Sign of the times. escrita por Jones


Capítulo 3
a fragile line I never thought I'd live to see it break.


Notas iniciais do capítulo

Heeey! Eu juro que estamos na reta final!
Todo esse atraso vem porque continuo sem computador :| Tô escrevendo pelo celular aí arranjo um computador para postar, tá uma loucura, Mas talvez o meu novo chegue daqui a uns dias. O universo sabe?
O próximo capítulo vem na segunda ou terça e o último na quarta.

Esse capítulo foi escrito com Haunted - Taylor Swift | Rolling in the Deep - Adele (por causa do drama) | Traitor - Olivia Rodrigo




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Maio de 1693. Danvers, Massachusetts (ainda não tínhamos fuso horário e Danvers também não se chamava Danvers… )

Jane se orgulhava de pouca coisa na vida, porém isso não queria dizer que tais coisas pouco a orgulhavam. Quando seus avós embarcaram no Mayflower, seus pais eram pequenos, mas fizeram questão de educá-la com os saberes do antigo mundo e a esperança de uma vida melhor no novo mundo. A esperança de uma vida mais pura: livre dos pecados da velha Inglaterra. 

Jane achava tudo isso uma bela besteira.

Não gostava de falar isso em voz alta, mas se orgulhava mais de poder alfabetizar seu irmão mais novo e outras jovens crianças da vila, ensiná-los a pronunciar palavras elegantes no francês e a costurar suas próprias roupas de cores pouco modestas do que de tocar piano - mesmo que belíssimamente nos cultos de domingo. 

Para o vilarejo, era aquilo que ela era: uma serva da igreja, temente a Deus e dedicada à caridade. E talvez fosse mesmo, menos a parte de ser temente. 

Gostava de questionar, sempre fora assim e toda vez que queria saber porque Deus permitiu que parte de uma embarcação morresse a caminho do novo mundo ou por que deixara que seus próprios semelhantes matassem os que ali já habitavam, recebia como resposta que onde houvesse dúvidas deveria haver fé. O reverendo não era muito receptivo a sua curiosidade juvenil. 

A resposta certa era livre arbítrio, ela sempre o respondia no final, com aquele ar de quem sabia mais que ele. 

Talvez soubesse. 

Jane recebia olhares tortos por onde andava por conta de suas ideias femininas, como diriam os locais da vila. Ela acreditava que as mulheres da vila deveriam ter direito a conhecimento assim como os homens, não acreditava em submissão e era vocalmente contra a ideia de que a mulher era a porta para todo o pecado. E isso era o suficiente para fazê-la ser alvo de murmúrios e comentários por toda a vila. 

Subversiva. Filha de Eva. Herege. Maluca. Bruxa. 

Ela negava, sempre negou, assim como seus pais. Aquele povo não estava pronto para um mundo além das suas expectativas e conhecimento comum, não estavam prontos para abrir a mente uma fresta que fosse e perceberem que existiam camadas além daquelas aparentemente visíveis aos olhos ingênuos dos puritanos do Novo Mundo.

Jane cometera vários erros, mas um deles fora fundamental. 

Quando Leo a viu pela primeira vez, quis fazer de tudo para que ela o respondesse com mais que uma palavra sarcástica, sorrisse pelo menos uma vez e por fim: o quisesse. Leo sabia que sua família era uma das que não deixavam a garota com sonhos de ser doutora e salvar pessoas em paz. 

Era uma das famílias que insistiam para que o reverendo fizesse alguma coisa.    

Tudo o que Jane queria fazer era ajudar… Ela viu o que a disenteria estava fazendo com parte da vila, ouviu o que fizera com metade da população da colônia antes mesmo de chegarem e ela sabia como ajudar. 

— Jane?

— Leo. - ela respirou fundo, já se preparando para uma conversa sem finalidade. Não tinha tempo para isso. 

— O que está fazendo aqui? - ele parecia preocupado de verdade. 

Eram meia-noite e quinze, ela estava no meio da mata cavando o chão. 

— Procurando as raízes de açafrão-da-terra que plantei aqui e deveria ter identificado o solo melhor, talvez colocado uma plaquinha ou algo assim. - ela limpou as mãos nas saias da camisola. 

— O que é açafrão? E por que você está fazendo isso no meio da noite?

— Açafrão? Tem gente que conhece como gengibre amarelo, eu gosto especificamente do nome cúrcuma. - ela deu de ombros e começou a cavar em outro lugar. - Durante o dia eu já sou atacada o suficiente sem fazer coisas suspeitas como cavar na floresta atrás de uma raiz. 

— E você não acha que fazer isso no meio da noite levanta suspeitas também? 

— Não levantaria se você não achasse apropriado saber de meus passos a toda hora. - ela girou os olhos. - Eu estava perfeitamente bem aqui, sozinha procurando minhas raízes. 

— Você é completamente louca. - ele falou, se abaixando e começando a cavar com pedaço de metal que encontrara. 

— Não é a primeira vez que me chamam de louca. - Jane disse. - E nenhuma garota gosta de ser chamada de louca.

— Você também não se esforça para ao menos parecer normal.

— E qual o seu problema com isso? E por que você está me ajudando? - ela semicerrou os olhos de maneira desconfiada, mas não conseguia esconder o sorriso que brincava em seus lábios. 

— Eu estava sem nada para fazer, e já estava aqui mesmo e…. - Leo começou a tropeçar em suas próprias palavras. - Eu me importo com o fato de que as pessoas implicam com você, entende? 

— E por que isso?

— E por que não?

— Você é muito complicado, não consegue responder a uma pergunta direta. 

— Não é como se você me respondesse com frequência. - ele deu de ombros. 

Cavucaram a terra em silêncio por alguns minutos. Leo não conseguia deixar de pensar em como os cabelos alaranjados dela pareciam incríveis à luz da lua, com a pele pálida ganhava um tom quase perolado ao tom azulado da noite. 

Jane não conseguia deixar de ver como as maçãs do rosto dele combinavam perfeitamente com sua mandíbula forte, com seus olhos acinzentados e seu cabelo loiro quase prateado. Como alguém podia ser tão bonito? E aparentemente atencioso e ótimo de se estar perto?

— Para que serve esse tal de açafrão e por que só você sabe que isso existe?

— Quantas perguntas, Leo. 

— Meu bom Deus, você não inventou essa raiz e me fez ficar de quatro como um cachorrinho para você de propósito não, não é?

— Apesar de ser uma ideia que muito me diverte, não. - ela girou mais uma vez os olhos. -   Açafrão é conhecido pelos poderes antibióticos. 

— Você está dizendo que plantas tem poderes e que plantas curam. - ele falou em um tom irritantemente condescendente. - E você sabe disso porque é uma… 

— Pessoa que escutou os habitantes originais daqui ao invés de matá-los como sua família e alguns dos outros das “famílias originais” defenderam com unhas e dentes? “Conheça Jesus ou Morra!” - ela não pode deixar de alfinetar. 

— Você fala como se eu tivesse feito parte disso.

— E não faria se tivesse a oportunidade? - Jane ergueu a sobrancelha em desafio. 

— Você fala como se me conhecesse. 

Jane o olhou em silêncio por alguns minutos ou talvez segundos. Estava sendo injusta, estava sim. Nada garantia que ele era como seu pai, um racista a favor da submissão feminina, completamente preconceituoso que vivia para infernizar os Osborne, sua família. 

Aparentemente era o que se podia esperar dos Putnam, mas talvez não daquele.   

— Os nativos daqui costumavam dizer que misturar açafrão com limão, mel, alho e gengibre ameniza febres, fortalece seu corpo… Afasta doenças. - ela o explicou. - Não deveria lhe contar essa parte, mas foi o que curou os Dearborn da disenteria na última semana, isso e bastante água. 

— Nós deveríamos contar sim para todos! - ele quase gritou de orgulho e exasperação. - Isso pode ajudar tantas pessoas.

— Eu nunca me neguei a ajudar alguém, Putnam. - ela sorriu. - Porém, sabemos como as coisas são hoje em dia. Se não está escrito na bíblia, é bruxaria. É pecado. 

Continuaram conversando naquela noite e trocando experiências. Putnam falou sobre como a família dele desejava que ele se casasse com Daisy Hubbard, mas que ele sentia em seus ossos que aquela não era a decisão certa, que quando dissera isso para seus pais, eles disseram que se aquilo estivesse nos planos de Deus, aconteceria ele querendo ou não.

— Deus tem mais que se preocupar do que te forçar a casar com a chata da Hubbard. 

— Você está com ciúmes. 

— Você é tão egocêntrico. - ela girou os olhos. 

Se encontrarem na floresta madrugada adentro, conversar sobre tudo e nada, confessar segredos e se provocarem virara um hábito diário até deixar de ser. 

Naquela noite Leo Putnam finalmente criara coragem para dizer o que sempre quis dizer para Jane Osborne. 

— Meu coração, minha mente e minha afeição te pertencem, Jane. - ele segurou sua mão enquanto deitados assistiam a lua em seu formato mais completo. - Não só hoje como ontem, amanhã e todos os dias até o fim da minha existência. 

Ela o respondeu apenas com um roçar casto de lábios, lábios que carregavam nenhuma promessa, mas que correspondiam àquele sentimento. Fora naquele quase beijo que toda a descarga elétrica de sentimentos e emoções que os conectava a fizera se afastar com um olhar de repulsa. 

— Se é verdade que me ama, por que na hora do meu desespero você me trairá? - ela lhe disse no seu tom mais amedrontado, nos olhos mais chocados e cheios de lágrimas que ele já tinha visto. - Por que Leo? Não entende que eu te amo?

— Do que você está falando, Jane?

Ela fechou os olhos e então tudo passou como o mais assustador de seus pesadelos. O cheiro de fuligem, a falta de ar, o calor que literalmente lhe queimava a pele. Tudo era real demais para que ela pudesse suportar.

— Daisy Hubbard nos viu entrando aqui, ela nos assistiu falando sobre o poder das ervas e raízes. - ela disse sem abrir os olhos. - Ela chamou o que eu faço de poções, de bruxarias, de tratados com o demônio… Disse que eu sou a causa dos tremores e convulsões falsas de Ann Dearborn. Eu salvei a vida de Ann Dearborn!

— O que está acontecendo? - ele tentou a sacudir pelos ombros, tentou fazê-la escapar do aparente estupor. Do que parecia ser um momento de loucura ou devaneio. 

—  Eles foram longe demais, eles torturaram meus pais. - ela começou a chorar. - Seu pai, sua tia, seus avós… Eles querem impedir que meu pai faça parte da mudança que tem que acontecer aqui. Eles escreveram bruxa com uma adaga no braço da minha mãe. Eles me desfilaram pela vila de Salem descabela e suja enquanto as pessoas gritavam e me chamavam de filha do diabo, me fizeram confessar para que eu não condenasse meus pais ao mesmo destino que o meu. Me chamaram de bruxa como se fosse o pior dos xingamentos. Daisy Hubbard te oferece uma saída para você não ser jogado na fogueira como eu e você- 

Jane não sabia que aquele momento, aquele em que ela conhece seu destino, tinha sido a chave para todo o desenrolar de sua tragédia. Que não fora a falta de amor de Leo que o faz testemunhar contra ela no julgamento mais injusto da história. 

Mas o medo. 

O medo de que sua família o abandonasse, o medo de ser acusado de bruxaria e ser levado à forca. O medo de que Jane fosse de fato uma bruxa e que por amá-la ele estivesse condenado ao inferno. 

— Talvez eu leve mais de 250 anos para te perdoar, talvez até mais quando eu em outras vidas, quando eu te perceber e descobrir quem você é. - ela lhe disse com um quê de lucidez na fala, agora com os olhos focados nos dele. - Mas eu sempre vou te amar. Não é um infortúnio?

 

25 de dezembro de 2020,  11 a.m. (GMT +1)  

Neste natal, Rose não acordou cedo, correndo com vontade abrir seus presentes na casa dos tios em Londres. Ela acordou sem vontade de sorrir ou de descer as escadas. 

Sabia que estava sendo injusta, ainda mais se pensasse que tudo era apenas por causa de um sonho, mas era mais que um sonho. Era seu passado e ela tinha certeza disso. 

E como lidar com o amor de todos os seus trágicos sonhos sendo o responsável por sua morte nesse que vinha sendo o sonho que mais se repetia em sua mente nos últimos meses, sendo o que esse final macabro em que se via queimando em uma fogueira por causa dele era inédito. 

Sabia que estava sendo uma péssima amiga para Abbie e Izzie que finalmente vieram conhecer o natal londrino ao seu convite - e ao de James que não parava de encher a caixa de mensagens de sua amiga desde as férias de verão. Mesmo depois do fiasco em que James se despediu de Abbie dizendo “va te faire foutre" com um coração ao que ela respondeu em um francês perfeito que quem deveria se foder era ele. 

Ela subiu as escadas mais de uma vez para checar se Rose estava bem. 

A verdade era que Rose não queria lidar com ninguém, principalmente com o amigo Malfoy de James e Albus que aparentemente estava ansioso para conhecê-la e só tinha permissão para estar ali até às duas da tarde. 

Rose só desceu as escadas às três. 

— Você acabou de se desencontrar com Malfoy. - James disse como se fosse uma pena. 

— Ele é o único amigo que você tem, Jay? - Rose disse com um tom azedo. - Ou eu devo avisar a Abbie que ele é seu algo a mais. 

— Isso foi extremamente preconceituoso da sua parte. - ele disse de braços cruzados. 

— Tem razão. - ela murmurou olhando para os próprios pés. - Mas eu não estou tão interessada em conhecê-lo nesse momento se você não se importa.

Seu tom era formal até demais. 

— Ele me passa uma vibe que não combina muito com a vibe de uma Weasley. 

Ela disse e deixou James com uma série de pontos de interrogação na sua cabeça e se perguntando se a América tinha finalmente deixado sua prima louca. 

— Nenhuma garota gosta de ser chamada de louca, James. - ela disse de longe e ele se perguntou se além de não normal ela também sabia ler mentes. 

Não fazia o menor sentido o fato de que Scorpius queria conhecê-la com tanta vontade e ela fosse capaz de odiá-lo de um dia para o outro sem ao menos conhecê-lo. 

Que dia esquisito. 


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Notas finais do capítulo

Danvers é a atual vila de Salém, os sobrenomes usados estão nas histórias, mas o resto são liberdades tomadas por mim do que eu conheço pela literatura :)



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