Happier escrita por red hood


Capítulo 1
I: (don't be)


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic é para lembrar que eu sou uma grande boiolinha emotiva e pisciana tal qual Olivia Rodrigo.

Obrigada Camila por ler e me ajudar, você é incrível, obrigada por apoiar minha bagunça.

Espero que gostem da minha última fanfic do Junho Scorose! E até ano que vem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802080/chapter/1

Quando Albus chamou Rose para sair depois do expediente, parte dela sabia que tinha que ter desconfiado que havia algo errado ou que pelo menos algo daria muito errado. Havia passado os últimos meses tão imersa no trabalho e em provar – mais para si mesma – que era merecedora de seu cargo, que não lembrava da última vez que tirara uma folga. Ela realmente precisava de um alívio naquela sexta-feira, o último caso que estavam resolvendo, envolvendo artefatos com magia das trevas sendo espalhados pela Inglaterra trouxa, havia sido um dos mais desgastantes que ela já havia enfrentado nesse curto um ano em que ela havia entrado para a equipe dos Aurores.

Portanto, deixou-se ter a esperança que aquela seria uma noite comum em que ela voltaria para casa levemente entorpecida e dormiria até a tarde do dia seguinte. Não perguntou quem estaria lá ou se tinha alguma comemoração a ser celebrada, se Albus e a caneca grande de cerveja amanteigada seriam companhias suficientes para fazer daquela uma noite boa.

Rose estava rindo de alguma piada idiota de seu primo quando entraram no Caldeirão Furado e seu sorriso apenas aumentou ao se deparar com os rostos familiares de suas amigas sentadas no balcão do bar. Alice Longbottom usava seus privilégios por ser filha dos donos e distribuía generosas doses de Uísque de Fogo para Jia Chang e Lorcan Scamander. Rose olhou para Albus incrédula e extremamente feliz.

— Você sabia que eles estariam aqui? – ela perguntou ao primo.

— Claro – ele disse com uma careta. – Se você usasse seu celular trouxa, também saberia, pessoas marcam coisas por lá.

Ela revirou os olhos e foi correndo abraçar e cumprimentar os amigos. A saudade era tamanha que Rose teve que se controlar para que lágrimas de felicidade não escorressem pelo seu rosto. A parte mais estranha de ser adulta, para ela, talvez fosse a rotina sem seus amigos dos anos de Hogwarts. A escola que antes os unia como uma família, agora não era mais um fator em comum, cada um tinha um rumo e um trabalho distinto. Alice tomava conta da hospedaria da família e almejava um dia ser professora assim como seu pai. Jia dava seu sangue para tentar se tornar uma medibruxa, carreira que demandava muito estudo e dedicação. E para Lorcan, o infinito era o limite, havia passado os últimos dois anos pós escola viajando o mundo, coletando artefatos inusitados e corações bruxos de outros países.

Sentar ali com eles era como reencontrar seu o lar.

Um lar que Rose nunca escolheu abandonar, mas que a vida havia separado para que eles pudessem crescer, mudar, só para se reencontrarem e entenderem que o que haviam construído na infância e na adolescência era uma amizade que provavelmente perpetuaria pela vida toda deles. Além disso, haviam criado um laço de amor; pelo menos era isso que Rose sabia que estava sentindo enquanto ouvia as história dos amigos. Seu peito vibrava em deleite com as conquistas de cada um.

O local naquela noite transbordava nostalgia e felicidade. As horas foram passando e o lugar só enchendo mais. Havia muitos rostos conhecidos ali, mas alguns não conhecidos o suficiente para a mente já bêbada de Rose lembrar. Sua prima Dominique havia aparecido, juntamente de Roxy e Lysander Scamander, a irmã gêmea de Lorcan. Alguns ex-sonserinos bebiam em uma mesa afastada, dentre eles Anthony Zabini, para a felicidade e nervosismo de Albus, que nutria um crush adolescente pelo rapaz e não tinha certeza se estava disposto a esconder isso naquela noite.

Conversaram e riram até Rose não aguentar mais e ter que pedir licença para ir ao banheiro. Isso sempre acontecia. Ficava tão envolvida nas histórias que esquecia de cuidar das necessidades básicas da sua existência.

Parte dela se sentiu grata por ter tido pelo menos algumas horas de alívio e despreocupação, pois assim que ela retornou do banheiro, se deparou com uma nova presença no lugar.

O nervosismo tomou conta do seu corpo assim que seus olhos pousaram em Scorpius Malfoy. Ele conversava animado com uma menina na mesa que antes estava vazia. Rose não identificou de primeira quem ela era, mas suspeitava que ela também havia estudado em Hogwarts na mesma época que eles. Do lado oposto dos dois, Anthony Zabini estava com o braço envolvido em Albus, que parecia dividido em ter um colapso nervoso ou derreter em volta dos braços do outro homem.

A mente de Rose vagava em centenas de lugares diferentes com aquela visão. Queria estar feliz pelo primo, ir conversar com Anthony, voltar para seu drink que estava semicheio na bancada do bar ou simplesmente sumir.

O que ele estava fazendo ali?

Até onde sabia, Scorpius Malfoy estava em algum lugar do mundo buscando mais sobre a história da alquimia, curiosidade que havia herdado de seu pai, que sempre assustara Rose. A ideia de conseguir controlar a matéria, a busca por transmutar corpos e os princípios da pedra filosofal. Aquela ambição por esse controle já havia feito estragos pelo mundo bruxo e todos sabiam disso.

Mas naquele momento nada disso importava muito. Ela estava pouco ligando por onde ele andava, o que havia feito, tudo que queria saber era o que o trouxera de volta. Será que Albus sabia disso o tempo todo?

Fato é que tinha meses que ela não encontrava com os melhores amigos, pois estava se afundando em trabalho e em qualquer coisa que a ocupasse o suficiente para que ela esquecesse certos sentimentos que a levavam sempre de volta a ele.

Tê-lo em sua frente fazia com que Rose fosse incapaz de negar o que andava reprimindo.

Eles haviam terminado há quase um ano. Estavam há mais tempo separados do que o tempo que passaram juntos oficialmente. Passara a sua adolescência entre sentimentos negados, beijos roubados e um amor tão doce quanto amargo.

Para Rose, era quase um conforto pensar que história de uma Weasley e um Malfoy juntos sempre havia sido amaldiçoada, pois quando o fim deles chegou, ela não se surpreendeu. Porém, tudo ainda doía. Por mais que ela fizesse de tudo para apagar o que seu coração dizia, a ferida ainda estava ali.

Ela havia crescido ouvindo que não deveria se misturar com um Malfoy, a primeira bandeira vermelha instaurada bem no seu primeiro dia de Hogwarts. Porém, longe de seus sobrenomes e os holofotes do Profeta Diário, Rose e Scorpius tinham muito em comum. A pressão que carregavam para serem simplesmente bons. Tinham a obrigação de se provarem o tempo todo dignos de suas posições, ela das pessoas que admiravam os feitos de seus pais e ele para mostrar que não era o passado do seu.

E nessa corrida eles disputavam acirradamente em tudo. Quem era o melhor amigo para Albus, ou o melhor aluno de poções, ou o melhor monitor chefe de suas casas.

Foi lá pelo sexto ano que a tensão e competição se tornaram algo mais. Se Rose fechasse os olhos ainda podia sentir os lábios de Scorpius sob o seu quando se beijaram pela primeira vez. Ela havia decorado todas as manias bobas do Malfoy, aprendido a amar sua timidez e como ele ficava vermelho com as coisas mais tolas. Havia aprendido a amar o fato dele dizer “eu te amo” através de pequenos presentes e surpresas pela madrugada, horário em que eles podiam fingir serem os únicos no mundo.

Mas uma coisa era estar sob os corredores escondidos de Hogwarts, os quartos escuros e suntuosos dos verões na casa de lago dos Malfoy, os olhares trocados durante os Natais n’A Toca. Outra coisa era a vida pós escola, com um destino incerto pela frente, rumores nos jornais, a pressão da família, que acreditavam na amizade dos dois, mas achavam que um romance era demais.

Tudo começou a se tornar pesado. As brigas não eram como as de antes, simples provocações resolvidas com beijos. Rose queria continuar sendo discreta para preservar os dois. Scorpius estava cansado das sombras e só queria gritar para o mundo. Ela queria ficar, enraizar ali, crescer e conseguir um lugar no Ministério da Magia. Ele queria voar, sumir, conhecer o mundo e saber como seria ir para um lugar sem um passado.  

Quando o amor deles havia deixado de ser o suficiente?

Quando o amor pode ser o suficiente?

Rose segurou as próprias mãos com força, tentando se concentrar em qualquer outra coisa na tentativa que seus olhos parassem de lagrimejar.

Queria que Scorpius seguisse em frente, fosse feliz, mas não mais feliz do que quando estava com ela.

Pois apesar de todo o caos, inseguranças e momentos escondidos eles foram felizes. Os primeiros meses após Hogwarts foram como um sonho. Acordar ao lado dele, dedos entrelaçados quando andavam na rua. O apoio durante a primeira briga com seus pais. Os abraços durante os dias de luto, quando o pai de Scorpius morrera. Eles se amaram e se apoiaram até onde puderam, até onde aguentaram, até que o mundo decidiu que o laço que eles haviam criado era errado.

Respirou fundo, lembrando-se que ela que havia escolhido terminar. Mas o egoísmo ainda pesava em seu peito. Os últimos meses haviam sido uma merda para ela, e vê-lo sentado no bar, conversando e trocando sorrisos com outra pessoa, não ajudava em nada.

Ela achava que longe dele teria tudo que sempre quisera, mas havia se tornado sem graça não ter alguém para compartilhar tudo que havia construído. A paz que vislumbrara era uma ilusão, pois preferiria a confusão dos olhos cinzentos dele. Havia diversão em explorar outros corpos, outras bocas, mas jamais conforto. Seguir em frente parecia cada vez mais uma missão impossível, quando todos os caminhos pareciam voltar para ele.

Rose andou receosa até onde seus amigos ainda conversavam animadamente.

Ciúmes era um sentimento que ela definitivamente não queria sentir. Continuou a noite inquieta olhando para a mesa em que Scorpius estava. Ele parecia tão feliz com a menina ao lado, que ela havia descoberto que era Aurora Bones. Com isso, se lembrara que as duas haviam feito matérias juntas, que nunca havia tido um momento em que a garota havia sido rude ou desagradável. Sempre graciosa e educada, mas agora Rose tentava buscar por defeitos como ervas daninhas. Queria arrancá-la daquele lugar, que poderia ser dela.

— Você está encarando – Jia cochichou, fazendo com que ela risse de desgosto dos próprios pensamentos e apoiasse a cabeça no ombro da amiga.

— Obrigada – ela agradeceu. Tudo que menos precisava era ter o orgulho ainda. – Ele tá feio, né? Esse sapato não combina com essa calça de jeito nenhum.

— Você deveria falar com ele – a amiga sugeriu, com um olhar que gritava pena. – Eu sei que você sente falta dele.

Rose revirou os olhos e deu um gole final em sua bebida.

— Você já não viu com quem ele tá? – suspirou cansada. – Provavelmente ela tá fazendo ele rir, corar e formando um exército de borboletas no estômago dele nesse exato momento.

— Você fala como uma senhora divorciada.

Rose cobriu os olhos rindo da própria miséria. Podia ser pior, ela poderia estar encarando aquilo tudo sozinha. Se sentia grata por mesmo que estivesse se sentindo um lixo vendo-o ali, ela estava com seus amigos.

A noite virou madrugada e seguiu um curso lento e tortuoso. Ela não aguentava mais colocar álcool em seu organismo. Não aguentava mais trocar olhares furtivos com Scorpius, ou recusar ser arrastada por Albus até a mesa que eles decidiram se sentar.

Não demorou muito para ela resolver de fato sair dali. Já se aproximava das 2 da manhã e sabia que nada de bom aconteceria depois disso. Então, entorpecida e de coração pesado, resolveu se despedir dos amigos e pagar sua conta.

Foi embora deixando a promessa que não seria mais distante. Voltaria a se encontrar mais com eles e pegar leve no trabalho, já que estava mais do que provado que os últimos meses não fizeram nada bem para ela.

A rua estava vazia, iluminada apenas por um poste velho e, a lua, que estava cheia e majestosa no céu. O vento cortava Rose no meio, como se congelasse todas as suas feridas internas. Deixou as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, se abraçando ao tentar amenizar o frio.

 – Rose! – ela ouviu a voz familiar dele gritar por ela.

Pensou em não se virar e seguir rua afora. Podia simplesmente ignorar as outras tentativas dele de chamar sua atenção, fingir que ele não existia e nem aquele sentimento que ainda pulsava doloroso em seu peito. Respirou fundo, e antes de tomar a decisão de virar para encará-lo, sentiu uma mão quente envolver o seu braço.

— Você deixou para trás seu casaco. – Scorpius disse sem encontrar o olhar dela.

Rose se sentiu uma idiota em pensar que ele realmente tinha ido atrás dela. Afinal, o que ela esperava? Uma declaração de amor? Um pedido de desculpas?

— Obrigada – respondeu, levemente irritada com a situação.

Vestiu o casaco, mas se sentia tão congelada por dentro quanto por fora naquele momento. 

— Foi bom te ver – Scorpius falou, enquanto passava a mão pelo cabelo. Um clássico gesto de nervosismo. – Você parece bem.

Bem mal, ela quis dizer. Não estava disposta a ter aquele papo furado com ele naquele momento. Queria manda-lo voltar para a namorada, pros amigos, de volta para bem longe da visão e da vida dela, na mesma intensidade que queria saber como era beija-lo mais uma vez.

— Olha o que a gente virou, hein – ela disse sem graça, desviando o olhar do dele.

— Uma merda, não é mesmo?

Rose revirou os olhos e o encarou, deixando transparecer todo o carinho que ainda sentia pelo loiro. O pior é que ela sabia que era recíproco pelo jeito que ele sorria de volta para ela, pela maneira em que ele parecia inquieto e na iminência envolvê-la em seus braços.

O silencio e a saudade não proclamada preenchiam o vazio entre eles e Rose se deixou sonhar com um futuro em que pudessem sentar e simplesmente conversar, sem que seus corpos ateassem fogo ao se tocarem.

— Acho que eu preciso ir – Scorpius foi o primeiro a falar e Rose percebeu que havia segurado o fôlego tempo demais, pois concordou com a cabeça e soltou um suspiro possivelmente aliviado.

Nenhum dos dois parecia querer se movimentar. Ela não sabia quando o veria novamente, mas esperava estar mais preparada, mais segura de si, com menos saudades do que eles poderiam estar vivendo.

Então Rose, mais uma vez, foi embora e saindo com passos largos, fugindo daquela situação, dos olhos nebulosos e sorriso frouxo de Scorpius Malfoy.

— Eu te odeio, Scorpius Malfoy – ela gritou, com um sorriso desgostoso, se virando e o encarando uma última vez. – Mas espero que você esteja feliz.

Ele permanecia imóvel no meio da calçada e as mãos nos bolsos da calça.

— Eu também – ele respondeu mordendo os lábios, como se tentasse conter o sorriso teimoso em seus lábios.

Rose quase perguntou se ele odiava ela ou se odiava. Ele estava feliz? Pois ela sem dúvidas não estava naquele momento e desconfiava que nem ele. De perto ela podia ver que Scorpius havia deixado a barba crescer e estava mais magro. Ele sempre dormira mal, mas as coisas haviam melhorado no curto tempo em que moraram juntos, mas as olheiras pareciam estar de volta.

Deixando muitas perguntas não respondidas entre eles, Rose deu as costas mais uma vez e seguiu o caminho de casa.

O frio era cruel sob sua pele e mesmo assim ela desejava que chovesse naquele momento, mas que as gotas se misturarem com suas lágrimas. Sua mente romantizava a dor que estava sentindo, como se fosse a única maneira de amenizá-la. Seria mais fácil se tudo aquilo fosse o enredo de um filme trouxa. Início, meio e fim pré-definidos, sem essa embolação de sentimentos e pensamentos que ela carregava como um fardo pesado.

Naquela madrugada, enquanto deixava a água cair em seu cabelo e tocar seu rosto, decidiu que seguiria em frente, que iria esquecer aquilo tudo. Esperava que, de tanto repetir isso, as mentiras um dia se tornassem tão reais quanto as vezes que ela acreditou que teria ele sempre ao seu lado. Mas as marcas dele sempre estariam ali, pulsando junto das promessas não cumpridas e a linha temporal que guardava tudo que eles poderiam ter sido e não foram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam! Estou com planos de um dia postar a visão do Scorpius e um possível reencontro deles.

Para essa história eu pensei muito em casais que se separam por questões de maturidade mesmo e depois retornam em outros momentos de suas vidas e Scorose canon da minha cabeça tem um pouco disso. Talvez alguns problemas eles não seriam capazes de resolver ai com os seus 18/19 anos, mas talvez com uns 22 eles possam se reencontrar e se ententer.

Enfim! Espero que tenham gostado ♥