Adrien deixou seu corpo cair na cama, afundando no colchão macio.

Fugir de Marinette foi uma tarefa difícil, mas toda aquela luta com Miraculer, a bomba, a adrenalina envolvida, o deixou completamente esgotado.

Além do mais, foi a primeira vez desde muito tempo que precisou usar o seu... Poder. Claro, tinha sido por um bem maior, mas mesmo assim ainda se sentia estranho. Como se tivesse despertado novamente, algo que deveria estar adormecido.

O loiro encarou as mãos sem as luvas e torceu para que o sono não trouxesse pesadelos que o fariam acordar no chão, deitado em um monte de cinzas, ao invés da sua cama. Mas é claro que, nem sempre as coisas aconteciam de acordo com a vontade dele. E mais uma vez, depois de muito tempo, ele acordou sozinho no chão. Sem a sua cama.

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Marinette acordou com o barulho do celular apitando com várias mensagens. O quarto estava escuro, exceto por uma pequena fresta da cortina, pela qual a luz da lua adentrava o cômodo. A garota tateou a mesa de cabeceira até encontrar o aparelho e levantou em um sobressaltou quando notou que Fei tinha respondido as suas mensagens perguntando sobre Adrien.

Ela não sabia ao certo o porquê de suas mãos estarem levemente trêmulas.

Desbloqueando o celular, depois de respirar fundo, Marinette se sentia cada vez mais nervosa. Porém quando terminou de ler tudo, não conseguiu definir o que sentia com palavras.

Fei não tinha encontrado nada sobre Adrien Graham de Vanily. Nada mesmo.

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Adrien respirou fundo e adentrou o laboratório, sabendo que não poderia fugir da sua parceira para sempre. No entanto, se surpreendeu ao não vê-la ali e quando pensou em relaxar a postura e suspirar aliviado, a porta foi fechada com violência atrás de si e ele virou repentinamente, dando de cara com Marinette.

— Bom dia, Adrien. Ou será que esse é mesmo o seu nome?

— Do que você está falando? – Marinette caminhou na direção do parceiro, que cada vez mais recuava. – Você está bem? Porque eu acho que... – ela fez menção de acertar um soco nele, porém o loiro segurou o punho dela. – Por acaso você foi akumatizada?

— Eu é quem pergunto. Quem é você e por que está aqui?

— Sou Adrien Graham de Vanily. O seu parceiro. Chat Noir. – disse o óbvio, largando o punho dela com pressa. — Onde quer chegar com isso?

— Não se faça de desentendido. Eu sei que não existiu nenhum Adrien Graham de Vanily no serviço secreto da Inglaterra. Agora você pode me explicar o porquê do seu nome não constar nos registros e como conseguiu entrar na Miraculous, ou eu te dou uma surra e chamo os reforços para te levarem preso. 

— C-Como você... – a voz dele falhou, a garganta ficou seca de repente. Por mais que a parceria dos dois fosse recente, conhecia Marinette o suficiente para saber que ela não estava jogando uma isca. Ela sabia perfeitamente do que falava. Estava brava, seu olhar irradiava chamas.

Não! Não!

Ele tinha sido tão cuidadoso, coberto todos os rastros para chegar até aqui. E agora, tinha ido tudo pelos ares! Deveria saber que sua parceira era tão esperta quanto ele.

As mãos de Adrien suavam por baixo das luvas e o silêncio ao redor deles era pesado e denso. Sua parceira sentia traída e estava prestes a dar uma surra nele.

Tudo foi em vão. Tudo foi em vão.

— Fala! – os olhos do loiro percorreram a sala, como se procurassem uma maneira de fugir daquilo. Marinette notou o movimento e desferiu outro soco com a mão direita, que foi parado com a mão esquerda dele, e depois mais outro com a mão esquerda, que foi parada com a direita do loiro, formando um x entre eles. Mas Marinette previu isso, e justando os braços cruzados em sua frente, empurrou com tudo o corpo dele sobre a bancada.

Adrien, ou quem quer que fosse a pessoa em frente a ela, bateu contra a bancada e permaneceu encurralado entre a mesa e o corpo de Marinette. A respiração acelerada, o coração quase que errando as batidas e a mente paralisada.

Ela estava com tanto ódio de ter confiado a vida a ele. Mas fazia parte do trabalho, Marinette não podia ter ido contra as ordens de Bridgette. Se ao menos ela tivesse... Não, ela não se martirizaria por aquilo. Adrien – ou seja lá qual for o seu nome – era alguém totalmente diferente do que ela imaginava. Ele poderia ser qualquer pessoa, desde um espertinho em busca dos segredos da agência, até mesmo um espião de Hawk Moth.

— Última chance de falar! – ele finalmente olhou nos olhos dela. Raiva. Decepção. Ódio.

— Você não entenderia, eu...

— Então me explica. – a tristeza nos olhos dele, passou a ser refletida nos dela. Nenhum dos dois queria aquilo. E mesmo que não admitisse, tudo que Marinette desejava, era que o garoto tivesse uma explicação perfeitamente plausível para dar para ela.

— Vai me chamar de louco.

— Talvez. Mas só há um jeito de saber. – Adrien segurou as mãos dela com delicadeza, fazendo com que ela baixasse a guarda. Nisso, ele a empurrou com força para trás e se esgueirou pelo lado, para sair correndo pela porta do laboratório.

No entanto, Marinette gritou frustrada e atirou-se contra as pernas dele, as agarrando.

— Me solta!

— Não até você explicar! – Adrien tentava se desvencilhar sem tocar as suas mãos nela, o que não estava dando muito certo. Até que ele se debateu tanto com os pés, que acertou o queixo de Marinette e a fez afrouxar o aperto o suficiente para que ele saísse.

Marinette teve apenas segundos para refletir se as respostas que ela arrancaria de Adrien, valiam mais do que a exposição do que estava prestes a fazer. A parte irracional do seu cérebro venceu e com uma raiva e determinação gigante, ela fez o brilho avermelhado surgir nas suas mãos e quando bateu elas no chão, uma trilha de uma casca vermelha com bolinhas pretas seguiu-se pelo chão até prender os pés de Adrien – os envolvendo da mesma maneira que envolveu o braço de Ladybug, na luta contra Miraculer.

O loiro tropeçou e caiu de cara no chão. Seus olhos percorreram Marinette, até o que o prendia no chão.

— O que você... O que você é? – Marinette ficou de pé, um tanto quanto arrependida do que tinha feito. Mas agora não tinha mais volta, iria até o fim para descobrir a verdade sobre o seu parceiro.

— Quem é você? – ela repetiu.

Adrien olhou para as luvas e para o que sua parceira tinha feito. Ela também era como ele. Ou quase. Pela primeira vez não se sentiu sozinho.

Com um suspiro, ele tirou a luva, enquanto Marinette o encarava com expectativa. Os dedos dele tocaram a casca que a garota tinha criado e com uma pequena explosão preta, a casca virou cinzas. Ela deu um passo para trás, surpresa.

Quando o loiro ficou de pé, ela não protestou e nem partiu para cima. Apenas ficou imóvel, o fitando com a respiração descompassada.

— Meu nome é Adrien Agreste. E pelo visto, eu também sou como você.