P.O.V. Sophie

—Nós podemos conversar? -pergunta Carol me abordando depois do que seria minha última consulta com Siddiq.

—Claro. -respondo e Carol e eu passamos a caminhar lado a lado.

Essa é a segunda visita que Carol nos fez nas últimas semanas, ela havia se mudado em definitivo para o Reino, de vez em quando ainda vinha checar como Daryl estava, mas essa é a primeira vez que ela procura especificamente por mim.

Poucas pessoas sabiam que nós estávamos de partida, eu contei apenas ao Aaron e imagino que Daryl tenha dito a Carol também.

—Vocês estão mesmo indo embora?

—Não é definitivo, depois de tudo que aconteceu vai ser bom dar um tempo de tudo. -respondo.

—Você quer dizer do Negan.

—Dele também. Daryl ainda não sabe lidar muito bem com a ideia dele estar aqui, agora que eu estou melhor nós podemos dar um tempo juntos. -explico. -Se você está preocupada com ele, espero que saiba que é minha missão pessoal trazer nós dois de volta em segurança.

—Você já provou que vai até o inferno por ele se for necessário, o que me preocupa é que ele faria ainda mais por você. -diz ela parando de andar para me encarar. -Daryl é muito leal, ele não tem nenhum senso de autopreservação e está apaixonado, isso pode ser perigoso.

—Eu não vou deixar que ele se arrisque por mim, Carol. Já tive essa conversa com ele.

—Ele não consegue controlar, no momento em que você estiver em perigo ele não vai pensar duas vezes antes de te salvar, custe o que custar.

—E o que você quer que eu faça? -pergunto, não estou entendendo onde Carol quer chegar.

—Não vá. Se Daryl precisa de um tempo longe disso tudo deixe que ele vá sozinho.

—Você não pode me pedir isso.

—Eu só estou pedindo para que você não seja egoísta. -insiste ela. -Se você for é por sua causa, porque você não quer ficar longe, mas se deixá-lo ir ele vai poder resolver tudo isso sozinho.

—Ele não é como você. -rebato. -Ele não acha que pessoas são o problema e ele não é mais o Daryl que tem medo de criar qualquer laço afetivo com alguém por medo de perder. Ele está seguindo em frente Carol, está construindo uma vida, talvez você devesse tentar fazer o mesmo.

Deixo Carol sozinha e saio de lá sem olhar para trás. 

Não estou feliz com o que disse, mas consigo encarar Carol porque tenho medo de que ela esteja certa e que talvez o melhor seja mesmo deixar com que Daryl vá sozinho. A questão é que eu não quero deixá-lo, mas e se eu só estiver fazendo isso por mim?

Então decido ir atrás de quem poderia resolver um dos problemas que nos obriga a ir.

Para a minha sorte encontro Rick sozinho arrumando um carro para sair.

—Por que? -pergunto. Essa é a primeira vez que o questiono sobre sua decisão, mas é que para mim não faz sentido manter Negan vivo.

—Eu sabia que isso ia acontecer. -diz ele parando o que estava fazendo. -Olha Sophie, eu tenho os meus motivos.

—Você pode até ter, mas isso não é só sobre você.

—Eu preciso mostrar aos meus filhos que existe outro jeito de fazer as coisas, que existe uma alternativa além de se tornarem assassinos.

—E por causa disso o filho da Maggie vai precisar viver no mesmo mundo em que o assassino do pai. Olha a sua volta Rick, nós estamos cercados de morte, se não quer que seus filhos se tornem assassinos então elimine a ameça antes deles. 

—Não tem que ser assim, nós podemos aprender a fazer isso funcionar. -insiste ele.

—Nós não podemos, Rick. -digo. -Maggie já não vem mais aqui e isso só tende a piorar depois que aquela criança nascer, Daryl também está prestes a partir e assim você vai afastar todo mundo que um dia teria feito qualquer coisa confiando em você.

—Como assim Daryl está prestes a partir?

—É autoexplicativo, ele está indo embora. -explico. -Não consegue viver com isso.

—Eu vou conversar com ele. -tenta Rick. -Não acredito que ele não me contou isso.

—Não vai conseguir nada com isso.

—Você bem que poderia ajudar.

—Como? Se nem eu mesma entendo o que você está fazendo.

—Tentando entender. -insiste ele. -Nem você nem ele estão tentando entender o meu lado.

—Você está tentando entender como ele se sente Rick? -digo perdendo a paciência. -Ele se sente responsável por ter tirado Glenn de Alexandria no dia em que fomos capturados, ele acha que Glenn só foi morto porque ele socou o Negan e agora ele acha que ele falhou ao tentar dar a Maggie a única coisa que poderia diminuir um pouco da dor que ela está sentindo. Daryl acha que a paz dela depende dele. Você é a única pessoa que não entende o que está acontecendo aqui, Rick. Daryl não se importa com o que fizeram com ele, ele já abdicou  de qualquer vingança que poderia ter pelo que lhe foi feito, a única preocupação de Daryl é Maggie e a criança que ela está carregando. Ele não está sendo egoísta como você parece acreditar, ele engoliu a própria vontade por sua causa, mas ele não consegue passar por cima do que foi tirado dela.

—Ele não tem que se sentir assim, eu posso me responsabilizar por isso, mas eu vou fazer o que Carl me pediu. Eu preciso fazer agora que ele está vivo pra ver isso, eu só quero que o meu filho possa ver um mundo melhor. Eu nunca quis ferir nem o Daryl nem a Maggie com a minha decisão, mas eu também não posso ferir meus filhos. Eu quero me entender com eles, mas eles precisam entender que eu estou fazendo o que estou fazendo por um motivo também.

—Boa sorte com isso. -digo e Rick entra no carro e vai embora.

Não consigo ficar aqui dentro então decido sair para ficar sozinha por algumas horas. Entrar na floresta me faz pensar em Daryl, em como ele era acuado quando eu o conheci aqui mesmo. Quando eu sugeri que saíssemos eu queria que isso fosse uma chance de fazer as coisas melhorarem, mas agora eu estou mesmo preocupado com o que ele é capaz de fazer por minha causa. E se Carol estiver certa e o melhor para ele for ir sem mim? Também acabo pensando em Rick também, eu não estou ajudando em nada com essa situação. Talvez eu na verdade esteja atrapalhando mais do que qualquer outra coisa, afastando Daryl desse jeito. 

No fim do dia eu decido ir falar com a fonte dos problemas.

[...]

—Eu não posso deixar você entrar. -diz Gabriel, que estava de guarda do lado de fora da cela. -Está com cara de quem vai matá-lo.

—Aqui. -digo puxando sua mão e entregando tanto minha arma quanto a minha faca. -Posso entrar agora?

—Vá em frente. -diz o padre me dando espaço para passar.

—Você? -pergunta Negan rindo quando me vê.

—Está se divertindo?

—Eu achei que você estivesse morta. -diz ele de bom humor. -Já é a segunda vez que eu me engano desse jeito. Mas no que eu posso te ajudar?

—É sempre divertido assim?

—Só quando vocês me visitam, e olha, vocês fazem isso bastante.

—Não faz diferença para você? Estar aqui ou estar lá?

—Tá preocupada com o meu bem-estar? -pergunta ele sorrindo.

—Só se eu puder piorar as coisas para você.

—Eu estou ótimo, olha a sua volta. -diz ele estendendo os braços de forma teatral. -Vocês continuam trabalhando pra me manter.

—Você quer dizer que nada mudou?

—Nada.

—Ótimo. -digo e viro de costas para sair daquele lugar.

—Já vai embora? Você acabou de chegar.

—Quando você era o manda chuva não achou que eu estava morta? Bom, eu vou deixar as coisas ainda mais parecidas como eram antes para você.

Pelo menos para uma coisa isso serviu, agora eu sei o que fazer em relação a Daryl.