Jared chegou no bar cerca de vinte minutos depois de deixar o parque, os olhos castanhos da loba ainda estavam gravados em sua mente. Ele abriu a porta e entrou, apenas para ser recebido por Mariah que o interceptou na porta. 

—Jared querido, tem alguém que gostaria de te ver. —A mulher sorriu enquanto guiava Jared até o balcão do bar. 

Quando eles chegaram no balcão, um sorriso dominou seu rosto quando viu uma bigodeira conhecida. 

—Charlie, você está aqui! —Ele seguiu e apertou a mão do homem com entusiasmo. 

—Fiquei surpreso ao saber que você ainda está aqui! Mariah me disse muito bem de você. —Charlie disse, fazendo Jared  sorrir. 

—Sabe que ela pode ser um pouco tendenciosa as vezes, né? —Ele brincou dando uma piscada pra mulher que colocava dois lanches no balcão, um para ele e outro para Charlie. —Ela fala bem de mim só porque eu arrumei as goteiras do galpão e consertei o encanamento do banheiro. 

—Não seja um idiota. —Ela reclamou dando um tapa no ombro de Jared. — Já fez a maioria das entregas, Charlie? 

—Sim, chegamos aqui bem cedo e Bella me ajudou com a maioria delas. Agora, vamos apenas terminar as entregas, recolher algumas coisas que me pediram para levar e em uma semana estaremos prontos para voltar. —Charlie explicou. 

—E onde está Bella? Faz anos que não a vejo. 

—Ela decidiu dar uma volta pela cidade antes de vir pra cá, sabe como a viagem é longa… E você garoto, o que tem feito? —Ele desviou o assunto para Jared. 

—No momento estou trabalhando em um restaurante, mas aceito tudo que aparece.

—E está dando pra se manter aqui? —Charlie pareceu bem interessado. 

—Bom, eu tenho uma reserva de dinheiro guardado no banco e meus amigos sempre depositam alguma coisa pra mim, então, acho que mesmo se eu não estivesse trabalhando aqui, eu conseguiria me manter por um tempo. 

—Então você trabalha porque quer? 

—E porque eu gosto de trabalhar. Com oito anos eu já cortava a grama dos vizinhos e levava os cachorros deles pra passear. Como eu disse, sempre foi apenas eu, minha mãe e minha irmã; minha mãe sempre trabalhou muito pra não deixar faltar nada pra gente, então eu me sentia mal em pedir as coisas pra ela. Então, comecei desde cedo, pra poder ter minhas próprias coisas. —Jared explicou com um encolher singelo de ombros. 

—Como eu disse da outra vez, sua mãe deve estar muito orgulhosa de você. —Charlie sorriu. 

Jared foi poupado do constrangimento de responder ao elogio de Charlie pelo barulho da porta batendo contra a parede. 

—Papai, que bom que você está aqui. Preciso falar com você agora. —Ela caminhou até o balcão e parou entre os dois; as costas viradas para Jared. 

—Bella, cadê seus modos? Cumpri… 

—Papai, é sério. Por favor, vem comigo. —Ela interrompeu com a voz trêmula. 

Percebendo a urgência na voz da garota, Charlie se levantou e subiu as escadas na companhia da garota de cabelos curtos. 

—Aquela era Bella? —Mariah apareceu com um segundo lanche para Jared e perguntou apontando para a escada. 

—Aparentemente sim. 

—Algo deve ter acontecido, ela nunca subiria sem falar comigo. 

Mas Jared não respondeu, sua boca já estava muito cheia com o segundo hambúrguer. 

No andar de cima, Bella andava de um lado para o outro enquanto tentava explicar para Charlie o que tinha acontecido. 

—E então, ele apareceu do nada e ficou me olhando, mas aí, quando chegou nos meus olhos ele parou… E-e foi como se o mundo parasse. —Ela gesticulava e acenava com as mãos trêmulas, ela estava ofegante e lágrimas brilhavam em seus olhos. 

Charlie já tinha visto aqueles sintomas antes; Bella estava no começo de uma crise de pânico. 

—Bella, aqui. —Charlie segurou seus pulsos e a guiou até a cama e a sentou. Ele se ajoelhou na frente dela e sorriu ternamente. —Você sabe o que está acontecendo né? Você está tendo uma crise de pânico, você quer que isso piore? 

Ela balançou a cabeça negativamente.

—Então respire, ok? Respire profundamente e se acalme. Você pode me contar tudo que aconteceu quando se acalmar. 

Cerca de vinte minutos se passaram até que as mãos de Bella diminuíram o tremor e ela conseguiu controlar a respiração. 

—Está pronta pra falar? 

—Sim, eu acho… —Ela disse encolhendo os ombros. —E-eu estava correndo na reserva natural e tudo estava bem… só que, outro lobo apareceu e ele ficou me olhando, até que ele olhou em meus olhos e eu não sei o que aconteceu, m-mas parece que tudo se tornou ele. 

Charlie franziu as sobrancelhas e encarou Bella pensativamente. 

—Ele era um lobo normal? —Ele questionou se levantando e começando a andar de um lado pro outro. 

—Não sei, papai; e-ele era grande demais. Mas não existem outros como eu por aqui, né? —Bella disse meio alarmada. 

—Não sei, tudo é muito novo pra mim também. Eu saí da reserva a muito tempo, não sei muito sobre as coisas lá. —Ele disse franzindo as sobrancelhas. —Mas eu me lembro de ter lido algo sobre isso nos antigos diários do meu avô… embora nada do que eu me lembro envolva lobos selvagens. 

—Será que eu tô maluca? 

—Não querida, prometo que assim que voltarmos pra casa vamos pesquisar juntos, ok? —Charlie a envolveu em um abraço. 

Bella suspirou e devolveu o abraço de seu pai; tudo havia mudado rapidamente pra ela. Em um momento ela era uma jovem normal e no outro, ela era uma loba gigante criada para perseguir e matar vampiros. E não existia um manual para lobisomens; ela tinha os diários, mas eles estavam desatualizados e nem sequer citavam um metamorfo do sexo feminino! 

—Agora vamos descer, Mariah está com saudades e eu quero te apresentar uma pessoa. —Charlie se afastou do abraço e depositou um beijo na testa dela. 

—Posso tirar o casaco aqui? É quente e agora eu odeio usar casacos. 

—Sim, está aquecido aqui dentro. —Ele sorriu quando Bella tirou o casaco de pele e o jogou na cama sem cerimônia, suspirando como se fosse a melhor coisa do mundo. 

Charlie envolveu o ombro de Bella com um de seus braços e os dois saíram do quarto e desceram rumo ao saguão. Bella se aproximou do balcão e sorriu para Mariah. 

—Desculpe pelos meus modos, tinha assuntos urgentes para tratar com Charlie. —Bella disse aceitando e retribuindo o abraço da mulher. 

—Olha só pra você, você está ótima. —A mulher se afastou um pouco para observar Bella. 

—Obrigada, Mariah. Fazia tempo, não? —Ela sorriu e se sentou em um dos bancos no balcão. —Aqueles seus hambúrgueres ainda são os mesmos? 

—Claro que são; vou falar para John prepara um pra você. 

—Onde está Jared? —Charlie perguntou após olhar o saguão quase vazio. 

—Ele falou algo sobre esquentar o motor do carro; ele faz isso todos os dias. 

—Queria que ele conhecesse Bella… mas teremos outras oportunidades, vamos ficar aqui por uma semana no mínimo. 

Bella comeu seu hambúrguer em silêncio; Charlie acabou encontrando um conhecido e estava absorto em uma conversa animada com o homem. 

—Vou ver os cachorros, ok? —Ela disse assim que terminou de comer. 

Bella abriu a porta e se encolheu ao sentir o vento frio que soprava; não estava nevando naquele momento, mas o chão estava grosso com camadas de neve. Ela caminhou até o galpão e viu Luke do lado de fora, ajoelhado na frente do cachorro, ela viu um homem. Ele parecia estar falando alguma coisa com o animal. 

Apurando sua audição, ela se concentrou em ouvir as palavras do estranho. 

—Hey, quem é você amigo? Você saiu do galpão? Acho que deveria te levar até lá e fechar a porta… —O estranho disse enquanto se levantava e segurava Luke pela coleira. 

—Ele é meu, pode deixar que eu o levo. —Ela disse e o garoto se virou pra ela rapidamente. 

Ela quase caiu para trás quando o viu; ele vestia uma camiseta preta simples e uma calça jeans clara, seus olhos eram de um castanho escuro e ele tinha uma expressão de surpresa no rosto. Ele era lindo! Bella pensou que ele era a pessoa mais linda que ela já tinha visto. 

—Uau. —Ela disse após alguns segundos. 

—Sim, uau. —Ele respondeu e então balançou a cabeça negativamente. —Eu estava no carro e ele saiu do galpão, achei que se não o levasse de volta ele poderia fugir. 

—Ele tem mania de fugir assim mesmo, se você não estivesse aqui, ele provavelmente teria chamado os outros. —Bella sorriu enquanto levava o cachorro para o galpão e fechava a porta. —A propósito, eu sou Bella. —Ela estendeu a mão e sorriu. 

—Bella… —Ele experimentou o nome em seus lábios e sorriu. —Eu sou Jared. 

Bella sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando ouviu Jared sussurrar seu nome enquanto apertava sua mão de forma delicada. Ele olhou em seus olhos por alguns segundos e ela sentiu que conhecia aqueles olhos castanhos de algum lugar. 

Já Jared estava desesperado; ele havia saído apenas para aquecer o motor do carro por alguns minutos e boom… a garota de seus sonhos estava parada à sua frente. 

Seus sonhos não faziam jus à beleza dela. Seus olhos eram brilhantes e ela tinha um sorriso delicado que aquecia tudo por dentro dele. 

—Você deve ser a filha de Charlie, a que arrastou ele do bar alguns minutos atrás. —Ele disse e apreciou o tom rosado que as bochechas dela assumiram. 

—E você deve ser o amigo a quem ele queria me apresentar. —Ela sorriu passando a mão pelo braço, no que Jared interpretou, como uma tentativa de se aquecer.

 —Eu tenho um casaco no carro, se você estiver com frio… 

—Eu aprecio a oferta, mas já estou acostumado com o frio. —Ela sorriu. —Você não parece ser daqui, se me permite perguntar, o que te trás até o fim do mundo chamado Alaska? —Ela perguntou se apoiando no carro de Jared que roncava suavemente. 

'Você'. Era o que Jared queria responder; mas ele engoliu essa resposta e encolheu os ombros. 

—Não sei realmente; talvez o desejo de mudar e arriscar… 

—Eu daria tudo pra sair daqui… é sempre frio. —Ela se pegou falando sem nem pensar. 

Ela nunca tinha falado sobre isso com ninguém, mas se sentia confortável o suficiente pra falar com esse garoto que ele acabou de conhecer… o que estava acontecendo? 

—De onde eu venho, quase sempre é nublado… mas conseguimos ver o sol as vezes, principalmente no verão. —Jared disse enquanto olhava para o céu escuro. —Eu fiquei surpreso quando soube que seria noite aqui por meses… é legal nos primeiros dias, mas eu já sinto falta da luz natural do dia.

—Eu queria sentir calor, sabe? Sentir o sol aquecendo minha pele, ficar bronzeada… mas aqui é sempre frio, frio e frio… 

Jared desviou o olhar do céu e olhou para Bella; ele estava fascinado com os olhos castanhos dela que traziam tanto significado para ele… seus olhos se encontraram e ele se lembrou da loba que havia visto mais cedo. 

—E-eu preciso ir. —Bella disse se afastando como se tivesse levado um choque. 

Jared observou a garota entrar na pousada rapidamente. Ele riu e passou as mãos pelos cabelos. Tirando o celular do bolso da calça jeans ele discou o número de sua irmã. 

Jar, que bom ouvir de você. —Mia disse ao atender, no primeiro toque.

—Mia, eu a encontrei. Eu encontrei a garota dos meus sonhos! —Ele disse sem conseguir conter a felicidade em sua voz.