A biblioteca da escola pegou fogo! escrita por Fane


Capítulo 7
V de vingança




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Depois daquela festa onde eu quase me declarei pra Giselle, fiquei meio bêbada, peguei Dennis beijando um garoto num quarto quando deveria estar me ajudando e quase mijei nas calças, tudo pareceu ficar ainda mais caótico.

Como se um novo nível de loucura fosse desbloqueado na minha vida.

No fim de semana, aproveitei pra pensar um pouco na minha situação com Giselle. O anjinho no meu ombro disse que tudo aconteceu como deveria acontecer. E eu me convenci de que aquele não era realmente o momento. Simplesmente não era pra ser.

Esse pensamento conseguiu me acalmar o suficiente para que eu conseguisse dormir de noite.

Já na segunda-feira eu acordei muito bem. Estava ansiosa para a minha primeira aula de literatura com a professora Luzia, ansiosa também pra reunião do grêmio depois da aula — depois de evitar propositalmente pensar em Giselle, eu acabei sentindo ainda mais saudades do que deveria.

E tudo parecia estar perfeito naquela manhã. Minha mãe estava de folga por causa de uma consulta no dentista, Mel estava tomando café e Vó Alice estava se vestindo para sua corrida matinal quando eu saí. Tudo ótimo. Ar agradável.

Até que eu entrei na sala de aula e tudo desmoronou.

O sinal ainda não tinha tocado, então Emily estava lá com a mesma postura arrogante de sempre, a calça preta colada e o coturno cheio de correntes, — eu ainda tenho que decidir na minha cabeça de eu tenho medo dela ou se tenho algum tipo de atração escondida — mas não foi isso que quase me fez dar meia volta e ir pra casa.

Dennis também estava lá — afinal, ele estudava lá — e tinha um sorrisinho irritante no rosto quando acenou pra mim, como se eu já não soubesse qual o plano sujo que ele tinha em mente.

Mas eu sabia. Sabia que ele estava tentando me ganhar com gentileza.

E eu sei disso porque depois que fomos embora da festa, ele voltou a me perguntar se eu queria fazer parte daquele acordo doido e eu já não tinha paciência pra aguentar aquela ladainha.

Daí eu disse: não, valeu, tenho mais o que fazer.

Mas ele achou que seria engraçadinho continuar insistindo e disse: poxa, nem se eu pedir por favor? Eu ri da cara dele, óbvio. E disse que ele precisaria fazer muito mais do que apenas pedir por favor.

Mas eu disso aquilo na intenção de que ele me deixasse em paz. Não sabia que ele estava mesmo disposto a me fazer aceitar participar naquele maldito acordo.

— Nem começa. — Falei assim que sentei ao lado dele. — A resposta ainda é não.

— Eu nem falei nada — tentou se defender, mas ele não enganava ninguém.

— Ótimo.

Felizmente, pra mim, a professora Luzia entrou na sala no exato momento que o sinal tocou e Dennis não conseguiu retrucar — o que me poupou de ouvir mais e mais absurdos.

Eu estava decidida. Não iria cair no papinho dele de jeito nenhum. Pelo restante do dia eu contava os minutos para que a aula acabasse e eu tivesse um tempinho pra conversar com Giselle.

Sem Dennis, sem Emily, só Giselle. E Gabriel, mas com ele eu não tinha problema nenhum. Pelo menos, não até então.

Lá pela metade da aula de literatura, Dennis parou de me cutucar. Então achei que ele já tivesse desistido daquela proposta ridícula. Mas eu estava enganada.

Segunda-feira também tinha aula de educação física, uma semana na sala e na semana seguinte na quadra. Ou seja, no último período, todo mundo foi correndo pra quadra — alguns trocaram de roupa, mas a maioria não ligava em correr dez vezes ao redor da quadra usando calça jeans — e como eu era a aluna nova consegui jogar uma desculpinha qualquer pra ficar fora daquela correria.

Mas assim que eu me sentei na arquibancada, pensando que tinha me livrado dos meus problemas, Dennis veio encher meu saco, se sentando bem do meu lado.

— Não vim aqui te pedir nada, eu juro — ele foi logo dizendo. Suspirei.

— Por que cê não tá participando da aula?

— Não interessa. É o seguinte, se você me deixar te explicar sobre o favor...

— Eu já disse que a resposta é não, cara, me deixa fora disso!

— Mas isso é porque tu não sabe os detalhes! Não precisa concordar com nada, eu só quero te explicar e se você não quiser, eu te deixo em paz.

Aquilo me fez pensar. Eu já estava curiosa em saber que favor era aquele desde o momento que ele falou sobre aquela proposta pela primeira vez. Eu sinto que minha curiosidade é letal.

— Tá. Pode falar.

Eu juro que vi os olhos dele brilhando.

— Beleza! Sabe o Gabriel?

— O Gabriel presidente do grêmio? — Ele confirmou. — O que ele tem a ver com o favor?

Dennis riu. Riu soprando arrogância e sarcasmo. Já estava virando marca registrada e eu não sabia dizer se o que me irritava era o tom irônico ou o jeitinho que ele franzia os lábios.

— O favor é ele.

— Oi?

Imaginei o pior. Será que Gabriel era o garoto que Dennis estava beijando na festa? Será que eles fingiam se odiar porque os pais acabaram se casando? Ou eles começaram a ter um caso amoroso após o casamento dos pais e foram julgados por isso? Será que Dennis queria que eu matasse os pais deles para que eles dois pudessem ser felizes para sempre?

Ou será que eles são realmente arqui-inimigos e Dennis quer que eu ajude a matar o Gabriel. Eu nunca deveria ter dito que vejo muitas séries criminais.

— O favor é o Gabriel. E não, ninguém vai ser assassinado.

— Eu nem tava pensando nisso — menti, só porque senti um arrepio na espinha.

Mas Dennis não percebeu e continuou focado em me explicar aquela história toda.

— Já devem ter te falado que o Gabriel é filhinho de papai e que usa isso pra me fazer ser o relaxado da família, né?

— Não. Ninguém comentou isso, não.

— Mas é exatamente assim que é lá em casa. Um inferno. Minha mãe me compara com ele desde sempre e nada do que eu faço é bom pra ela. Então eu investiguei a fundo pra tentar descobrir algum podre sobre ele.

— E aí?

— Nada. Mas eu descobri que ele fuma. Então o plano é fazer ele ser pego fumando na escola.

Quanto mais tempo eu ouvia, mais eu sentia meus ouvidos pedindo socorro.

— Por quê?

— Ele ganharia uma suspensão. Nada mais justo depois de tudo que esse imbecil me fez passar.

— E o que ele te fez passar, Dennis?

Ele parou por um tempo. Talvez estivesse realmente pensando e percebendo que aquela história toda era ridícula. Mais uma vez, eu estava enganada.

— Ele me fez pegar suspensões antes. Eu quase fui expulso uma vez. Mas claro que ninguém acredita que a culpa foi dele, porque ele é o aluno modelo e eu sou... o peso nas costas da minha mãe.

Eu quase cedi. Quase. Dennis não estava mais segurando aquele sorrisinho detestável, ele parecia mais humano com aquele olhar vago, meio triste. Eu quase cedi.

Mas não sou burra, percebi que aquela cena toda era uma estratégia nova que ele achou que fosse dar certo só porque eu sou uma pessoa empática demais. Infelizmente pra ele, eu sei medir a minha empatia.

E, como se fosse um sinal do universo o sinal tocou, encerrando a aula e me liberando daquele circo.

— Acho que tem outras maneiras de lidar com isso. A resposta ainda é não.

Desci da arquibancada correndo e fui até a sala de aula buscar minha mochila pra voar até a biblioteca. E por mais que eu tentasse evitar, a expressão de Dennis me fez pensar naquele assunto por muito tempo.

Ter uma vingança como aquela valeria a pena? Essa era a real questão.

Dennis parecia ter desistido. O que foi ótimo, porque eu consegui me concentrar mais nas aulas sem ter alguém me cutucando o tempo todo. Mas eu ainda estava pensativa. Principalmente depois da reunião do grêmio na segunda-feira, Gabriel não parecia ser aquela pessoa que Dennis descreveu.

Claro, a parte do filhinho de papai até poderia ser, Gabriel era o típico loiro, branco, padrão e ainda por cima era inteligente. Mas ele também era simpático e sabia conversar com as pessoas.

O que me deixava confusa. Porque Dennis também não parecia ser aquela pessoa que Gabriel descrevia.

O plano perfeito na minha cabeça seria trancar os dois num quarto e esperar até que eles virassem amigos. Mas eu nunca faria isso. Não gosto de me intrometer na vida alheia.

Até que uma semana se passou e eu continuei pensando no que Dennis havia me dito. Estava prestes a perder o restinho de juízo que eu tinha, por isso eu resolvi acabar com aquilo de uma vez por todas.

Geralmente eu não fazia muita coisa nas reuniões, me sentia mais uma mascote do que um membro do grêmio, naquele dia estávamos eu, Giselle e Gabriel separando as assinaturas e distribuindo as funções para cada voluntário, quando eu decidi agir.

— Ei, Gabriel... — falei bem baixinho, porque a bibliotecária estava por ali naquele dia. — Posso te perguntar uma coisinha?

Vi Giselle me olhar pelo canto do olho antes de olhar para Gabriel. Eu não queria falar nada daquilo na frente dela, mas eu não aguentava mais. A curiosidade estava comendo meu cérebro!

— Pode, claro — ele respondeu, ainda com os olhos nas fichas. Se eu conhecesse ele um pouquinho melhor, diria que ele estava desconfortável.

— Sabe... eu fiquei sabendo que o Dennis tem uma fama bem ruim na escola... — comentei, sem nem saber como eu iria sustentar aquela mentira — e como eu sou a dupla dele... eu fico preocupada disso me afetar, sei lá... tu pode me dizer por que ele tomou as suspensões?

Tirei aquela conversa toda do cu, rezando pra ele cair na minha ladainha e me explicar sem fazer muitas perguntas. Giselle, por outro lado, nem precisou me dizer nada. Só pelo olhar eu percebi que ela teria muito mais perguntas do que eu seria capaz de responder.

— Ah, sim — Gabriel falou, sorrindo tanto que era capaz de mostrar todos os dentes da boca. — Ele sempre foi um horror. No primeiro ano foi pego colando e pegou suspensão porque tentou mudar as notas no computador da sala dos professores.

— Ah, entendi — murmurei, torcendo o nariz. Como eu já imaginava, Dennis fez todo aquele teatro pra se fingir de vítima, mas na verdade era ele quem estava errado.

Mas Gabriel continuou.

— Ano passado eu fui concorrer a presidente do grêmio e ele se candidatou também, só pra me irritar. Mas com o histórico dele, obviamente ele foi desclassificado.

— E também porque acharam um pendrive com a respostas das provas na mochila dele — Giselle comentou, como se aquele fosse um detalhe de extrema importância.

E era.

— É, isso também — Gabriel disse, passando a mão pelos cabelos. — Ele sempre foi problemático, faz essas coisas de propósito pra chamar atenção da mãe dele.

— Sei — falei e decidi continuar fazendo o que eu tinha que fazer.

Toda aquela conversa foi estranha. Alguma coisa me dizia que Dennis estava certo e que Gabriel não era essa pessoa incrível que todos achavam.

Eu decidi investigar aquilo por pura curiosidade. E não, minha intenção não era cair na lábia de Dennis. Só queria saber um pouco mais sobre aquela situação, só isso. Não vou me deixar levar pela conversinha dele.

Mas seria ótimo ver Gabriel provando do próprio veneno.


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