"Queria ter a chance de dizer que nada do que foi dito era sério. Contudo, nunca fui bom com palavras, por isso escolhi escrever essa carta para você. Não nos vemos há anos e nunca tive a oportunidade de agradecer o que fez por mim na guerra. Tivemos bons momentos juntos que eu não poderia esquecer, nem se me esforçasse.

Será que um dia você pode perdoar tudo que já disse e fiz? Será que podemos enfim sermos amigos? Minhas atitudes nunca disseram por mim o que sentia. Minhas ideias estavam erradas com relação a muitas coisas. Quando você disse que havia algo bom dentro de mim, não consegui ouvi-la, queria tapar meus ouvidos e fugir dos seus olhos meigos. Suas atitudes, sempre valentes e seu otimismo me causavam medo. Medo de perceber o quanto estava sendo covarde, injusto com todos a minha volta. Sei que não justifica, mas será que você ainda pode ver algo bom dentro de mim? Eu espero que sim, pois sonho em te ver novamente, ver seus olhos castanhos e seu sorriso brilhante. Você sempre foi a minha inteligente de todos nós, custei a admitir isso. Que bom que você se casou com o Weasley e está buscando uma vida mais feliz.

Com todo meu carinho,

D.M."

Hermione soltou a carta na mesa, deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto. Não podia acreditar que finalmente Draco havia mandado aquela carta. Fazia anos que não se falavam. O que houve na guerra foi dificil de ser perdoado, apesar de Draco ter mudado de lado no último instante. Ela havia confiado nele, aceitado sua amizade, para depois ser traída daquela forma. Não queria vê-lo novamente e ele não havia dito nada, depois que a guerra havia acabado. O mundo se reconstruiu, ela também. Apesar de amar Rony, seu coração ainda pertencia ao homem que não a merecia.

Resolveu que queimaria a carta, não queria que ninguém a lesse. Não precisava também guardar aquilo, já estava marcado a ferro e fogo em seu coração, cada palavra que ele havia escrito. Jogou a carta na lareira, vendo a pegar fogo em alguns segundos. Abraçou seu corpo, tentando controlar os espasmos de dor que a lembrança dele lhe causava.

— Mione? - chamou Rony, da entrada da casa - Mione? Onde você está?

Ela limpou as lágrimas que insistiam e escorrer e foi ao encontro de Rony.

— Oi querido, como foi o trabalho? - perguntou ela, tentando manter a calma em sua voz.

— Muito cansativo. Os ataques aos nascidos trouxas estão crescendo. Não consigo compreender isso - respondeu ele. Entrou na casa, sem reparar que sua esposa estava com o rosto inchado pelo choro. Não poderia ver pois seu esgotamento era visível. Estavam com enormes olheiras nos olhos e a roupa amarrotada - Vou tentar dormir um pouco. Amanhã irei em uma missão com Harry, no norte da Irlanda.

— Claro, Rony. Eu irei preparar o jantar. Aviso quando ficar pronto - Ela já estava indo para cozinha, quando Rony a parou.

— Sabe que vou compensa-la, não sabe? - ele disse, colocando as mãos na cintura dela - Quando essa missão acabar, vamos tirar férias e ir para Austrália, o que acha?

— Acho maravilhoso - respondeu ela, tentando parecer animada. Ele sorriu e deu um selinho nela.

— Te vejo depois, querida.

Hermione desabou na cadeira da cozinha, sentindo um vazio por dentro. Precisava tentar esquecer Draco, não iria terminar seu casamento. Não iria mudar sua vida por causa de uma paixão de adolescência. Sabia que precisava tomar um novo rumo para sua vida, iria voltar para o ministério da magia. Desejava que a ocupação de um trabalho a fizesse esquecer e viver novamente. Temia que nem isso a fizesse esquecer os olhos azuis que ocupavam sua mente e seus sonhos.