Breeding Love escrita por Ellen Freitas


Capítulo 21
The Odyssey


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!!

Estava tão ansiosa para postar esse capítulo aqui, revelar tudo que rolou em Central City com Tommy, e a melhor parte, apresentar oficialmente Caitlin Snow, minha florzinha que agora vai ser puxada para o meio dessa história toda. Ah, e também mostrar a vocês um pouquinho de como era a família Queen-Merlyn antes do acidente, especialmente Oliver.

Muito obrigada de verdade a todos os reviews carinhosos que vocês tem me mandado. Espero que curtam o capítulo. Até as notas finais!! Bjs*



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“A Odisseia”

#POVTommy

Na noite do acidente

― Maninho, por favor, se acalma!

― Thea, me solta, não quero te machucar. ― Puxei meus braços com brusquidão de suas mãos que tentavam me conter. ― Eu vou e ponto.

― Não é melhor pensar mais um pouco? Pode haver mil e uma razões para essa garota não estar atendendo seus telefonemas! ― argumentou me seguindo a cada vez que eu entrava e saía do closet, colocando algumas peças de roupa em uma pequena bolsa. ― O telefone dela pode ter pifado. Ou… Ou pode estar em sinal, sei lá.

― Sem sinal em Las Vegas?

― A gente nem sabe se ela foi para lá.

― A mãe dela e única família está lá, é óbvio que é para onde ela foi. Mas os motivos dela não me atender eu sei, Speedy, só preciso consertá-los. Eu a machuquei muito feio, mas vou fazer de tudo para tê-la de volta.

― Mas, Tommy, estou com o mau pressentimento sobre essa viagem! ― Lhe dei um sorriso debochado. Seja por nossa criação ou meio que convivíamos depois de adultos, nem eu ou meus irmãos nunca fomos do tipo crédulos.

― Tente um argumento melhor, maninha.

― Isso é sério! Oliver! ― Thea soltou um gritinho agudo ao chamá-lo. Meu irmão parecia ter acabado de chegar da empresa e passava pelo corredor, já com o olhar ansioso e a pressa de quem iria sair novamente. ― Ollie, diz pro Tommy…

― Deixa de ser chata, Thea ― foi a resposta dele, que a fez cruzar os braços e torcer o lábio inferior em um biquinho insatisfeito.

― Valeu, irmão.

― Vocês dois, uns… ― Deixou o xingamento suspenso, apertando as mãos no ar. ― Dá pra tentar fazer parte dessa família de vez em quando, Oliver? ― O puxou a contragosto pelo braço para dentro do meu quarto. ― Tommy está querendo dirigir até Vegas atrás de uma garota que ele mal conhece, pode falar alguma coisa?

― Tommy é um idiota apaixonado, se ainda não aceitou isso, é você que não está fazendo parte dessa família direito, Thea. Agora se me dá licença, tenho que sair antes que Laurel comece a me encher o saco pelo telefone achando que já estou em casa. Se ela ligar para cá, tive um jantar de negócios, vocês não sabem quando volto. ― Seu sorrisinho sugestivo só podia indicar que o tal jantar seria com um de seus inúmeros casinhos.

― Babaca ― a ouvi resmungar.

Eu não concordava com meu irmão em trair Laurel com tanta frequência. Sim, a mulher era de dar nos nervos, mas se ele estava tão insatisfeito com esse relacionamento, não deveria trazê-la para nossa família em um casamento que seria, para dizer o mínimo, a própria Chernobyl da toxicidade.

Mas não adiantava mais falar, Oliver era teimoso demais para abrir mão da emoção vazia que conseguia com toda a esquiva, e tentar alguma coisa de verdade com alguém um dia, uma pessoa que ele se apaixonaria e amaria com todas as forças e dedicação. Eu torcia para que isso acontecesse com ele, só assim me entenderia e seria feliz de verdade. E também seria muito engraçado ver o homem de coração inacessível tropeçando nas palavras para uma garota, parecendo um bobo e quem sabe até sendo do tipo romântico.

Sobre Thea, ela também estava errada, ela ainda era muito novinha, não conseguia entender. Se eu que tinha dez anos a mais de experiência de vida havia me surpreendido pela intensidade e rapidez dos meus sentimentos por Felicity, eu não podia julgá-la. Mas nem minha irmã ou ninguém ficaria em meu caminho.

― Speedy… ― Segurei seu rosto com carinho, tomando uma respiração para tentar eu mesmo me acalmar. ― Eu vou ficar bem, ok? Eu vou até Vegas, vou buscar minha garota e você vai ver como ela é incrível.

― Como saber disso de alguém que virou a cabeça do meu irmão e eu nem ao menos sei o nome? ― Sorri.

Manter Felicity em segredo da minha família não era por sentir vergonha dela ou nada do tipo, eu sabia que Thea ia adorá-la, Oliver eventualmente ia seguir em bons termos com ela, assim como minha mãe. O único que comentei foi meu pai, que me aconselhou a seguir com o mal-entendido inicial pra ver se ela não estava apenas seguindo o cheiro da nossa fortuna. Nunca me arrependi tanto de uma decisão na vida.

― Primeiro eu preciso convencê-la a voltar comigo. Eu fiz besteira, falei coisas horríveis para ela, mas espero que nosso amor consiga vencer isso. Eu vou ser feliz, Thea.

― Droga, maninho ― resmungou se rendendo, e lhe respondi com um beijo na testa, pegando a bolsa e indo até a saída.

― O nome dela é Felicity. ― Soltei a informação e já desci as escadas com pressa, não havia mais tempo a perder.

― Quê? ― gritou, me seguindo aos tropeços.

― Onde você vai, garoto? ― Fui barrado na porta de saída pelos meus pais. Ótimo, quando achei que já estava livre para ir.

― Tô saindo, tenho uma longa estrada pela frente.

― Você não vai atrás de uma garota qualquer dirigindo sozinho à noite, sem nem ter dormido direito nos últimos dias!

― Um, ela não é uma qualquer, dois, eu sou um ótimo motorista e o jato vai ficar ainda alguns dias em manutenção, não dá pra esperar, e três, eu estou bem. ― Eu tinha duas verdades e uma mentira ali, respectivamente. Virando as noites na Verdant e esquadrinhando a cidade atrás da Felicity durante o dia, minhas horas de sono recente estavam bem escassas, mas era para isso que energéticos serviam.

― Você não vai e ponto final. Nem que precise chamar Diggle e mais quantos seguranças forem necessários.

― Pelo amor de Deus, parem de tratá-lo como criança, o cara já tem trinta. ― Oliver havia trocado o terno por roupas menos formais e descia as escadas, pronto para sair também. ― Estou saindo, você vem? ― Abriu a porta e nós dois passamos por ela, deixando os outros três boquiabertos para trás.

― Valeu, irmão. ― Lhe dei um tapinha de cumprimento no ombro.

― Não me agradeça até me provar que não está fazendo a estupidez que acho que está.

― Não é, você vai ver. Se tudo der certo, voltarei com minha namorada e algo melhor ainda junto.

― Só não a peça em casamento e marque a data próxima do meu grande dia. Laurel mata nós dois se isso acontecer e o evento for ofuscado.

― É tanto amor que emociona… ― ironizei e ele rolou olhos.

― Vá se ferrar! ― Entramos em nossos carros e depois dos portões de saída, cada um tomou uma direção diferente.

Nos primeiros quilômetros já percebi como estava muito cansado, mas para minha sorte, acabei encontrando um colega dos tempos da faculdade, Andrew. O ônibus que o levaria para Central City havia cancelado a viagem e como ele tinha uma convenção de alguma coisa logo cedo, estava em busca de carona. Seria um desvio de alguns quilômetros mas valeria a pena pela companhia.

Andrew era divertido, tinha muitas histórias para contar e uma memória extraordinária para tudo que vivemos na época que estudávamos juntos. Eu mesmo não lembrava da metade daquelas coisas.

Contei para ele tudo sobre minha história Felicity, feliz por finalmente poder compartilhar com alguém, e levei uma bronca por como deixamos nosso relacionamento, para o Drew tudo era culpa minha. Ele estava certo.

Quando se ofereceu para dirigir, aceitei a gentileza de bom grado, seria bom descansar as costas por alguns minutos.

― Um grande ou vários pequenos gestos? Pra reconquistá-la? ― questionei.

― O que ela gosta?

― Dos pequenos. Por mim, eu faria chover pétalas de rosas em toda Las Vegas, mas não sei se é por aí.

― Diga o quanto se importa com ela e com esse bebê que está vindo. Se vocês se amam como você diz, deve ser o bastante. Pode demorar algum tempo, mas chegarão em um acordo.

― Eu sou um idiota, como pude duvidar dela? Felicity precisa saber que uma vida com ela e nosso filho é tudo que mais quero, eu até já comprei sapatinhos!

― Mas ele não tem tipo, uns dois centímetros?

― Daqui há uns meses não terá. Espera, eu vou te mostrar. ― Soltei o cinto para pegar o pacote que estava dentro da minha pequena bolsa de mão. ― Não é a coisa mais fofa que você já viu? ― exibi o par de sapatinhos brancos e ele riu negando se leve com a cabeça como se dissesse que eu já estava como todos aqueles pais babões.

― Você realmente…

Em um segundo estávamos rindo da minha corujisse, no seguinte já éramos atingidos pelos faróis cegantes de uma carreta que dobrava em uma curva.

Tudo foi caos a partir daí. O carro capotando barranco abaixo e meu corpo sendo sacado para fora pela janela. Ainda consegui ouvir de bem longe o grande estrondo de luz e som quando meu carro explodiu, e perdi a consciência.

~

2 meses depois

Era como nadar em um oceano profundo, sempre frio, sempre escuro, mas diferente porque eu conseguia respirar normal. Nunca dava para ver nada, mas eu conseguia ouvir vozes com frequência, muitas delas o tempo todo, dizendo coisas que eu não conseguia diferenciar de murmúrios ou palavras desconhecidas.

Só havia uma voz diferente das outras, uma voz feminina que se destacava por, apesar de fazer parte também das múltiplas, era a única que falava comigo sozinha, sem todas as outras atrapalhando. E também falava coisas simples, como sobre seu dia. Tão logo ela saía, eu não conseguia repetir nem para mim mesmo o que era falado, mas ficava a lembrança de como haviam sido momentos bons aqueles.

Só que um dia, tudo mudou. O oceano frio e escuro ainda era frio e escuro, mas havia um calorzinho que começava na palma da minha mão, e eu estava sentindo dor, na perna, na cabeça, no ombro e no braço. Não costumava sentir dor.

Tentei me agarrar à única nova sensação boa de todas aquelas, o calor inédito, e ao fechar os dedos encontrei outros dedos que se enlaçaram aos meus. Tentei falar, mas minha garganta ainda estava fechada e doía muito.

― Calma, fica calmo, estou aqui com você ― a voz já conhecida pediu, e agora sentia com clareza ela apertar minha mão. ― Suzanne, chama o doutor Wells, ele está acordando. Ei, tenta abrir os olhos, você consegue abrir os olhos?

Isso eu poderia tentar. Apertei as pálpebras, como se tomasse distância antes de começar uma corrida, então abri os olhos. A luz era muito forte, quase cegante, tudo muito branco ao meu redor, até que as coisas foram lentamente entrando em foco, e eu não estava preparado para aquela visão.

― Olhos lindos, como apostei que fossem ― comentou baixinho, meio que para si mesma.

Longos cabelos castanhos ondulavam em torno de um rosto alvo e gentil, olhos cuidadosos e carinhosos me observavam com atenção, a mão ainda segurando a minha. Ela usava branco e eu não conseguia descrevê-la como nada diferente de um…

― An… Anj… Anjo.

― Você não pode falar, te extubamos ontem, sua garganta ainda está comprometida. ― Resolvi obedecer, já que a cada sílaba pronunciada eu sentia minha garganta ser cortada de dentro para fora. Ela sentou ao meu lado no meu colchão e segurou novamente minha mão. ― Você sabe onde está? ― Neguei com a cabeça. ― Você sabe o que aconteceu? ― Neguei novamente.

E quando parei para pensar sobre sua última pergunta, eu não conseguia lembrar de absolutamente nada que aconteceu em nenhum momento da minha vida. Devia ter alguma coisa, eu já era homem feito, mas a confusão mental estava tão grande que eu simplesmente não sabia.

― Você está no hospital, sofreu um acidente dois meses atrás, é o que achamos. Foi encontrado por um casal de fazia caminhada e trazido para cá sem identificação ― explicou. Eu não lembrava de acidente ou casal nenhum. ― Eu sou a doutora Caitlin Snow, cuidei de você e auxiliei na sua cirurgia. Consegue lembrar seu nome, algum contato para ligarmos?

Não era a intenção, óbvio, mas as perguntas dela estavam fazendo minha cabeça doer, e pior que isso, eu sentia uma angústia no estômago. Eu não lembrava de nada, precisava lembrar, eu poderia ter uma família preocupada a esse ponto. Dois meses era muito tempo.

― Ei, calma, não precisa se agitar ― pediu, segurando meus ombros e olhando para uma telinha que começou a apitar um barulho irritante. ― Você acabou de acordar depois de mais de dois meses, confusão mental é normal. Seu neurocirurgião principal e meu supervisor está vindo aí, ele vai te explicar melhor seu estado de saúde, logo você vai estar bom, já passou pela pior parte ― garantiu esperançosa. ― Estou tão feliz que está bem!

Eu queria acreditar que tudo ia ficar bem e minhas lembranças e pensamentos iam se ajustar direitinho na minha cabeça, mas até o fim daquela semana apenas um nome, que nem era um nome estava mais para apelido, continuava a martelar na minha mente, e por sentir tanta identificação com ele eu sabia que devia ser o meu.

Tommy.

~

― Só mais um passo, Tommy ― Ronnie Raymond, meu fisioterapeuta insistia, mas além de exausto, estava cheio de má vontade, tinha que admitir.

― Já chega por hoje ― declarei, sentando na cadeira e apoiando a mão na barra de metal que estava sendo usada na fisioterapia.

― Você tem que se esforçar mais nessa etapa, agora que os pinos saíram da sua perna, já pode fazer mais…

― Tá, tá bom, Raymond, eu só estou cansado, ok? Amanhã faremos mais, o dobro disso, se você quiser.

― Ele está malcriado hoje, não é? ― Caitlin entrou no quarto, e um sorriso surgiu no meu rosto.

― Minha pessoa preferida!

― Sim, ele está ― ele ignorou minha fala, terminando de recolher seus equipamentos. ― Até amanhã, Tommy.

― Tchauzinho. ― Acenei quando ele saiu com a cara amarrada.

― Pra que isso entre vocês? ― Caitlin me reprimiu, parando na minha frente e me estendendo ambas as mãos. ― Vai, levanta, vai dar alguns passos a mais sim.

― Ele só está com ciúmes. ― Dei de ombros, a obedecendo e ficando em pé com sua ajuda. ― Ciúmes de você e eu. ― Caitlin negou de leve com a cabeça, mas bem que vi suas bochechas corarem e um pequeno sorrisinho envergonhado escapar.

― Então ele está bem maluco ― desconversou, enquanto me ajudava a andar.

Mesmo com a retirada dos pinos ainda doía bastante, e com os fios de soro ainda ligados em meu braço, não era só frescura, era difícil de verdade.

― Mas quem pode culpá-lo? Se eu perdesse uma garota como você também viraria um chato também.

― Como sabe que a gente namorou?

― Eu sei agora ― constatei quando ela caiu na minha indireta.

― Não vou falar da minha vida pessoal com você, senhor intrometido. Agora deixa de moleza, vem.

Me soltou para que eu andasse sem sua ajuda. Confesso que se Caitlin fosse minha fisioterapeuta, eu já teria evoluído bem mais, algo no jeitinho doce enquanto era mandona comigo. Mas foi só dar três passos que já perdi o equilíbrio, sendo amparado por seus braços, e nos colocando numa distância mais próxima do que jamais estivemos.

Alguns fios ondulados escaparam do seu penteado para o seu rosto e seus olhos cor de chocolate derretido piscaram várias vezes ao encarar os meus, os longos cílios batendo com uma preciosa delicadeza, seu hálito doce batendo contra meu rosto que do ela separou os lábios apenas um pouquinho.

Suas mãos estavam nos meus antebraços e as minhas nos dela, e eu estava arriscando perder o equilíbrio e cair de vez, mas soltei uma das mãos para tocar seu rosto e colocar os teimosos fios no lugar, mas fui interrompido de fazer isso quando a porta abriu.

― Mudou de fisioterapeuta, filho? ― Suzanne, a enfermeira chefe, chamava todo mundo de filho e cuidava de mim desde o início, entrou no quarto com uma bandeja em mãos. Caitlin engoliu seco duas vezes, dando um pequeno passo para trás, sem me soltar. ― Hora da medicação, pra cama ― ordenou, com um gesto do indicador.

― O que você não me pede com tanto carinho que eu não faço correndo, Suzie? ― Manquei com Caitlin como muleta de volta para o leito. ― Correndo do meu jeitinho charmoso, quero dizer.

― Não caio no seu papinho, Tommy. E você não deveria também, filha ― falou para a médica. ― Isso tem uma cara de safado!

― Eu… Eu não estava…

― Agora não posso nem mais ser gentil com todas essas maravilhosas mulheres que tem cuidado de mim? ― fingi de ofendido, meio que indo ao resgate de uma Caitlin que gaguejava. ― E outra, Caity não é só minha médica, é meu anjo. ― Peguei sua mão e beijei o dorso.

― Tá bom, sei ― A enfermeira me desacreditou, terminando de aplicar a medicação no meu soro e recolocando os eletrodos que monitoravam meu coração.

― Ele está taquicárdico? ― Caitlin observou preocupada ao conferir no monitor. Me virei na cama para olhar também para a telinha, que ficava no lado direito da minha cabeceira.

― Eu estou? O que isso significa?

― Que algo nessa sala está acelerando seu coração, meu filho. E posso até estar enganada, mas não sou eu ― brincou e eu sorri. ― O que eu te disse, doutora Snow, cuidado com ele.

― Eu, hein, Suzie, nada a ver.

― É tudo brincadeira, minha enfermeira preferida. Não posso nem pensar em nada do tipo antes que eu ao menos saiba quem eu sou.

― Tommy está certo, e se ele for casado? ― Caitlin sugeriu.

― Não havia aliança alguma quando foi admitido.

― Eu posso ser gay.

― Você não é ― me contradisse.

― Eu posso ser. Já não falei dos meus lapsos de memórias com esse cara loiro que parece mais a identidade secreta de um super-herói?

― Se fosse gay não teria lançado, sem sair do quarto, tantos feromônios que atraíssem o público feminino nas últimas semanas. A gente sabe diferenciar, e todo mundo só tem falado do bonitão desmemoriado do terceiro andar.

― É sério? ― Fiquei surpreso com a informação.

― Enfim, chega desse assunto os dois, que tal? ― Caitlin nos cortou. ― Estão violando nosso código de ética profissional e Suzanne tem outros pacientes, não é?

― Pior que tenho. Volto pra te ver mais tarde, filho.

― Não me deixe com saudades. ― Lhe soprei um beijo quando saiu.

― Então conquistador é a personalidade que está experimentando essa semana? ― Caitlin perguntou casualmente, pegando meu prontuário no suporte da cama e anotando algo.

― Não que tenha dado certo, como as outras.

Desde que comecei a me sentir fisicamente melhor, meus maiores questionamentos eram sobre como eu era antes do acidente. Então vinha experimentando vários comportamentos para saber qual eu me sentiria mais confortável. Tentei o recluso, o nerd, o super feliz, o rude, nada parecia certo.

― Como você está?

― Tá me perguntando como minha médica ou minha amiga?

― Médica.

― Sem dores de cabeça, sem visão embaçada, e se não fosse a minha perna em recuperação estaria perfeito.

― Visão otimista, gostei ― me parabenizou e eu sorri. ― Se eu te perguntar "como amiga", a resposta muda? ― Desviei meu olhar do seu. Com nossa convivência tão contínua nos últimos meses, Caitlin havia se tornado a pessoa mais próxima de mim e não havia como esconder nada dela.

― Sei lá, Caity… Estou confuso.

― Lembranças novas?

― Um nome, Oliver, deve ser o cara de antes. E o mesmo sonho recorrente, com a garota loira de olhos azuis, vestida de branco. Nem sei se é uma lembrança ou imaginação minha, eu nunca estou em nenhum momento junto com ela, e quando penso sobre, só vem na minha cabeça a palavra felicidade.

― Você não cria pessoas nos sonhos, Tommy, só sonha com pessoas que já conhece. E se sente tão feliz com ela, pode ser sua namorada.

― Não disse que sinto exatamente felicidade, disse que lembro da palavra. Minha cabeça está confusa. ― Apertei meus cabelos entre os dedos. ― E de que adianta, essas informações não ajudam.

― Ei, não fica assim. ― Sentou ao meu lado na cama e pegou minha mão. ― É estranho, o coágulo que o doutor Wells disse que estava bloqueando as suas memórias já sumiu completamente, tudo já deveria ter voltado. Mas e se…

Parou por alguns segundos encarando o nada, um vinco adorável entre suas sobrancelhas se formando e seus dentes mastigando o lábio inferior. Ela estava usando sua mente brilhante.

― Caity! ― Estalei os dedos na frente dos seus olhos, e só então ela pareceu acordar.

― Ah, oi. Estava pensando, e se esse bloqueio não for nada físico, se sua mente estiver limitando o acesso à sua identidade antiga por… Sei lá, medo? ― sugeriu me olhando temerosa com minha reação.

― Medo, claro que não! ― neguei na hora. ― Tudo que mais quero é lembrar. Você não entende como é angustiante não saber nada sobre seu passado, seus gostos, as pessoas da sua vida, se eu era uma pessoa boa ou ruim e isso me deixa com tanto… Droga, você está certa, estou apavorado.

― Vou pedir uma consulta com a psiquiatri… ― Já foi levantando, mas impedi que se afastasse, segurando sua mão.

― Ou você pode ficar aqui comigo mais um pouco. ― Ela assentiu e voltou a sentar. ― Eu sei que estou ficando bom, você vai me dar alta.

― Não é uma coisa urgente.

― Não precisa disfarçar, Caitlin. E também sei que não vou ter um lugar para ir se não lembrar pelo menos um sobrenome, ou endereço.

― Você não está sozinho. ― Apertou minha mão.

― Obrigado, meu anjo. ― Levei nossas mãos até mim e beijei o dorso de sua mão. Caitlin olhou para o contato por alguns segundos, antes de fixar seus lindos olhos castanhos nos meus. ― Mas você não tem responsabilidade nenhuma sobre mim, já fez mais do que qualquer um faria. ― Minha voz ficou mais grave de repente.

― Não é sua decisão. ― Se levantou, puxando a própria mão para si e ajustando o jaleco. ― Eu tenho que ver outro paciente e vou entrar em cirurgia logo depois, mas prometo que passo aqui antes de ir para casa. ― Fiquei triste por ela já ter que ir.

― Vou ficar esperando.

― Até mais tarde. ― Sorriu, antes de fechar a porta atrás de si.

Acontece que eu estava mais certo do que imaginei, e na semana seguinte já veio a notícia que eu teria alta e continuaria o tratamento a nível ambulatorial e deveria retornar apenas para consultas de rotina e fisioterapia.

Eu já começava a trabalhar em mil formas de seguir a vida a partir dali, procurar um abrigo, um emprego, qualquer forma para me manter, quando Caitlin chegou toda animada com a "solução perfeita": eu iria morar com ela e o colega que dividia o apartamento. Neguei na hora, óbvio, não poderia pedir tanto, mas ela estava firme sobre a decisão. Argumentou que seria temporário, que o amigo havia apoiado e ideia e que eu não podia negar nada a ela. Acabei cedendo.

― Daí você pode manter a casa sempre arrumada, já que eu e Cait estamos sempre fora ― Cisco, o colega de apartamento da Caitlin e agora meu também, comentava animado.

― Claro.

― Você cozinha? Eu poderia ter uma comida caseira vez ou outra.

― Eu não sei se sei cozinhar, mas posso tentar.

― Esse é o espírito.

― Esse é o espírito aproveitador, isso sim. Tommy está em recuperação de um acidente grave, Cisco, não pode transformá-lo em seu empregado doméstico ― Suzanne rebateu, me ajudando a terminar de arrumar as poucas coisas que eu tinha conseguido, graças a ela, inclusive.

― Secretário do lar ― a corrigiu. ― E outra, vai ser bem legal ter outro cara por lá, ter conversas mais masculinas, podemos jogar, passear.

― Ele também não é um cachorro. ― Sorri.

― Tá implicante comigo hoje, hein, Suzie?

― Só vou ficar com saudades do meu moreno lindo. ― Me abraçou apertado. ― Vai passar aqui no terceiro andar para me ver sempre que vier ao hospital, promete, filho?

― Eu não aguentaria de saudades, Maggie.

― E a melhor parte, quando minha namorada vier passar o dia, vai ficar menos constrangedor com Caitlin estando acompanhada. Encontros duplos, finalmente!

― Faça esse comentário perto da Caity e você vai levar um chute ― avisei.

― Já levei ― afirmou, fazendo uma careta para a lembrança. ― Mas mesmo vocês dois dizendo o contrário, dizendo que não são um casal, é o que é. ― Resolvi nem responder, não era a primeiro e nem seria a última indireta de Cisco sobre isso e Caity me mandou apenas ignorar.

Um serial killer. Ele pode ser sim, um assassino, ladrão, que tem fingido toda essa doença para enganar garotas ingênuas como você. ― Ouvimos Raymond falar pelo lado de fora do quarto.

Cala a boca, Ronnie ― Caitlin ordenou sem paciência alguma.

Eu tenho que proteger você.

Não, você não tem. Terminamos, você não precisa nem me cumprimentar se não quiser, quanto mais ficar obcecado com minha vida. Agora me deixa em paz, já deu meu horário, tenho que ir para casa.

Eu vou amar te dizer eu te avisei.

Tá, tá bom. Tchau. ― Apressou a despedida, e quando abriu a porta, encontrou nós três a encarando. Seu rosto ficou corado. ― Deu pra ouvir?

― Claro, vocês gritaram ― Cisco rebateu rindo.

― Desculpa, Tommy, eu não…

― Cisco, quer ir comigo ali e eu te mostro onde conseguir as gelatinas em copinhos que você adora? ― Suzanne saiu o arrastando para fora, pegando no ar que precisávamos dessa conversa.

― Ele está certo, você sabe ― falei quando fomos deixados sozinhos, me encostando na cama e cruzando os braços. ― Eu posso ser uma má pessoa, com certeza era, já que em todos esses meses, sequer tive alguém procurando por mim.

― Você não é má pessoa.

― Como você sabe?

― Sabendo. ― Deu de ombros. ― Não é mais uma decisão a ser discutida, Tommy, você vai e pronto. Eu não vou deixar de fazer o que acho certo por opinião de ex namorado, fala sério. O apartamento é meu e do Cisco, nenhum dos dois se importa, você não deveria. E outra, estou te oferecendo uma vaga em um sofá cama, não é grande coisa também.

― Tem razão, não é grande coisa, é tudo para mim. ― A puxei para a um abraço. ― Eu vou me esforçar para lembrar, eu prometo ― falei em seus cabelos. Eles tinham cheiro de flores do campo e era tão bom. Como não tinha prestado atenção nisso antes?

~

Eu estava na sala assistindo ao jornal local sem nem prestar muita atenção, já que eu e nossa maratona de série havíamos sido abandonados por Cisco meia hora atrás quando sua namorada ligou. Ele me proibiu de colocar algo diferente, então só esperava.
Ouvi o barulho da fechadura ser destrancada, então a maçaneta começar a girar sem muito sucesso em abrir a porta. Franzi o cenho para aquilo, até ouvir um droga xingado baixinho por Caitlin.

Ela devia estar com os braços cheios de livros como sempre, então me apressei em abrir a porta, e ajudá-la, mas me surpreendi ao ver que não eram livros que ocupavam suas mãos, mas sim flores e um ramo enorme de balões que lhe cobriam o corpo todo.

― Você roubou um palhaço?

― Engraçadinho.

― Eu te ajudo. ― Peguei a bolsa de seu ombro, coloquei no meu e mais algumas sacolas de presentes que ela também carregava. ― Estou perdendo alguma ocasião especial?

― Não é nada. ― Equilibrou o arranjo de orquídeas e o buquê de flores em uma mão, esmurrando os balões com a outra para dentro.

― Essa sacola tem presentes em nome de pessoas que reconheço serem seus pacientes, os balões dizem "Feliz aniversário! Com amor, Barry", as orquídeas extravagantes devem ser do Raymond. E esse cartão… ― Puxei o pequeno envelope do buquê de rosas antes que ela pudesse me impedir. Dizia "Sua doçura é nosso maior presente. Feliz aniversário." ― Quem é Julian?

― Me dá isso aqui! É só um amigo. ― Depositou o que tinha em mãos na bancada da cozinha, pegando o cartão de mim. ― Tá bem, é meu aniversário.

― Caity, parabéns! ― A abracei rapidamente, pois logo tive uma ideia. ― Precisamos fazer uma festa.

― Esqueça, estou fora ― dispensou a ideia, dando a volta em mim e se jogando no sofá. ― A menos que seja uma festa em um spa, aí estou dentro.

― Nisso posso ajudar, vai desencosta. Afasta das costas do sofá, vou te fazer uma massagem. ― Ela me olhou desconfiada, mas fez o que pedi. Sentei ao seu lado e afastei seu cabelo para cima de um ombro, começando com cuidado a massagear os músculos de seu pescoço e ombros, que estavam duros de tensão e cansaço.

― E aí, o que fez durante o dia?

― Usamos a folga do Cisco para assistir séries. Várias, de estilos diferentes, tentando encontrar o que eu gosto. E você?

― Cirurgia. Longa e complicad… Uau, nossa. Você é bom nisso.

― Sério?

― De verdade, deveria fazer isso profissionalmente. Talvez você fizesse isso profissionalmente! ― exclamou animada com a sugestão, se virando para mim. A virei de volta, para continuar meu trabalho.

― Acho que não. ― Não sei o porquê, mas Caitlin pensar em me transformar em alguma versão do ex fisioterapeuta dela não me agradava.

― Com certeza algo com as mãos. Você tem habilidade natural demais para não trabalhar com isso.

― Eu poderia ser um cirurgião também.

― Não duvidaria que fosse, sabe fazer milagre com os dedos. ― Ela pareceu perceber o duplo sentido das palavras depois, parando de falar por um instante, então retomando como uma explicação. ― Quer dizer, você me entendeu.

― Sabe o que é um milagre, de verdade?

― Ahn?

― Você ter todos esses caras a seus pés e ainda estar solteira. ― Caitlin me olhou por cima do ombro, estreitando os olhos para julgar meu comentário, mas eu apenas dei de ombros, como se confirmasse que estava certo no meu ponto. Ela negou com a cabeça e voltou a ficar de costas para mim.

― Estou no último ano da especialidade mais complexa de um dos programas de residência mais difíceis do país, eu mal vejo você e Cisco durante a semana e vocês moram aqui. Acha mesmo que eu tenho tempo para namoro?

― Sabe o que eu acho?

― Sei, e não quero te ouvir dizer.

― Vou falar mesmo assim ― retruquei com teimosia. ― Você está dando desculpas, se escondendo atrás do seu emprego, que é difícil, mas não é empecilho.

― 80 horas semanais, Tommy.

― Você só é legal demais para dispensá-los com a verdade.

― Que verdade? ― Se virou para ficar frente a frente comigo.

― Que não está com nenhum deles, porque não gosta de nenhum deles. Quando isso acontecer com alguém, não vai ter neurocirurgia que atrapalhe. ― Ela mordeu os lábios e desviou o olhar do meu, me provando estar certo. ― Você pode ser a pessoa que mais me conhece no mundo todo, mas também aprendi uma ou duas coisinhas sobre você, Caity.

― Então, sobre as séries…

― Mas você sabe que não é culpa deles, não é? ― interrompi sua fala, pegando sua mão, não a deixando mudar de assunto como sempre fazia quando a conversa ia para esse lado. ― Eles devem ter se encantado por seu sorriso, tímido, gentil, acolhedor, ou por sua inteligência intimidante. Devem ter descoberto o quão mais linda fica quando está concentrada, e como até seu perfeccionismo levemente patológico é fofo. Como não gostar sua bondade e gentileza, entrega e amor aos outros? ― Caitlin engoliu seco, não desviando os olhos dos meus assim como eu não conseguia desviar dos dela. ― A culpa não é deles por se apaixonarem por você.

Subi minha mão livre para seu rosto, o impulso quase incontrolável de me aproximar mais, era como se minha vida dependesse daquilo, como se beijá-la fosse uma necessidade tão essencial das minhas células como respirar.

Não pensei muito sobre, apenas um par de centímetros separavam minha boca da dela quando ouvi as palavras que me fizeram parar, o nome dito na televisão que me fez parar.

"Oliver Queen, o jovem CEO e um dos herdeiros da Queen-Merlyn é o responsável por planejar e finalmente irá firmar o acordo que ligará Central City e Starling City, com a sociedade parcial criada entre o maior laboratório e a maior empresa de investimentos científicos da Costa Oeste."

Minha audição que registrava apenas ao longe a voz da repórter, agora estava completamente voltada para a matéria, assim como minha atenção. E lá estava, o arranha céu e o homem que povoavam meus flashes de memória. Oliver Queen e essa empresa que…

Uma dor de cabeça lancinante e um zumbido agudo me atingiu, e eu levei as duas mãos às têmporas, mas não podia fechar os olhos, precisava aguentar, precisava ver mais.

― Tommy, o que foi? ― Caitlin tentava chamar minha atenção para si. - O que você está sentindo, Tommy?!

"Queen tem se mantido fora do radar da mídia desde o escândalo envolvendo Laurel Lance, que aconteceu meses atrás durante o aniversário da caçula Merlyn na boate Verdant."

Agora eu reconhecia a boate, as luzes verdes, todas aquelas pessoas que se amontoavam em uma pista de dança animada, o bar que me era tão familiar, com todas as garrafas, copos e coqueteleiras.

― Eu conheço… Conheço eles. ― Ela olhou para a televisão, franziu a testa, mas voltou a atenção preocupada para mim. ― Está voltando tudo.

― Tá bom, eu vou desligar isso. Está sobrecarregando seu cérebro.

― Não! ― Peguei o controle remoto de suas mãos. ― Eu preciso ver.

Foi quando eu a vi, no meio da confusão de pessoas na tal boate, em um frame de não mais que dois segundos, a garota dos meus sonhos. Então todas as lembranças voltaram como se me atropelasse em um acidente de trem.

Felicity. Oliver. Thea. Meus pais. Verdant. Queen-Merlyn.

Eu tinha sorte de estar sentado ou teria caído no chão, a dor de cabeça mais forte do que nunca. Sentia Caitlin me amparar com os braços, gritar Cisco por ajuda para que ele chamasse uma ambulância.

Minha visão estava escurecida, e tudo depois daí virou meio que um borrão. A ida ao hospital, o atendimento na emergência, a internação, os exames. Me deram remédios para acalmar, que funcionaram, e finalmente consegui processar todas as informações que chegaram em velocidade recorde. Mas agora, eu finalmente tinha minhas memórias de volta.

~

― Então você lembra de tudo, tudo? ― Cisco perguntou, o indicador batendo no queixo, dando voltas em minha cama de hospital na manhã seguinte.

― Com detalhes.

― Nome completo? Filiação?

― Thomas Merlyn, sem nome do meio, minha mãe não curtia isso. Filho de Malcom e Rebecca Merlyn, que morreu quando eu tinha oito anos. Meu pai casou de novo com minha atual madrasta, Moira, antigamente conhecida por Queen.

― Aniversário?

― 9 de fevereiro.

― Irmãos?

― Dois. Thea, filha do meu pai e Moira, e Oliver, filho do primeiro casamento dela.

― Profissão?

― Gerente da boate de luxo Verdant, que fundei com meu irmão quase uma década atrás, barman nas horas vagas e por diversão. Aliás, tomara que Ollie não tenha deixado Speedy acabar com meu negócio nesses meses ― comentei comigo mesmo a última frase.

― Casado? Namorando?

― Ok, Cisco, isso não é uma entrevista ― Suzanne o cortou. ― O menino sofreu uma sobrecarga de informações muito grande em poucas horas, ele passou mal e precisa descansar.

― Dá licença, por que eu sou o único empolgado com essa história? Sem saber, abrigamos, cuidamos e tratamos um dos três herdeiros da maior fortuna da Costa Oeste! Aliás, o aluguel do nosso sofá saiu em torno de um milhão de dólares a diária, me paga quando puder, aceito PIX. Ah, e pulseiras VIP vitalícias com direito a open bar na sua boate e para o setor de engenharia da sua empresa. ― Sorri.

Não que eu estivesse achando muita graça de tudo, eu não estava. Eu sei que deveria estar feliz, meu maior medo de lembrar da minha vida anterior era me descobrir um babaca sem escrúpulos, um bandido fugindo da polícia ou um completo fracassado.
Eu não era essas coisas, menos a história do babaca. Havia sido um idiota com Felicity, lembrava de cada palavra rude e injusta que lancei a ela e de cada um de nossos momentos que me fizeram amá-la. Eu ia ter um filho, que pela data deveria ter nascido ou estar quase, e precisava consertar isso e conseguir minha família de volta.

Só que também tinha Caitlin. Eu havia vivido aqui por meses, e agora ajustar minhas duas vidas em uma só ia além do complicado. Eu não queria magoar ninguém, não mais do que já havia feito, só não sabia bem o que fazer a partir de agora.

― Pessoal, posso falar com a doutora Snow por uns minutinhos a sós?

Caitlin que se mantinha quieta e calada encarando o chão ao lado da minha cama, ergueu o rosto surpreso para meu pedido, e depois de olhares e murmúrios sugestivos dos outros dois, fomos deixados a sós.

― Caity… ― Estendi minha mão para a sua, que ela pegou, fazendo carinho com o polegar no dorso. ― Eu sei o que ia acontecendo antes dessa loucura toda começar.

― Você não precisa… ― Tentou se soltar de mim, mas segurei sua mão mais firme.

― Preciso sim ― refutei. ― Me desculpa pelo que eu ia fazendo, foi um impulso, e pelo que vou fazer agora, é necessário. ― Respirei fundo. ― Preciso ir embora, voltar para Starling City.

― Eu entendo, Tommy, você não precisa explicar. Tem uma vida te esperando agora, uma vida que você deixou suspensa, sua família, pessoas que te amam e que você ama. Pessoas para quem você deve voltar.

― É mais complicado que isso. ― Suspirei. ― Aquela garota dos meus sonhos, eu sei quem ela é agora. Minha namorada.

― Ah ― murmurou e soltou minha mão, colocando os cabelos nervosamente atrás de ambas orelhas.

― Brigamos dias antes do acidente, era atrás dela que eu estava indo quando tudo aconteceu, eu precisava consegui-la de volta, eu precisava… ― Respirei fundo, era melhor contar tudo de uma vez. ― Olha, não que seja uma coisa para eu me gabar, toda a fortuna da minha família foi fruto do trabalho duro dos meus pais, mas sim, somos bem ricos. Durante toda minha vida, eu sonhava em encontrar o amor verdadeiro, alguém que não estivesse interessado em todo o dinheiro e status que os Queen-Merlyn tinham a oferecer, e encontrei, com Felicity. Só que eu fiz uma coisa estúpida, quando nos conhecemos, ela achou que eu fosse pobre, e eu deixei assim, fiquei com medo de me envolver novamente e ela ser mais uma daquelas, foram muitas decepções antes disso. Foi errado, pode me xingar à vontade.

― Eu não vou xingar você, ainda estou processando toda a história ― falou sincera.

― A coisa é que eu falei coisas para ela quando achei que ela tinha descoberto minha mentira e tentava me dar um golpe. Ela está grávida, Caity, grávida de um filho meu.

― Você vai ser pai?

― Se já não for a essa altura.

― Deus, isso é maravilhoso, Tommy! ― exclamou, mas senti que no fundo, sua voz não estava tão firme quanto ela queria mostrar.

― Minha cabeça ainda está muito confusa, tentando ajustar o que eu sinto agora, quem eu sou agora, com quem eu fui a vida toda. Eu preciso voltar e pedir perdão a Felicity e por meu filho também.

― Claro, claro. Eu já sabia, sabia que quando você lembrasse retornaria para sua vida, e isso aqui seria apenas um momento passageiro.

― Não é isso, por favor. Mesmo com todas as lembranças de volta, você ainda é minha amiga, meu anjo. Nunca poderia ser grato o bastante, mas…

― Você os ama e precisa voltar. Eu entendo e estou feliz por você. ― Sua voz embargou e seus olhos encheram de lágrimas. ― Eu só… Eu vou sentir sua falta.

― Não vou deixar que sinta. ― Enxuguei com o polegar uma lágrima que escorreu por seu rosto. ― Como se eu conseguisse sobreviver sem seus conselhos, e outra, você é minha médica, preciso de check-ups constantes, ou não?

― Sim, mas tem ótimos neurologistas em Starling City.

― Não tem você lá.

― Não faz sentido você ficar vindo aqui só para consultas que poderia muito bem fazer…

― A empresa da minha família tem um jato, já te disse isso? ― a interrompi, me gabando teatralmente. Na minha cabeça, era apenas inadmissível que voltar para Starling fosse uma despedida final da vida que eu tinha em Central City. ― E vou te encher com tantas ligações e emails que você vai bloquear meu número. Não posso ficar sem minha melhor amiga. ― Peguei novamente em sua mão e beijei.

― É bom o seu antigo eu não ser um mentiroso, porque eu vou cobrar isso, viu? ― Sorriu, passando a mão que eu não segurava em seu nariz vermelho do choro. Eu mesmo estava quase em lágrimas também só em pensar em não vê-la mais todos os dias. ― Posso te pedir só uma coisa?

― Qualquer coisa.

― Não fala de mim pra sua família. ― Meu cérebro ligou um alerta na hora. Foi omitir a existência de uma pessoa importante na minha vida que nos colocou nessa confusão em primeiro lugar.

― Caity, não acho uma boa ideia. E eu estou ansioso para que você conheça todo mundo e que todo mundo conheça a mulher que salvou minha vida.

― Por favor, Tommy, estou pedindo. Eu só precisei de dois minutos no Google para saber que sua família são os Kardashian de Starling City, tem sempre tanta coisa acontecendo com vocês, transações bilionárias, festas extravagantes escândalos pessoais, não posso estar no meio disso tudo.

― Nem tudo é como parece na mídia.

― Eu sei, eu sei, mas… Isso que temos é bom, nossa amizade, do jeitinho que ela é. Eu me habituei com isso e preciso de mais um tempo antes de ter que lidar com você sendo um dos três herdeiros da maior fortuna da Costa Oeste ― parafraseou Cisco, rolando olhos. É quase como se a revelação do meu sobrenome fosse um revés pra ela.

― Pra você sempre vou ser só o Tommy. ― Beijei a mão dela novamente. ― Se é o que você quer, que assim seja por enquanto.

― Obrigada. ― Tomou uma respiração profunda, soltando nossas mãos e colocando seu sorriso no rosto. ― Agora melhor parar com a choradeira, não é?! Você lembra algum telefone, pra ligar avisando sua família, ou mandarem te buscar aqui?

― Eu pensei que aparecer de surpresa, que tal?

― Isso é uma péssima ideia, quer matar todo mundo de susto?

― Se eu conseguir dar um susto bem dado na Thea, já valeu a não-morte.

― Nem brinca com isso, doido. ― Deu um tapinha no meu braço com as costas da mão e sorrimos.

Mas era isso, ia resolver minha vida e ter minha família de volta.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? SnowMerlyn não são um amorzinho? Me contem nos reviews.

Agora sim, no próximo capítulo estamos ao barraco lá do capítulo dezenove e ele vai se chamar "Raio de Explosão". Só por aí já dá pra ver que a descoberta do romance de Oliver e Felicity por Tommy vai sobrar pra muita gente, inclusive para quem não tem nada a ver e não merece. Mas isso vocês vão descobrir só na próxima segunda.

Muito obrigada pelas pessoas que acompanham, comentam, indicam aos amigos, e até aos que leem escondidinhos mas valorizam o trabalho, que vamos combinar é bem grande. Um capítulo de mais de sete mil palavras? Amo, mas dá um trabalhão!!
Até o próximo. Bjs*



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