Razão de viver escrita por Rafa Masen


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

É o aniversário do grande amor da minha existência!
Há algum tempo eu tenho pensado nessa história e eu insisti em escrever isso, um Edward Volturi, quem diria. Não vou falar muito aqui, não gosto muito de Spoiler e penso que não vão gostar também leiam e me contem depois. Espero que gostem.
Boa leitura!



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—Edward, meu caro? – Aro me chamou e eu, obediente, me coloquei a sua frente como ele tinha imaginado nesse momento.

—Sim, mestre – desde que tinha cogitado conversar comigo, eu já sabia do que se tratava e conhecia cada detalhe das ordens que ele me daria, mas ainda assim segui cada etapa que ele tinha imaginado, como sempre, só para agradá-lo.

Antes, eu me perguntava porque ele se dava ao trabalho de levantar a voz, já que sabia muito bem que eu podia escutar cada pensamento dele e então entendi que Aro gostava daquilo, gostava da atenção e de dar ordens que todo mundo poderia ouvir, mas gostava principalmente de bancar o rei, de dar ordens que eram prontamente obedecidas e que não valeria de nada se apenas eu as escutasse.

Por isso o teatro de marionete.

—Por mais que eu não goste que você se separe de mim e de nosso lar – Aro disse quando eu finalmente estava onde ele queria que eu estivesse – eu realmente preciso que faça um trabalho muito importante para mim.

—Tudo o que quiser, mestre.

—Preciso que você vá para a América ficar de olho em uma situação para mim – eu sabia que tudo o que ele estava dizendo, fazia parte da farsa. Naquele dia, havia muitos de nós ali, as testemunhas que ele tanto gostava de impressionar e fingir que suas ambições tinham um propósito que visava o bem de nossa espécie e não o aumento de seu poder.

Aro sempre foi um caça talentos e com a ajuda de Eleazar, havia muito que buscava por vampiros que tinham dons especiais e que pudessem acrescentar ao seu poder e fazer parte de seu arsenal. Como foi comigo, Jane e Alec nossos dons foram reconhecidos quando ainda éramos humanos e nunca tivemos escolha, fomos transformados e sempre vivemos para esse clã, aos comandos de Aro, Marcus e Caius em Volterra.  

Mas de vez em quando, ele encontrava vampiros que tinham dons que eram valiosos para ele, mas que já pertenciam a um clã. Entretanto, Aro não deixava que Aro não deixava fosse um empecilho, então ele vigiava por um tempo até que encontrava algum “crime” cometido por um dos integrantes desse clã que até então estava oculto.

Sempre o possuidor do dom era perdoado ou não tinha ideia do que se passava e como prêmio era convidado a se juntar a nós e quem ganhava era Aro. 

Era para uma dessas missões que Aro estava me mandando agora.

—Carlisle, meu grande amigo que vive na América, tem me preocupado demais. Quero saber melhor o que implica esses seus hábitos de evitar o sangue humano e o quanto ele estar perto dos humanos interfere em nosso segredo. Só você, meu caro Edward, é perfeito para saber os impactos desse envolvimento tendo em vista que ninguém esconde nada de você.

—Tudo o que quiser, mestre.

Disse aquilo porque estava escutando sua mente, na verdade, o que Aro queria era que eu trouxesse a nova aquisição de Carlisle para estar ao nosso lado. Eleazar foi visita-lo há alguns poucos anos e descobriu que agora tem uma integrante de seu clã que pode ver o futuro. Desde então, Aro não para de pensar em como seria ter alguém como ela em nosso próprio clã e o quanto ela agregaria a suas conquistas. Ter o presente e o futuro em suas mãos o tornaria onisciente e, mesmo estando constantemente em sua mente, eu não conseguiria mensurar tudo o que ele poderia fazer com todo esse poder.

Aro tinha arquitetado todo um plano, queria que eu encontrasse qualquer aliança equivocada que eles possam ter feito, um deslize que fosse segredo, qualquer desculpa que fosse para que eu pudesse levar a vidente para ele de forma definitiva.

  -Fique de olho em tudo para mim e depois volte. Traga toda a informação que puder – ou encontre uma maneira que me leve até você. Quero aquela vidente nem que eu precise busca-la por mim mesmo! — Olhei para ele só uma vez mostrando que eu tinha entendido o recado.

—Sim, meu mestre.

—E o que fará com essa informação, irmão? – Caius perguntou de repente bastante interessado como todos os outros pareciam estar – vale a pena ficar longe de Edward só para ter informações de Carlisle? Poderíamos mandar qualquer pessoa.

—Não, na verdade, Edward é o único que pode fazer isso – em silencio, Aro me passava o que eu precisava fazer especificamente dando informações que só eu poderia saber.

—Mas não demore, Edward. Nosso lar fica imensamente triste sem a sua presença. Volte para casa o mais depressa que puder.

—Sim mestre – eu assenti e coloquei o capuz do meu manto pesado que me ligava a tudo aquilo.

Comecei a correr para a América apreciando de imediato o momento de silencio absoluto. Era tão raro nesses quase trezentos anos ter um momento que fosse só meu já que o tempo todo eu estava cercado de tanta gente que entrava e saia daquele castelo sempre rodeado de diversos pensamentos.

Desde que nasci para essa nova vida, encontrei tantos de nossa espécie de todos os tipos e com todos os pensamentos possíveis: com tédio, com ambições, com orgulho e todas elas sempre com sede. Por mais que eu quase não tenha saído do lado de Aro nesse tempo todo, tive muito contato com o mundo dos vampiros, uma vez que muitas questões eram levadas a Aro e seus irmãos para julgamento e eu estava ali para saber cada detalhe do assunto.

Como eu lia mentes, ficava sempre ao lado de Aro que tinha um dom muito parecido com o meu, apesar de ser infinitamente mais poderoso e ao mesmo tempo limitado. Enquanto eu podia ler tudo o que alguém estiver pensando no momento em um raio de alguns quilômetros de distância, Aro poderia ler todos os pensamentos que qualquer pessoa já teve na vida com um pequeno toque.

Era por isso que eu estava sempre ao lado dele, vivíamos basicamente de mãos dadas e eu era como sua sombra, assim, Aro, como eu, praticamente conhecia todos os pensamentos de todas as pessoas ao seu redor e ele adorava isso, adorava ter todos os lados de uma história para se dizer justo, mas no fundo não era. Tudo era muito frio, sempre de acordo com os interesses dele, se valeria a pena para ele e não se era justo de verdade. Bom, ao meu ver, muitas vezes não era, mas eu nunca tive voz para opinar, sempre fui um mero objeto sem voz.

Quanto a mim, eu não poderia reclamar de minha existência. Apesar de ser um mero marionete de Aro sem poder ter privacidade dos meus próprios pensamentos nem dar privacidade aos outros, colado em outra pessoa, apenas cuidando de vidas que não eram minhas e mesmo com a perspectiva de que passaria a eternidade daquele jeito, sei que poderia ser bem pior.

Ao contrário de outros de minha espécie, eu não precisava me proteger de coisa alguma ou temer que algo pudesse me acontecer. Havia uma guarda poderosíssima me defendendo, outros vampiros que caçavam para mim e eu estava cercado do maior poder que poderia existir, segundo o que Aro mesmo não deixava de pensar nenhum momento.  

Quando me transformou, Aro pensava em si mesmo como um rei. Mesmo que governasse com seus irmãos Marcus e Caius, ele se achava no controle, como se fosse o centro, o núcleo do poder de todos os vampiros. Com o passar do tempo, o ego dele foi ficando maior, uma vez que cada vez mais os vampiros respeitavam as regras que eles colocavam e as vezes que eles fizeram justiça com bastante eficácia se espalhou com tanta rapidez que por todos os cantos os vampiros passaram a ter profundo medo e respeito não só pelas leis, mas pelos Volturi em si e isso é claro inflou o ego de Aro e o deixou como está hoje sem respeitar ninguém, imaginando que pode desfazer os clãs que quiser e levar consigo quem quiser como se todos fossem peças de seu grande jogo.

Eu estava gostando de me afastar assim, embora soubesse que no momento em que eu voltasse Aro saberia de cada pensamento que tive enquanto estava longe, era bom ter um espaço para pensar principalmente com a cabeça só para mim, sem ninguém por perto.

Levou alguns poucos dias para que eu chegasse a pequena cidade em que Carlisle vivia na América. Assim que cheguei, a primeira coisa que vi e como bastante alívio, foi que não precisava me esconder do sol já que a cidadezinha era tão nublada que chegava a ser bastante segura para nós. Balancei minha cabeça pensando nisso, Aro certamente sabia disso e sabia também que não havia nada de errado com aquele clã, então tudo o que ele queria era uma oportunidade de levar a vidente para Volterra.

Como aqui eu conseguiria me misturar mais sem precisar me esquivar nas sombras como em qualquer outro lugar, decidi deixar meu manto tão chamativo em qualquer lugar no meio da densa floresta quando me aproximava da civilização.

Minhas roupas, formais demais para uma aparência de um humano adolescente – idade em que fui transformado – poderiam até chamar a atenção, mas eu não pretendia passar muito tempo no meio deles, talvez tempo o suficiente durante a noite até atrair uma caça ou passar por eles procurando o meu alvo, até porque eu não poderia circular muito por onde eles andavam ou chegar muito perto da casa ou dos caminhos que poderiam levar a eles, uma vez que meu cheiro poderia alerta-los da minha presença e quanto mais tempo eu permanecesse escondido, melhor poderia entender o que se passava com eles sem levantar alarde da minha presença, uma vez que oculto eu poderia ouvir melhor, observar mais.

Sem muita dificuldade, encontrei o hospital da pequena cidade onde eu sabia que encontraria o líder do clã Carlisle Cullen. Eu ri.

Normalmente era mais fácil um vampiro ser reconhecido pelo nome que usou quando era humano, mas o sobrenome pouco importava, uma vez que mal se lembrava já que tudo da vida humana se apagava com o tempo. Por isso quando queria se referir a algum vampiro dizia-se seu nome e a região em que ele morava como em Eleazar Denali  ou até mesmo nós de Volterra, em Volturi. Éramos todos conhecidos assim pelo lugar onde morávamos, mas Carlisle não, ele ainda sustentava seu nome de humano. Como se isso não bastasse, ele deu o nome a todo o seu clã e os chama de família. Tudo isso se dava ao seu ridículo estilo de vida.

Eu já conhecia um pouco da história desse clã, ao que parece, por algum motivo que eu não entendia, o líder não conseguia caçar os humanos, ao invés disso, ele se alimentava de sangue animal bem como toda a sua família. Além de tudo isso, por algum motivo que eu ainda não entendia – e que talvez nunca entendesse – Carlisle também gostava de se sentir humano e tinha um emprego. E não era qualquer emprego ele era médico. Como se não bastasse não caçar humanos, ele trabalhava mantendo eles vivos. Que coisa mais estranha!

Balancei a cabeça sabendo que nem mesmo olhando dentro da cabeça dele, nunca ia entender isso.

Como o hospital ficava na beira da mata, eu consegui chegar perto o suficiente para encontrar os pensamentos dele. Eu era bem mais sensível aos pensamentos não-humano apesar de conseguir ouvir muito bem os pensamentos deles, então não foi difícil encontrar uma mente parecida com a minha naquele ambiente.

No momento, Carlisle estava em uma cirurgia. Tinha um humano com o coração batendo e aberto na frente dele, isto é, com o sangue correndo, a sua disposição, e ele ali, tranquilo. Era realmente impressionante como a sua mente não estava nem um pouco perturbada com o corpo que ele tinha em suas mãos. Eu, de longe estava começando a ficar com sede de ver aquele sangue, aquela vida praticamente dentro de sua boca, mas Carlisle, muito pelo contrário, parecia estar preocupado com a recuperação do humano e sua mente pensava única e exclusivamente em como dar o melhor que podia para curar do mal que aquele humano insignificante sofria, para salvar a vida dele.

Era tão confuso ler aqueles pensamentos, porque por mais que eu estivesse ali, praticamente compartilhando da mesma emoção, eu não a compreendia.

Desde que fui criado, eu não convivia com humanos, o único contato que eu tinha com eles era quando me alimentava, tomando o sangue deles e por mais que algumas poucas vezes eu pegasse alguns vislumbres de seus pensamentos antes que morressem não era nada que me fizesse parar e pensar nisso. Agora, vê-los vivos e querer mantê-los assim, era algo completamente inconcebível para mim mesmo compartilhando dos pensamentos bondosos de Carlisle.

Fiquei ali refletindo um pouco diante do que estava ouvindo, mas logo descobri o que eu queria, com saudade da esposa, Carlisle pensou no caminho de casa e eu resolvi me colocar a caminho antes dele.

Decidi me mover pelas árvores o mais alto que conseguia e não demorou para que eu chegasse perto o suficiente da casa para conseguir ouvir o que se passava. Como antes, mesmo longe, não foi difícil captar os pensamentos dos habitantes da casa.

Era manhã e ao que parece apenas a esposa de Carlisle estava na casa. Como todos gostavam de se passar por humanos, ele se passava por médico, Esme, por uma mãe e dona de casa e os outros pelos seus filhos e então iam a escola. Como se fossem mesmo crianças.

Eu realmente jamais entenderia.

Como alguém quer desperdiçar sua eternidade, por livre e espontânea vontade se transvestindo de humano? Qual é o sentido de tudo isso? O sentido de viver no meio deles, em controlar a sua sede sendo que você foi criado para isso?

Passei um bom tempo em meio a chuva no topo daquelas árvores refletindo sobre aquelas questões quando ouvi um carro se aproximar na estrada trazendo os outros membros do clã e entre eles a vidente em que Aro pediu que eu ficasse de olho.

Eu me concentrei para não perder nada do que aconteceria ali, desde o momento em que desceriam do carro e ao invés dos dois casais que eu estava esperando, havia mais uma pessoa com eles.

Uma humana.

 Eu fiquei muito chocado quando ouvi um coração batendo ali, principalmente porque tinha absoluta certeza de que eles jamais se alimentariam dela. Então, o que aquela humana estava fazendo ali?

Ela parecia muito à vontade no meio deles e pelo jeito que se moviam perto dela, que a tocavam e que a levantavam, não me parecia que escondiam o segredo dela.

Sorri.

Aquilo foi mais fácil do que eu poderia imaginar, havia uma humana que sabia sobre nós e Aro poderia vir buscar a vidente com muitas testemunhas e uma grande cena. Apesar de ser uma única humana e ser rápido de lidar, foi uma transgressão e precisa ser punido.

Bom.

Foi rápido demais.

Dei de ombros sem me importar realmente e por mais que eu estivesse bem em estar relativamente no silêncio, era bom poder voltar ao meu lar e longe daquela esquisitice toda.

Fiquei só mais um instante naquele lugar e só então me dei conta de que não tinha escutado o que a humana estava pensando. Que estranho. Por que? Ouvi com mais atenção a mente da vidente e a vi por seus pensamentos.

Vi que a humana estava se alimentando na casa dos Cullen, como se estivesse em sua própria casa, feliz e a vontade rindo de alguma coisa que o grandalhão musculoso disse aquilo me intrigou.

Passei mais um momento observando, vendo a humana de olhos cor de chocolate e as bochechas coradas. Ela tinha um sorriso muito bonito. E era muito rápida nas respostas que dava. Por mais que eu me esforçasse eu não conseguia ouvir o que ela estava pensando nem quando ela franzia o nariz ou torcia a boca antes de rir alto e com gosto.

Ao invés das respostas que parei para ter eu só tinha cada vez mais perguntas: por que estavam alimentando a humana? Por que a estavam recebendo e entretendo dessa maneira? E principalmente por que ela estava se sentindo tão confortável no meio de vampiros? Por que não estava com medo?

Eu me concentrei ainda mais para escutar o que se passava e consegui ouvir a mente do alvo de Aro e ao invés de sanar minhas dúvidas, eu fiquei ainda mais confuso, uma vez que era notável que não somente a menina humana estava confortável em estar ali, mas os outros também estavam.

Passei horas assistindo à interação daqueles vampiros com a humana e cada vez mais fiquei intrigado em como acontecia, tanto que quando a vidente a levou para casa no final do dia e eu fui junto ainda atordoado com a proximidade das duas e do resto da família.

Passei alguns dias observando, seguindo todos os dias a vidente – que se chamava Alice Cullen – e ela vivia grudada na humana – que se chamava Isabella Swan. Pelo que eu tinha observado, elas realmente eram muito amigas trocavam muitas confidências e passavam muito tempo juntas na casa dos vampiros.

 E era impressionante como todos ali amavam a humana.

Por mais que eu tivesse visto na mente de cada um dos membros daquele clã a afeição que tinham pela menina, eu ainda não conseguia entender. O que a humana tinha de tão especial que fazia com que eles a quisessem tanto assim?

Emmett tinha um instinto de proteção tão grande por ela que claramente enfrentaria Jane e seu dom só para defende-la e tinha Jasper, que por mais que seu sangue o incomodasse, ele adorava estar por perto e sentir a positividade e a alegria constante dela. Rosalie, a mais resistente a aproximação, no fundo adorava tê-la por perto também, mesmo que fosse para se comparar a ela e se sentir mais bonita.

Carlisle e Esme sentiam como se ela fosse uma de seus filhos. O amor que emanava deles era... perturbador. Esse amor todo me perturbava porque por mais de duzentos anos eu me esqueci que ele existia.

É claro que em meu clã os integrantes se envolviam em relações íntimas. A maioria dessas relações era baseada em outro instinto que nós vampiros tínhamos tão forte quanto a sede que era o desejo sexual. Como a sede, ele vinha muito muito forte, mas assim que era saciado ia também então as relações entre os vampiros não eram tão duradouras a não ser que você encontrasse o seu companheiro.

Quando somos transformados, poucas mudanças acontecem em nós e pelas minhas observações, a inserção de um companheiro, o laço do companheiro era uma mudança permanente na vida de um vampiro e eu sabia bem disso depois de passar tanto tempo vendo de perto a infelicidade de Marcus depois de perder sua companheira mesmo depois de tantos séculos.

As outras relações entre os vampiros também eram profundas e intensas, muito mais do que por interesse ou por desejo, mas nada chegava perto do que eu via ali, naquela... família. 

O termo que eu tanto desdenhei quando cheguei agora eu entendia e via que realmente era aquilo, eles se amavam como se fossem família, uma vez que o amor imenso que sentiam não era só entre os casais, mas também era de um para o outro, por mais diferente que fosse, era da mesma intensidade, era puro, era verdadeiro.

Obviamente eu comparei como era a relação do meu clã de origem e do clã que eu estava visitando e me perguntei o que fazia nossas ligações serem assim tão distintas. Estávamos unidos por pura conveniência, é fato, mas o que impedia que pudéssemos nos amar como o clã de Carlisle fazia? Será nossa dieta de sangue ou porque ninguém se dava ao trabalho de desenvolver uma relação?

Carlisle tinha uma compaixão imensa e passava isso para todos e tudo o que Aro sentia era orgulho e arrogância. A única aproximação que queria era para aumentar seu poder e nada mais, jamais teria uma conversa como a que eu ouvi outro dia em que aconselhava Jasper a caçar com mais frequência e não sofrer tanto com sua sede ou com Alice quando foi condescendente com a sua ideia de dar uma festa de aniversário para a humana em breve.

Aro apenas impunha suas vontades sem ouvir por que não havia amor no castelo onde ele chamava de lar, mas que hoje eu via que aquele lugar podia ser tudo, menos um lar de verdade.

Depois de passar a noite refletindo sobre os clãs e suas relações, pensei também na humana que os cercava.

O que levava aquela menina a ficar em torno de tantos vampiros? O que fazia com que eles a amassem do jeito que amavam?

Eu sabia que minha missão era vigiar a vampira minúscula, mas estava curioso demais para continuar ali. Segui o caminho que eu vi na mente de Alice e que já tinha acompanhado algumas vezes e logo encontrei a casa da menina muda de pensamento.

Apesar de nunca ter estado ali por mim mesmo, sabia que estava no lugar certo por reconhecer os lugares da mente de Alice que já tinha visto algumas vezes. A fim de conseguir me controlar e não matar ninguém de imediato, fechei minha respiração e me aproximei daquela janela. Desci vários metros da altura que eu estava acostumado a fica para a minha vigília e não me preocupei com o meu cheiro, certamente a chuva torrencial levaria em pouco tempo mesmo se alguém viesse visita-la.

Consegui ver através de uma janela e enxerguei a humana muda sentada em uma cama em um quarto muito bagunçado, bem como o seu cabelo, ela estava encostada na cabeceira com um livro no colo e por mais concentrada que estivesse estava com um sorriso no rosto, sonhadora, quase apaixonada. Passou longos minutos assim lendo dessa maneira até que apagou as luzes e dormiu.

Por mais que eu deveria dar meia volta e sair dali, voltar para o meu posto de vigilância na casa dos Cullen, eu só consegui chegar cada vez mais perto e quando dei por mim, estava diante da janela.

Não sabia ao certo porque eu estava aqui. No fundo eu sabia que era por ela, sabia que estava curioso por saber mais daquela humana que despertou amor profundo em criaturas como eu.

Eu já poderia estar de volta na Itália, já poderia ter resolvido tudo com Aro, mas eu não conseguiria me afastar sem saber mais dela, não tão curioso como estava, tanto que quando eu tive a certeza de que ela estava dormindo, eu abri a janela e me coloquei do lado de dentro de seu quarto e fiquei imediatamente paralisado diante do calor que aquela menina irradiava.

Apesar de estarmos no auge do verão a temperatura nunca fez diferença para mim, mas o calor que vinha dela... era tão forte e ao mesmo tempo incrivelmente atraente! Era tão quente como se imagina que fosse se aproximar do sol e tal como as asas de cera de Ícaro que derreteu sem menor chance, sem que pudesse lutar, eu estava da mesma maneira derretido diante dela e mesmo assim tudo o que eu pensava era em me aproximar mais e mais.

Por precaução, prendi minha respiração, uma vez que nunca tinha sentido o cheiro dela e não precisava passar por isso naquele momento e não respirava enquanto me aproximava da menina adormecida e quando eu estava tão perto a ponto de me queimar em seu calor flamejante, a linda menina sorri em seu sonho angelical. 

E eu soube que aquele sorriso fez com que o meu coração congelado derretesse.

Naquele momento eu senti a mudança, talvez a única mudança em toda a minha vida desde a transformação que me deu este corpo e então eu me vi apaixonado pela menina naquela cama.

Fiquei tão atordoado com esse pensamento que pela primeira vez em tanto tempo senti a necessidade de respirar e nem pensei quando puxei o ar. Antes não tivesse feito isso!

A sede que eu senti era avassaladora, mais do que eu já tinha sentido com qualquer sangue que eu tomei. O cheiro do sangue era doce, forte e fez com que minha garganta queimasse de imediato desejando o sangue dela, mas o instinto de caça não veio mesmo que sua jugular estivesse a centímetros de meus dentes.

Não tinha nada que me impedia de avançar para ela e matar minha sede, mas eu não conseguia fazer isso, não podia nem pensar em parar aquele coração tão acelerado mesmo numa criatura em sono tão profundo tudo porque inexplicavelmente, eu amava aquela pequena humana adormecida.

Atordoado e com sede, eu sai dali e corri até a cidade vizinha e parei num bar a beira da estrada em que havia meia dúzia de pessoas embriagadas e matei todas elas saciando a minha sede e tentando me acalmar, tentando pensar no que fazer.

Eu me apaixonei pela humana, mas o que eu faria agora?

Voltar para Aro agora era impossível, uma vez que ele não entenderia de jeito nenhum, nem a amizade de Bella com os Cullen nem o que eu sinto por ela. E o que eu faria com esse meu amor? Não tinha a menor possibilidade de ficarmos juntos... ou tinha?

Corri de volta para a cidadezinha de onde eu tinha saído cogitando me aproximar dos Cullen e falar com Carlisle. Ele parecia ser tão inteligente e cheio de compaixão, sem dúvida teria um conselho para mim ou uma ordem. É claro que eu diria o que estava fazendo ali, diria o que Aro queria deles e então pediria ajuda, de qualquer tipo, nem que fosse um mero conselho.

Enquanto eu me aproximava, ouvi uma movimentação ao meu redor e antes que eu pudesse me preocupar sobre quem poderia ser, ouço os pensamentos de Dimitri, o rastreador da guarda dos Volturi e soube que ele estava procurando por mim. Então desci do topo das árvores e o esperei no chão.

Não demorou muito para que ele, Jane e seu irmão, Alec me alcançassem.

—Edward – Jane me saudou – finalmente o encontramos. Aro sente sua falta e pediu que viéssemos buscar você – por mais que ela tentasse fazer um grande esforço para não mostrar o quanto Aro parecia nervoso quando mandou que eles viessem ao meu encontro, vi em sua mente que ele não estava nada feliz por minha demora.

—Olá. Fico feliz em ver vocês, ainda mais em um momento tão propício. Por favor, digam a Aro que eu não vou mais voltar.

—Como disse?

—Eu resolvi que não quero mais ficar trancafiado naquele castelo e quero ficar aqui.

—Vai se afastar sem se despedir de ninguém?

—Eu ainda estou me estabelecendo, definindo o meu futuro e quando eu o fizer, faço questão e voltar lá, me despedir direito de tudo e de todos e deixar minha localização para que me visitem. Foi só por isso que eu ainda não tinha dito nada a ninguém – Jane olhou para os outros e depois para mim com os olhos estreitos.

—Isso não me parece um comportamento típico de você. Tem certeza de que não está em apuros?

—O que sabe sobre o meu comportamento se eu antes não passava de uma mera sombra de Aro? – Perguntei dando de ombros – tenho certeza do que eu estou fazendo, Jane.

—Então vai ficar aqui?

—Vou.

—Mas Aro lhe deu um trabalho para fazer.

—E eu fiz. Vigiei o clã que ele me pediu e não há vampiros que estejam guardando nosso segredo com mais afinco do que os Cullen. Diga a ele que não há crime algum e que quanto a isso pode ficar em paz.

—Vou dizer - ela me olhou de cima a baixo e sua cabeça estava cheia de um misto de inveja e indiferença, uma vez que como eu ela nunca teve a chance de nem ver um mundo diferente, também sempre foi uma sombra que só cumpria ordens, uma mera máquina, uma peça que era usada no jogo de poder - mas e quanto a você?

—Diga que eu estou feliz e prometo que logo farei uma visita. Por favor, transmita a Aro meus mais sinceros votos de felicidade e o meu adeus - a loira me olhou com os olhos estreitos tentando imaginar o que eu estava tramando, em como o nosso líder receberia essa notícia ou se ela deveria fazer algo se teria que usar seus poderes para me obrigar a ir com ela. Quando me viu olhar para ela com o cenho franzido ela encolheu os ombros e deu as costas se afastando. Ela nunca se atreveu a voltar seus poderes contra mim, uma vez que eu era tão próximo de Aro e mesmo agora, quando eu estava dando as costas para isso ela ainda não se atreveria a fazê-lo.

Continuei parado ali, no meio da estrada vazia de repente covarde demais para fazer qualquer coisa que eu tenha planejado para o meu dia. Não estava mais com ânimo de falar com Carlisle – ou eu não estava com coragem? – E não tinha certeza se a menina estava em casa, certamente deveria estar na escola ou ainda com os Cullen naquele ritual de todos os dias.

Deixei que o dia passasse enquanto eu fiquei ali tentando organizar meus pensamentos e replanejar meu futuro e quando a noite caiu passei a correr. Sem realmente me dar conta do que estava fazendo, vi que estava a caminho da casa da humana e um sorriso largo se formou assim que eu cheguei.

Foi um deleite sem fim ver que ainda era muito cedo e que a menina – Bella como todo mundo chamava – ainda estava em plena atividade em seu quarto. Eu me acomodei em meu galho favorito, o que me dava uma visão bem ampla de seu quarto e fiquei ali observando.

Pelo visto, Bella estava procurando alguma coisa e começou a mexer naquele quarto tão bagunçado deixando o lugar ainda mais revirado. Ela não estava muito concentrada na tarefa, já que hora ou outra ela parava e abria um livro, ou anotava alguma coisa no caderno ou ainda trocava a música ambiente no som obsoleto.

Eu estava me divertindo vendo ela se movimentar pelo quarto, mas em momento nenhum eu me esquecia do cheiro incrível que deveria estar lá dentro e do motivo pelo qual eu não conseguia só entrar e me fartar dele até o fim.

Ponderava sobre isso quando de repente, Bella começou a se despir.

Minha mente ficou completamente vazia pela primeira vez em séculos quando eu vi seus seios nus de repente sem qualquer tipo de aviso. Antes que eu pudesse me recuperar ela tira também a calça e sua calcinha ficando completamente nua e como se para que eu pudesse disfrutar de cada centímetro de seu corpo exuberante, ela deu uma volta completa, pegou a toalha em cima da cama, se enrolou e saiu do quarto.

Nesses anos todos, é claro que eu já me deparei com mulheres, humanas ou não, lindíssimas, mas o desejo sexual para mim, nunca foi mais forte do que a sede, algo tão importante e vital que me dominasse por inteiro e que eu devesse lutar e matar por ele. Sem falar, é claro, que depois que o irmão ficou tão triste e depressivo depois de perder a companheira, Aro sempre... torce, digamos assim, para que nós permaneçamos sem encontrar ninguém e que nosso foco seja só para o clã.

Então era inevitável que eu tenha ficado tão impressionado, com tanta beleza ao ver o corpo nu de Isabella. E tenho certeza de que qualquer outra pessoa que também o visse, não importa de que espécie ou sexo, também o ficaria, ninguém em sã consciência é imune a tanta beleza e perfeição.

Eu mal me mexi esperando que ela voltasse. É claro que aquela imagem jamais sairia de minha mente, mas eu gostaria de olhar para ela mais um pouco, de admirar o máximo que eu pudesse e de ficar ali para sempre talvez. Eu mal pisquei quando Bella voltou e se vestiu devagar, como se quisesse me dar essa oportunidade de observar e eu aproveitei guardando e muito bem cada movimento que ela fazia, cada cantinho de seu corpo tão lindo.

Não demorou muito ela foi para a cama levando um livro consigo, passou muitos minutos lendo, sorrindo e suspirando, sonhando acordada como a adolescente que era. Eu estava longe demais para conseguir ler a capa, mas assim que ela pegasse no sono eu daria um jeito naquilo.

Mesmo que estivesse tão encantada com o livro, não demorou para que Bella pegasse no sono e quando o fez, eu logo adentrei seu quarto e por mais que eu estivesse com saudade dela e do calor que emanava de seu corpo, estava louco para saber o que a fazia suspirar daquele jeito e um sorriso imenso, involuntariamente me fez sorrir quando vi que era o clássico Romeu e Julieta.

Sem que eu pudesse evitar, eu passei a noite toda ali, olhando aquela humana que há alguns dias eu nem conhecia e agora era a minha Bella, que agora, de algum jeito já é todo o meu mundo dormindo tão pacificamente que me trazia esse sentimento que era tão novo.

Por mais que na noite passada, quando eu senti seu cheiro eu tenha ficado desnorteado, confuso e sedento, hoje eu estou tão tranquilo... tão feliz em estar aqui que era até errado eu me sentir assim.

Pensei ser errado por que alguém como eu que só conviveu com sangue e morte, com ganancia ambição e todo o tipo de pecado em um ambiente cheio de corrupção não merece nem ao menos se sentir no paraíso e era onde eu me sentia agora, sentia que eu estava no paraíso com o meu anjo particular aqui, com ela.

Mas no momento em que eu pensei na palavra errado, pensei também que não era nada certo eu estar ali, no quarto daquela menina, olhando para ela do jeito que eu estava invadindo sua privacidade da forma mais vil possível. Uma vergonha imensa me invadiu e mesmo que me doesse tanto, eu saí depressa dali. Se o que eu estava sentindo por aquela menina era bom e puro, como ela mesma era, eu não poderia agir como o monstro que eu sempre fui.

Então, apesar de não querer e quase não ter mais forças para ficar longe dela, resolvi correr para os Cullen e finalmente pedir ajuda a eles. Sabia que de algum jeito ou de outro eles saberiam o que fazer.

Enquanto eu corria, não pude parar de pensar em como tudo isso era engraçado. Eu imaginava há tão pouco tempo que Carlisle poderia ser louco e agora estou correndo para lhe pedir conselhos, para implorar que me ajudasse a ver a razão.

Pela primeira vez, eu me aproximei da casa utilizando a estrada ao invés do topo das árvores e fui caminhando até a entrada. Eu podia ouvir que estavam todos em casa, mesmo que estivessem em silencio e atentos, um tanto quanto tensos, menos pela menorzinha. Sorri sem consegui evitar.

A vidente espevitada estava ansiosa e radiante quase a ponto de sair e me buscar, sua mente já estava a frente me vendo dentro da casa em um abraço com ela. Aquilo me fez parar por um instante atordoado, mas como estavam à minha espera eu não quis deixa-los esperando e também não me fiz de rogado, eu entrei e fui até onde eles estavam.

Assim que entrei, todos se colocaram de pé, Alice, sem se conter, como eu tinha visto em sua mente, ela veio em minha direção e me abraçou. Eu nunca tinha sido abraçado nessa vida, na verdade não havia sido tocado com nenhum gesto de carinho genuíno. E eu sabia que aquele era porque durante aquele abraço Alice deixou que todos os pensamentos que tinha guardado para si mesma durante o tempo que eu estava por perto, todas as visões que teve sobre mim com eles que era como eu já fizesse parte da família, como se eu já fosse seu irmão.

E por mais que eles estivessem um tanto quanto na defensiva por que não sabiam como eu reagiria, estavam cem por cento seguros das visões da Alice e confiavam que eu era da família, tanto quanto ela estava.

—Que bom que finalmente decidiu se juntar a nós, Edward.

—Eu nem sabia que era para cá que eu estava vindo – falei sorrindo diante das boas vindas carinhosa a abraçando de volta.

—Se eu te dissesse não teria graça – Alice falou com uma risada cintilante – você precisava descobrir por si mesmo – eu balancei minha cabeça.

—Eu ainda estou muito confuso... ainda não entendo o que estou fazendo aqui ou o que eu estou sentindo principalmente no que diz respeito a aquela humana...

—O que você não entende? Ela é a sua companheira!

—Mas ela é uma humana... como isso pode ser possível?

—Essas coisas não se escolhem e ela é humana agora, pode ser transformada muito facilmente – pisquei algumas vezes surpreso por não ter pensado naquilo logo. Era verdade. Realmente muito simples. Muita coisa se perderia, mas sem dúvida não haveria mais problema nenhum e eu teria minha companheira pelo resto da minha existência.  

—E você não vê problema nisso?

—Esse é o futuro dela – Alice sorriu para mim – sempre foi. Quando nos mudamos para cá, eu a conheci e logo tive uma visão com ela conosco, como uma de nós e não entendi muito bem. Não demorou muito começamos a nos ligar muito e de verdade, Bella passou a fazer parte de nossa família, descobriu nosso segredo, mas ainda não sabíamos o que aconteceria para que ela se transformasse, até que você apareceu e entendemos.

—Eu?

—Você a ama, não é?

—Eu amo... mas como você sabe?

—Tive várias visões de vocês juntos – Alice sorriu para mim e sua mente se encheu de uma visão de Bella e eu em um lugar muito bonito juntos. Nós nos olhávamos apaixonados, um fascinado pelo outro nos beijando apaixonados e tão felizes. Eu ofeguei.

—Mas eu não entendo – falei torturado com o que tinha acabado de ver – como isso pode ser real?

—Ela também ama você.

—Nós ainda não nos conhecemos, não de verdade... quer dizer eu invadi a casa dela algumas vezes, mas ela nem sequer sabe que eu existo.

—Mas vai acontecer, acredite em mim – o grandalhão, Emmett, se levantou e se colocou ao lado de Alice.

—Não faz dez minutos que você está aqui e já estão nos dando nos nervos com essa conversa de vocês. Vai ser sempre assim? É bom que se for vocês já nos avisem agora.

—Emm, filho – Esme se aproximou com um sorriso – você sabe muito bem o que está acontecendo. Edward precisa de todo o nosso apoio agora, não é hora para brincadeirinhas – ela sorriu para mim também – é claro que Bella vai gostar de você, todos nós sabemos que é por você que ela tem esperado todo esse tempo.

—Mas eu... eu não entendo...

—O que foi?

—Vocês... vocês todos... gostam da humana!

—Nós amamos a Bella, ela é da nossa família!

—Então por que querem que ela se aproxime de mim? – Olhei para cada rosto naquele lugar – vocês sabem quem eu sou? O que eu vim fazer aqui em primeiro lugar?

—Sabemos de tudo, Edward – Carlisle me disse com o cenho franzido.

—Sabem que Aro queria levar Alice de vocês e que me mandou vigia-los para encontrar uma brecha para fazer isso de qualquer maneira nem que fosse aniquilando todos vocês? Sabe que eu saí de Volterra exatamente pronto para fazer isso, preparado para cumprir meu papel?

—Sabemos e sabemos também que você não fez, tanto que está aqui agora, conosco. Sabemos que será um de nós no futuro – balancei a cabeça.

—Não mereço nada disso. Olha o que eu sou... o que eu era! Eu não sou digno do perdão de vocês.

—É claro que é, principalmente porque não fez o que veio fazer aqui. É digno de perdão e de felicidade, meu irmão – Alice sorria para mim e em sua mente mais uma vez tinha uma imagem minha e de Bella juntos uma visão tão firme que parecia estar cravada na rocha e  prestes a acontecer.

—Alice, não sou digno de nada e muito menos dela - balancei minha cabeça me sentindo torturado por meus próprios pensamentos - nem se eu pagar por cada erro que cometi sendo torturado cada segundo, todos os dias pelos próximos mil anos não serei nem perto de ser digno dela. Bella não é para mim.

—Eu sei o que estou falando - Alice sorriu para mim querendo me acalmar - você merece ser feliz e Bella é a sua felicidade.

—Mas ela é tão boa... tão pura!

—Você também é – apertei minha mandíbula com força, tentando controlar minha raiva.

—Logo se vê que você não me conhece.

—É ai que você se engana, Edward. Eu te conheço tão bem quanto você próprio, conheço a sua essência e sei que jamais faria alguma coisa para machucá-la.

—Você entende que até ontem eu me alimentava de sangue humano? Tenho quase trezentos anos de existência. Sabe quantos deles eu já matei? Em um ano matei duas vezes mais do que a população desse lugarejo em que vivem! – Num ato de desespero, agarrei meus cabelos e sussurrei me segurando para não gritar – como, como em nome do que quer que mais seja sagrado eu posso de alguma forma ser... digno... dela?

—Sei que você sabe que vejo o futuro e só ele, afinal o passado não importa mais, ele já foi, por isso o presente e o futuro são tudo o que temos. No futuro que eu vejo, você é uma nova criatura que pode amar e ser feliz, pode fazer Bella feliz! Não tem ninguém que possa completa-la tão plenamente quanto você pode.

—Como eu vou fazer isso? – Pedi olhando em volta e para os outros vampiros na sala – tenho que gostar de humanos e caçar animais? – Eles riram.

—Bella aprendeu a conviver conosco assim – Jasper respondeu falando comigo pela primeira vez – é o estilo de vida que seguimos aqui, respeitamos a vida humana e nos misturamos a eles. Para viver conosco é assim que terá de se comportar.

—Tudo bem, eu aceito – falei retorcendo um pouco a boca pensando em como seria o gosto de sangue de animal, mas sabendo que seria por uma boa causa que seria por Bella.

.

Todos pensaram que seria por bem restringir as visitas de Bella por alguns dias para que eu pudesse mudar minha dieta, mesmo que eu tivesse dito que eu já tenha ficado algum tempo com ela em seu quarto e não tenha feito mal alguma a ela. Emmett era realmente muito protetor.

Mas os dias foram passando e eu fui sentindo falta dela, é claro que eu a via na cabeça dos outros Cullen que passavam horas com ela na escola e nas visões que Alice tinha dela o tempo todo, algumas muitas comigo e em como seria nosso futuro juntos o que me deixava bastante animado mesmo quando chegava o dia de caçar.

Realmente não era nada agradável ter de me alimentar de sangue animal. Nossa, beirava o desagradável, mas eu pensava que aquilo era para o bem e fazia sem careta e sem reclamar.

Algumas semanas eu estava me sentindo forte o suficiente para não fazer nenhuma besteira e sem força nenhuma para ficar longe de Bella e decidi fazer algum contato com ela antes que ficasse louco.

Todos os outros saíram para caçar no fim da tarde e eu me dirigi para a cidade na casa do chefe de polícia. Já tinha aprendido a não invadir a privacidade de uma moça então resolvi ficar por perto quem sabe ao menos ouvir seus resmungos durante o sono, mas quando menos imagino ela sai na janela, tal qual Julieta apaixonada e suspirando para a lua.

Sem conseguir me conter, eu me espreito e me aproximo, se que de onde estou ela não consegue me ver, mas se eu falar ela pode me ouvir. Louco por qualquer contato, então, não resisto.

—Romeu só precisou renegar seu nome embaixo da janela de sua amada para conquista-la. O que eu preciso fazer para ter o seu coração? – Bella claramente levou um susto com a mão no peito esquadrinhou todo o lugar a procura de quem havia falado e franziu o cenho.

—Quem é o engraçadinho que está aí?

—Não sou nenhum engraçadinho. Estou mesmo apaixonado e gostaria de saber o que eu faço para ganhar o seu amor – ela arregalou os olhos e procurou mais um pouco antes de responder.

—E como eu posso saber que isso é verdade?

—Eu juraria pela lua abençoada no topo das árvores frutíferas, mas ela é inconstante e muda a cada mês em sua órbita circular e então meu amor pareceria igualmente variável. Juraria por mim mesmo, pelo Deus de sua idolatria, mas o que posso prometer mesmo é que meu amor é profundo como o mar e minha entrega não conhece fronteiras. Quanto mais me doo a ti, mais tenho, pois tanto meu amor quanto minha entrega são infinitos.

—Você... você está citando Romeu e Julieta para mim? – Perguntou ela bastante chocada.

 -Para você ver o quanto eu te amo! – Bella ficou em silencio e eu pude ver o quanto estava tocada com o gesto, como estava emocionada e feliz – Você gostou?

—Mais do que qualquer coisa no mundo! Esse é o meu livro favorito. Onde você está? Quero ver você!

—Eu acho melhor não!

—Por que? Você é um Montecchio? – Ela deu uma risadinha me fazendo rir também.

—Se fosse era só renegar meu nome e eu seria seu.

—Então o que te faz se esconder? Por que você não é meu agora?

—Por que tem um inimigo maior que nós, mas que vamos vencer e que não vai me impedir de ser seu. Vamos ficar juntos, minha Julieta, eu vou fazer de tudo para isso. Você já é a minha razão de viver.

—Eu não estou entendendo muito bem... - mesmo que eu tentasse parecer leve, Bella ficou bastante perturbada com a intensidade das minhas palavras e para não assusta-la ainda mais eu a deixei voltando para a casa dos Cullen.

—Então eu te explico outra noite, quando voltar para te ver. Até mais, minha amada!

Corri mesmo sobre os protestos dela e os meus mais sinceros desejos de ficar com ela para sempre.

Assim que cheguei à casa dos Cullen, eu me deparei com todo mundo reunido em volta de uma Alice assustada, bem como todos estavam me assustando também.

Não precisei perguntar o que estava acontecendo, as mentes ao redor gritavam que Aro estava vindo para cá e que isso apavorava todo mundo, a mim, só cabia o papel de acalmar todo mundo. 

—Não sei por que estão com tanto medo – falei tranquilamente – não tem nada que Aro possa fazer contra vocês.

—Edward – Carlisle disse me olhando – você sabe que ele cria muitos argumentos para vencer quando quer.

—Mas vocês se esquecem que dessa vez ele não tem nada contra vocês e, principalmente, eu estou do lado de vocês, estou aqui para contornar cada argumento que ele inventar e dar um jeito de vencer. Aro não vai desmembrar essa família. Eu não vou deixar.

—Ele já fez isso muitas vezes, sabemos disso. 

—E fez com a minha ajuda. Desta vez, ele não me tem ao seu lado e não saberá o que fazer, não tem nenhuma artimanha bolada contra vocês. Ele jamais vai conseguir. 

—Tem certeza disso?

—Absoluta - assenti - acredite em mim. 

—Muito obrigado, Edward – Carlisle me encarou com um sorriso e os outros fizeram o mesmo.

A partir de então, todos os estudavam cada migalha de visão que Alice tinha, imaginando as posturas que deveriam ter, se deveriam falar ou o que fazer, mas eu estava tranquilo. Conhecia muito bem o que Aro pensava e sabia como sabia como contorna-lo.

Como Alice previu, Aro, Caius, Marcus chegaram cercados de toda a guarda Jane e Alec estrategicamente posicionados como em uma guerra poucos dias depois de sua visão. Como em uma guerra de conquista também, ali estavam uma quantidade imensa de testemunhas estavam ali para dizer depois da benevolência dos Volturi de do poder que eles tinham.

Assim que eles se aproximaram, eu me afastei da família que eu já considerava como minha e me coloquei a meio caminho do clã do qual um dia pertenci.

—Edward, meu caro. Senti sua muito a falta em nosso lar e ao meu lado – Aro disse abrindo os braços em uma atuação típica dele, mas em sua mente eu via a confusão por eu não ir direto a ele e não passar rapidamente tudo o que eu sabia como ele claramente esperava – por isso eu estou aqui.

—Se está aqui por mim, por que trouxe tanta gente?

—Para o caso de você estar em perigo, é claro. Eu pedi para que viesse em uma missão importante para mim e você não voltou. Imaginei que fosse porque você estivesse precisando de mim, por isso, sai de nossa casa e vim atrás de você com tudo o máximo de pessoas que poderia trazer para te resgatar.

—Eu não preciso de nada disso. Quando mandou que viessem me procurar eu disse que não mais voltaria, que eu estava bem e que não havia nada do mal que estava pensando aqui. Não tinha necessidade de nada disso – Ele franziu o cenho.

—Mas eu precisava ver, não acha? Você é meu braço direito há tantos séculos, não poderíamos nos despedir assim tão friamente.

—Jamais faria isso, Aro. Pedi que lhe dissessem que eu o veria em breve, só estava tentando me estabelecer aqui.

—Se não está completamente estabelecido, posso te convencer a voltar para o nosso lar então.

—Infelizmente, não. Quero mesmo ficar aqui.

—E por que quer ficar? – Respirei fundo procurando as palavras para convencê-lo e quando viu que eu lutava para explicar ele estendeu a mão para mim – que tal me contar tudo?

—Eu acho melhor não.

—Nunca escondeu nada de mim antes, Edward. O que aconteceu?

—É que eu sei como você pensa, sei que não vai ver com bons olhos tudo o que eu decidi e os motivos que me levaram a querer ficar aqui – minha escolha de palavras, a pesar de não desfazer o sorriso pacifico que Aro sempre mantinha nessas ocasiões, fez com que sua mente se movimentar.

Claramente, ele pensava que eu ainda estava do lado dele e aquilo foi algum tipo de estratégia para que eu o atraísse para aquele lugar sem revelar a mais ninguém a sua verdadeira intenção que tinha a ver com a vampira vidente, mas quando eu não quis que ele lesse meus pensamentos, finalmente percebeu que não poderia ser uma encenação.

Por mais que no último século eu parecesse mais entediado que o normal sem ver sentido algum para tudo aquilo, Aro estava ocupado demais com o seu orgulho e consigo mesmo para se preocupar até mesmo com o irmão que há muito mais tempo era infeliz por não ter mais sua companheira e agora, alguns segundos se passaram enquanto ele refletia sobre isso e sobre o que poderia estar acontecendo traçava o que poderia fazer para sair daqui com tudo o que queria.

—Se acha que eu posso não ver com bons olhos, então pode ser que não deva ficar.

—É que eu encontrei minha companheira, Aro. É por ela que quero ficar.

—Por essa eu não esperava – ele sorriu realmente surpreso – e por que imagina que eu não entenderia isso? Ela será muito mais que bem-vinda em nosso lar.

—Jamais pensei que não seria. Só que é uma situação bastante inusitada e tão confusa que eu mesmo ainda não sei resolver, só sei que preciso estar aqui e com tempo para fazer isso. Você saber o que se passa em minha mente agora também não ajudaria em nada, afinal nem eu mesmo sei o que está acontecendo, entende? É por isso que quero ficar aqui, cuidar de tudo e depois voltar e te contar tudo o que aconteceu, te mostrar cada passo.

—Eu tenho mais experiência que você, posso te ajudar – ele estendeu a mão para mim – que tal?

—Não vou mudar de ideia, Aro – balancei minha cabeça rejeitando mais uma vez a mão que ele me estendia – e eu estou certo de que aqui é o meu lugar agora.

—Tudo bem, vejo que não há nada que eu possa fazer para que volte ao nosso lar – ele me deu as costas olhando para a guarda e os irmãos – tenho certeza que todos sentirão muito quando não o tivermos mais por perto. Incluindo eu mesmo.

—Eu só tenho que agradecer por todo esse tempo principalmente por poder partir em paz – disse mesmo sabendo que não seria assim tão fácil, lendo todas as alternativas que Aro buscava e todas as que Alice via.

—Antes que eu vá, só gostaria apenas que me informasse sobre o que você veio fazer aqui – ele disse olhando para a família atrás de mim. Eu não precisava me voltar para saber que Jasper estava tentando se fazer passar desapercebido bem como Alice, que ao seu lado se concentrava nas diferentes hipóteses do futuro que eram tantas que não conseguia se concentrar em nenhuma. Emmett estava ansiosíssimo, apertando os punhos louco para usa-los se necessário, ao seu lado, Rosalie observava ao redor nervosa com o que poderia acontecer, com raiva de ter caído de paraquedas naquela situação. Carlisle, pacifico como era estava torcendo para que pudéssemos sair daquilo tudo e apertarmos nossas mãos em paz e Esme o abraçava torcendo pelo fim daquilo tudo.

—Você queria que eu observasse o clã de Carlisle, vampiros que não se alimentam de sangue humano e vivem tão perto deles. Achava que isso era um perigo para o nosso segredo, não é isso?

—Exatamente. O que acha agora?

—Eu aprendi muito mais nesses meses que passei ao lado desse clã, dessa família do que nos quase trezentos anos que estou vivo. Você estava preocupado com o estilo de vida que eles têm e em como isso pode afetar nosso segredo, mas não se preocupe. Pude ver de perto o quanto são cuidadosos perto de humanos e tenho a mais absoluta certeza que o segredo está muito mais do que salvo com eles. Não tem do que se preocupar.

—Tem certeza disso? – Aro não esperava por aquilo.

—Absoluta, tanto que eu quero ficar aqui com eles e prometo que vou fazer de tudo para garantir que continue assim que ninguém nunca descubra sobre nós.

—Quer ficar neste clã? – Aro estava tão chocado com a notícia de que eu me afastaria dele e agora que tinha percebido que nem ao menos teria a pequena vidente para si que se deu conta que Carlisle teria nós dois que não reparou, até aquele momento em como os meus olhos estavam levemente mais claros, não o vermelho escuro que costumavam ser quando eu morava com ele, mas aos poucos se transformando no que seria um amarelo como o deles.

—Já sou praticamente parte desta família. Foi aqui que eu me encontrei – Aro balançou a cabeça.  

—Isso não vai durar. Eu conheço você. Por mais que tenha gostado dessa ideia, filantropia não é para você. Edward você é um vampiro sanguinário e gosta disso, gosta do sangue humano, gosta de matar. Como vai vier sem isso?

—Gosto mais do que encontrei aqui, Aro, uma coisa que nunca vai entender e que não vale a pena explicar – ele franziu o cenho e pediu.

—O que é?

—Amor – imediatamente Aro franziu o cenho e pensou no que eu estava dizendo. Realmente aquilo não existia no lugar em que ele chamava de lar e que ninguém lá fazia questão de ter e eu completei – você não entenderia.

—De veras.

Como eu tinha pensado, Aro estava sem saída. Comigo do lado oposto, sem nenhuma prova contra o clã sem nada que pudesse argumentar e ainda cheio de testemunhas que levariam a injustiça para todos os cantos se ele resolvesse ignorar todos esses fatos então, sem mais nenhuma opção ele suspirou. Não havia nada que ele poderia fazer naquela hora e mesmo sem querer mostrar a mim que um dia ele encontraria opções e voltaria para nos buscar o pensamento escapou eu vi, mas fingi que não e continuei com o sorriso.

—Se é o que você quer, Edward meu caro, mesmo com muito pesar, eu o deixo aqui. Não demore para nos visitar, faça assim que puder.

—Eu irei, Aro. Não se preocupe – eles então se afastaram sem mais olhar para trás e por mim, eu não mais os veria mesmo que eu soubesse que talvez não fosse bem assim.

Quando todos estavam longe o suficiente, cheia de alivio e amor de mãe, Esme abraçou com força cada um dos integrantes de sua família, incluindo a mim e eu não poderia estar me sentindo mais acolhido.

.

.

Alice achava que já era hora de eu finalmente me encontrar com Bella.

Já fazia algumas semanas desde que Aro tinha ido embora e meus olhos estavam quase tão amarelos quanto o resto da família sem falar que Bella e eu estávamos muito próximos, já que como prometi, eu ia até a sua janela todas as noites conversar com ela e falar sobre o meu amor em forma de poesia, mesmo que nunca tenhamos estado juntos de verdade.

Igual a Romeu e Julieta.

Nos encontraríamos na casa dos Cullen naquela tarde depois da aula, ou seja, daqui a pouco.

Era engraçado, meu coração não batia havia tanto tempo, mas tanto tempo que eu nem me lembrava qual era a sensação. Na verdade, muitas vezes eu mal me lembrava que em meu peito eu ainda carregava a sombra desse órgão e que ele já teve uma função tão vital em minha vida, mas agora era só um peso e que hoje pesava mais do que nunca, ansioso, cheio.

Eu ri.

Quando cheguei aqui em Forks, vi o que os Cullen estavam fazendo, eu os critiquei tanto por estarem desperdiçando sua eternidade se transvestindo de humanos por algo que ao meu ver era inútil e acabei descobrindo que quem tinha uma vida inútil era eu.

O que eles faziam na verdade era muito nobre, afinal eles pensam em vidas, vidas que significam para outras pessoas, vidas que amam que cuidam, que geram outras vidas. E quanto a mim? O que eu fazia? Qual era a minha vida antes de chegar aqui?

Eu sim estava desperdiçando a minha eternidade com muito menos, fazendo algo que me deixava infeliz, ou melhor eu nem ao menos conheci a felicidade nos meus quase trezentos anos, apenas sentimentos ruins que não me levavam a lugar nenhum. Nesses últimos trezentos anos, ei nem ao menos tinha uma razão para viver, mas agora eu tenho.

A minha razão de viver tinha acabado de passar pela porta com um lindo sorriso no rosto corado me prometendo uma vida linda e cheia de amor.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Bem diferente, né?
Foi bem diferente de tudo o que eu já escrevi, mas fazia tempo que eu estava pensando nisso e eu não consegui não deixar de escrever quando surgiu a oportunidade. Contem para mim o que acharam, seja o que for.