A biblioteca da escola pegou fogo! escrita por Fane


Capítulo 16
Revelações (nem tão) surpreendentes




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E se o incêndio não foi um acidente? Essa pergunta pairou na minha cabeça durante o resto do dia.

Emily me respondeu quando eu a perguntei, no fim do intervalo eu já tinha novas teorias e um novo plano (um bem melhor) estava se formando, só precisava organizar tudo direitinho antes de voltar pra casa do avô de Dennis.

O sinal tocou e eu me levantei correndo, enfiei tudo na mochila bem depressa e assim que saí me deparei com Emily que aparentemente estava me esperando. O que era muito estranho, mas talvez eu pudesse me acostumar já que ela não estava sendo totalmente insuportável.

— Fala, preciso ir correndo pra casa resolver uma coisas — falei, e nesse meio tempo o restante da galera saiu da sala de aula, inclusive Giselle.

Era até estranho vê-la sem poder falar com ela.

— Tá, não vai demorar — ela puxou uma mecha do cabelo escuro, — a Gi chegou a falar contigo depois da quermesse?

— Não... por quê?

— Nada...

Até senti um arrepio na nuca ao lembrar da quermesse, aquela sexta-feira tinha sido uma loucura, a semana inteira foi uma loucura! E só de pensar que tudo poderia ter sido diferente me dá um nó na garganta.

— Ela também não falou contigo? — perguntei, mas era óbvio. Do jeito que Giselle estava, ela provavelmente não falou com absolutamente ninguém.

— Não... eu tentei ligar, mandei mensagem, mas nada... e você viu ela hoje, nem olhou na minha cara.

— É, ela não parece estar muito bem — suspirei. Logo Emily suspirou também. — Já tentou ir na casa dela?

De repente, ela ficou com o rosto vermelho como tomate. Até as orelhas ganharam cor. Quem diria.

— Não! Não posso forçar a barra se ela não quiser falar comigo! — falou com aquele tom irritado que eu já conhecia e odiava. Mas, dessa vez, até foi divertido vê-la toda sem jeito.

Emily até pareceu mais humana.

— Só acho que você deveria tentar. Não é a melhor amiga dela?

Ela sorriu, sem humor nenhum.

— É... talvez não seja mais... — suspirou.

Já estava claro pra mim que Giselle e Emily tinham um relacionamento explosivo. As duas eram o completo oposto uma da outra. Giselle sempre foi meiga, otimista, vibrante. Sempre usa cores claras, brincos pequenos, maquiagem suave. O cabelo, mesmo tingido de vermelho, sempre tinha algum lacinho enfeitando as boxbraids que sempre pareciam impecáveis.

Já Emily sempre estava de preto. O cabelo escuro sempre estava liso demais, os dedos cheios de anéis pesados. A personalidade, nem se fala. Mesmo não sendo mais a insuportável de antes, eu ainda consigo notar uma tendência ao pessimismo. Uma teimosia absurda. Emily parecia muito com Dennis, às vezes.

Por isso eu senti que precisava saber mais sobre o que aconteceu entre elas — se aconteceu algo de fato — no dia da quermesse, só assim minha cabeça poderia descansar desse drama e focar no mais importante.

— Como assim? Aconteceu alguma coisa?

Como eu esperava, parecia que Emily só estava esperando que alguém lhe perguntasse. Então ela respirou fundo e me contou tudo.

Aparentemente, depois que eu saí da biblioteca e fui chorar às pitangas com Dennis na lanchonete, Giselle continuou por lá.

Emily foi procurá-la depois de um tempo, para conversar sobre a discussão que tiveram (por minha causa) — Emily não me disse o teor de toda a conversa, mas deve ter sido algo bem sério.

Giselle acabou se declarando. Emily entrou em estado de choque.

Antes que qualquer uma conseguisse dizer mais alguma coisa, Gabriel apareceu por lá avisando que as barracas já haviam sido desmontadas e que precisavam de Giselle na organização dos enfeites — ele provavelmente não notou o clima estranho que tinha se formado.

Mas Giselle não se mexeu, ainda esperava por uma resposta de Emily, que não aguentou a pressão.

Em vez de falar qualquer coisa, ela disse a Gabriel que ela mesma poderia ajudar na limpeza, só pra sair da biblioteca correndo, deixando Giselle plantada lá, sem uma resposta decente.

No final de tudo eu me senti vendo um filme extremamente dramático.

— É por isso que ela tá me ignorando... então eu achei que ela estivesse ao menos falando contigo... — ela concluiu tudo, com um biquinho no rosto.

Era muita informação de uma vez só.

Eu não queria conversar sobre a minha situação. Não queria contar para Emily sobre o fora que Giselle me deu após me beijar. Afinal, nós duas estávamos de lados diferentes. Ela recebeu uma declaração, eu não. Ela teve chances de aceitar os sentimentos de Giselle. Eu, não.

— Eu me declarei pra ela naquela noite... — comentei depois de respirar fundo. — E ela me deu um fora. Então, não, a gente não se falou desde então.

— Quê?

— Nem me olha assim. Eu já sabia que ia levar um fora, não preciso de ninguém sentindo pena de mim!

— Eu não tô... como assim você se declarou? — ela perguntou, como se fosse a coisa mais absurda do mundo.

— Ué. Eu gostava dela, então achei melhor contar. Guardar um sentimento desses pra si não faz bem.

— Então... por que ela se declarou pra mim sem mais nem menos?

Foi a minha vez de revirar os olhos.

— Ela gosta de ti, Emily — falei o óbvio.

— Não gosta, não.

— Você parecia tão inteligente, mas agora eu vejo que é bem burra... — resmunguei, e ela não se incomodou.

Aquela era uma situação bem mais séria do que eu esperava.

— Será que... se eu for na casa dela... ela vai querer falar comigo?

Ela me olhou como se eu fosse uma espécie de oráculo. E eu bem que poderia dizer que ela só saberia se tentasse, mas Emi estava precisando de um toque encorajador.

— Claro que vai! Boa sorte — falei, até perceber que ela não parou de olhar pra mim. — Não, eu não vou contigo.

— Eu não ia te pedir pra vir comigo, só ia perguntar como o Dennis tá lidando com essa situação do incêndio da biblioteca...

— Ele tá bem... — respondi sem nem perceber o sorrisinho maroto nascendo no rosto dela. — Na medida do possível, o pior de tudo é que ele tá de castigo, então a qualquer momento ele pode coringar...

— De novo?

— De novo? Como assim de novo?

— Que foi? Tá preocupada com ele, é?

Só então eu percebi o que Emily estava fazendo. Revirei os olhos.

— Esquece, tô indo pra casa. Boa sorte com a Giselle...

— Tem certeza que não quer saber? Dennis tem um histórico muito grande, não dá pra contar tudo assim de uma vez.

 

Mais uma vez, entrei no quarto de Dennis sem bater na porta.

— Eu já disse pra bater antes de... o que ela tá fazendo aqui? — ele disse, assim que percebeu que Emily estava atrás de mim.

O que aconteceu foi o seguinte: Emily passou a falar de Dennis, de todas as vezes que ele já tinha “coringado” e de toda a péssima reputação que ele havia construído juntamente de Gabriel e eu não consegui ficar quieta. Precisei levá-la até Dennis para que tudo aquilo fizesse algum sentido.

— Ela foi legal comigo, então achei que pudesse ajudar — resmunguei, me sentando na cama dele como sempre.

— Mas se vocês quiserem se pegar, me avisem que eu saio — ela disse. Maldita.

— Se comporta ou vai embora.

— Não falei nada demais!

Dennis suspirou alto, estava na cara de que ele não queria mais ninguém vendo a pilha de cuecas sujas que tinha no canto do quarto dele (que ele tentou esconder de mim com uma toalha, também suja, mas eu sempre reparei).

— Então... qual vai ser o assunto de hoje? — ele perguntou, relaxando um pouco.

— O negócio é o seguinte. Emily me contou algumas coisas e eu percebi que não fomos as últimas pessoas na biblioteca como o diretor Paiva disse. Depois da gente, Giselle, Emily e Gabriel ficaram lá por pelo menos dez minutos, certo?

Olhei para Emily. Ela olhou de volta, confusa.

— Não sei, não uso relógio.

Revirei os olhos.

— Colabora ou vai pra casa... — Dennis resmungou dessa vez. Até soltei uma risadinha.

— Que seja. Acho que fiquei por lá até dez e quarenta, por aí — ela cruzou os braços, na defensiva.

— Ótimo — anotei tudo num pedaço de papel. — Se depois que Emily saiu e Giselle e Gabriel ficaram lá até o fim da organização da quadra, nós vamos ter que falar com os dois pra saber se mais alguém teve acesso à biblioteca depois deles.

Dennis cruzou os braços também, e eu imediatamente soube que era um protesto silencioso.

— Ninguém vai te pedir pra falar com o Gabriel, tonto, cê tá de castigo, esqueceu?

— Eu vou falar com a Giselle — Emily falou, quase pude ouvir um tremelique nervoso em sua voz.

— Tem certeza? — perguntei, mais preocupada com o plano principal do que com aquele drama, obviamente as duas vão se resolver assim que conversarem cara a cara.

— Tenho — ela deu de ombros. — Mas ainda não tô pronta.

Suspirei alto, resistindo muito à tentação de revirar os olhos.

— Tá, vamos focar no Gabriel então. Provavelmente foi ele quem saiu da biblioteca por último de qualquer jeito — resmunguei, pegando outro pedaço de papel.

— Isso não vai dar certo — Dennis retrucou. — Esse cara é um gênio do mal, vai sacar na hora o que a gente tá tentando fazer.

— Ninguém tá acusando ele, Dennis. Só vou perguntar se mais alguém apareceu na biblioteca depois dele.

— E como tu vai fazer isso? Vai esbarrar nele e falar “foi mal, vou prestar mais atenção por onde ano, aliás, quem mais estava na biblioteca antes dela pegar fogo?”

Engoli em seco. Era exatamente o que eu planejava fazer. Em teoria, claro.

— Claro que não! Eu não sou burra, é óbvio que eu tenho um plano.

— Toda essa tensão sexual tá me fazendo ficar com vergonha — Emily resmungou, felizmente eu e Dennis estávamos muito ocupados discutindo para dar atenção.

— E qual seria esse plano?

Soltei uma risadinha debochada, talvez andar com Emily estivesse mexendo muito com o meu psicológico.

— Ai, Dennis... esqueceu que eu sou membro do grêmio estudantil?

— E daí? — ele perguntou, acabando com a minha pose.

— É, também não entendi a correlação — Emily o acompanhou.

Mas eu apenas respirei fundo, disposta a ter um pouquinho de paciência, e expliquei o que eu planejava fazer no dia seguinte. Com meu charme, carisma e sutileza, tudo sairia como o planejado e eu voltaria para casa com uma nova lista de suspeitos em mãos. Não tinha como dar errado.

— Vai dar errado — Dennis falou assim que eu me calei. — Você não tem o mínimo de sutileza, Amélia.

— Ah é? Então vai lá você falar com ele.

— Não posso, tô de castigo — resmungou. Maldito.

— Entre tapas e beijos, é ódio, é desejo... — Emily começou mais uma vez e eu já estava de saco cheio.

— Olha, eu posso não ser sutil e meus planos podem não ser os melhores, mas pelo menos eu tô tentando! Ou seja, a não ser que alguém tenha uma ideia melhor e disposição pra colocar em prática, eu vou fazer do meu jeito, tá bom?

E os dois concordaram. Não que precisasse, já que eu estava disposta a ficar cara a cara com Gabriel para entender tudo o que se passava por trás daquela mente maligna — segundo Dennis, é claro.


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