Sirius batia o pé no chão, ansioso para finalmente embarcar para as aventuras em Hogwarts. Olhando em volta, o garoto de onze anos percebeu a diferença das outras famílias para a sua. Não que acreditasse em naquela baboseira de sangue puro que seus pais – e quase todos os Black – repetiam como um mantra; não, a diferença estava na forma como os pais tratavam os filhos.

Enquanto os outros pais abraçavam os filhos, alguns até mesmo chorando, os Black mantinham as expressões impassíveis, o máximo de contato com o filho sendo as mãos pesadas em seus ombros. Como se quisessem controlá-lo.

— Não bata o pé no chão, Sirius. É deselegante. – Walburga disse antes de deixá-lo a sós com o pai, sem paciência para esperar pelo expresso em meio a tanto barulho.

Rebelde, Sirius continuou batendo o pé no chão, mesmo que a mãe já não pudesse ouvir. Como resposta, recebeu um forte aperto do pai no ombro, que certamente ficaria avermelhado. Encolhendo-se, ele ficou imóvel, não querendo provocar sua fúria.

— Precisamos conversar. – Disse Órion. – Sirius, você sabe qual o lema da família Black?

— Antipáticos e indiferentes?

— Não me provoque. – Respondeu o pai, entredentes. – Você não vai gostar se eu repetir a pergunta.

— Toujours pur.

— Muito bem. O que significa?

— Sempre puro.

— Exatamente. Você, Sirius, é um integrante de uma das mais antigas e nobres casas do mundo bruxo. Como tal, vai estudar em Hogwarts, uma escola muito antiga e...atualmente não muito nobre. – O Black mais velho olhou com desdém pai uma garotinha ruiva e seus pais, claramente trouxas. – Mas isso não importa. Você possui deveres e metas a cumprir nessa escola. Deve trazer orgulho e honrarias para a família.

— O que exatamente eu tenho que fazer? – Perguntou, o cenho franzido.

— É simples: você irá para a Sonserina, obviamente. Lá, deverá cultivar boas relações. Não amizades, isso é para gente fraca e imbecil. Você precisa de relacionamentos que lhe favoreçam de alguma forma. Você se destacará, mas de forma apropriada e elegante, como, por exemplo, sendo o melhor aluno. Mas, não deixe evidente que você está esforçando-se para isso: a glória está em pensarem que você é naturalmente assim. – Aquilo era tão estranho para uma criança que Sirius nem sonhava em interromper o pai. Encarando isso como um encorajamento, Órion continuou: – Você deve me mandar uma carta toda semana, apenas me informando de seus progressos e sem melodramas desnecessários, ok?

Sirius ficou imóvel, imaginando que não seria agradável dizer ao pai que tudo aquilo era um completo lixo. Sendo assim, olhou para a esquerda e percebeu um garotinho magricela o encarava. Sorrindo, Sirius acenou e recebeu um balançar de cabeça de volta, o que fez o pai pigarrear.

— Apenas bons relacionamentos, Sirius. Foi o que eu disse. – A voz imponente fez o garoto abaixar a cabeça e sair dali rapidamente.

Sirius não o respondeu, mas naquele momento jurou para si mesmo que se destacaria em Hogwarts, assim como o pai pedira, mas faria isso de todas as formas que Órion detestaria.