Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 24
¡Quien no arriesga no gana!


Notas iniciais do capítulo

Olá... Já faz um tempo, não é?
Se ainda houver alguém aqui, me desculpe pela demora, é que eu tive uns... probleminhas de saúde.
Espero que se divirtam com o capítulo ♥



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Enquanto se olhava no espelho avaliando o progresso de suas manchas pela manhã, Julieta avaliava quais seriam as chances de um possível complô entre sua psicóloga e Margot, pois tinha certeza que aquela última conversa no banheiro era muito parecida a alguma coisa que já tinha escutado no consultório também.

Mas, não importava o quanto se esforçasse, não conseguia se lembrar do que se tratava, então, depois de dois dias, apenas deixou o assunto de lado.

Qualquer pessoa de bom senso lhe diria que ela não poderia fugir de Aaron para sempre, ou mesmo perguntaria por que ela estava fugindo dele… mas Julieta nunca foi uma pessoa de bom senso.

Tudo o que sabia era que ver o rosto irritante daquele idiota diante de si a deixava nervosa, e com vontade de, ao mesmo tempo, fugir dele, socá-lo e bei…! De jeito nenhum! Julieta não ousava terminar o pensamento.

Mesmo porque agora tinha assuntos mais importantes no que se focar: o interclasse.

E Julieta havia tido muito trabalho negociando com a insuportável representante de classe, Brenda, que estava responsável pela listagem de inscrição para os jogos, sobre “acertar uma vaca chamada Manuela da turma 3 na primeira chance que tivesse”, não era um acordo ruim para falar a verdade, e quando foi que Julieta Alice recusou a chance de descarregar toda a sua raiva mal contida em uma dúzia de possíveis desafetos? Ela teria sido uma ótima lutadora se o seu pai alguma vez houvesse deixado que praticasse uma arte marcial.

Além de que Brenda devia ser muito corajosa — ou simplesmente burra — por ter permitido Julieta jogar porque realmente acreditava que não havia chances de ela ser alvejada por fogo amigo.

Mas Romeu se inscrever para os jogos? Isso sim foi uma surpresa e tanto.

—Hermano, você é a última pessoa que eu esperava ver aqui! — Aaron exclamou com um misto de surpresa e decepção. — Está planejando algo, como da última vez?

Ele era o camisa 17 do “Real Madruga”.

—É claro que não! — Romeu, o inesperado camisa 11 do “Meia Boca Juniors”, respondeu quase ofendido.

Embora a surpresa dele não fosse completamente descabida: inicialmente Julieta achava que o plano de Romeu era assinar seu nome na lista de participantes e depois não aparecer em nenhum mísero dia, exatamente como Margot no primeiro ano — apesar de o professor ter sido bem claro sobre zerar a nota de todos os engraçadinhos que tentassem essa gracinha.

—Ahã… sei. — Aaron olhou desconfiado dele para Julieta, que vestia a camisa 01, mas ela limitou-se a dar de ombros, claro que sim, afinal os dois estavam no mesmo time. — E o que vão jogar?

—Cabo de guerra! — Romeu respondeu de prontidão e parecendo muito orgulhoso de si mesmo.

E esse era justamente o seu plano genial: um esporte grupal, sem risco de confronto direto e longe dos meteoros assassinos nas quadras! E vencendo ou perdendo os pontos extras na nota dos participantes eram garantidos!

E ainda tinha a melhor parte: se quisesse, ele podia fazer corpo mole a partida toda e ninguém nunca saberia!

Era uma idéia sensacional, e Margot com certeza teria embarcado junto se ela “não tivesse conhecido ao Senhor Jesus Cristo em pessoa e apertado a mão dele enquanto prometia que ‘jamais voltaria a se aproximar de Julieta se a maluca estivesse segurando uma bola’, depois do último interclasse”.

—Vôlei e Queimada. — Julieta cruzou os braços e indicou-lhe com um movimento do queixo — E você?

—Basquete e vôlei. — Aaron sorriu de lado — O vôlei é unissex, então parece que podemos acabar nos enfrentando, não é mi bien?

—Nós estamos no terceiro ano, grupo C, e você é do primeiro ano, grupo A, vai ter que ganhar três partidas contra o grupo B antes de poder nos enfrentar. — Julieta salientou.

Mas Aaron não se abalou.

—Alguém terá que ganhar. — sorriu confiante. — Então é melhor você também se manter invicta até lá, mi bien… ah, tive uma ideia muito boa: o que acha de apostarmos para deixarmos as coisas mais interessantes?

Julieta olhou-o desconfiadamente por um instante, e então disse como Aaron sabia que ela faria:

—Que tipo de aposta?

—Por favor, não apostem! — Romeu implorou gemendo, para a diversão de Aaron.

Perto de Aaron os dois sempre aparentavam ficar bem mais tranquilos quando estava juntos: Romeu não parecia estar se preparando para pular a janela mais próxima ou pegar uma câmera e trancá-lo na cabana com o monstro furioso mais próximo, e Julieta sempre parecia menos inclinada a fugir ou socá-lo quando Romeu estava ao lado.

No entanto, com Romeu no meio deles era praticamente impossível para Aaron se aproximar dela como das outras vezes… mesmo que se acabassem surpreendidos pela chegada de Romeu, Aaron sempre recebesse algum golpe como consequência.

Ora! Quien no arriesga no gana, não é mesmo? O sorriso de Aaron cresceu.

—É muito simples! O time que ganhar a final leva o prêmio!

—E qual o prêmio? — Julieta quis saber.

—E se nenhum de nós chegarmos à final?! — Romeu reclamou ao mesmo tempo.

—A aposta só é valida se os dois chegarem à final, Romeuzito, e o prêmio, mi bien, será um pedido realizado.

—Isso aí foi muito amplo. — Julieta seguiu desconfiada.

—É o perigo que dá a emoção! — Aaron estendeu a mão. — Então topa?

—Não! — Romeu protestou.

—Topo! — Julieta concordou ao mesmo tempo, apertando a mão de Aaron. — Eu vou arrancar esses óculos estúpidos e sorriso idiota da sua cara!

E simples assim, um amigável jogo escolar de interclasse foi profetizado como um futuro massacre.

Mesmo se não estaria no jogo, Romeu sentiu que devia ter seguido o conselho de Margot e simplesmente feito o trabalho escolar e se arriscado a correr algumas voltas na quadra, seu único consolo é que nenhum daqueles dois malucos havia se inscrito para participar do cabo de guerra ou então “guerra” não seria apenas um eufemismo.

E que bom que ninguém apostou no cabo de guerra, porque eles perderam na primeira partida!

Romeu tentou disfarçar bem, mas a verdade é que aquela derrota foi tão doce quanto ganhar o ouro, e ele estava completamente exultante com isso! Nota máxima com o mínimo de esforço possível! Só poderia ser mais fácil se ele pudesse ficar em casa jogando e não fosse obrigado a vir todos os dias para assinar a lista de presença.

Ele quase podia saltitar…!

—É nosso último ano aqui, mas no fim é só uma partida escolar idiota. — Julieta sentou-se ao seu lado, tentando consolá-lo. — São doze turmas no total, e só um primeiro lugar por modalidade.

—Ah… é. — Romeu passou a mão na boca, tentando ter certeza de que não estava sorrindo. — E como vocês estão?

—Ganhamos a primeira partida de queimada, contra a turma 1, e a turma 3 ganhou o jogo contra a turma 4, então eles serão nosso próximo adversário. — Julieta alongou os braços — E eu estava ansiosa para pagar meu acordo!

E Julieta era uma mulher de palavra com certeza, como a desafortunada Manuela da turma 3 logo veio a descobrir.

Romeu não sabia o que a garota havia feito para Brenda, mas com certeza foi algo bem grave para que ela quisesse direcionar Julieta para cima dela enquanto gritava das grades nas bordas da quadra “A cara dela! Acerta a cara dela!”.

E Julieta acertou! Em cheio!

A pobre garota deve ter apertado a mão do Senhor Jesus em pessoa, igualzinho a Margot no primeiro ano.

É claro que não demorou a as outras turmas começarem a se focar em eliminar Julieta também, e tentarem eliminar ela de todas as formas possíveis — pelo menos Romeu achava isso, mas ele não podia dizer ao certo, ficou com os olhos cobertos durante a maior parte do tempo das partidas —, mas o lado bom — não tanto para as turmas adversárias — era que Julieta era tão ágil para se esquivar das bolas quanto era forte e certeira para lançá-las.

—Então era isso que você estava fazendo? — Julieta riu girando o ombro direito, na saída de mais um dia. — Você estava quase com a cabeça entre os joelhos, eu achei que estivesse jogando escondido no celular ou se protegendo de um ataque aéreo.

—Era quase isso, todas aquelas bolas voando são perigosas! Elas estavam praticamente fazendo buracos no chão! — Romeu reclamou preocupado. — Ninguém registra falta nesses jogos?!

Mas Julieta só fez rir e dizer que ele estava falando igualzinho à Margot.

—Se registrassem, Julieta seria a primeira a ser expulsa. — Aaron riu, simplesmente aparecendo e se intrometendo na conversa — Mujer parecia que você estava fazendo teste para filmar Matrix!

—Eu vi vocês jogando. — Julieta virou-se para o colombiano — Perderam a semifinal.

—Pelo menos no vôlei ainda estamos no páreo, então nossa aposta continua de pé, mi bien. — Aaron respondeu inabalável — E quanto ao basquete eu vou culpar o sol nos meus olhos, não se podem usar óculos escuros durante a partida. — e então, baixando os óculos escuros, ele piscou para ela e sorriu atrevidamente acrescentando: — Mas se eu soubesse que você estava assistindo, teria tirado a minha camisa em algum momento… Ai! Meu braço de arremesso, mulher!

Reclamou quando Julieta o socou, embora tenha sido bem merecido.

Parece que, agora que ele não estava mais brincando com a mente de Romeu usando o paradoxo da existência ou não de sua tatuagem, ele havia perdido qualquer falso pudor sobre manter-se completamente vestido.

—E como está à tia Vanessa, Romeu? — Julieta perguntou rapidamente dando as costas ao abusado.

—Ontem eu a peguei quase entornando um copo de vinagre de maça, mas está tudo bem, e agora que sabemos que é uma menina, ela está começando a pensar em nomes. — Romeu contou-lhes — Seus favoritos até agora são Romina e Rowena.

—Rowena?! — Aaron repetiu chocado — Hermano, esse nome vai ser a ruína da sua irmãzinha!

Julieta o acertou com o cotovelo por entre as costelas.

—Vê se cala a boca!

—Julys, você gosta de Rowena, não é?

Romeu perguntou com uma expressão de dar dó que obrigou Julieta a forçar um sorriso.

—E-eu gosto! — ela fez uma pausa — Mas ela não decidiu ainda, certo? Têm outros nomes ainda, não é?

Aaron curvou-se de tanto rir.

—Ela está pensando em Isolda também.

—Mas ela ainda tem muito tempo para pensar sobre o assunto! — Julieta tentou desconversa rapidamente, mais uma vez empurrando Aaron para longe, que a essa altura já tinha lágrimas nos olhos de tanto rir — Ela ainda tem que conversar com o tio Samuel, certo? E vai saber que tipo de coisas ela vai querer comer até lá…

—Mas o que minha mãe querer comer cebolas com chocolate tem haver com o nome da minha irmãzinha? — Romeu perguntou confuso.

—Eu perguntei à minha mãe. — Julieta suspirou — E ela me disse que o “Julieta” do meu nome é porque no último trimestre da gravidez ela só pensava em comer aquele doce chamado “Romeu e Julieta”.

— ¡Y qué bonito nombre sería cebolla de chocolate!

A essa altura Aaron já estava ficando sem fôlego, e Julieta queria muito socá-lo, mas já estava quase na hora da final de queimada, então ela teve que ir embora.

Eles jogariam contra a turma 1-3, o “Baile de Munique”, e é claro que, depois de todas aquelas partidas, a marcação para “eliminar primeiro a Mulher Hulk” já era um consenso entre todo o time adversário, e logo apenas saltar, abaixar-se e esquivar-se deixaram de ser o suficiente para manter Julieta em campo, obrigando-a — depois que uma bola a, pelo menos, 360 km/h passou a um fio de cabelo de atingi-la — a sacrificar seus companheiros de time pela sobrevivência.

Pelo menos sete foram feitos de escudos humanos ou deliberadamente empurrados como buchas de canhão em meio ao fogo cruzado, antes de conversas sobre “expulsar aquela maluca” começarem a circular entre os poucos sobreviventes.

Conversa fiada!

Eles dependiam dela para ganhar e sabiam disso, por isso não a expulsaram ou mandaram direto para o banco nem quando Brenda começou a dar todo aquele show sobre ter deslocado o pulso, e os professores não “faziam vista grossa porque ela tinha algum pacto com eles”, como diziam as más línguas, e sim porque eles conseguiam ver que ela estava praticamente carregando aquele time nas costas! Ou talvez eles fossem simplesmente negligentes… mas Julieta tinha certeza que a razão era sim seus ótimos dotes como atleta.

Prova disso é que ela acabou sendo a última jogadora ainda de pé restante de seu time, contra os outros três do time adversário, Romeu escondeu a cabeça entre as mãos, seria um massacre, a vitória estava perdida, era o que todos acreditavam… até Julieta pulverizar cada um daqueles fracotes.

Há! Ela deveria levar aquela medalha de 1° lugar feita de plástico amarelo barato sozinha para casa!

Trabalho em equipe uma ova!

¡Eres uma máquina de matar, mi bien! — Aaron exclamou em estado eufórico, como se a própria turma dele houvesse levado a vitória e, levando dramaticamente as duas mãos ao peito, continuou: — ¡Creo que me acabo de enamorar de ti!

Mas Julieta estava ocupada demais tossindo e secando o suor do rosto com a ponta da camisa enquanto imaginava se precisaria ou não de um tanque de oxigênio depois de toda aquela agitação para sequer tentar entender o que ele estava dizendo.

—Julieta você exagerou lá! — Romeu exclamou preocupado, entregando-lhe uma garrafa d’água.

—Era ganhar… ou ganhar… Romeu…!

Respondeu entre golfadas de ar logo antes de beber de uma só vez metade do conteúdo da garrafa e derramar a outra metade sobre a cabeça, mas o movimento lhe provocou uma fisgada repentina de dor do ombro direito e uma careta de dor.

Talvez ela tivesse levado o braço um pouco para trás demais naquele último arremesso.

Mas nada que um torsilax e uma boa noite de sono não pudesse resolver.

Com certeza no dia seguinte — o último dia dos jogos interescolares e também a final de vôlei — ela estaria nova em folha!

Só que não.

No dia seguinte o ombro de Julieta estava ainda pior, ela mal conseguia levantar o braço acima da altura do ombro e até seu pescoço estava rígido, ela nem sequer conseguiu dormir direito porque não conseguiu encontrar uma posição confortável para se deitar.

—Você devia pedir dispensa! — Romeu protestou enquanto amarrava o cabelo de Julieta — Ninguém vai zerar a sua nota se você não participar porque se lesionou no jogo!

—Eu não estou lesionada. — Julieta bufou — E quem liga para a nota? — ela engoliu mais um torsilax — Só espirra logo esse gelol, porque o jogo já vai começar!

—Essa é uma péssima ideia. — Romeu resmungou sacudindo o vidro de spray antes de usá-lo — Ainda pior do que a vez que você desceu a ladeira da sua rua com uma bicicleta sem freios.

Mas tal qual aquela bicicleta desgovernada, Julieta não seria parada a menos que se chocasse contra um carro estacionado ou um muro de tijolos.

—Romeuzito, amigo, regálame un poco de ese helado.

Aaron pediu aproximando-se, no mesmo instante em que Julieta saltava para longe como se de repente Romeu estivesse com um maçarico na mão.

—Se machucou também?  — Romeu perguntou.

—Eu não estou machucada! — Julieta protestou ao “também”.

—Ontem eu caí de mau jeito no meu segundo jogo de basquete e ferrei com meu joelho, que bom que ainda tinha isso em casa. — Aaron contou sentando-se onde antes Julieta estava e mostrando as palmas das mãos raladas antes de tirar a joelheira ajustável do joelho direito — Empezó verde, pero se está empezando a poner morado... ¿crees que se está hinchando?

—Eu acho que vocês não deveriam jogar, mas ninguém escuta o que eu digo, não é? — Romeu girou os olhos — Mas eu devia ter trazido o kit de primeiros socorros que a tia Alice guarda no porta-malas do carro.

Aaron engoliu um comprimido e estendeu a cartela para Julieta.

—Quer alguns analgésicos, mi bien? — ofereceu — São receitados para as minhas enxaquecas, mas servem para dores em geral.

—Estou bem, obrigada. — Julieta recusou.

—Ela trouxe os próprios analgésicos. — Romeu a entregou.

Naquele ritmo, a vitória seriado do último que permanecesse de pé… então aquilo poderia levar um bom tempo ainda, pois mesmo que Julieta não conseguisse sequer dar um saque direito e Aaron mal pudesse correr, nenhum dos dois estava disposto a dar o braço a torcer.

Mas ao menos isso os impossibilitava — em grande parte — de transformarem a partida em um “mano a mano até a morte”, e dava mais chance aos outros jogadores de conseguirem pegar a bola.

O que não impediu Aaron de jogar o coleguinha no chão na busca por roubar a bola e dar ele mesmo o lance e marcar aquele ponto… ou talvez só tenha se desequilibrado por causa do joelho ruim, assim como com certeza não foi intencional quando Julieta pisou no pé do outro coleguinha e o derrubou sentado, também para roubar a bola… embora talvez tenha tido sim um pouco de sangue nos olhos de Aaron quando ele saltou e deu aquela cortada quase “deslocando o ombro” — como a n° 09 fez questão de gritar do chão, logo antes de ser substituída — da garota que empurrou Julieta… mas Romeu bem que teve a impressão que a intenção do amigo era mesmo acertar seu alvo na cara e que, se não fosse o joelho ruim, realmente teria sido certeiro.

Quer dizer, Romeu tinha — quase — certeza de que Aaron não tinha feito aquilo de propósito, mas isso ainda rendeu a ele uma advertência do professor que estava ali como arbitro e a promessa de que “na próxima estaria expulso”.

E provavelmente o time adversário só não reclamou por não haver uma expulsão imediata de uma vez, porque eles próprios tinham a sua maluca homicida em particular, na qual ficar de olho.

A qual, a propósito, ameaçou correr por baixo da rede e tentar esganar o colombiano quando ele lhe disse alguma gracinha, que Romeu não conseguiu escutar, depois de ganharem o segundo set, foram necessários dois garotos para segurar Julieta enquanto ela chutava o ar “ameaçando costurar aquele sorrisinho ordinário dele”, e só sendo contida após também levar uma advertência de que se continuasse seria expulsa do jogo.

Mas bem que Romeu a viu fazer um gesto nada amigável para Aaron com o polegar junto à garganta pouco antes de o terceiro set começar… o que não o surpreendeu, é claro.

O surpreendente foi Julieta não ter tentado avançar em Aaron depois que ela perdeu para ele por 3 sets a 2.

— ¡Qué gran juego, mi bien! — Aaron certificou-se de vir parabenizá-la no bicicletário.

Mas infelizmente, Julieta não estava com o espírito esportivo em alta nesse momento…

—Suma daqui antes que eu te faça engolir esse cadeado. — ela ameaçou de mau humor sem virar-se.

Aaron ergueu as mãos.

—Fique calma, mi bien, foi apenas um jogo amistoso entre amigos, só um poderia ganhar, e você deveria se sentir orgulhosa de ter perdido para o campeão… ah! — ele estalou os dedos — Um fato curioso: sabia que o segundo lugar tende a ficar muito mais insatisfeito que o terceiro? Sim, porque o terceiro fica contente por ter chegado entre os primeiros, e o segundo se ressente porque por um pouquinho só ele não…

—Hã… Julys. — Romeu segurou-lhe ambas as mãos, antes que Julieta soltasse a corrente da bicicleta — Você quer um chocolatinho? Eu guardei um pouco aqui comigo… Aaron porque você não volta outro dia, tipo… em um mês ou um ano?

Pero, ¡mi amigo! — Aaron abriu os braços com o mesmo sorriso cínico de sempre, de quem não parecia nem um pouco ciente do perigo — E quando à minha recompensa?

Julieta lutou, com sacolejos estressados, para tirar a bicicleta da vaga onde estava estacionada.

—Se está falando sobre eu te esganar com essa medalha ordinária…!

Romeu enfiou um pedaço de chocolate na boca dela, suspirando aliviado quando não teve os dedos decepados a dentadas, mas Aaron, ainda sem entender a deixa — na verdade, simplesmente ignorando-a, para ser mais exato — piscou com fingida inocência e alegou:

—Oras, mi bien, você me surpreende! — afirmou — Se não me engano, nós combinamos uma aposta antes dos jogos!

—Não dá pra deixar isso para outro dia?! — Romeu exasperou-se, colocando o capacete de ciclismo.

Julieta virou-se, mastigando furiosamente o pedaço de chocolate e parecendo muito inclinada a acertar Aaron com a bicicleta.

—Você quer mesmo falar disso agora?!

A pergunta soou mais como ameaça, mas Aaron se manteve inabalável:

—Claro que sim, eu estou pronto para fazer meu pedido!

Julieta eriçou-se.

—Se o seu pedido for um soco bem dado no meio da fuça, eu também estou pronta para…!

—Na verdade meu pedido é um encontro. — Aaron a interrompeu.

Julieta deixou a bicicleta cair com um baque.

—Encontro. — repetiu abismada, mas a palavra parecia ser de outra língua! — Quer dizer uma revanche?

Oíga, mi bien. — o sorriso de Aaron era tão irritante, que Julieta tinha pensamentos muito vívidos sobre arrancá-lo da cara dele com uma chave de roda — Por que eu pediria por uma revanche se eu ganhei?

—Então de que tipo de encontro você está falando, seu grandíssimo imbecil arrogante e irritante?! — reclamou.

Mas Romeu, já tendo se dado conta perfeitamente da natureza e rumo daquela conversa, segurou rapidamente a mão de Julieta e protestou:

—Julys não vai a lugar algum com você!

—Estou falando de ir ver um filme e sair para lanchar, esse tipo de coisa, cariño. — Aaron piscou-lhe, ainda com o mesmo sorriso cínico de lado — ¿Te gusta ir al cine, mi bien?

Boquiaberta, Julieta deixou a bicicleta cair com um ruído metálico muito alto, ela olhou-o sem saber como reagir, mas tinha certeza que estava começando a corar… sem perceber, recuou meio passo para trás, inclusive já tendo se esquecido da mão de Romeu segurando a sua.

—Que tipo de pedido…? Por que eu iria…?!

Aaron a avaliou dos pés a cabeça, com uma mão sobre o queixo.

—Você é surpreendentemente tímida para uma mulher que tentou me despir por duas vezes, não é verdade, mi bien? — comentou.

—O-o que?! — Julieta engasgou-se.

Aaron começou a contar nos dedos:

—Na praia tirou minhas calças e nas cachoeiras quase rasgou minha camisa fora…

—Ai meu Deus, não foi nada disso! — Romeu protestou no auge da vergonha.

—Será que dá para calar a boca?! — Julieta reclamou, esmagando os dedos de Romeu em sua mão.

Mas Aaron os ignorou quando recebeu uma mensagem no celular.

—Minha carona chegou. — avisou-os já lhes dando as costas, para sair correndo — Então a gente combina os detalhes depois, mi bien!

—Ai, mas ele é um grande…! — Julieta abaixou-se e puxou o tênis do pé.

—Julieta!

Romeu gritou em desespero, abraçando-a e impedindo-a de arremessar o calçado.


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Notas finais do capítulo

Aaron atacante sem medo da morte kkkkk
Então... lembram do "pequeno probleminha de saúde" que mencionei lá no começo?
Acontece que, no exato momento da postagem desse capítulo, estou saindo de casa para me internar no hospital e passar por uma operação... me desejem sorte.



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