Luna.

— É verdade mesmo o que todo mundo está falando? - perguntou Emília. - Potter e Weasley terminaram?

Goyle abriu a boca em um perfeito O e arregalou os olhos.

— Eles estavam namorando? - perguntou. - Achei que o Weasley estava com a Granger.

E isso foi o bastante para fazer todos nós rirmos. Eu estava jantando com Blás na mesa da Sonserina e por incrível que pareça ninguém me destratava, claro que as vezes eu via um olhar ou outro torto, mas nunca vindo dos amigos dele.

— A Weasley, bobinho, não o Weasley. - Emília respondeu rindo e limpando o canto da boca dele que estava com molho.

— Se bem que não vamos nos enganar, está na cara que o Weasley joga do mesmo lado que a irmã. - Blás disse rindo e eu tive que segurar o riso, para que minha consciência não pesasse tanto.

— Hermione parece discordar disso. - Theo disse rindo. - Ontem eu os vi quase se engolindo na... Ai!

Pansy chutou a canela dele por debaixo da mesa e indicou Draco com a cabeça que apertava os talheres com força e trincava os dentes.

— Mas é claro que ela deve estar muito enganada. - o moreno tentou consertar seu fala. - Ele não deve dar tanto prazer para ela na cama quanto você dava. - e ele conseguiu estragar tudo.

Draco perfurou o bife em seu prato com força e soltou uma espécie de rosnado, fazendo Goyle que estava ao seu lado se afastar um pouco. Theo arregalou os olhos percebendo o que tinha dito. Emília olhava de um para o outro, enquanto Blás me olhou tentando segurar a risada e eu o repreendi com o olhar, mas deixei escapar um risinho. Pansy se levantou e puxou a gravata de Theo por cima da mesa.

— Vou te ensinar a fechar essa sua boca, Nott. - ela disse entredentes e ele engoliu em seco.

Era hora de alguém intervir, mas parece que todos se divertiam com a situação. Nunca vou entender os sonserinos, parece que quanto mais o circo pega fogo mais eles se divertem. Os Zonzóbulos devem estar mexendo muito com a cabeça deles.

— Quem quer pudim? - perguntei sorrindo calmamente.

— Eu quero! - Goyle foi o primeiro a se manifestar e passou seu prato para mim, olhando faminto para o doce.

Pansy se acalmou e soltou Theo. Servi todos e peguei a tigela para mim. Não sobrado tinha muito, pois tive que dar um pouco a mais para o Draco para ver se sua cara carrancuda se desfazia.

— Vai comer tudo isso? - Blás me perguntou rindo.

— Sim, por que?

— Tem mais da metade aí. - ele sorriu.

— Mas não é muito. - respondi olhando o pote. Se ele acha isso muito, ele vai ficar chocado com o quanto pudim eu como em casa.

— Tem razão. - ele sorriu bobamente. - Mas eu quero mais um pouco. - disse e abriu a boca.

Apesar de ainda ter uma quantidade considerável na tigela, eu mentalizei uma outra e ela se materializou na minha frente. Soltei a minha e coloquei mais um tanto de pudim da nova tigela em seu prato.

— Pronto. - sorri para ele e voltei minha tenção ao meu pudim.

Ouvi as risadas e olhei para Blás que ria sem graça, enquanto seus amigos riam dele. Não entendi o porquê, mas achei fofo o ver todo vermelhinho.

— Mas, então, loirinha. - Pans me chamou parando de rir. - Já que você é amiga da Weasley, por que não nos conta o babado do término deles? - perguntou. Ela parecia muito curiosa sobre o assunto.

Achei estranho, na verdade já fazia um tempo que eu a estava estranhando. A sonserina andava muito interessada no que dizia respeito aos meus amigos, principalmente sobre Harry.

— Acho melhor eu não falar nada. - respondi.

Os seis pares de olhos, que estavam grudados em mim, brilharam implorando silenciosamente por um pouco de fofoca.

— Por favorzinho. - Pans disse piscando os olhos como se fosse o ser mais inocente do mundo. Eu ri e suspirei rendida.

Por que, Merlin, eu tinha que ter a língua grande?

— Okay, eu digo, mas se vocês espalharem eu vou dizer que você me obrigou a dizer. - disse olhando Pansy que abriu um sorriso concordando e eu dei a última colherada em meu pudim antes de começar. - Harry vem agindo estranho ultimamente não ficava mais com Gina e nem conosco, seus amigos. No sábado ele e Gina brigaram, porque ele não estava dando atenção para ela, só estava lendo um livro e durante a briga Harry falou umas coisas idiotas e ela ficou muito magoada e terminou com ele.

— Brigaram por causa de um livro? - Emília perguntou e revirou os olhos.

— O que ele disse? - Pansy perguntou curiosa, ignorando a outra.

— Disse que não aguentava mais ficar com ela e dos amigos dele e que foi uma tortura ficar na Toca ouvindo-os chorando pela morte de Fred e ouvindo Hermione chorar pelo... - tentei me parar, mas já era tarde. Eles já sabiam de quem eu ia falar, até a própria pessoa me olhou com mais intensidade e atenção. - Draco e por não conseguir recuperar a memória de seus pais.

— Que idiota. - Blás disse balançando a cabeça em negação.

— Não sabia que Potter era cruel assim. - Emília disse chocada. - Isso é cruel até para nós.

Os outros sonserinos concordaram e começaram a debater sobre o assunto, menos Pansy e Draco. A morena começou a olhar para a mesa e entrou em um transe toda pensativa, já o loiro não parava de fitar Hermione na mesa da Grifinória.

****

Depois do jantar eu e Blás resolvemos dar uma volta perto do lago antes que desse o horário do toque de recolher. Sentamos no banco perto do lago e eu coloquei meus Espectrocs para poder ver os Zonzóbulos, eles ficavam bonitos de noite. Pareciam pequenos vagalumes coloridos. Olhei para o moreno ao meu lado e os Zonzóbulos em volta de sua cabeça parecia uma auréola colorida, ri com isso e ele me olhou sorrindo.

— O que foi? - perguntou acariciando meu rosto. Seu simples toque foi capaz de me fazer arrepiar.

— Os Zonzóbulos em sua cabeça. - disse meio desconsertada com seu toque. - Eles estão bonitos.

Blás sorriu e tirou a mão de meu rosto, me fazendo sentir falta do calor de sua pele. Ele estendeu a mão e sorrindo disse:

— Quero ver os seus.

Eu ri e passei meus Espectrocs para ele.

— Vou pedir mais um para o meu pai. - disse sorrindo enquanto o via colocá-los. - Assim não precisamos dividir um.

— Eu gosto de dividi-los com você. - ele disse me olhando, já com eles, e eu não consegui o levar a sério.

Os Espectrocs eram óculos bem chamativos e claramente não combinava nem um pouco com ele, talvez não combinassem com ninguém. Comecei a gargalhar.

— Ei, o que foi? - perguntou rindo.

— Esses óculos não combinam com você, não consigo te levar a sério com eles. - eu segurei mais uma onda de risada que ameaçava escapar.

Ele gargalhou e retirou os óculos.

— Pronto, fico mais bonito assim? - perguntou e eu sorri segurando sua mão.

— Você fica lindo de qualquer jeito, Blás.

As palavras escaparam de minha boca e eu não me arrependi nem um pouco em deixa-las fluírem. Ele olhou em meus olhos sorrindo, quando me dei conta sua boca capturou a minha e começamos um beijo lento e carinhoso.

Sentir seu gosto, que agora tinha meu sabor favorito: pudim, fez meu coração dar cambalhotas e de repente o sentimento que eu achei que tinha guardado às sete chaves veio à tona me baqueando por completo. Eu era apaixonada por Blás e isso, não importava o que eu fizesse nem o quanto eu tentasse me enganar, nunca mudaria.

A vontade de chorar bateu forte e eu me separei dele bruscamente, me levantando e virando de costas para que ele não visse as lágrimas que já rolavam por minhas bochechas.

— Luna. - ele disse um pouco desesperado. - Eu fiz alguma coisa? Eu te machuquei? Se eu fiz algo me desculpa. 

— Não, Blás. - respirei fundo tentando controlar minha voz para que ele não percebesse que eu estava chorando. - Você não fez nada.

— Então, o que aconteceu? - perguntou e ouvi seus passos se aproximando.

— Preciso ir, desculpa. - eu disse sem conseguir controlar minha voz chorosa e saí correndo em direção ao meu salão comunal. O ouvi me chamar, mas eu não podia ficar perto dele. Doía demais.

Entrei apressadamente em meu salão comunal. Ouvi Cho perguntar o que tinha acontecido, mas eu só queria minha cama. Corri e me isolei em meu dormitório, me joguei em minha cama fechando as cortinas e jogando um feitiço para que ninguém me ouvisse chorar.

Lembranças do meu quarto ano me vieram na cabeça. O baile de inverno passou como um filme diante de meus olhos. Eu e Blás dançando e nos divertindo, rindo e conversando a noite toda, depois de eu ser abandonada por meu par, nossos beijos e trocas de carinho. Eu lembrava de cada detalhe como se fosse ontem.

Antes do baile, naquele mesmo ano, nós havíamos nos tornado amigos. Blás me encontrou chorando no corredor depois de mais uma vez terem escondido todas as minhas coisas e me dizerem que eu deveria estar em um hospício, no geral eu não ligava para isso, mas eu estava cansada de tanto me zoarem e ele apareceu, me ajudou e ainda deu uma coça nos meninos que me provocavam. Depois disso nos encontrávamos frequentemente para estudar ou apenas conversa, mas tudo sempre longe dos olhos curiosos.

Eu estava apaixonada por ele e lhe disse isso, no começo ele pareceu gostar, mas depois ele disse nunca deveria ter me beijado, que foi um erro e que só o fez por estar bêbado naquela noite. E

E foi com essas lembranças e o rosto manchado de lágrimas que adormeci.

****

Amanheci cansada, como se eu não tivesse dormido. Esperei minhas companheiras de quarto saírem para o café e me arrastei até o banheiro para tomar um belo banho. Não me importei em me apressar para conseguir chegar no horário do café da manhã, eu estava sem fome e sem vontade de ver Blás.

As aulas naquela manhã passaram preguiçosamente, mas atoladas. Ainda estávamos na segunda semana de aula, mas os professores não davam nem um desconto.

O tempo todo eu evitei Blás. Quando via alguns de seus amigos no corredor eu fugia igual um vampiro foge de alho e agradeci mentalmente por não ter tido aula com a Sonserina. Minhas últimas aulas foram com a Grifinória e eu me sentei com Gina, que apesar de ser um ano mais nova estava em nosso ano já que tivemos que refazer o sétimo ano.

— Luna, você está estranha. – Gi comentou.

— Não estou. - respondi concentrada em copiar a lousa. 

— Está sim, nem sequer quis conversar antes da aula começar e não te vi no café da manhã. 

— Eu estava com muito sono. 

— Theo me falou que você e Blás tiveram um momento tenso ontem. - ela comentou e eu suspirei. 

— Ginny eu realmente preciso me concentrar na aula. 

Ela abriu a boca para falar, mas desistiu e ficou em silêncio pelo resto da aula. Os dois tempos que tivemos de transfiguração se estenderam mais lentamente e Minerva, sem um pingo de dó, passou três trabalhos para a próxima semana. Eu estava morrendo de fome, não via a hora de devorar um prato.

— Venha! - Gina puxou meu braço e me levou para fora da sala, parando no caminho apenas para puxar Hermione também. 

— Gina onde vamos? - Mi perguntou. - O almoço é para lá. - ela apontou para a direção oposta. 

— Vamos ter um tempo de garotas. - a ruiva respondeu alegremente. 

— Mas eu estou morrendo de fome. - reclamei.  

— Ninguém mandou faltar ao café da manhã! - a ruiva retrucou e eu fiz um bico.

— Qual é, Gi? Eu também estou morta de fome! - Mi tentou me ajudar. 

— E quando você não está com fome Hermione? - Gina indagou. 

— Meu Merlin, não sabia que ficar agarrada com o Theo pelos cantos estava te transformando, sua linguaruda. - Hermione disse e eu comecei a rir. 

— Que isso, Mi? Não o culpe Gina sempre teve a síndrome da língua grande. - eu disse rindo e a ruiva nos olhou boquiaberta. 

— Vocês vão mesmo fazer um complô contra mim? - ela perguntou irritada. 

— Até você nos alimentar sim. - Mione respondeu e eu ri concordando.

— Só se vocês derem a patinha. - a ruiva disse divertida e nós lhe mostramos a língua, mas não consegui não rir no final. - Okay, vamos passar na cozinha e vamos para a sala precisa termos um momento de garotas.

Desviamos o caminho para a cozinha e chegando lá Gina providenciou uma bandeja com comida o suficiente para um batalhão. Depois de pegarmos a comida dando a desculpa de que não estávamos nos sentindo bem para os elfos, fomos para o sétimo andar, onde ficava a sala precisa, com cuidado para não sermos pegas e coma bandeja flutuando ao nosso lado. Não pude me segurar e roubei uma coxa de frango no caminho, recebendo um olhar repreensivo da ruiva, que deixaria a senhora Weasle orgulhosa.

Gina fechou os olhos em frente a parede da sala e logo a porta apareceu. Entramos em uma sala aconchegante  revestida com carpete, um sofá de dois lugares e uma mesinha de centro em frente a uma lareira  e uma poltrona ao lado do sofá virada para a mesinha. 

— Então sobre o que quer conversar. - Mi perguntou colocando sua mochila em cima da mesinha e se sentando no sofá, já com um prato em mãos. Fiz o mesmo e me sentei ao seu lado e Gina se jogou na poltrona bufando enquanto colocava uma batata na boca.

— Minhas amigas me abandonaram por machos e eu não gostei disso nem um pouco! - ela disse com a boca cheia. 

— Não te abandonamos, Gina. - eu disse rindo do drama dela. 

— Você não para de ficar agarrada com o Blasio e seus novos amigos da Sonseria e Hermione não larga meu irmão. 

— Isso não é verdade! - Mione protestou. - Eu passo mais tempo na biblioteca e você saberia se nos encontrasse para estudar e não ficasse atrás do Theo. - ela olhou divertida para a ruiva que corou e a olhou indignada.

— Eu não fico atrás dele. - Gina disse cruzando os braços. - Ele que fica atrás de mim! - nós rimos e ela bufou, novamente, mudando de assunto logo em seguida: - Mas, Luna, nos conte. O que aconteceu com o Blás?

— Como assim? - Hermione perguntou. 

— Theo falou que ela e Blás brigaram ontem.

— Não brigamos. - eu disse. - Ele me beijou - elas me olharam empolgadas e Gina segurou um gritinho. - e eu surtei. 

Contei tudo o que aconteceu ontem e a pequena parte da minha história com Blás que eu não tinha contado.

— Ele disse que você foi um erro? - Gina perguntou incrédula. 

— Que me beijar tinha sido um erro. - a corrigi. 

— Por que não nos contou? - Hermione perguntou segurando minha mão.

— Um fora não é algo que gostamos de reviver, principalmente quando se é apaixonada pela pessoa, você sabe. - ela concordou. 

— Nunca imaginei que ele faria isso. - disse Gina e Mione concordou.

— Ele me deu um fora por vergonha, mas eu o entendo. - suspirei. - Naquela época eu não tinha um minuto de paz sem que me zoassem, se ele ficasse comigo ele seria um alvo também. 

— Isso é covardia e babaquice. - a ruiva resmungou. 

— Bem, não importa agora. - eu disse. - Ele não é mais assim, já faz tempo. Ele tentou se aproximar romanticamente quando estávamos no sexto ano, mas agora eu tenho medo de me envolver com ele e me decepcionar, de novo.

— Não é para menos. - disse Mi. 

— Agora eu não sei como encarar ele. - eu disse envergonhada. - Ele me beijou e eu simplesmente comecei a chorar. Como se encara alguém depois disso? 

— Fala para ele o que aconteceu e o que você sente. - Gina sugeriu. - Se ele mudou ele vai entender e aposto que isso vai acontecer. Quando se trata de sentimentos Blás é o que mais tem daquele grupo, se não o único que tem. - nós riamos, mas sabíamos que era verdade. 

— Eu vou falar com ele. - disse quando parei de rir. - Só preciso saber como vou encarar ele. 

— Ele perguntou de você hoje de manhã. - Hermione disse. - Então não vai ser tão ruim. 

— Não, ela só vai ter que achar um buraco para enfiar a cara. - Gina disse baixinho.

— Obrigada pelo apoio, Gina! - ironizei enquanto Hermione começou a rir. 

— Desculpa, falei alto demais. - disse a ruiva com os olhos arregalados e a mão em cobrindo a boca. A semelhança entre ela e Theo era palpável e isso era muito engraçado, logo que o conheci eu sabia que eles se dariam bem.

Passamos a tarde inteira naquela sala. Comemos, estudamos e principalmente fofocamos sobre tudo. Acho que eu precisava de um momento assim com elas. Agora eu só tinha que descobrir como eu falaria com Blás sem querer me enfiar em um buraco.