She Used To Love Me a Lot escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 6
Old memories would win her heart for sure




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ATO XII

— A Professora Sprout precisa que as plantas mágicas da Estufa Seis e Sete sejam recatalogadas. – Granger instruiu em seu costumeiro tom autoritário enquanto abria a porta da Estufa de Herbologia. – Ela não teve tempo de refazer após a Reforma, apenas colocar tudo no lugar para que nada machuque ninguém. Então, sugeriu que, como estudante do Oitavo Ano, está capacitado para identificar e catalogar.

— Que honra.

Draco revirou os olhos e deixou cair a mochila junto a porta, enquanto a grifinória buscava os pergaminhos necessários em um aparador de madeira próximo. Ao menos, ali estava quente em comparação à pesada neve, que preenchia os jardins de Hogwarts e o pátio, onde ficavam as Estufas, considerou guardando as luvas e a toca nos bolsos da capa da Sonserina.

— São espécies básicas. – Ela os estendeu junto a uma prancheta. – Não deve ter dificuldade para identificá-las.

— Eu não sei, Granger, posso não ter aprendido nada em todos esses anos.

Comentou encarando com uma careta involuntária todo o corredor de plantas, que parecia infindável. Ela o olhou de forma crítica e se sentou numa banqueta próxima à porta, revirando a bolsa para pegar um livro qualquer.

— Se precisar de alguma ajuda, chame.

A observou cruzar as pernas e abrir o livro numa postura indiferente e, com um suspiro, se dirigiu aos primeiros espécimes, identificando, catalogando e marcando nas placas postas junto à borda das bancadas. Provavelmente não terminaria aquela detenção até o fim de semana a julgar pela quantidade de plantas diferentes que havia ali.

Granger se manteve em silêncio no primeiro dia, totalmente concentrada no calhamaço de Feitiços, que estava sempre com ela, fazendo anotações pessoais em um caderno sem pauta de folhas amareladas. Franzindo o cenho, no segundo dia, se perguntou o que ela tanto anotaria, mas continuou a cumprir a detenção, mantendo o silêncio e a distância. Não fingiria que a compreendia em sua solidão, nem ela que compreendia sua apatia e indiferença.

No terceiro dia, enquanto seguiam costumeiramente em silêncio pelo pátio de pedra da Escola em direção à última estufa, já durante o entardecer cada vez mais inevitável, a garota respirou fundo e se voltou à Draco, antes de empurrar a porta da Estufa.

— Você ainda acredita? – Franziu o cenho, observando todos os sinais de incerteza nas expressões comumente muito certas de si mesma. – Nos ideais de Voldemort. Ainda acredita em supremacia de sangue?

— Onde quer chegar, Granger? – Resolveu empurrar a porta ele mesmo para que saísse da pressão do olhar castanho, embora ainda conseguisse senti-lo queimando em sua nuca.

— Não quero continuar me forçando a ser civilizada com alguém que acha que eu não pertenço a este lugar, que eu deveria estar morta.

Apesar do questionamento incerto, sabia que a postura dela sempre fora firme quanto a isso e seu posicionamento na guerra dizia muito - assim como o posicionamento de Draco, que sustentou o olhar exigente por um minuto e apenas suspirou antes de se voltar a prancheta onde catalogaria as plantas da Professora Sprout, embora estivesse mais concentrado na garota frustrada, que se sentara exatamente no mesmo lugar próxima à porta e abrira o mesmo livro, sem anotações dessa vez.

O quarto dia foi mais tenso que os demais. Previra que Granger estaria nervosa e o ignoraria até o último minuto, quando poderia conferir seu trabalho e livrar a ambos da companhia um do outro. Começou a catalogação já no último corredor de plantas e, por mais que detestasse admitir, chegou ao fim dele antes do que gostaria.

Quando a encontrou denovo, Granger estava sentada no chão sujo, dessa vez, as costas contra a parede de vidro e as pernas esticadas, uma sobre a outra, no chão. Não conhecia o título do livro e, por isso, supôs que se tratasse de algum exemplar trouxa – provavelmente um pequeno ato de rebeldia contra seu inadmissível silêncio.

Porém, o que o chamou atenção no mesmo instante era como ela apertava o antebraço esquerdo sobre a manga escura do uniforme, os lábios apertados em uma linha fina e as veias do pescoço claramente tensionadas. Antes que abrisse a boca, a castanha se levantou e pegou o pergaminho para começar a conferir seu trabalho.

— Talvez você mereça este lugar mais do que eu.

Draco passou a mochila de couro pela cabeça enquanto dizia. Não gostaria de ter essa conversa com ninguém, nem com a grifinória, ainda que fosse ela a fazê-lo chegar à conclusão mais óbvia possível. Viu como a garota hesitou antes de se virar, cruzando os braços de maneira mal criada.

— Porquê soa tão resignado? – Riu irônico pela teimosia gratuita.

— E por que se importa tanto com a minha opinião?

Devolveu levando-a a franzir o cenho, incomodada. Então, revirou os olhos e se encaminhou à saída, mais por si mesmo e os questionamentos e lembranças que Granger sempre trazia consigo do que qualquer outra coisa.

No dia seguinte, o último, ela parecia mais silenciosa e receosa. Não voltou a fazer anotações e mesmo que tivesse se sentado para ler não parecia tão concentrada assim, ainda que continuasse apertando o braço, onde sabia que a cicatriz deveria estar. Levantou os olhos para ela no que deveria ser a quarta vez desde que chegara próximo ao fim do corredor de plantas e ao local, onde se sentara meio encolhida.

Então, revirando os olhos para si mesmo, localizou o que queria alguns vasos à frente e puxou a erva sem cerimônias, observando as raízes jorrarem um líquido viscoso.

— Está doendo? – Granger levantou os olhos abruptamente, os dedos em torno de braço sob a capa, confirmando com um menear de cabeça. Resignadamente, Draco se abaixou à frente dela e estendeu a mão, esperando que esticasse o braço, o que a castanha hesitou por um instante. – É sana vulnera, vai ajudar.

— Como sabe disso? – Ela estendeu o braço lentamente e ele levantou com cuidado o tecido escuro, se assustando com a mancha vermelha de sangue espalhada sobre a camisa branca no antebraço.   

— É a mesma magia venenosa usada para o feitiço da Marca Negra. – Murmurou dobrando com cuidado a manga para expor a cicatriz.

— Há dias em que não sinto nada, há dias em que o local começa a queimar, bem devagar, até... – Ela se encolheu quando espremeu o caule da planta sobre o local, fazendo com que mais do líquido vermelho saísse. – Até jorrar sangue. Sozinho, como que pra me lembrar que foi ela a ter feito isso. 

— Bella jamais deixaria uma simples cicatriz do modo trouxa.

Comentou se levantando para procurar um pedaço de tecido dentro do aparador de madeira da Estufa. Não parecia muito limpo, mas com um feitiço de limpeza serviria. Com cuidado, amarrou o pano sobre o local da cicatriz para conservar a seiva da planta e estimular seu efeito. Em algumas horas, Granger já não deveria sentir tanta queimação ali, embora a cicatriz com os dizeres jamais fosse desaparecer.

— O que está fazendo? – Ela parecia intrigada tanto quanto Draco se sentia irritado pela própria atitude.

— Nem comece, Granger, apenas... Aceite minha boa ação do ano e siga em frente.

Fez menção de se levantar, mas os dedos dela agarraram a frente de sua capa, impedindo-o. Então, respirou fundo levantando os olhos da mão que o segurava até o rosto dela, claramente tentando lê-lo.

— O que você está fazendo?

Ela repetiu mais baixo, mas também mais firme, o que o fez abaixar os olhos para o antebraço marcado por um instante, molhando os lábios repentinamente secos. Nunca diria a Granger que sonhava com seus gritos à noite, nem com aquela noite na Mansão Malfoy e todas as variações de como tudo poderia ter acontecido. Era diferente falar sobre tortura e ver acontecer à sua frente, com um rosto tão conhecido.

Racionalmente, sabia que nada poderia ser feito. Mais profundamente, tinha consciência que ela significava exatamente isso: um rosto conhecido demais para as rachaduras em suas suas frágeis convicções.

— A cicatriz não deveria estar aí, Granger. – Declarou, notando a hesitação nela inteira, compreendendo o que queria dizer. – Sinto muito. Pelo o que fizemos a você.

Ela abaixou os olhos parecendo chocada, processando o que dizia, os dedos inconscientemente percorrendo um caminho abstrato em sua capa, na altura de seu peito. Nunca esteve tão próximo de Granger, sequer imaginou uma situação como aquela, mas lá estava Draco observando todos os detalhes do rosto alvo e a textura dos cabelos cacheados, costumeiramente se espalhando por todos os lábios.

— Eles eram adultos, Malfoy, sabiam o que estavam fazendo. – A garota murmurou. – Não havia nada que você pudesse fazer.

— Era a minha família. Nunca vai deixar de ser minha família, a História vai se encarregar de marcar isso na eternidade. – Disse com uma careta de desgosto, no que ela meneou a cabeça, analisando-o.

— Porquê nos ajudou naquela noite? – Ela estreitou os olhos um pouco. – Você sabia que era Harry, mesmo sob o feitiço... Mas ainda assim, por algum motivo, hesitou em confirmar. Porquê?

Draco engoliu em seco sob a pressão dos olhos dela, como se o conhecessem e soubessem a resposta. Porém, tratava-se mais de uma impressão culpada do que a realidade. Granger não o conhecia, provavelmente nunca fosse conhecê-lo ao ponto de ler suas verdades.

— Odeio Potter, mas não queria ser responsável pela morte dele. E nem de ninguém.

Pronunciou sem pensar muito a respeito. Era a verdade mais rasa que poderia dá-la, mas, por algum motivo, pareceu ser o suficiente.   

— Então, depois de tudo... Soa como se tivesse um coração.

Era como se ela estivesse o perdoando, por toda a pacificidade anterior. No entanto, quando a situação mudou pareceu tudo mais esmagador, diferente e desconfortável. Granger também notou que estava próxima demais, os dedos de Draco ainda em torno do antebraço marcado pela família dele, a respiração, agora tensa, sobre o rosto dela.

Apesar disso, a via agir como se estivesse mais curiosa sobre ele ou o próximo passo do que receosa, como se houvesse visto ali algo que ele não percebera ou quisesse apenas testá-lo. Esta última não soava como a garota, mas ainda parecia mais confortável do que se ela estivesse apenas encarando-o – possivelmente à espera de algo que não poderia dar.

— Não, não acho que eu tenha.

Insistiu ainda que a sentisse tão perto que era quase como se o sufocasse em expectativa. Não como se o seduzisse, mas o distraísse o suficiente para que esquecesse o passado e apenas se concentrasse na garota por trás do nome.

Tentou se lembrar do que ela havia dito no outro dia, na Torre de Astronomia, mas só conseguiu pensar no perfume suave por todo o lugar e os lábios, primeiro num roçar tortuoso, depois mais firmemente sobre os seus. Os dedos se pressionaram ao redor de sua capa e Draco finalmente deixou o braço dela para rodear o pescoço fino, apreciando a textura morna da nuca sob os cabelos volumosos.

Pareciam estar beijando pela primeira vez, a hesitação e a incerteza dos inimigos em cada movimento, respiração e músculos, o que fez com que se afastasse para encarar os olhos castanhos, possivelmente tão repletos de questionamentos quanto os de Draco. Quis perguntar a ela o que fazia, o que aquilo queria dizer, onde os levaria, mas falar talvez os levasse a sequer se olharem mais. E, agora que a olhava daquele ângulo, tão próxima quanto nunca imaginara, queria demais as respostas de tais perguntas.

Seus lábios voltaram a pressionar os dela, uma decisão por ambos. Granger suspirou contra sua boca, visivelmente relaxando antes de buscar os fios claros dos cabelos dele. Os dedos quentes e lentos, de repente, pareciam tão impactantes quanto as línguas deliberadamente se testando, arrepiando-o por completo.

Ofegante, encarou novamente a versão corada, de lábios inchados e olhos confusos que era Hermione Granger, percebendo todo o seu peito cair numa inquestionável espiral de certeza esmagadora de que nunca esqueceria aquela imagem. 


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Notas finais do capítulo

Capítulo apenas de Flashback!
Deixe um comentário e faça esta autora que vos fala feliz ♥

Até breve.



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