“Sem brigas.”

“Sem discussões.”

“Sem respostas atrevidas ou piadinhas.”

Tudo havia saído da boca de James Potter no dia em que o casamento com Lily foi anunciado, algumas semanas depois e até mesmo algumas horas antes do evento acontecer. Sirius Black tinha plena noção do que James e Lily esperavam dele como padrinho e melhor amigo, porque eles eram família e se amavam mais do que qualquer coisa.

É por isso que ele não pensou duas vezes antes de quebrar todas as regras criadas unicamente para ele.

Havia acabado de fazer o seu discurso. Houveram palmas, risos e lágrimas. Foi tudo lindo, Sirius sabia, pois, essa havia sido a intenção quando passara algumas noites em claro escrevendo o rascunho ideal para o dia dos amigos. No entanto, quando desceu do palco e foi para o bar em busca de bebidas, não conseguiu fechar a sua boca. Bem, ele não quis fechar sua boca, entretanto, isso era algo que ele jamais admitiria para Lily Evans.

Estava tão ocupado admirando o casal de recém-casados dançando a primeira música da noite que só reparou que estava ao lado da irmã de Lily e seu marido quando foi tarde demais.

— Você viu a piada que era aquele padrinho? Meus pais acharam tudo muito engraçado!

— Ele é igualzinho ao Potter.

Sirius suspirou. Não era a primeira vez que falavam mal dele. Ele poderia aguentar, sim, ele conseguiria fazer isso... Se o alvo das palavras de Petúnia e Vernon não tivessem mudado.

— Olha só... Que pirralha mimada! Está se achando a rainha da família junto dessa aberração em forma de marido.

— E os pais dele? Aquele Fleamont...!

— Nem me faça começar, querido!

— Eu ia adorar que você começasse. – Soltou Sirius, abaixando o copo que segurava. Os dois se viraram instantaneamente, suas feições surpresas e amedrontadas por alguns segundos até que percebessem o local onde estavam e como nada realmente ruim poderia acontecer.

— Parece que ouvir a conversa dos outros também é algo para a lista de defeitos dessa gente.

— Você está em um casamento. Se quer ser uma pessoa horrível, faça isso sem que as pessoas precisem te escutar.

— Ora, seu... – O homem barbudo e baixinho deu um passo à frente, tentando parecer ameaçador. Sirius riu.

— Querido, não dê ouvidos a ele. – Ela puxou o marido para o seu lado, cerrando os olhos. – Nós sabemos bem o que você é.

— Ah, é? E eu sei o que você é. – Sirius disse em voz baixa. – É uma mulherzinha triste e frustrada por ter uma irmã tão melhor que você em todos os sentidos. Eu sei como é. Lily é mais inteligente, talentosa, amigável e bonita, e o marido dela também, não é? Você deve ter achado muito injusto quando Lily trouxe James para casa. – Petúnia empertigou-se e Sirius soube na mesma hora que havia atingido um nervo. – Ela já era tudo isso, seus pais já a amavam, ela precisava mesmo de um marido tão agradável quando o seu é isso aí?

— Você é louco.

— E essa era sua última esperança. Lily não pode deixar de ser menos Lily, mas ela deveria decepcionar de outros modos para não mostrar como é perfeita, mas isso não aconteceu. Sua inveja não deve nem caber dentro de si, não é... – Sirius hesitou, fingindo pensar. – Como é mesmo o seu nome?

Petúnia respirou fundo, seu peito inflou tanto que seria capaz de explodir ali mesmo com suas bochechas vermelhas e suas narinas apontadas para cima.

— Como eu poderia ter inveja de fazer parte de um grupo de aberrações?!

Sirius deu de ombros, enfiando as mãos no bolso.

— Você sequer tem amigos, Pelúnia?

— Você está passando dos limites!

— Os limites que vocês ultrapassaram quando vieram aqui só para fazer esse papel ridículo? – Sirius balançou a cabeça. – Podem me ofender se quiserem. Podem ofender todos os bruxos do mundo, não me importo, mas não vou ficar calado ouvindo vocês falarem de Lily ou dos Potter.

 – Sirius! – O rapaz deu um salto. James e Lily estavam a poucos passos de distância e Sirius quase mudou de cor ao ser pego. – O que pensa que está dizendo para Petúnia e Vernon?

— Oh, o nome dela é Petúnia... – Murmurou, vendo os amigos se aproximarem. James parecia furioso, assim como a ruiva ao seu lado, o que fez com que o maroto resolvesse se adiantar. – Olha, eu sei o que você disse, eu sinto...

— Você só pode estar louco.

Sirius suspirou, vendo pelo canto do olho que os novos cunhados de James pareciam repentinamente mais satisfeitos.

— Você não pode dizer essas coisas, Sirius.

— Foi o que nós dissemos... – Começou Petúnia.

— “Lily ou os Potter”? – James franziu o cenho. – Nós acabamos de nos casar, Black. O nome dela é Lily Potter agora!

— Você estava falando sobre Fleamont e Euphemia? – Lily questionou, encarando a irmã.

— Ele estava me atacando!

Lily suspirou, olhando ao redor, como se procurasse uma saída antes de ter que dizer as palavras que vieram a seguir.

— Você é uma mentirosa, Petúnia, e eu estou cansada de você. Ouço as mesmas coisas há anos, mas meu marido, meus amigos e meus sogros não vão. Especialmente não no dia do meu casamento.

— Escute aqui, Lily...

— Cale a boca, cara. – Interrompeu James, fazendo Vernon encolher-se. Sirius viu a mão de James descer para apertar os dedos trêmulos da esposa.

— Quero que vá embora. Agora.

Sirius esperava uma discussão, mas tudo que Petúnia fez foi lançar mais um olhar enviesado e sair. Silêncio tomou conta dos três por um minuto inteiro até Sirius resolver falar.

— Eu comecei. Sinto muito.

Lily balançou a cabeça na mesma hora.

— Ouvimos quase tudo. Eu sei que disse para não responder, mas eu definitivamente teria feito a mesma coisa. – James sorriu, passando o braço pelo ombro do melhor amigo.

— Obrigado por ter me defendido, Sirius. – Lily correu para o outro lado, entrelaçando seus braços. Sirius estava excessivamente constrangido com o olhar de gratidão dos dois.

— É, bom, eu sou o padrinho, não sou?

— Sim. – Respondeu James. – E você é o melhor de todos, Padfoot.