Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 23
Se estiver encurralado... derrube a porta!


Notas iniciais do capítulo

O problema do procrastinador é deixar tudo para a última hora e ainda dar certo.
Aí como deu certo, não aprende e faz de novo kkkk



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Quando a grande besta invadiu a casa urrando e erguendo os punhos selvagemente, o pobre rapaz ali dentro percebeu que estava cercado.

—O pé grande encurralou o Chili no chalé! — Lorde Zucker avisou os outros pelo microfone. — Preciso de reforços aqui! Tem alguém por perto?!

—Eu estou chegando! — Japonese Doll respondeu imediatamente. Mas ao invés de entrar na cabana para tentar ajudar o amigo, ela simplesmente se deteve entre as árvores mais próximas e ligou a câmera para que o restante dos jogadores pudesse ver o que ela via: — Ladys e Lordes, nós estamos aqui nessa fatídica noite para testemunhar o cruel ataque a um jovem desafortunado…!

Narrou enquanto se movia por entre as árvores, sempre buscando o melhor ângulo para mostrar o massacre e ainda manter-se oculta da fera lá dentro.

—¡Mierda Japonese! ¡Voy a morrir aqui!  — Chilie gritou ao microfone.

—Conseguem ouvir os gritos de socorro dessa pobre e miserável alma por sob os rugidos da fera? — Japonese Doll seguiu, empolgada — É angustiante a perda dessa nobre e corajosa alma…

— ¡Deja de decírles a los demás que morí!

Chili reclamou ainda lutando por sua vida e, através da precária visão da câmera de Japonese Doll, os outros jogadores puderam assisti-lo tentando colocar uma mesa entre ele e a fera que o atacava.

—Ás vezes parece até que ainda posso ouvir a voz dele! — Japonesse Doll dramatizou.

—Ya te lo dije mujer, ¡estoy aquí! — protestou — ¡Ayúdame rápido!

—Eu perdi o contato visual! — Japonese Doll reclamou por sobre a voz dele. — É perigoso demais me aproximar mais!

—Eu já estou chegando! — Montecchio gritou correndo ao auxílio.

— ¡Gracias amigo! ¡Eres un verdadero a…!

—Eu consegui um drone agora há pouco! — Montecchio o interrompeu, pouco antes de também abrir as imagens de sua câmera para o resto dos jogadores.

—Então agora vamos para as imagens aéreas com nosso correspondente Montechio! — Japonese Doll anunciou animada.

— ¡¿Soy una broma para vosostros?! — Chili reclamou no auge da indignação.

Indiferentes ao sofrimento e desespero do companheiro encurralado, Japonese Doll e Montecchio continuaram a narrar seus momentos finais com grande animação.

—O pé grande acabou de arremessar a mesa, Japonese Doll!

—Sim, estou vendo! Veja como agora ele arranca o braço do Chili…!

— ¡Volveré y los llevaré a ambos al infierno! — foram as últimas palavras de Aaron.

Provavelmente agora ele ficaria seguindo Romeu e Japone Doll pelo jogo, como um encosto, não que isso fizesse alguma diferença.

Ás vezes Romeu pensava sobre com era a vida após a morte; em vários jogos, depois que seu personagem era morto, você podia optar por continuar assistindo o jogo de cima ou até pelo ponto de vista de outro jogador específico sem, no entanto, interagir com os outros jogadores; ele pensava se era assim na vida real também e, agora mesmo, algum de seus ancestrais estivesse vendo-o jogar e reclamando: “Droga, ele descobriu tudo!”.

—Já repararam que Montecchio tem matado o Chili com mais frequência que o normal ultimamente? — Miragem perguntou calmamente.

Tipo ontem quando fomos jogar Among’Us e ele matou o Chili na frente de três testemunhas? — Lorde Zucker comentou.

—Mas é o Chili: todos querem matá-lo uma hora ou outra. — ponderou Pandora. — Quer dizer, lembram quando ele pegou o elevador sozinho e deixou Impostor e eu para sermos devorados por uma horda de zumbis, mesmo que desse tempo de nos esperar para fugirmos todos juntos?

—Eu lembro! — Impostor exclamou indignado.

Mesmo assim, você está um pouco estressado, não é Montecchio? — Miragem ponderou — É aquele negócio do bebê de novo?

—Por acaso seus pais já te expulsaram de casa, e agora você está debaixo da ponte com um PC gamer ligado diretamente no poste de luz? — Zack zombou.

—Meu computador e eu estamos dormindo na sala. — Romeu respondeu mais calmo agora que a empolgação do massacre de Aaron havia passado. — É apenas temporário para mim, eles repintaram o quarto e tenho que ficar aqui por uns dias até o cheiro da tinta sair, mas o espaço do meu computador foi sacrificado para o berço que vai chegar…

—Temporário até terem que tirar sua cama e suas roupas para abrir espaço para as outras coisas do bebê. — Impostor comentou rindo.

Você falando isso dá muito medo, sabia?! — Romeu reclamou.

—Baboseira. — Japonese Doll estalou a língua, enquanto seu avatar cuidadosamente se esgueirava pela floresta para longe da cabana, tentando não ser vista pelo Pé Grande que acabava de sair de lá — Eu dividi um quarto minúsculo com três irmãos a minha vida toda.

—Mas você tem um tamanho compacto, coração, não sabemos o tamanho do Montecchio… — Lorde Zucker comentou.

—Está querendo ficar solteiro, milorde? — Japone Doll o cortou seriamente.

A avatar dela estava se aproximando perigosamente pelas costas do avatar de Lorde Zucker agora, mas Japonese Doll parecia ter se esquecido de que sua câmera estava aberta para o resto dos jogadores.

—Eu preferia que você viesse morar comigo. — Lorde Zucker resmungou — Eu tenho que ir pessoal, minha pausa aqui terminou!

E se deslogou instantes antes de ser — provavelmente — atacado pela namorada.

—Vocês têm uma relação peculiar. — Pandora comentou.

—Meus irmãos dizem que é só questão de tempo até ela chutá-lo. — Miragem acrescentou — Mas eu os acho fofos.

—Você e o louco do Zucker devem ser os únicos que acham a Japonese Doll fofa! — Impostor reclamou, até que, de repente, começou a sussurrar: — Ah… pessoal, eu preciso de reforço aqui, tem um, não, dois, deles aqui!

—Pelo que diz o mapa eu sou o mais próximo, aguenta aí que eu estou chegando! — Romeu respondeu de imediato. — Sobe em uma árvore ou…!

—Mas quem está chegando é você ou o seu drone?

Zack riu, fazendo Impostor começar a implorar para não fazerem isso com ele também.

—Chegamos! — Vanessa anunciou, abrindo a porta da frente.

Mas já? Que horas eram?

Romeu girou em sua cadeira, baixando os fones de ouvido.

—Oi mamãe! Como foi a consulta?

—Está tudo bem com o bebê. — Vanessa acariciou o ventre que nem tinha começado a se sobressair ainda — E ótimas notícias Romeu: terei gêmeos!

Empalidecendo na mesma hora, Romeu quase caiu da cadeira.

—O-o-o que?! T-tem dois aí?

Ele só notou que havia deixado o microfone ligado quando ouviu as vozes distantes de seus companheiros de jogo:

“Parece que o Impostor acertou: Montecchio vai ser despejado mesmo!”

“Os meus irmãos são gêmeos também, e cada um deles já dá trabalho em dobro separadamente, é o que meus pais sempre dizem e principalmente depois que rasparam as cabeças duas vezes”.

“Mas aqueles dois dividem um único neurônio também”

Vanessa pegou o celular e tirou uma foto do filho.

—Ele realmente acreditou, veja só a cara dele Larissa. — sorriu.

—Minha nossa, Vanessa, você realmente disse isso para o garoto?! — a tia de Romeu reclamou entrando logo em seguida — É brincadeira viu, filho? Sua mãe que é palhaça!

—Mas você disse que eu não podia dizer isso ao Samuel, ou ele podia bater o caminhão. — Vanessa justificou-se calmamente. — Mas talvez eu devesse começar a pensar em nomes, não posso mais chamar o bebê de Romeu Jr., se é uma menina…

—Eu vou ter uma irmãzinha? — Romeu soluçou já prestes a chorar.

“Ele está chorando agora?”

Romeu esticou uma mão e desligou o microfone.

Mas a mãe atravessou a sala distraidamente, indo em direção á cozinha.

—Eu gosto de como Romina soa… — comentou consigo mesma.

—E fique longe dos amendoins, eu estou de olho em você! — Tia Larissa a avisou energicamente, antes de lançar um olhar descrente a Romeu — Eu me distraí por quinze segundos e quando vi, essa louca estava comendo um saquinho de sementes de girassol, perguntei de onde ela havia tirado aquilo e ela me disse “passamos por um petshop logo ali”, um PETSHOP! E caiu no sono quanto estávamos no Uber de volta, mesmo assim queria me convencer que podia ir as consultas sozinha!

—Eu obviamente só adormeci porque me senti segura, Larissa, e não teria dormido se estivesse sozinha. — Vanessa retrucou voltando da cozinha com uma maçã — Quer ver o quarto do bebê? Ah, e que tal “Rowena”?

—Sim, claro, eu já estou indo, é só um instante! — Larissa assegurou, antes de aproximar-se discretamente do sobrinho: — Fique de olho na sua mãe, ouviu? Da primeira vez ela e Samuel só descobriram a gestação depois do quinto mês, quando seu pai a pegou tentando tirar lasquinhas de tinta da parede para comer!

Mas com o pai de Romeu passando a maior parte dos dias fora, viajando, e Romeu tendo que ir para a escola, era difícil ficar de olho em Vanessa…

—Por favor, Romeu, a tia Vanessa é grandinha, tenho certeza que ela sabe se cuidar. — Julieta girou os olhos enquanto pedalavam para a escola.

—Eu me esqueci de mencionar a parte em que minha tia se descuidou dela por dois minutos e aí a encontrou dormindo na minha cama, no meu quarto cheio de tinta fresca intoxicante com uma maçã mordida na mão, tal qual a branca de neve?

—Talvez. — Julieta segurou a risada.

Mas ela estava sinceramente aliviada: nada havia mudado no comportamento de Romeu nas últimas semanas, o que significava que ele, afinal, não havia visto nada — e que Julieta precisava fazer uma nota mental destacado com marca texto neon de nunca ficar a sós com aquele colombiano de sorriso fácil!

Ou, o que era mais improvável, mas não totalmente impossível: havia ficado tão absorto por finalmente desvendar o mistério da tatuagem de schrödinger que todo o resto simplesmente perdeu a importância.

—Parece que fui pego afinal!

Aaron riu com as mãos erguidas, sem oferecer resistência naquele dia quando Julieta ergueu sua camisa e mostrou o grande escorpião negro tatuado na lateral esquerda de sua barriga, com uma das pinças quase tocando seu umbigo e o ferrão na ponta da cauda curvando-se à altura das costelas inferiores.

—Ah! Aí está! — Romeu ofegou, saltando para trás e apontando, como se estivesse diante do aracnídeo real ali — Eu sabia! Eles disseram que eu estava maluco, mas eu sabia que não estava!

Julieta preferiu deixar quieto e não perguntar quem eram “eles”.

—Foi bom enquanto durou. — Aaron baixou a camisa de volta — Eu a fiz junto com a minha irmã, quando fiz dezoito anos. — suspirou — ¡A esa diabólica mujer sólo le tomó 36 horas descubrirlos! Pero… creo que también fue culpa nuestra: de repente Adila empezó a caminar por la casa en calcetines y yo en camiseta... fue muy sospechoso. — deu de ombros — Talvez tenhamos merecido a havaiana voando só pela burrice, mas na próxima vai ser diferente!

Aquele imbecil com certeza ficava trocando de idioma aleatoriamente só para confundi-los, Julieta cerrou o punho.

—Próxima? — Romeu piscou — Você ainda vai fazer outra?

Ao invés de responder, Aaron limitou-se a piscar-lhes sorrindo e levar o indicador à boca, pedindo segredo.

Ótimo, agora eles eram cúmplices também!

—Então há risco de tia Vanessa tentar comer as paredes, mas podia ser pior. — Julieta tentou consolá-lo a caminho da sala — Minha mãe disse que quando ela estava grávida passou a odiar tanto o papai que não suportava nem ouvir a voz ou sentir o cheiro dele, nos últimos três meses ele teve que se mudar de volta para a casa dos pais e ficaram assim de se divorciar… — ela aproximou a ponta do polegar do indicador — Papai tinha certeza que eu o odiava desde o útero… deve ser por isso que nunca tiveram outro filho.

—Acho que você ter derrubado e quebrado a televisão nova que ainda estava na quarta de doze prestações, quando tinha só três anos, também teve algum peso na decisão. — Romeu opinou — Ou foi porque você enfiou uma pilha no nariz do tio Carlos enquanto ele dormia, quando você tinha um ano.

—Ou pode ter haver com eu ter quase quebrado a cabeça me pendurando na porta do forno aos cinco ou seis anos… nunca saberemos. — Julieta deu de ombros. — E ouvi dizer também que vovó chorou mais da metade da gravidez quando soube…

—Isso foi antes ou depois de saberem que eram gêmeos? — Romeu perguntou — Porque mamãe fez uma brincadeira parecida ontem e eu senti minha pressão cair até o submundo… o que está acontecendo ali?

Os dois se detiveram ao verem uma pequena multidão se aglomerando em frente à porta de uma das salas de aula.

Julieta arqueou as sobrancelhas para a placa de identificação acima da porta.

—É a sala do Aaron, só passa reto e finge que não viu n… Margot?

Desvencilhando do pequeno grupo de curiosos, Margot acenou-lhes se aproximando ainda com a mochila pendurada em um dos ombros, provando que ela ainda nem havia ido para a sala deixar suas coisas antes de parar para ver a fofoca em primeira mão.

—Romeuzinho! Juju! Bom dia venha logo aqui ver isso!

—Não nos chame assim. — Romeu reclamou.

—É briga? — Julieta perguntou ao mesmo tempo.

Rindo, Margot pegou um braço de cada um.

—Juju, geralmente quando alguém está socando o nariz de outro alguém, a plateia grita como chimpanzés enlouquecidos o antigo cântico tribal tradicional “briga, briga, briga!” enquanto filma tudo, ah claro, e nunca pode faltar alguém dizendo “se fosse comigo não deixava”, talvez você não saiba disso porque nesses casos está é sempre você quem está ocupada socando o nariz de alguém.

Julieta girou os olhos, ela não se metia em tantas brigas assim… mas é verdade que tinha reputação o bastante para saber que devia se manter longe das brigas alheias antes que as autoridades aparecessem e a levassem primeiro antes de fazerem qualquer pergunta sobre quem fez o que.

Porém, assim como Margot salientou, estava tudo silencioso demais, então devia ser seguro para se aproximar e, por sorte, Julieta era a pessoa certa a se chamar para abrir caminho “educadamente” por uma multidão.

E quanto mais se aproximava da porta da sala, mas achava estar ouvindo o continuo e característico — embora bastante incomum em uma sala de aula — som de uma bolinha sendo rebatida por raquetes de ping pong, mas isso era loucura, é claro, afinal quem seria o idiota jogando ping pong dentro da sala e como teria levado uma mesa de ping pong para lá?

Julieta riu de si mesma… claro que Aaron era o idiota.

Apesar de que ele não havia levado uma mesa de ping pong para a sala, e sim juntado várias mesas da sala para formar uma, e agora estava lá, com seus óculos de sol ridículos e topete perfeito — quanto tempo será que ele levava arrumando aquilo todas as manhãs? — numa disputa acirrada com outro garoto da turma e, a julgar pela pontuação anotada no quadro já estavam naquilo há um bom tempo.

—O quão cedo ele acorda só para fazer besteira? — Julieta conteve uma risadinha.

Ela com certeza não falou alto, mas, de algum jeito, Aaron ainda conseguiu ouvi-la:

— ¡Buenos días, mi bien, que hermosa esta hoy! — Cumprimentou-a virando-se na mesma hora com seu sorriso estúpido, e nem se importando quando a bolinha passou voando ao lado da orelha dele. — Quer jogar?

Tossindo, Romeu de repente lembrou-se de que era melhor ir logo para a sala e rapidamente abriu caminho — com uma série de “licença” e “obrigado” sibilantes — puxando Julieta junto consigo.

Julieta não protestou.

Mas não porque estivesse fugindo ou evitando daquele colombiano imbecil de sotaque charmoso e sorriso cativante idiota!

Ela só se esqueceu de “não evitar ou fugir” da louca intrometida da Margot.

—Então você e o Adônis da Colômbia deram uns amasso de novo? — Margot perguntou tão de repente que Julieta se assustou e socou o reflexo da amiga no espelho do banheiro — Cuidado, meu bem, se quebrar eu vou apontar o dedo para você na mesma hora.

—O que foi isso de repente? — reclamou massageando o punho dolorido.

—Eu te adoro Juju, mas não vou parar na diretoria com você.

—Não isso, o de antes. — Julieta fulminou Margot através do espelho.

—Ah sim, mas isso não foi “de repente”, eu estou tentando falar com você o dia todo, mas o Romeuzinho nunca sai do seu lado, mais do que o normal até, parece até que são siameses, eu tive inclusive que te arrastar para o banheiro comigo! — Margot reclamou recostando o quadril á pia do banheiro — E aí, vocês se pegaram de novo, não é?

—Ai meu Deus, garota! — Julieta jogou água na amiga por reflexo.

—Tá, não me conta. — Margot deu de ombros enxugando o rosto e limpando os óculos com papel toalha, impassível.

—Não tem nada para contar! — mentiu na hora.

E o olhar de Margot deixou bem claro que ela não estava sequer disposta a fingir que tinha acreditado por um segundo sequer.

—Ahã, então eu vou só esperar você ficar com insônia e me ligar à noite para eu gritar no seu ouvido. — Margot jogou o papel toalha no lixo com desinteresse — Só queria que soubesse que estou a sua disposição porque, apesar do seu exterior violento com mira de sniper e força de gorila…

—Oi?!

—Eu sei que na verdade você é retraída, e tem dificuldade para se expressar sem ser com os punhos, e por isso está evitando aquele pedaço de mau caminho caliente…

—Ou você é só fofoqueira. — Julieta a acusou. — O que aconteceu com a história de “fiquem longe dele, ele é chave de cadeia!”?

—Querida, você também é. — Margot beliscou a bochecha direita da amiga — E ele subiu uns pontos comigo quando defendeu a minha honra junto com você… opa, opa, onde acha que vai?

Interpôs-se de braços abertos entre Julieta e a porta, quando a amiga fez menção de tentar sair do banheiro, uma decisão muito burra considerando seu comentário anterior sobre a força de gorila da outra.

—Eu não sou ruim me expressando, você que é uma matraca! — Julieta retrucou considerando seriamente empurrá-la para fora do caminho.

A mais baixa nem se deu ao trabalho de ficar ofendida.

—Nenhum pouco ruim com comunicação, por isso que não conseguiu falar com mais ninguém e só lhe restou se abrir com a fofoqueira aqui.

—Porque só a matraca está me pressionando!

Julieta agarrou-a pelos ombros, disposta a jogá-la para longe, mas afastou-as imediatamente depois como se houvesse levado um choque ao ouvir as próximas palavras:

—E é por isso que não falou de nada disso com o Romeuzinho… — de repente Margot arregalou os olhos: — Ele viu algo, não é?! Porque já tem tempo que está grudado em você como carrapato!

—Ele não viu…! Não tinha nada para ver!

 —Mas me conta: teve língua? — Margot abordou de repente, fazendo a outra imediatamente se esquivar com um salto e correr para a saída mais próxima — Juju, não faz assim comigo! — Margot riu atrás dela — Você pode falar de qualquer coisa com a sua futura titia aqui!

—Sua doida!

Dizem que mulheres nunca vão sozinhas ao banheiro, mas Julieta estava naquele exato momento fazendo uma nota mental para nunca mais ir sozinha ao banheiro com aquela maluca!

Que bom que Margot era uma sedentária com pernas curtas e Julieta uma boa corredora… algo do que Romeu não podia se gabar. Mas correr feito o papa léguas também não teria ajudado em nada com Aaron obstruindo a única saída.

—Se acalme aí amigo, eu não sou o Pé Grande… sei como pode ser assustador ser encurralado por um deles, embora tenha ouvido dizer que algumas pessoas possam achar um entretenimento televisivo bem interessante. — Aaron olhou ceticamente para a cara de susto de Romeu e olhou a volta: — Onde está Julieta?

—Foi para casa! — respondeu sem pensar.

Por que havia dito isso?!

—E esqueceu a mochila? — Um dos lados da boca de Aaron se ergueu com um sorriso descrente. — Vamos hermano, ¿qué te pasa?

Romeu mexeu-se desconfortável na cadeira.

—Nada.

—Entonces, ¿por qué te revuelves en tu pupitre como si tuvieras hormigas en tu ropa interior?

Sorriu entrando e fechando a porta da sala atrás de si, para o desespero de Romeu, que pulou da cadeira com os olhos arregalados.

—Espera! Não fecha a port…! — tarde demais.

Romeu gemeu frustrado.

—Com medo dos drones? — Aaron retrucou irônico.

—Não… a porta está com defeito, se você fecha, ela tranca e não abre mais por dentro… e nem adianta tentar. — acrescentou quando Aaron começou a sacudir a porta — Antes das férias, sete garotos do turno da tarde ficaram presos aqui e só foram encontrados horas depois quando a mãe de um deles veio procurá-lo e exigiu entrar na escola…

—A escola vai ser o último lugar que minha mãe vai pensar em me procurar se eu sumir! — Aaron reclamou frustrado, chutando a porta. — Mas deixa para lá, as coisas de Julieta ainda estão aqui, então isso significa que uma hora ela vai voltar e nos encontrar aqui… e também que você não pode sair correndo de mim dessa vez, amigo.

Afirmou sentando-se sobre o braço da carteira escolar mais próxima.

—Por que eu fugiria?! — Romeu se assustou.

—Não sei me diz você. — Aaron deu de ombros — Afinal é você quem está correndo a cada vez que me vê e está olhando para as janelas como se pensasse qual delas seria mais fácil de quebrar a vidraça com uma cadeira…

Romeu rapidamente desviou o olhar da janela mais próxima.

—Eu não fiz isso! — negou.

E mesmo se quebrasse as vidraças não era como se ele fosse conseguir pular alguma janela também…

—Hoje de manhã parecia até que me devia dinheiro. — Aaron salientou.

—Ah… aquilo? — Romeu continuava olhando para todas as direções possíveis, exceto para Aaron — Eu só não queria estar lá com a Julys quando algum professor chegasse e acabasse com a festa…

—Que pena, perdeu o churrasquinho.

—Teve churrasco? — Romeu se assustou.

—Um dos rapazes trouxe uma air fryer. — se ele estava falando sério ou não, Romeu tinha certeza que nunca iria descobrir — E sobre o professor, ele chegou uns cinco minutos depois e disse “faltam vinte minutos para a aula, então vamos fazer assim: quem conseguir me ganhar, leva meio ponto extra!”.

—Sério?

—Ele é novo, quer fazer amizade com a turma. — Aaron deu de ombros — ¡la pobre alma se la van a comer viva! — completou com um sorriso maldoso. — Mas e aí, qual é o lance com você e a Julieta?

—Hã?! — Romeu quase voltou a pular da cadeira.

Aaron apoiou o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo.

—Acho que eu devia ter perguntado antes, mas considerando que você ainda não me jogou debaixo de um carro…

—Eu não faria isso!

—… talvez ainda esteja em tempo. — ele tamborilou brevemente com os dedos sobre o joelho direito — Pensei que vocês fossem apenas amigos de infância…

—De berço.

—Tanto faz, mas desde que nos viu naquele dia, você tem se alternado entre me jogar aos lobos, zumbis, dragões e toda sorte de feras que encontrarmos ou correr como se tivesse um cabo de vassoura voando atrás de você.

—E-eu não vi nada! — Romeu começou a ficar vermelho.

—E Adila não quase arranjou uma terceira narina quando achou que seria uma boa ideia tentar fazer um pircing sozinha e foi parar no pronto socorro. — Aaron arqueou uma sobrancelha — Julieta também anda me evitando, um soco ou chute nas bolas eu até podia esperar, mas essa situação é meio desconcertante. — ele endireitou as costas, passando a mão pelo queixo — Eu com certeza não imaginei que ela seria tímida… mas achei que ela ia se jogar da cachoeira (ou jogar a mim) quando você nos flagrou, e agora estão ambos assim então… diga-me a verdade, ¿me convertí accidentalmente en el amante de la historia?

O repentino estrondo da porta sendo sacudida e socada assustou ambos e quase derrubou Aaron de onde estava.

—Por que está trancada? — Julieta reclamou do outro lado, é claro, quem mais teria toda aquela delicadeza afinal? — Romeu, você ainda está aí?

—Julys! — Romeu pulou da cadeira, pegando as mochilas dele e dela no processo — A porta emperrou então você pode ir chamar alguém…?

BAM.

A porta estremeceu nas dobradiças e Aaron quase caiu da cadeira.

— ¡¿Pero qué diablos ella…?!

BAM.

—Julys, você vai quebrar a porta! — Romeu gritou com os olhos arregalados.

Julieta ficou quieta por alguns segundos.

—Você está perto da porta?

—Não…

BAM.

A porta se abriu com um rompante de mais um chute firme de Julieta.

—Então vamos embora daqui antes que alguém apareça! — ela o chamou.

—Julys, você quebrou a porta! — Romeu quase chorou.

—Que força surpreendente, mi bien! — Aaron exclamou boquiaberto.

Julieta sobressaltou-se de susto, virando a cabeça em sua direção.

—Eu não te vi aí! — exclamou surpresa, antes de, com uma expressão muito séria, pegar o braço de Romeu e acrescentar: — Eu não estive aqui e nem ele!

E, sem dizer mais nada, fugiu correndo da sala levando Romeu consigo.

Aaron só conseguiu cair sentado de volta na cadeira, rindo de incredulidade.

—Como não estiveram aqui se essa é a sala de vocês?! — perguntou para a sala vazia.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, obrigada por lerem até aqui e até a próxima!



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