Eu desejo que você seja feliz escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo 1 - Memórias


Notas iniciais do capítulo

Essa mini fic provavelmente será dividia em 3 capítulos. Esse primeiro teve como inspiração o ending 26 de Bleach, com a música "Song For", da banda "Rookiez is Punk'd", que na minha opinião é um dos melhores endings do anime, e o mais sensacional de todos nas cenas que vemos enquanto a música toca, uma vez que foi inteiro feito como se fosse Rukia observando cada uma das cenas. Você se sente a própria Rukia assistindo, porque a presença dela grita mesmo sem ela aparecer uma única vez. Meus super parabéns à produção da época! O comecinho do capítulo seguinte também tem esse ending como base e ainda nesse primeiro tem uma leve referência ao opening 15, "Haruzake", da banda "SCANDAL".

*A capa da fanfic é na verdade a capa do disco lançado pela Rookiez is Punk'd que contém essa música. A imagem do capítulo é uma das imagens oficiais de Bleach desenhas por Tite Kubo.

*A fanart que está no meio do capítulo, na exata cena em que ela acontece (que é minha favorita), foi colocada no Pinterest por "RoseDawn". Não há indicações de autor. Se alguém souber, por favor, me informe pra eu dizer aqui. Talvez você não consiga vê-la lendo aqui no Nyah, porque sempre ponho fanarts aqui e ora aparecem, ora não. Então procure essa mesma fanfic no AO3 pra tentar ver a fanart, também postei lá.



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 Capítulo 1 - Memórias

                Rukia encarava sua própria sombra e os pés de Ichigo caminhando ao lado dela no chão tingido da luz laranja do pôr do sol, enquanto seus pensamentos voavam para o dia em que chegara ali, quando uma borboleta infernal a guiara da Sociedade das Almas para Karakura. A Sociedade das Almas também tinha pores do Sol bonitos, incrivelmente bonitos na verdade, uma vez que quase em qualquer lugar se tinha uma excelente visão do céu. Mas ela nunca tinha se sentido como agora, com o coração aquecido, e o peito preenchido por uma sensação de acolhimento e carinho. Era algo que ainda não conseguira entender perfeitamente, mas era bom.

Não sentia isso quando tinha tempo para observar a natureza na Sociedade das Almas. Ela tinha seu irmão e muitos amigos. Mas Byakuya era muito distante, sua relação com Renji ficara abalada desde aquele dia, há muito tempo, quando ela fora adotada pelos Kuchiki. Seu capitão, Ukitake, que tinha um dos sorrisos mais sinceros e uma das personalidades mais doces que ela já conhecera, talvez fosse seu amigo mais próximo, e com quem mais se sentia bem na Sociedade das Almas. E Rukia reconhecia que os anos tortuosos e difíceis fora dos muros da Sereitei tinham tornado sua personalidade distante e bastante reservada, ainda que ela e Renji tivessem um ao outro até certo ponto.

Mas depois de conhecer Ichigo tanta coisa ficou diferente. Ele era muito diferente, seus amigos eram muito diferentes. Todos muito mais sorridentes e alegres, apesar de Ichigo parecer estar constantemente emburrado. Rukia riu baixinho para si mesma pensando nisso, achava isso fofo nele, especialmente porque sabia que era só uma maneira dele de proteger os próprios sentimentos e esconder quem realmente era. Orihime e Keigo já haviam comentado que Ichigo passara a sorrir muito mais e ficar bem mais calmo depois de conhece-la. Rukia ignorou isso a princípio, ainda com muita dificuldade de aceitar o laço, perigoso segundo à Sociedade das Almas, que estava criando com o humano de força espiritual além do comum.

A questão era que... Nem Rukia Kuchiki tinha um coração de gelo, que em algum momento acabou sendo contagiado por toda a aura de carinho que sentia em volta dos humanos com quem estava convivendo. E agora, andando junto com Ichigo ao pôr do sol, e com seus colegas de classe minutos atrás, quando tinham seguido para suas casas, ela se sentia feliz, e o que ela achou mais estranho e difícil de admitir... Amada. Nem tinha lembranças de ter sentido isso algum dia em sua vida, por isso fora tão difícil entender e admitir. E novamente ela pensou me envolvi demais com esse mundo, mas já era muito tarde. E lutar contra isso doía, doía muito, sabia disso porque tinha tentado inúmeras vezes.

Sentiu o olhar de Ichigo sobre ela, e ergueu a cabeça para encará-lo. Os olhos castanhos pareciam preocupados e compreensivos. E mais uma vez Rukia sentiu aquela sensação sufocante e ao mesmo tempo maravilhosa, de ser querida e importante pra alguém. Ichigo nada disse, mas ela pode ler em seus olhos: Quando você quiser falar, eu estou aqui. Até pode ouvir em sua mente ele a chamando de anã, e até isso aqueceu seu coração. Nesse instante suas emoções formaram um nó em sua garganta, e Rukia quis chorar, mas ela sorriu, sinceramente, apesar de seu peito doer.

******

Rukia estava cochilando no armário, após terminar todos os trabalhos recebidos na escola, quando foi acordada por uma discussão entre Ichigo e Kon.

— Qual é, Ichigo? Você quer a nee-san só pra você. Não me deixa dar nem um abraço nelaaaaa!! – O leão de pelúcia chorou dramaticamente.

— P-para de falar besteira! E quem é que ia querer abraçar um animal de pelúcia pervertido como você?

— Eu sou um leão de pelúcia super fofinho e irresistível! Todo mundo devia querer me dar um abraço!

— Eu certamente não quero. E se qualquer um serve, tem 7 bilhões de pessoas lá fora, vai lá procurar alguém. Não tem que importunar a Rukia com a sua chatice.

Nesse ponto Rukia abriu uma fresta no armário para observar a briga dos dois, vendo Ichigo sentado no chão ao lado da cama, de cabeça baixa e levemente corado, se de irritação ou outro motivo ela não tinha certeza.

—  Tá vendo?! Você quer a nee-san só pra você! Você é que parece que é o pervertido aqui!

Nesse momento Ichigo ficou bem mais vermelho e apertou as palmas das mãos no cabelo, perdendo sua última gota de paciência.

— CHEGA!!! Vai pedir abraços grátis nos seus sonhos, seu leão de pelúcia chato!! – Berrou com o ursinho, pegando-o e o atirando contra a parede, mas acertando a porta do armário, ou quase, uma vez que Rukia abriu a porta e chutou o leão, que voou na direção da parede oposta.

Kon emitiu um som incomodado e caiu desmaiado na cama de Ichigo. Rukia não se preocupou, sabendo que naquele corpo Kon não podia sentir dor, se ferir gravemente ou morrer, e logo acordaria para importunar Ichigo novamente.

Voltando seu olhar para ele, Rukia viu sua expressão mudar de raiva e confusão para reflexão, e ele respirou fundo.

— Que saco!

Decidindo brincar com ele, Rukia o encarou.

— Não se pode mais nem dormir nessa casa?

— Você tava dormindo?! Me desculpa. Foi ele que começou! – Apontou acusadoramente para Kon desmaiado de cara no colchão.

— Pelo menos assim ele fica quieto por um tempo.

— Acordou com nossa discussão?

— Sim. Crianças sempre gritam muito alto, não é?

— A única pessoa aqui com tamanho de criança é você.

Resolvendo não deixar aquilo barato, Rukia saltou do armário, derrubando Ichigo no chão e pisando brevemente sobre ele antes de pular para se sentar na cama do lado oposto onde Kon estava.

— É melhor do que ser um gigante que nem consegue se defender disso – ela falou com uma gargalhada enquanto Ichigo reclamava, e secretamente ela aproveitava a sensação de gratidão pelo respeito e proteção que ele demonstrara por ela naquela simples discussão com Kon.

******

— Hey... – Ichigo chamou atrás dela no telhado.

Não tirando seus olhos das estrelas, Rukia o ouviu se aproximar.

— Yuzu quer muito que você jante com a gente hoje, ela adora quando recebemos visitas, que nem nossa mãe... E eu jurei pra ela que tinha convidado você. Meu pai também não para de perguntar porque você ainda não chegou, então acho que esse é um bom momento pra você usar todo o seu talento de atuação, descer do telhado e bater na porta.

Rukia se virou para ele sorrindo.

— Sua família é adorável, Ichigo. Eu irei agora – ela disse, seguindo para a borda do telhado e saltando enquanto um Ichigo sorridente voltava para dentro pela janela do quarto.

— Ligou pra ela, Ichigo? – Karin perguntou quando ele entrou na cozinha.

— Sim, ela disse que está a caminho.

Não levou mais que cinco minutos pra campainha tocar e Yuzu correr para a porta.

— Rukia, você veio mesmo! Estamos felizes que tenha aceitado o convite.

— Ah, eu não podia recusar. O Ichigo é um excelente colega de classe, então quando ele me convidou a primeira coisa que pensei foi no quanto sua família devia ser adorável e acolhedora.

Rukia falou com a maior simpatia do mundo em seu perfeito dom de atuação enquanto Ichigo observava segurando-se para não rir. Ela realmente gostava de sua família, mas ele sabia que normalmente ela não seria tão extrovertida. No entanto a atenção de todos foi desviada do teatro de Rukia para o costumeiro drama de Ishin.

— RUKIA-CHAN! VOCÊ VEIO!!!! Sinta-se bem vinda a nossa casa e finja que também é sua!

— Ah... Assim eu fico com vergonha! – Rukia escondeu o rosto numa das mãos, atuando tão bem quanto quando salvara ela mesma, Ichigo, Tatsuki e Keigo de uma detenção na escola.

De repente Ichigo se perguntou se havia algum local voltado para as artes na Sociedade das Almas, e caso sim, se alguém já sugerira a Rukia participar. Ele perguntaria sobre isso a ela depois, pois no momento outra vez sua atenção foi chamada pra o escândalo de seu pai.

— MASAAAAAKIIII!!! Ishin correu para o pôster gigante de sua esposa na parede – Finalmente o Ichigo virou um homem e nos apresentou uma garota de sua classe!!! Ela até chama ele pelo primeiro nome!!!! Num futuro não muito distante teremos um net...

A fala do mais velho foi cortada por uma voadora de Ichigo, que ficara vermelho de raiva e constrangimento.

— Olha o que é que você tá dizendo, seu velho idiota!!! Isso lá é jeito de receber uma visita que vem pela primeira vez na sua casa??!!!

— MASAAAAAKI!!!! – Ele voltou chorando para o pôster – Onde eu errei com ele?!!! Não se trata o próprio pai desse jeito na frente de sua futura nora!!!

Outro soco de Ichigo o fez se calar e voar para a porta da cozinha enquanto Karin decidiu intervir.

— Ignora ele, só tem tamanho mesmo. Toda vez faz esse escândalo. Vamos logo pra mesa antes que ele comece de novo.

Rukia riu, dessa vez com sinceridade, e Ichigo conseguiu sorrir, sentindo-se contagiado pela alegria da shinigami.

— Como eu pensei... Eles são adoráveis, Ichigo – ela sussurrou só para ele ouvir – Obrigada por me trazer aqui.

Dizendo isso ela seguiu Karin e Yuzu para a cozinha.

— Sente-se, Rukia. Eu já preparei tudo – Yuzu lhe disse.

— Você mesma cozinhou tudo isso? Ichigo me falou que você é habilidosa na cozinha, tenho certeza que o jantar será maravilhoso.

— MASAAAAKI!!

— Deixa de drama seu velho, tonto – Ichigo falou enquanto sentava ao lado de Karin, e ouvia Rukia e Yuzu rirem juntas.

Rukia sentou-se ao lado da gêmea mais nova, e outra vez seu coração foi tomado por algo mais intenso do que sentira em toda sua vida.

******

— Ichigo!!! Outra vez você se atreveu a ficar entre os melhores colocados nas provas!!! Seu traidor! – Keigo dramatizava.

— Mas o Ichigo sempre fica entre os melhores – Chad falou.

— Isso é verdade. Apesar de ainda estar muito distante do topo e de ser um idiota esquentadinho, ele é um bom estudante – Uryu falou ajeitando os óculos, o que sempre fazia quando queria disfarçar o que realmente estava pensando ou sentindo.

— Ei, cara! Como você pode achar que isso é um elogio?! – Ichigo reclamou.

Ouviram Rukia rir enquanto os observava. Estavam sentados e conversando no intervalo entre as aulas.

— Mas ele elogiou você. Ele disse que você é um bom estudante – ela disse.

— De que adianta elogiar alguém ofendendo junto?!

— Como eu disse, não consegue se portar de maneira adequada nem na frente de uma dama.

— Ora, seu...

— O Ichigo tá zangadinho... – Keigo zombou – Ficou todo desconsertado agora... Não quer que sua imagem fique feia na frente da Rukia?

— Para com isso, seu tonto!

— Sua imagem que vai ficar feia, Keigo – Mizuiro apareceu por trás de Keigo – Assim vai envergonhar a Kuchiki-san.

No próximo instante Ichigo e Keigo mais pareciam um cão e um gato brigando, e outra vez Rukia pode se divertir observando.

******

Rukia caminhava pelo pátio arborizado da escola na hora do almoço, num raro momento em que ela e Ichigo não estavam conversando escondidos no telhado resolvendo algum assunto relacionado a hollows.

— Rukia!

A shinigami olhou adiante e viu Orihime acenando para ela, sentada no chão junto com Tatsuki e outras meninas.

— Vem almoçar com a gente!

— Olá! – Rukia as cumprimentou ao seu aproximar – Claro que eu aceito, se não tiver nenhum problema eu me juntar a vocês.

— Claro que não, senta aí. É sempre bom ter mais gente – Tatsuki falou quando Rukia se sentou entre elas.

— Almoçar com todo mundo é tão divertido, mas você sempre some, Rukia.

— É mesmo, assim você fica parecendo aquelas agentes secretas que se infiltram nas escolas nos filmes de ação! – Chizuru apareceu do nada para se juntar a elas.

— Às vezes sua imaginação é tão fértil quanto a da Orihime – Tatsuki lhe disse.

— Sim! Isso é algo que temos em comum! – Ela falou puxando Orihime num abraço.

— Tá bom, mas agora é hora de comermos, deixa ela em paz – Tatsuki falou.

— Os meninos da nossa classe já me falaram sobre esse tipo de filme, embora eu nunca tenha assistido muitos.

— Então qual é seu gênero favorito? – Orihime perguntou.

— Eu não tenho certeza, acho que depende do meu humor no momento.

— Tá bom, agora vamos comer antes que o intervalo acabe – Tatsuki falou, dando um longo gole em seu chá.

— É verdade! – Orihime disse, pegando seu almoço – Vocês não vão acreditar no que eu trouxe hoje! Fiz arroz com gotas de chocolate, camarão e bolinhos de rabanete com geleia de feijão pra acompanhar!

— Nossa... Você é muito criativa na culinária – Rukia sorriu, não querendo magoar a amiga com o que realmente estava pensando, e vendo Tatsuki esconder o rosto entre as mãos, parecendo indignada.

— Quer provar um pouco, Rukia?! – A ruivinha perguntou com empolgação.

— Orihime! É melhor não! Nem sabemos muito sobre o lugar de onde Rukia veio e quais são os hábitos alimentares lá. Nem todos estão acostumados ao nosso estilo aqui – Tatsuki disse em seu socorro, apesar de obviamente aquele ser o estilo culinário de Orihime e ninguém mais.

— Nossa, eu nunca tinha pensado nisso – a garota falou, ficando pensativa por um instante – Então nos conta, Rukia. Do que você mais gosta de comer?

— Na verdade não muito diferente de vocês – Rukia começou, rapidamente desembrulhando seu próprio almoço para evitar uma nova tentativa de Orihime lhe oferecer seus preparos estranhos – Mas não é todo dia que encontro alguém que cozinhe tão diferente quanto você.

— Para, Rukia, senão amanhã ela vai trazer almoço pra todo mundo. E isso não tá nem perto da coisa mais estranha que ela já cozinhou.

— A Orihime é tão fabulosa quanto uma fada! Tenho certeza que tudo que ela cozinha é maravilhoso! – Chizuru falou.

— Ah, é? Por que você não come então? – Tatsuki contestou, e a shinigami e Orihime comeram enquanto observavam as duas debaterem.

Outra vez, fazia muito tempo que Rukia não se sentia assim. A última vez em que se almoçara com amigos e se divertira tanto foi num dia em que se juntara a Momo, Ranjiku e ao capitão Hitsugaya para o almoço. Sentiu saudades deles ao se lembrar, mas aqui, agora, ela estava feliz.

******

— Vocês costumam fazer isso na Sociedade das almas? – Ichigo perguntou baixinho enquanto os amigos caminhavam a frente deles.

— Às vezes... Mas nem todos acham que vale a pena. Na maior parte do tempo todo mundo está ocupado trabalhando e cuidando das almas. Algumas famílias gostam mais de flores do que outras. Certas casas tem um monte delas nos jardins.

— Hum... Interessante. Mas e você? O que acha das flores?

— Eu gosto delas, deixam qualquer lugar acolhedor. E você já parou pra pensar... Que essa é uma das coisas boas que é trazida pela chuva?

Ichigo arregalou os olhos, sendo pego de surpresa e não conseguindo responder de imediato. Mas por fim, sorriu.

— Geralmente não é disso que eu me lembro. Mas obrigado, Rukia.

Ela sorriu para ele de volta.

— Gente, olha só que lindo! – Orihime parou de repente, apontando um aglomerado de arbustos cheio de flores brancas, e algumas cor de rosa.

A ruiva se abaixou para observar as flores de perto, Chad e Uryu pararam ao lado dela, também se deixando levar pela beleza do lugar.

— Ela também gostava de flores – Ichigo falou só para Rukia ouvir.

A baixinha sorriu, agora já sabendo que ele falava de Masaki. A cada dia Ichigo vinha se sentindo mais confortável para se abrir com ela sobre sua mãe.

De repente o vento do início de inverno ficou mais forte e soprou contra eles, fazendo seus cabelos esvoaçarem e incontáveis pétalas brancas se espalharem pelo ar. Rukia observou Ichigo se juntar aos demais em sua observação e se tornar parte daquela cena tão bonita. Aproximando-se dele enquanto Orihime se distraía conversando com Uryu e Chad sobre o que acabara de acontecer, a shinigami disse também apenas para ele.

— Você sabe o que algumas pessoas acham sobre momentos como esse? Dizem que quando o vento sopra desse jeito numa hora em que você sente saudades de alguém, onde estiver, essa pessoa está pensando em você com todo o carinho que ela tiver.

Outra vez Ichigo ficou sem palavras e Rukia não perdeu o brilho de lágrimas que passou rapidamente pelos olhos castanhos. Mas sendo orgulhoso como era, ele piscou e se conteve, apenas sorrindo para ela e em seguida para as flores, e sem imaginar que nesse exato momento Rukia também estava pensando em alguém distante que nunca mais voltaria, e que Ichigo a fazia se lembrar dele em muitas ocasiões, embora o que sentisse por ambos fosse diferente. E ultimamente tudo que sentia ao lado de Ichigo parecia mais intenso, isso a assustava, mas também a fazia se sentir viva outra vez.

******

Rukia acordara cedo naquela manhã, conseguindo ter uma bela visão do nascer do sol do telhado enquanto refletia sobre tudo que vinha acontecendo, e decidira discutir o assunto com Ichigo.

— Podíamos tirar todas as horas de almoço pra fugirmos e treinar você, assim sua energia subirá mais rápido – Rukia falou, não resistindo a provoca-lo em mais uma das vezes que estavam escondidos no telhado.

— Ah, nem vem! Vai querer que eu arrisque minha vida em tempo integral, agora?

— Se eu consigo, não deve ser tão difícil pra um gigante como você.

— Será que todos os anões são irritantes como você?

— Ah, não fala assim, Kurosaki-kun! Vai me deixar triste – ela falou em mais uma de suas atuações.

— Você é incorrigível – ele falou.

Rukia riu.

— Não leve a vida tão a sério, eu estava apenas brincando. Embora me preocupe com sua segurança. Por esse motivo acho que valeria a pena intensificarmos seu treinamento.

                - Eu vou pensar no seu caso – Ichigo disse no mesmo tom de voz que usava quando queria esconder o que estava sentindo.

                Rukia sorriu e voltou a comer.

******

                - Ichigo, você precisa treinar e aumentar sua energia espiritual! Não só pra me devolver meus poderes, mas pra se proteger melhor. Os hollows estão percebendo o quanto você é forte e vindo mais fortes ainda. Deixar Kon ir pra escola no seu lugar por alguns dias seria um ótimo meio de ganharmos mais tempo.

                - Ah, não! Nem vem! – Ichigo falou indignado, cruzando os braços como um símbolo de recusa – De que adianta ter minha vida de volta se ele destruir completamente minha reputação e meu desempenho escolar?

                - Ah... Já vi que isso também não vai funcionar... – Rukia falou para si mesma, fechando os olhos e espalmando uma das mãos no rosto, teria que pensar em outra saída para intensificarem o treinamento do shinigami substituto.

******

                Os dois estavam caminhando de volta para casa após finalmente conseguirem uma manhã livre para treinar as habilidades de Ichigo num local onde tinham certeza que não encontrariam ninguém conhecido. O frio do inverno ainda cercava a cidade, portanto estavam devidamente agasalhados.

                - Você foi bem hoje – ela falou de repente quando os dois pararam de andar um pouco para observar o belo céu do meio dia, que não estava dublado apesar da estação.

                - Eu finalmente aceitei minha missão, mesmo se ela for temporária. E vou proteger tanto os espíritos perdidos que fogem dos hollows quanto você de ficar presa aqui por minha causa.

                Rukia se surpreendeu com o que ele disse. Era raro ver Ichigo dizendo algo tão sentimental, e em todas as vezes que ela presenciara isso, estavam apenas os dois. A pequena sorriu.

                - Não me sinto presa. Seu mundo é muito mais divertido e agradável do que eu imaginava. Acho que eu seria feliz vivendo nele, apesar de não poder ficar aqui pra sempre.

                - Você nunca viveu aqui? Você não disse que alguns shinigamis já foram almas comuns?

                - Eu não me lembro. E realmente alguns já foram humanos comuns, mas nem todos tem uma vida aqui. Algumas almas nascem na Sociedade das Almas e seguem por toda sua vida lá, virando shinigamis ou não. Eu só me lembro que estou lá desde que me entendo por gente. Não saberia lhe dizer se estive aqui e morri ainda bebê ou se nasci lá. É raro que alguém perca a memória quando morre aqui e vai pra lá, e mesmo quando acontece a amnésia é temporária. Talvez eu nunca tenha estado aqui. Mas sendo um bebê, quem sabe?

                - Então lá as almas também crescem e envelhecem?

                - Sim, embora de forma muito mais lenta do que aqui. O crescimento das crianças é mais rápido, mas quando se chega à idade que aqui vocês consideram adulta, se torna mais lento.

                - Hum...

                - Mas o que importa hoje é que estou muito feliz por você ter levado o treinamento a sério e por se importar em proteger a todos, sejam quem forem. Só almas muito fortes se arriscariam a isso, especialmente as humanas. Alguns na Sociedade das Almas pensam que sentimentos humanos atrapalham.

                - Às vezes sim... Às vezes parece algo bom, às vezes parece ruim. Deve ser difícil pra pessoas que nunca viveram como humanos entender isso.

— Realmente... Mas eu acho que é o que ajuda vocês a serem cada dia melhores e a tirar força de suas falhas. Se olhar bem, até pra os shinigamis é assim, alguns só não querem admitir porque dói lidar com isso em algumas situações.

Ichigo não soube dizer porque, mas nesse instante sentiu que Rukia se lembrava de algo do passado, algo que ainda não contara a ele, algo doloroso. Mas se fosse, ele esperaria por ela, assim como ela esperara pacientemente que ele falasse sobre Masaki.

— Eu não sei quando vou embora, mas quando for tenho certeza que levarei boas lembranças daqui, e muita gratidão por tudo que você, sua família e nossos amigos fizeram por mim.

Vendo um indício de tristeza e saudade passar pelos olhos dele, Rukia brincou.

— Ora, não vai ficar sofrendo como um bebê chorão quando eu partir, nem vai mais lembrar de mim.

— Por que eu ficaria? Posso comprar uma anã de jardim pra substituir você em qualquer loja de artesanato da cidade.

Ichigo curvou-se após ser acertado no estômago enquanto Rukia continuava.

— Eu não devo demorar muito também. Você está ficando cada dia mais forte. Mas eu quero que saiba... Que ainda que tenha sido tão breve, eu fui muito feliz nesse tempo aqui. E eu prometo que não vou contar a ninguém na Sociedade das Almas sobre sua cor estranha de cabelo.

Ichigo ficaria com raiva se esse comentário fosse feito por qualquer outra pessoa, mas sentindo-se completamente tomado pelas palavras dela, ele só conseguiu sorrir.

******

— Esse garoto ainda não foi atacado e está em paz. Acho que é uma boa hora pra fazermos o cônsul – Rukia falou, já pegando sua luva para separá-lo do corpo.

— Espera, ele tá apreensivo. Deixa eu falar com ele antes, vai ser menos assustador do que falar com alguém vestido de preto e com uma espada gigante.

Rukia sorriu e deu de ombros, permitindo que ele assim o fizesse.

Ichigo se agachou para ficar numa altura mais próxima do espírito de oito anos de idade e segurou sua mãozinha.

— Obrigado por me avisar sobre os monstros – o garoto sorriu, e Ichigo sorriu de volta, seguindo o gesto de aperto de mão do garoto.

— Olha, eu sei que você tá bem e que aceitou o que houve, mas como já explicamos, não é uma boa ideia você ficar aqui sozinho. Se for pra Sociedade das Almas, vai encontrar outras pessoas pra cuidarem de você enquanto espera pela chegada da sua família que ainda está aqui, pode até reencontrar seus parentes que já se foram.

— Não vou ficar sozinho?

— Ninguém lá fica sozinho. Há muitas famílias que cuidam de crianças. E cuidarão de você também. E um dia você reencontrará sua família – Rukia falou sorrindo para confortá-lo.

O garotinho sorriu.

— Tudo bem. Como eu chego lá?

Ichigo lhe explicou como funcionava o cônsul, e após Rukia separá-lo do corpo, ele realizou o ritual com o pequeno, vendo o menino sorridente se dissolver em luz e uma borboleta infernal subir aos céus em seu lugar.

******

Ichigo estava caminhando ao lado de Rukia, que vinha ficando cada dia mais pensativa e recolhida em sua própria mente. Os dois caminhavam um pouco atrás de Orihime, Uryu e Chad, que conversaram sobre o imenso amor de Orihime por fadas. Ichigo riu baixinho os observando, e voltando sua atenção para Rukia novamente, percebeu que ela já o encarava como se nem percebesse o que estava fazendo.

Não conseguiu ler o olhar dela, mas de um jeito estranho o fez se sentir feliz e preocupado ao mesmo tempo. Quando já caminhavam se encarando por alguns segundos sem que ela dissesse nada, Ichigo decidiu chamar sua atenção, e sorrindo para ela finalmente falou.

— Se liga, baixinha, vai acabar tropeçando se não olhar pra frente – falou, dando um toque na testa dela com um dedo e segurando o olhar para ela por um instante antes de voltar a olhar para frente.

Rukia não disse nada e continuou olhando para ele, antes de finalmente voltar a prestar atenção no caminho. Eles conversariam mais tarde. E o ruivo esperava de todo o coração que a shinigami não se fechasse dentro de seus próprios medos e tentasse lidar com o que quer que fosse sozinha.

******

— Bom, não tem mais hollows por perto. É melhor irmos pra casa antes que aquele velho chato comece a fazer suposições idiotas – Ichigo falou com cara de tédio, apontando na direção que deveriam seguir.

Rukia sorriu. Era engraçado e doce como a relação dos dois funcionava bem, ainda que parecesse ser completamente desajustada para quem não conhecia a família Kurosaki de perto. E pensando nisso, ela seguiu Ichigo.

******

Outra vez Rukia teve a chance de vislumbrar como o pôr do sol era belo naquele mundo, especialmente diante do lago onde estavam agora. Orihime estava radiante de felicidade com a visão. Era adorável como a garota amava a natureza e qualquer coisa relacionada a ela, parecendo até uma criança em momentos como esse. Rukia pensou imediatamente em Momo, a melhor amiga do capitão Hitsugaya, ela também era assim, e o contraste com a personalidade séria do capitão era incrivelmente fofo.

Olhou para Ichigo, Uryu e Chad. Todos eram reservados e Ichigo e Uryu até competiam pra saber quem era o mais sério, mas Rukia admirava a capacidade de cada um deles de conseguir parar para admirar algo tão belo no céu. Provavelmente seu tempo nesse mundo estava acabando, fosse por Ichigo finalmente poder devolver seus poderes, ou por ela acabar sendo descoberta pelos líderes da Sociedade das Almas, mas mesmo se fosse morta, esses estariam entre os momentos mais preciosos de sua vida até sua última respiração.


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