Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 4
Soldado abatido!


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por voltar, espero que goste da leitura! ♥



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Aquele Romeu idiota, por que ele precisava ser sempre tão amigável?!

Julieta girou os olhos entrando com passos pesados na sala de aula ainda vazia em sua maior parte, enquanto carregava uma mochila em cada ombro, a sua e a de Romeu — que ela simplesmente pegara, e olhava a volta à procura de uma carteira com apoio de braço canhoto para o amigo.

Na maioria das salas era difícil encontrar mesmo que apenas uma única carteira para canhotos, mas aquela parecia estranhamente sortuda, havia duas delas! Uma mais ao fundo e outra encostada à parede, próxima a cadeira do professor, Julieta se direcionou para essa, jogou ali as coisas de Romeu e sentou-se logo atrás.

—Romeu, Romeu, onde estás Romeu? — alguém, provavelmente Alan, comentou dramaticamente no fundo da sala. Despertando risadinhas dos presentes.

—Se bem que essa Julieta está desbotando um pouco, não é? — Brenda comentou também despertando mais algumas risadas.

Sempre as mesmas piadinhas, por que eles tinham que ter ficado na mesma sala que aqueles idiotas de novo?

Mordendo o lábio inferior Julieta decidiu ignorá-los e arrumou o cabelo do lado esquerdo do rosto para usá-lo como almofada enquanto se encostava à parede e enfiava o braço direito na mochila à procura dos fones de ouvido.

—Mas falando sério, onde está o Romeu? — Margô questionou sobressaltando Julieta quando se sentou repentinamente no lugar que ela havia guardado para Romeu.

—Mas o que foi que aconteceu com o seu cabelo?! — Julieta espantou-se.

Até o ano anterior Margô tinha um longo e lindo cabelo castanho que quase lhe chegava às coxas, mas agora ela mal conseguia empurrar as mechas para trás das orelhas.

—Vendi-os. 

—Vendeu? Como vendeu? — espantou-se.

Margô girou os olhos de forma irritada.

—Perdi a paciência, aqui é muito quente pra andar com um cabelo daqueles e eles gastavam shampoo demais, então vi um anuncio na internet que estavam pagando por cabelos sem química e achei que era uma boa ideia ganhar algum dinheiro com eles depois de ter gastado tanto, quase me rasparam a cabeça, e minha tia disse que eu iria para o inferno, mas agora já foi.  E Romeu?

—Tá lá fora, fazendo amizade com o amiguinho novo dele. — respondeu bufando.

—Ora, e por que me parece que você não simpatiza muito com esse novo amigo? — Margô sorriu, deixando à mostra seu aparelho que, dessa vez, tinha os elásticos em vivos tons de verde, combinando com as armações dos óculos quadrados.

—Bem, porque ele é um idiota completo! — Julieta extravasou. — Nós o conhecemos ontem, e ele quase me arrancou a cabeça com uma bola/meteoro que lançou em mim!

—Oh — Margô olhou-a inexpressiva — Como aquele que você me deu no torneio esportivo do ano retrasado? 

Julieta sentiu suas orelhas se aquecerem.

—Eu já pedi desculpas por aquilo umas trocentas vezes!

Margô arqueou as sobrancelhas.

—E eu nem sequer estava na partida, era só uma azarada qualquer na plateia. — comentou calmamente — Já te disseram que você tem uma força monstruosa no braço? Acho que às vezes ainda sinto minha cabeça ressoar.

—Aquilo foi um acidente! — defendeu-se.

Inclinando-se ainda mais em sua direção e apoiando o queixo sobre o punho Margô questionou visivelmente mais curiosa do que propriamente preocupada:

—Então está dizendo que ele fez de propósito?!

—Sim! Bom… não, digo, não sei. — respondeu hesitante — Só que ele também nem se desculpou, muito pelo contrário, agiu como se tivesse sido culpa minha por não sair do caminho! Um verdadeiro imbecil!

—Talvez tenha sido karma…

—Margô! Dá pra esquecer logo daquilo?! — reclamou.

Mas a colega limitou-se a dar de ombros.

—Então para resumir: um carinha qualquer te deu uma bela bolada ontem, com certeza não pior do que muitas que você mesma já deu por aí, e agora você está irritada com Romeu porque ele foi amigável com o cara?

—Romeu é outro idiota. — Julieta virou o rosto — Ele podia ao menos se mostrar um pouco ressentido, sabe? Talvez um pouquinho de raiva…

—Você já sente raiva pelos dois. — Margô comentou rindo — E Romeu perdoa pelos dois!

Ela nunca levava nada a sério! Mas de um jeito ou de outro Julieta acabou rindo junto, e as duas ainda estavam rindo quando Romeu chegou:

—Julys, você está com a sua identidade aí?

—Bom dia, não é Romeu? — Margô questionou arqueando as sobrancelhas de forma inquiridora, ainda que continuasse mantendo o sorriso despreocupado em seu rosto sardento.

Quando as duas estavam juntas, os idiotas de plantão costumavam chamá-las de “a pintada e a desbotada” e se achavam muito engraçados por isso.

—Bom dia, Margô. — Romeu voltou-se para ela — Seu cabelo ficou muito legal.

—Obrigada por notar. — sorriu.

Torcendo os lábios Julieta balançou a cabeça.

—E como é que ele não iria notar? — reclamou — Romeu por que quer minha identidade?

—Não precisa ser especificamente a identidade, pode ser também a sua carteirinha estudantil, ou cartão de meia passagem, ou também a carteira de trabalho, ou quem sabe o passaporte ou a carteira de motorista. — enumerou nos dedos — Na verdade qualquer documento oficial com foto já serve.

Julieta piscou e estremeceu como se por um momento tivesse sofrido uma pequena pane interna.

—Primeiro que isso levanta mais perguntas do que respostas, segundo o que te faz achar que eu realmente tenho carteira de motorista ou um PASSAPORTE?! E terceiro: Para que você quer meus documentos?!

Mas ainda assim ali estava ela estendendo sua carteira de identidade para o amigo, “nunca sair de casa sem, pelo menos, um documento de identificação” era uma das principais regras de D. Maria Alice.

—Aaron não acredita em nossos nomes! — reclamou arregalando os olhos.

As garotas olharam-no com caretas confusas.

—Mas o que é que você…? — Margô começou a dizer.

Porém Romeu já havia se virado e fugido correndo da sala, Julieta não estava surpresa, às vezes ela achava que Romeu era a pessoa mais aleatória da face da Terra, mas Margô saltou de cadeira agarrando seu braço.

—Vamos! — chamou-a.

—Vamos aonde?

—Atrás dele é claro! — incitou-a puxando-a — Anda! Levanta ou vamos perdê-lo!

Acabou que na verdade as duas não tinham como perdê-lo de vista: Romeu estava parado no final do corredor com o imbecil e Margô ofegou um “que gato!” em voz baixa que obrigou Julieta a lhe dar uma cotovelada entre as costelas.

—Romeu Luís Monteiro e Julieta Alice Lemos de Cappelette. — ele leu em voz alta, segurando os documentos de cada um nas mãos — E nasceram no mesmo dia?!

—Com treze minutos de diferença em quartos ao lado um do outro. — Romeu acrescentou com ar vitorioso.

O idiota de topete o olhou espantado.

—Seus pais combinaram?!

—Não! Uma mera coincidência! — exclamou estufando o peito de forma orgulhosa.

—Uma coincidência absurda, isso sim! — estava devolvendo os documentos a Romeu quando as viu ali e sorriu debochadamente. — Ora, mas vejam só, você saiu correndo bem rápido mais cedo, não foi Julys? O que foi, teve medo que eu te arremessasse outro balaço? Mas dessa vez estou desarmado, vê?

Ele ergueu as mãos ao lado da cabeça, mostrando as palmas e mantendo os dedos bem separados para provar. Mas era um tremendo cretino mesmo! Julieta estava pronta para avançar, quando Romeu a abraçou e puxou-a para si.

—Só eu posso chamar a Julys de Julys! — reclamou.

Julieta olhou-o abismada.

—É com isso que está incomodado?!

Ainda sorrindo de forma irritante o idiota prosseguiu:

—E não está com aquele seu porquinho de chapéu hoje, não é? Qual era mesmo o nome dele? Hã… Toucinho?

Julieta silvou por entre os dentes.

—Astolf…!

Mas de repente Romeu e Julieta foram bruscamente empurrados para o lado quando Margô forçou sua passagem ali para se posicionar em frente ao idiota alto e bonito de topete.

—Oi, eu sou Margarida Quaresma, mas todos me chamam de Margô. — sorriu-lhe delicadamente lhe estendendo a mão — Sou colega de classe do Romeu e da Julieta aqui, mas e quanto a você, qual sua turma?

Inacreditável! Julieta resmungou apoiando a testa no ombro de Romeu.

—Aaron. — ele apresentou-se. — Primeiro ano, turma quatro, o Romeu aqui estava me ajudando a achar a sala.

—Ah, primeiro ano! Não é a toa que nunca o vi na escola… — Margô demorou-se a soltar sua mão e sugeriu docilmente: — Talvez nós duas possamos ajudá-lo a procurar a sala também? — erguendo a cabeça instantaneamente Julieta começou a protestar quanto aquilo, mas Margô ignorou-a completamente — Já conhece alguém por aqui?

Aaron sorriu-lhe.

—Apenas Romeu e Julieta. — por que seus nomes pareciam soar como piada quando ele os proferia? Julieta cerrou os olhos — Ah claro, e agora você, flor do campo.

Margô emitiu um risinho dissimulado que fez Julieta girar os olhos tão forte que eles quase se voltaram para dentro de seu crânio, o rosto de Romeu torceu-se levemente enquanto ele começava a compreender o que estava se passando ali.

—Sério? — sussurrou-lhe — Mas só se conheceram há uns dois minutos!

Por que ele estava surpreso? Julieta olhou-o cética, aquela era Margô diante de um cara bonito, simples assim, ela nunca tentara investir em Romeu, é verdade, mas apenas porque durante muitos meses acreditou que ele e Julieta eram namorados, e mesmo depois que o mal entendido fora desfeito continuara a insistir que era apenas questão de tempo.

—Escola nova é sempre um terror. — continuou Margô docilmente — O que acha de irmos até sua sala no intervalo e podemos…

Aquilo foi a gota d’água para Julieta.

—Podemos nada. — interceptou-a agarrando-lhe o braço e puxando-a para trás, bem na hora, o sinal já estava tocando — Vamos logo voltar e ninguém vai visitar a sala de ninguém! Romeu ajude-me aqui!

Romeu enganchou seu braço ao braço livre de Margô e juntos começaram a arrastá-la pelo caminho de volta.

—Oh, Julieta, por favor! — Margô protestou, embora sequer estivesse lutando para se libertar e ao invés disso deixava-se rebocar indolentemente com os pés arrastando — É o primeiro dia de aula! Nenhum professor vai aparecer para a primeira aula!

—Tchau Aaron! — Romeu virou-se acenando.

—Oh e você também! — Julieta reclamou, mas o amigo irmão limitou-se a dar de ombros e rir. 

Margô gritou um “até mais” para Aaron fazendo Julieta lançar-lhe um olhar torto e logo a garota sardenta estava rindo junto a Romeu também, por razão aparente nenhuma.

Ao contrário do que Margô previra, o professor aparecera sim para a primeira aula e a ministrará normalmente enquanto Julieta lançava um e outro olhar superior e vitorioso para Margô, mas recusou-se terminantemente a ir “fazer companhia a Aaron” na sala dele durante o intervalo, não os proibiu de ir, mas Romeu não quis deixá-la sozinha e Margô, muito irritada, foi-se embora batendo o pé dizendo que “ficaria com o bonitão todo para si”.

Acabou voltando menos de dez minutos depois suspirando e dizendo que Aaron já havia sido tão completamente cercado que ela sequer conseguiu se aproximar

—Julieta, porque não vai lá e usa a sua força monstruosa para disparar umas tantas bolas que as deixem desacordadas e longe do caminho e ajuda a sua amiga necessitada aqui?

—Não acha que isso é exagero? — Romeu questionou — Quer dizer, você já tem namorado…

—O Diego? — Quem era esse?! E o que aconteceu com Carlos? Provavelmente a mesma coisa que se passou a Pedro e também a Rafael antes dele… — Larguei-o.

Julieta comeu quieta, não dava nem dois dias para Margô mudar seu alvo novamente, mas ela, muito pelo contrário, não deixava as coisas pra lá assim tão facilmente.

—Romeu…? — o professor interrompeu sua chamada e ergueu os olhos com o cenho franzindo — Há um Romeu e uma Julieta nessa sala?

Julieta moveu-se desconfortável em meio a nova onda de risadinhas e cutucões entre os alunos, havia sido assim desde que as aulas haviam começado há uma semana, com cada novo professor que resolvia fazer a chamada, a situação só não era mais incômoda que cada novo professor que a ficava encarando ou tentando não encarar, e ela tentava já nem pensar tanto no por que o seu nome era sempre o primeiro que eles memorizavam — com o de Romeu vindo logo depois.

Romeu ergueu o braço.

—Presente! — anunciou-se.

O professor olhou de um para o outro.

—Romeu e Julieta? — quis confirmar — Isso é alguma piada?

—Não é piada professor! — Brenda gritou mais ao fundo — Os amantes reencarnaram  para tentar concretizar o seu amor de novo!

Romeu estava corando agora, e gargalhadas se espalharam entre os alunos, Julieta fechou os punhos, aquela lá não perdia por esperar!

—Muito bem, já chega! — o professor os repreendeu, e prosseguiu com a chamada: — Victor Hugo… Victor Hugo? Faltou; Vitória…

—Qual Vitória professor? São duas. — uma das vitórias quis saber.

—Vitória Lima.

—Presente.

—Vitória dos Santos?

—Aqui.

—Bem. — ele baixou a prancheta — Estou vendo que boa parte da turma faltou, eles realmente não vieram ou só estão matando aula mesmo?

—É a aula que nos mata, professor! — Alan, o engraçadinho da turma, exclamou alegremente.

—Que seja. É apenas a primeira aula, então dessa vez vou deixar passar, mas avisem aos seus amiguinhos que com sete faltas sem justificativa eu reprovo. Ok? — o professor suspirou e jogou uma bola de vôlei aos pés dos alunos — Podem brincar de queimada.

—É obrigatório? — Romeu perguntou com um lamurio.

Ele não era nem de longe o tipo atlético.

—Se for obrigatório vou ficar no time da Julieta! — Margô adiantou-se erguendo a mão quase em pânico. — Eu é que não vou ficar na mira dela de novo!

Julieta virou-se ofendida.

—Eu não estava mirando em v…!

—Hoje não é obrigatório. — o professor os despachou — Quem não quiser jogar pode ir sentar para assistir.

—Vou sentar bem longe daqui! — Margô gritou fugindo dali correndo, para o espanto do professor.

Alguns outros alunos também começaram a se afastar, nenhum com o mesmo desespero de Margô, mas Romeu já os estava seguindo quando Alan o alcançou e passou o braço em torno de seus ombros para puxá-lo de volta.

—E você, Romeu? Vai ficar junto da sua Julieta, não é? — perguntou rindo estupidamente — Você não iria querer acertar uma bolada na sua amada, afinal, ela já tem essa cara de duas cores, e se levasse uma bolada ainda por cima…

Romeu retirou seu braço dali e empurrou o outro de lado, dizendo lentamente:

—Ela vai acabar com vocês, e eu? Eu só vou aparecer quando acabar a partida, pisando em cima de seus cadáveres um por um.

E então, se aproveitando do choque geral, afastou-se correndo dali.

Piscando Julieta sacudiu a cabeça e pegou a bola de vôlei, talvez ela devesse falar com a tia Vanessa sobre isso… porém num ponto Romeu tinha razão: Julieta ia acabar com a raça de todos eles, ali e agora. Sorriu sadicamente.

Não dava pra quebrar a cara deles sempre que algum os provocava, mas se era um jogo de queimada… Alan foi o primeiro que ela derrubou, com uma bolada bem dada no estômago que o fez se curvar ao meio sem fôlego… embora o que Julieta estivesse mirando mesmo fosse um pouco mais abaixo.

Três do time de Julieta caíram, mas o dobro disso foram eliminados do time adversário, embora nenhum pelas mãos de Julieta, pois ela estava guardando suas forças para um lançamento especial… só que Brenda era um pouco mais ágil, ela era a última sobrando no time adversário e se desviou correndo e saltando por duas vezes seguidas.

—Essa garota é lunática! Professor! — gritou encurralada.

O professor estava bebendo água numa garrafa ali perto e não lhe deu a menor atenção, era agora!

—Quem é a desbotada agora, hã?! — preparou-se para atirar.

—Sua lou…!

—Isso é que é um massacre! — alguém comentou rindo. — O que tem de errado com aquela lá? Parece que está levando as coisas muito a sério.

Julieta girou a cabeça, ela não sabia quando ele tinha chegado, mas Aaron estava parado junto às grades em volta da quadra, assistindo à partida por trás de seus estúpidos óculos escuros, junto a um par de outros garotos.

—Daqui a pouco alguém sai carregado numa maca. — O idiota disse sorrindo com seus amigos, embora não tivesse sido ele quem fizera o comentário inicial.

Ignore-os. Disse a si mesma. Focando seu olhar em Brenda, concentre-se apenas no alvo…! Julieta tomou impulso… girou a direita e arremessou!

Aaron certamente não esperava aquilo, e espantado arregalou os olhos meio segundo antes de a bola atingi-lo no meio da cara, lançando-o de costas no chão e fazendo seus pés voarem para o alto, houve uma sonora exclamação múltipla de “OOOOHH!” e o professor juntamente a vários alunos curiosos correram naquela direção.

—Soldado abatido! — gritou Romeu de algum lugar — Soldado abatido!


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Notas finais do capítulo

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