The Revolution escrita por lipemorais


Capítulo 10
Capítulo 10




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CHANYEOL

 

A manhã não demorou para chegar, logo todos estávamos de pé, para ser sincero, logo cedo já estávamos de um lado para o outro tentando decidir quem ia e quem ficava de tocaia para proteger a nossa colônia, como gosto de chamar, e para treinar Sehun.

— Eu ainda não estou muito em condições de sair, eu fico e o treino. – Xiumin informa.

— Quem fica para proteger a colônia? – Suho pergunta.

— Eu posso ficar, ajudar o Xiumin. – Chen se prontifica.

— Não, não é necessário, não é para tanto. Estou meio cansado, mas eu posso ficar aqui com o Baek e o Sehun e...

— Na verdade eu queria ir também.

Para a minha surpresa e de todo mundo, Baekhyun fala isso em uma vozinha tímida. Imediatamente percebo que Kyungsoo é o primeiro a esboçar reação e não é das melhores, mas ele não está sozinho, Suho não parece gostar da ideia tampouco.

— Baek, já estamos indo com os três líderes hoje, você ajuda mais aqui como nosso farol. – A voz de Kyungsoo dá o assunto por encerrado.

— Mas na última vez vocês acharam mesmo sem eu estar como farol, eu posso ajudar e...

— Baekhyun, não é uma boa ideia, você nos ajuda mais estando aqui e... – Suho para no meio da frase ao perceber o descontentamento de Baekhyun – Você vai passar a treinar daqui para frente, ok? – Kyungsoo já espreita com olhar de descontentamento – Mostre habilidades que sejam úteis lá no labirinto e vamos avaliar se você poderá vir na próxima. – Baekhyun não parece satisfeito ainda, mas aceita – Xiumin, você tem certeza que pode ficar aqui e dar conta de tudo?

— Eu ergo uma parede de gelo. Podem ir, vão, eu dou conta aqui.

E assim saímos novamente em direção ao novo pedaço que temos do labirinto. Pelo caminho algumas criaturas aparecem, mas com todos aqui e sendo criaturas que já conhecemos, não nos representam tanto perigo. A luz cegante nos avisa que chegamos ao corredor certo.

—  Eu ficarei de guarda do Lay, hoje. – Tao se prontifica. – Boa sorte lá dentro, cuidado com as criaturas que parecem fluido.

Dessa vez a minha dupla é Kai, começamos a andar pelos corredores e percebo que ele fica abismado com o visual estranho do novo labirinto, afinal ele não tinha vindo aqui ainda e a primeira vez pode ser bem assustadora.

— Eu imaginei que fosse um pouco pior, para falar a verdade. – Ele solta depois de virarmos uma esquerda.

— Só espero que não encontremos nada e você continue com sua opinião.

Como eu conheço a área por onde andei da outra vez, tento identificar qualquer vestígio que possa me sinalizar que caminho tomar, a última exploração não me levou a lugar algum, então não faz sentido ir para o mesmo local novamente.

É estranho andar ao invés de correr no labirinto, sempre estamos com pressa, mas por algum motivo essa nova área nos faz ser cautelosos com possíveis perigos novos.

— Para. – Paro abruptamente e Kai esbarra em mim. – Olha aqui. – Indico um desenho na parede.

Outro hexágono cheio de reentrâncias igual ao que Suho havia comentado que viu com Xiumin. Passo meu dedo pela borda do desenho cravado na pedra sem saber ao certo o porquê, só por achar estranho.

— Chanyeol, olha a parede! – Kai me puxa para trás.

Toda a pedra se ascende com os mesmos desenhos, mas não estão gravados na parede, parecem ser feitos de luz e fica difícil de identificar onde um hexágono começa e o outro termina.

— O que você fez? – Kai estapeia meu braço.

— Eu não fiz nada, ela só ascendeu, ué.

— Ascende a fênix logo antes que seja tarde.

Ele não termina de falar e deixo o fogo me consumir.

KAI

 

A capa de fogo aumenta nas costas de Chanyeol e logo estou atrás de uma grande ave de fogo, as labaredas das penas de sua calda balançam perto do chão e as asas tapam minha visão. Com esse escudo de fogo, ele é praticamente imune a quase tudo.

— Está vendo alguma coisa? – Pergunto me movendo para o lado.

A parede se ascendeu, mas nada aconteceu, apenas as luzes que ficam cintilando, quase como se estivesse viva, respirando, pulsando na nossa frente. – Chanyeol, me dá a sua mão. – As chamas da fênix recuam um pouco e a mão dele agarra a minha. Se precisar nos teleportar, tem que ser o mais rápido possível.

Quase que instantaneamente a luz parece se intensificar e então se apaga de vez.

Nós dois ficamos um momento sem nos mover sem entender o que acabou de acontecer, a parede se ascendeu e apagou de repente sem nenhum motivo aparente.

— Está vendo algo diferente? – Chanyeol pergunta apagando sua fênix.

Me aproximo da parede e vejo que onde estava a gravura agora está brilhando no centro do labirinto, piscando na verdade, fora isso, nada demais.

— Cuidado!

A voz de Chanyeol veio depois de eu sentir o calor que a chama dele causou ao atingir a parede. Mais e mais bolas de fogo são arremessadas pelo ar e eu continuo sem entender, apenas me abaixo e me teleporto para o lado dele.

— O que raios você está fazendo?

— Olha ao seu redor. – Novamente ele ascende sua fênix e dessa vez a deixa flutuar um pouco acima do chão.

A luz do fogo é tão forte que consegue iluminar todo o corredor e então eu vejo qual era o alvo dele. Pequenas criaturas voam pelo corredor, contudo, apenas algumas voam de um lado a outro a esmo, todas elas estão concentradas mais a frente, Chanyeol só queimou as que estavam querendo chegar perto de mim.

Um pouco a frente dezenas, talvez centenas de criaturas estão agrupados em uma grande massa de pontos pretos que se move como uma e está vindo em nossa direção. A fênix de Chanyeol começa a atirar bolas de fogo, dardos de pena, labaredas atrás de labaredas e várias dessas criaturas caem queimadas, mas a massa é rápida e não se deixa atingir.

E eu não posso fazer nada para ajudar.

Observo impotente enquanto Chanyeol tenta queimar a massa de criaturas, mas ela continua a se desviar e fica impossível atingir a todos de uma vez. Ele passa de bolas de fogo para um jato de fogo contínuo, mas as criaturas são pequenas e ágeis, elas se aproximam mais e mais e agora que estão mais próximas, um zumbido ensurdecedor está cada vez mais alto e me deixando aflito.

Fico atrás de Chanyeol para me proteger, as criaturas vão se aproximar dele e vão simplesmente queimar. Ele parece ter o mesmo pensamento que eu e fica na minha frente com asas abertas para cobrir o máximo de área. Mas a massa se dispersa, passa por ele e vem ao meu encontro. E bem rápido.

Me teleporto para a direção oposta e estou de frente com a fênix, que se vira e volta a soltar seu jato de fogo para tentar queimar as criaturinhas, mas isso só parece as irritar e agora o zumbido ficou ainda mais alto, quase tenho que tapar meus ouvidos por causa dele.

— O que eu faço? – Pergunto a Chanyeol quando a massa se dispersa mais uma vez e vem em minha direção. – Eu sou o alvo!

— Eu também não sei, não consigo acertar eles em cheio de jeito nenhum.

— Faz uma chama grandona! A maior que você conseguir! Deve pegar uma boa parte! – Sou obrigado a me teleportar novamente, dessa vez acabo até ficando um pouco longe para minha proteção.

Chanyeol faz como eu digo e logo uma enorme bola de fogo sai voando pelo corredor e eu me teleporto para trás dele e me materializo bem no momento em que vejo uma grande nuvem de corpinhos caindo no chão, mas ainda uma grande nuvem resistia.

— Como eles fazem isso?! – Chanyeol ralha de dentro da fênix. – Tenho uma ideia.

A fênix se eleva um pouco mais no ar, abre o bico e um grito agudo sai antes dele bater as asas para frente e delas uma lufada de ar quente sair, o ar havia até mesmo assumido um tom alaranjado. Porém, não teve muito efeito também, mais uma vez, vários corpinhos caem ao chão, mas a massa parece nunca acabar, com uma densidade tão forte, apenas os da frente foram queimados deixando ainda muitos outros vivos.

Eu observo enquanto eles se reagrupam e algo me chama a atenção. Todas as vezes que eles se dispersaram e se reagruparam havia sempre uma porção da nuvem que era bem grande e agora acabo de ver uma criatura um pouco maior. Algo semelhante a um inseto, uma cabeça redonda com dois grandes olhos pretos em formato amendoado, um corpinho roliço avermelhado com patas minúsculas amarelas e asas em constante movimento. Deve ser o líder talvez?

— Chanyeol joga mais fogo! Faz eles se dispersarem!

Ele faz como eu peço e então eu presto atenção. Enquanto a nuvem fica toda desmanchada, mais acima a esquerda ainda há uma porção bem consistente e acho que consigo ver as cores do mosquito chefe.

— Em cima na esquerda Chany!

Um jato de chama é direcionado para onde eu falo e a nuvem de repente se agrupa rápido demais, uma grande parte da massa vem ao chão, mas ainda vejo uma pequena porção se esquivar, mas as cores chamativas do líder se ressaltam novamente. Resolvo me arriscar e fazer alguma coisa. Corro, pego impulso, me teleporto para dentro da nuvem de criaturinhas, agarro a maior e me teleporto para a ponta mais distante e depois para o lado de Chanyeol. Ao me materializar ao seu lado o zumbido que antes parecia nervoso, agora está completamente irado e vindo para cima de nós com raiva.

Jogo o maior no alto e Chanyeol o queima enquanto ele tenta voar para o resto da nuvem. Ele cai no chão com um guinchado alto e fino deixando seus seguidores voando a esmo. Dessa vez, queimar os corpos foi fácil.

— Você foi bem louco ao se jogar naquela massa daquele jeito. – Chanyeol finge bater palmas para mim ao apagar sua fênix e ficar ao meu lado.

— Eu tinha que fazer alguma coisa, não é?

— O que você estava olhando na parede? – Chanyeol pergunta voltando a atenção para onde eu olhava.

— Alguma coisa estava brilhando, piscando. Depois que aquelas luzes se ascenderam e apagaram do nada na parede. – Respondo procurando pela parede o pontinho piscando de antes e o encontro. – Isso deve querer dizer alguma coisa, não?

— Provável, nada aqui é de graça. Mas o que pode ser? Eu vou apertar aqui para ver.

Antes que eu possa tentar impedi-lo ele já meteu o dedo onde piscava.

No mesmo instante a parede começou a tremer e soltar poeira como se estivesse se movendo. O que esse imbecil orelhudo fez?

SUHO

 

Chen é um parceiro tão bom quanto Xiumin para mim, afinal, água conduz eletricidade muito bem. Chanyeol e Kai saíram para um lado enquanto ficamos avaliando quem iria pela área nova e quem iria pela que eu e Xiumin já conhecíamos.

— Esse corredor novo está aberto, pelo menos? – Kyungsoo pergunta.

— Só há um jeito de descobrir. – Respondo e ele entende.

Ele pisa no chão fazendo um bloco de pedra pular no ar na frente dele, um soco e ele se racha derrubando alguns pedaços para o lado e fazendo uma estaca de pedra sair voando para frente com toda a velocidade e para nossa surpresa, ela continua voando corredor adentro até a perdermos de vista.

— Ora, ora...nós vamos por aqui. – Chen me puxa pelo pulso.

— Tomem muito cuidado com lâmpadas nas paredes! – Grito minhas últimas precauções aos rapazes quando adentro o corredor mais recente que se formou.

Ele não tem nada de novo, as mesmas pedras rústicas, grosseiras e ásperas do resto da nova área do labirinto, a mesma luz quase inexistente, mas isso não me faz baixar a guarda de jeito algum.

— Um pouco de luz é bom. – Chen diz ao ascender sua mão com alguns raios.

Continuamos a andar e por um bom tempo andamos apenas em linha reta, esse corredor não parece ter muitas reentrâncias ou curvas e isso me incomoda um pouco. Viramos algumas vezes, mas ainda assim é um caminho fácil de lembrar a volta e isso me deixa inquieto. Porque um labirinto teria um caminho tranquilo e fácil de lembrar?

— O que foi? – Chen pergunta de repente. – Porque está tão nervoso?

— O que?

— Você está olhando em volta assustado e não para de bater as mãos nas pernas, - ele nem mesmo olha para mim ao dizer isso – o que você está pensando?

— Esse caminho não parece muito fácil para você? Por ser um labirinto? – Viramos uma direita assim que termino a pergunta, finalmente, uma mudança no caminho.

— Acredito que sim, talvez. – Ele responde desinteressado. – Estou mais preocupado em acharmos alguma criatura nova e ter algum problema com ela. Da última vez todo mundo teve um pouco de problema. Não estou nenhum um pouco a fim de ficar igual o Xiumin ficou. – E viramos a esquerda.

Esse caminho está muito previsível, sem nenhuma bifurcação nem nada do tipo, Chen pode se preocupar mais com as criaturas, mas eu não tiro isso da cabeça, não pode ser coincidência.

Andamos mais alguns metros e então acontece tudo muito de repente. Uma luz se ascende bem ao lado da minha cabeça, um estouro muito alto faz meus ouvidos doerem e ficarem apitando e uma fumaça começa a subir pelo corredor.

Chen segura meu braço, eu olho para seu rosto e vejo que ele tenta falar comigo, mas não consigo ouvir nada acima do grande apito que está soando em minha cabeça, consigo ler as palavras “você está bem” de seus lábios e assinto.

Sinto o chão tremer um pouco, e então algo me puxa pelo pé.

KRIS

 

Kyungsoo é minha dupla e fico feliz com isso, ele é muito forte além de ter um controle grande sobre suas habilidades, porém uma coisa deixa a desejar, ele é muito calado e centrado, até demais, andamos por uma boa parte do trajeto sem trocar uma única palavra, ele anda ao meu lado olhando tudo ao seu redor e tomando o máximo de cuidado para decorar o caminho para podermos voltar.

Andamos um corredor longo e reto, depois viramos a esquerda, direita, direita e esquerda e então pegamos o caminho da direita em uma bifurcação, simplesmente porque decidimos ir pela direita.

— Algo de anormal te chamou a atenção? – Ele pergunta de repente e me pega de surpresa.

— Não, na verdade não, - digo olhando em volta para me certificar – na verdade estou até mesmo estranhando o fato de estar tudo tão calmo e igual.

— É, eu também.

— Fica atento, - ele alerta olhando em volta – não quero ter que te levar correndo para o Lay. – Não tenho certeza, mas acho que isso foi o mais próximo de uma piada que ele faz.

— Digo o mesmo, parceiro. – Dou uma esbarrada em seu ombro.

— Conseguiu guardar o caminho?

— Sim, consigo voltar.

— Ótimo.

Dito isso, nós não falamos mais nada, seja devido a tensão de estarmos aqui e não sabermos o que podemos enfrentar, seja porque ambos não falam muito, mas continuamos nosso caminho em silêncio.

O que me deixa inquieto é que não há nada de novo aqui, fora as paredes de pedra rústica, não há nada de diferente, não há parede espelhada, não há lâmpadas nas paredes, não há criaturas novas para nos ameaçar, nem nada do tipo, apenas andamos, andamos e andamos mais.

— Só eu estou desconfortável com a facilidade que estamos tendo? – Kyungsoo pergunta sem parar de andar ou olhar para mim, olha apenas em volta atento a qualquer coisa que possa acontecer.

— É inquietante. Quase parece errado depois de tudo que ouvimos.

— Acha que os outros estão bem? – Percebo certa insegurança em sua voz. Mesmo estando aqui e em possível perigo também, ele ainda se preocupa com os outros.

— Suho está com Chen, eles são uma boa combinação, Chanyeol está com Kai que se adapta a todo mundo, fique tranquilo que eles vão ficar bem. – Respondo tentando passar segurança e a impressão de que não estou de fato preocupado.

— Você não sabe mentir, Kris. – Ele dá uma risadinha.

Ele tem razão, eu não sei mentir e ainda estou preocupado com os rapazes.

— Bem, o que podemos fazer, é nos certificarmos de sobrevivermos e ajuda-los a sair daqui. Então vamos nos concentrar.

— Espera...o que é aquilo? – Kyungsoo para abruptamente por um segundo antes de começar a correr em direção a uma luz irregular no final do corredor no qual estamos.

Eu corro junto com ele e por ser mais alto o alcanço e o ultrapasso, mas paro um pouco antes de chegar a fonte da luz que reflete de maneira irregular nas paredes perto dela porquê...não há nada, apenas uma parede transparente.

— Eu falei para me esperar. – Kyungsoo dá uma ofegada ao meu lado ao se apoiar nos joelhos por um segundo.

— Você saiu correndo primeiro. – Respondo sem tirar os olhos da parede.

— Você é mais alto que eu, corre mais rápido.

Estamos há alguns metros de distância da parede transparente que emite uma luz como se o brilho dela estivesse se mexendo em vários pedaços e áreas diferentes dela, quase como se pulsasse. Através dela eu conseguia ver que existia alguma coisa, porém ela era embaçada, não conseguia saber o que era exatamente.

— Consegue ver alguma coisa? – Kyungsoo pergunta forçando os olhos.

— Não nada. O que acha que...

Dou dois passos lentamente para frente e então sou atingido por uma nuvem de gás roxo bem na altura do rosto. Ele é pesado e espesso, quase oleoso e me entala ao entrar em meu nariz, sinto falta de ar, minha cabeça fica leve e minhas pernas bambeiam. Caio de joelhos tossindo e arranhando o chão desesperado por ar e tentando fazer ele chegar aos meus pulmões, não havia percebido, mas havia fechado os olhos e os sinto lacrimejarem, o gás os irritou também.

De repente tudo some e puxo o ar com força e um ruído que aos meus ouvidos soou patético e desesperado, encho o peito e os pulmões de ar e fico ofegante por alguns segundos tentando entender o que aconteceu. Olho em volta e preciso piscar e esfregar os olhos para entender o que estou vendo.

Meu estomago fica gelado por dentro e meu corpo é banhado por adrenalina e desespero.

O rosto de Kyungsoo está a poucos centímetros do meu, os grandes olhos vidrados e surpresos, porém estáticos, a pele pálida de uma maneira doentia exceto por pequenos pingos salpicados em sua bochecha direita. Olho para o chão e uma poça de sangue está embaixo dele e até mesmo mela meus dedos.

Aterrorizado olho além e vejo seu corpo caído no chão em um ângulo estranho e torto e um grande talho em sua nuca e seu peito, de onde o sangue sai.

Seu corpo pequeno está aos pés de uma criatura mediana de pele cinza, braços longos de dedos finos, olhos redondos, pretos e dentes pretos se projetando para fora da boca. As garras ainda pingando sangue.

Dou uma última olhada no meu amigo caído no chão, os olhos surpresos e a boca aberta em um possível pedido de ajuda que eu não pude atender. A dor e o desespero que sinto ao vê-lo tão pequeno e indefeso, só dura um momento antes do ódio e da fúria me deixarem cego e com desejo de vingança.

Deixo o fogo me consumir e o dragão já me envolve antes mesmo de eu estar de pé.

CHEN

 

Só me jogo no chão antes de sequer entender o que está acontecendo e agarro a mão de Suho enquanto ele está sendo puxado por alguma coisa que o agarrou pelo pé. Tento pegar algum ponto de apoio, mas é inútil, tudo que consigo é rasgar minhas roupas e um pouco dos meus joelhos.

Solto uma mão e atiro raios para frente tentando acertar o que quer que seja que o está puxando, mas se consigo atingir, não faz efeito algum. Atiro um raio no que o puxa pelo pé e consigo partir antes que entrássemos na nuvem de fumaça.

O que o puxava se parte e o pedaço que ainda está agarrado ao seu pé expele um líquido esbranquiçado e ralo e quando é jogada no chão fica se retorcendo.

Parece uma língua.

O que poderia ter uma língua daquele tamanho?

Ajudo Suho a ficar pé e ficamos em guarda para tentar fazer alguma coisa. A comunicação é algo fora de questão, meus ouvidos ainda apitam e acredito que os dele também.

Seja lá o que tenha voado e tentado agarrar Suho, reaparece e me agarra pelo tornozelo também e só sou derrubado pela surpresa do ataque, agarro com as duas mãos e parto em dois novamente, enquanto o pedaço decepado se retorce no chão, continuo segurando a parte está oculta e eletrocuto antes de soltar.

Realmente é uma língua, descarrego uma carga muito alta e forte de eletricidade, tem que ser muito forte para poder fazer efeito em uma criatura que tenha uma língua enorme assim.

Suho me ajuda a levantar e então no segundo seguinte sinto o chão tremer um pouco novamente e algo sai da fumaça, o chão treme de novo e então a criatura está fora.

Nas quatro patas ela consegue ser o equivalente a dois de mim, eu quero comparar com um sapo, a bocarra gigantesca em uma cabeça com grandes olhos, o corpanzil maciço e as patas curtas, mas as patas têm garras curvadas, a pele parece muito áspera para ser um sapo, a cor esverdeada é até parecida de fato, mas os dentes do tamanho do meu braço aparecendo para fora da boca não.

Para minha surpresa, ele escancara a bocarra e descobrimos de onde veio o estouro alto, havia sido ele, um mecanismo de fragilizar suas vítimas talvez? Atiro um raio bem no meio da boca aberta, ele não parece se abalar muito, mas pelo menos fecha a boca. Se antes meus ouvidos estavam apitando agora tenho certeza que devem estar sangrando.

Suho toca meu braço e gesticula enquanto move a boca. “Onda” acho que é isso que ele está falando e pelo gesto é o que parece também. Se me lembro bem, ele precisa de alguns momentos para poder fazer uma grande onda, deve dar jeito na fumaça e nesse sapo gigante, dependendo do tamanho da onda que ele fizer.

Tento argumentar, eu sei que essa onda exige muito dele e é até um pouco perigosa, não sei se dará conta da fumaça e mesmo que dê, pode sugar demais as energias dele de uma vez só e temos um grande problema a nossa frente, mas ele não me ouve, não consegue e não quer, ele vai fazer a onda.

Ele se agacha e começa a se concentrar, acho que devo ficar de cobertura para ele. Fico na frente e espero alguma coisa aparecer de dentro da nuvem de fumaça. O suor escorre pela minha testa e sinto meu corpo dolorido da tensão que coloco nos músculos, mas a verdade é que adoro essa sensação de perigo e a adrenalina que ela me traz.

Eu gosto de sentir que estou fazendo algo, sendo útil.

A bocarra volta a se abrir e mais uma língua sai voando em minha direção novamente e logo atrás mais uma. Quantas línguas esse monstrengo tem? Me abaixo e a língua que mirava meu rosto acaba fazendo uma curva vazia, mas a que mirava meu estomago vem rápido demais e me pega pelo pescoço.

O tranco que sinto faz meu pescoço estralar e me tira o ar instantaneamente, mais uma vez começo a ser arrastado pelo chão e agora sinto meus joelhos rasgarem no processo. Faço uma corrente passar pelo meu corpo, mas o sapo não parece sentir, preciso partir sua língua de novo e assim o faço, mas acho que demoro demais.

Quando o pedaço da língua enrolado no meu pescoço é cortado e começa a expelir o sangue esbranquiçado do sapão gigante e eu caio de barriga para baixo no chão, olho para frente e vejo as garras curvadas muito perto de mim. Em uma velocidade que eu não achava possível para um bicho daquele tamanho, ele se apoiou nas patas traseiras e veio com toda a força para baixo.

Para me acertar.

Para me matar.

Concentrando toda minha força, atiro um raio para cima que atinge a pata direita do sapão e a frita no mesmo instante, ele escancara a bocarra, gritando talvez, e em um momento de fúria, me acerta com a pata esquerda, não com as garras, mas consegue me jogar com força contra a parede. Antes do impacto, envolvo meu corpo em um escudo de raios que amortece, em partes o impacto, mas ainda sinto grande parte dele.

Venho ao chão com meu corpo todo dolorido, não sei qual lado dói mais, o lado que foi atingido pela pata do monstro ou o que bateu na parede, mas sei que tusso e sangue banha minha boca, tento me levantar e sinto meu pé direito ceder ao meu peso ao mesmo tempo que uma dor aguda explode dele.

Olho para Suho e ele se levantou.

A onda está pronta, mas não sei se irá ajudar contra um sapo daquele tamanho.


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