi apenas movendo seus olhos para a sua companheira, que olhou confusa.

—Não se lembra do significado de Saligia, Skanfy? – Perguntou Asura.

—Superbia, Acedia, Luxuria, Ira, Gula, Invidia e Avaritia. – Falou contando nos dedos. – Une anagramme com as primeiras letras dos pecados, escrito em uma língua do continente que Krioni teve contato.

—Sim, fada da Acedia. Se lembra de outra coisa importante que ele falou? Sobre um suposto oitavo pecado? – Indagou Takashi.

—Aquele que ele disse que não poderia ser considerado pecado? Já que doenças não são deméritos e sim coisas a serem tratadas? – Respondeu a fada.

—Exatamente. A Melacholia. Mas ele estava bêbado, não estava falando nada com nada. – Continuou Takashi. – Mas mesmo assim, essa atitude melancólica dela me lembra isso...

—Mas não acho que ela seja um Pecado. Não é uma criminosa. – Completou o vampiro. – Não como... nós.

Os três ficaram em silêncio ao lembrarem do que fizeram e voltaram aos seus afazeres, agora todos como Camille: melancólicos.


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