CATS - Filhotes em sua cabeça escrita por Lino Linadoon


Capítulo 1
Filhotes em sua cabeça




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   “Eles são uma graça...” Mistofolees riu enquanto a pequena gatinha branca brincava com seus dedos.

   “Eles são, não são?” Plato sorriu, fazendo uma careta para o filhote malhado em suas patas. O filhote riu, batendo de leve no rosto do pai.

   Mistofolees riu, ouvindo Victoria suspirar ao seu lado, baixando os olhos cansados para o filhote preso a seu peito.

   Era ainda difícil aceitar que Victoria agora era uma mãe, para Mistofolees ela iria para sempre ser sua inocente irmãzinha mais nova, mas ele estava feliz por ela.

   Victoria sempre desejou ter filhotes e esse desejo se tornou ainda mais forte uma vez que ela começou uma relação com Plato. Foi só preciso alguns meses para eles anunciarem a novidade para a tribo. Parecia até que tinha sido ontem que os dois tinham participado como o principal casal no Baile Jellicle, celebrando a família que crescia.

   Não é preciso dizer que Bustopher Jones ficou para lá de feliz! Suas visitas até se tornaram mais comuns durante a gravidez de Victoria ele sempre trazia consigo presentes para a rainha – comida, na maioria das vezes.

   Enquanto isso, Alonzo reclamava de modo brincalhão sobre o fato de que sua irmã mais nova estava sendo a primeira da família a ter filhotes; mesmo que, dentre os três, ela era a que estava em um relacionamento há menos tempo. Cassandra parabenizou Victoria com um sorriso, rindo baixinho enquanto as duas comentavam em como seria ajudar a gata branca a cuidar de seu futuro filhote, ou filhotes.

    Mistofolees nunca teve muito certeza de como se sentia em relação à filhotes – ele tinha praticamente deixado seus anos de filhote para trás fazia poucos meses. Ele sabia que eles davam bastante trabalho para cuidar, mas com os filhotes com quem ele já tinha vivido e interagido, Mistofolees havia descoberto como era fácil mantê-los entretidos com simples truques de mágica. Ele até se ofereceu para ajudar sua irmã caso um pouco de distração mágica fosse necessário, arrancando risadas de Plato e Victoria.

   Agora, cá estava ele, sentado na toca de Plato e Victoria, segurando um de seus sobrinhos; mais precisamente, sua única sobrinha.

   “Então, como vai a vida de mãe?” Ele perguntou à gata branca, tentando segurar uma risada com o olhar que recebeu dessa.

   “É duro...” Victoria grunhiu, desviando os olhos para a filhote nos braços de Mistofolees, que já estava caindo no sono. “Miangellica é a mais fácil de lidar. Enquanto isso, os irmãos só ficam pedindo por leite e mais leite...!” Ela suspirou. “Que bom que eles já estão começando a desmamar...”

   O casal teve três filhotes adoráveis: a mais velha era a única fêmea, branca e praticamente idêntica a Victoria, cujo nome era Miangellica, o nome de sua avó – todos os três irmãos monocromáticos esperavam ansiosamente para saber se ela era mesmo a reencarnação de sua mãe ou não; e dois machos, um malhado com tons marrom-alaranjados, Pettelin, e o outro um gato ruivo, chamado Cayan.

   “Mas deve valer a pena, não?” Mistofolees perguntou em tom baixo, reposicionando Miangellica quando essa se moveu, bocejando.

   “Sim. Com certeza vale a pena.” Victoria sorriu, levando uma pata para afagar os pelos de sua filha.

   Quando Mistofolees saiu da toca do casal – uma vez que os filhotes tinham finalmente dormido e Plato e Victoria desejavam aproveitar o momento de silêncio sozinhos – o gato de smoking continuou a pensar sobre filhotes.

   Sua irmã não era a única gata com filhotes novos, outras pelo ferro-velho estavam gravidas ou com uma nova ninhada as seguindo por aí, enquanto outros casais planejavam aumentar suas famílias com um sorriso no rosto. Aquilo não era nada incomum, o ferro-velho sempre estava vibrando com nova vida – seja de filhotes ou de recém-chegados de fora.

  Mistofolees continuou seu caminho pela principal área aberta do território e pode ouvir o som de gatos rindo e fêmeas suspirando antes mesmo de se aproximar do grupo.

   “Ei, Faíscas!” Rum Tum Tugger sorriu, sua atenção totalmente trocando de foco, das fêmeas risonhas para seu companheiro.

   “Oi, Misto!” Etcetera e Electra falaram em uníssono enquanto o gato magico se aproximava do grupo.

   As jovens fêmeas se afastaram para deixar que Mistofolees se sentasse ao lado de Rum Tum Tugger, que envolveu a cintura do menor com um braço, o puxando para perto, como costumava fazer.

   “Então? Como vão aqueles dois?” O Maine Coon perguntou.

   “Eles estão descansando agora. Os filhotes finalmente resolveram dormir.” Mistofolees disse.

   “Eles são tão fofinhos, não são?” Jemima disse, abraçando o braço de seu tio. “E a fêmea se parece tanto com a Victoria!”

   “Sim, são fofos, mas também dão tanto trabalho...” Mistofolees mencionou, se lembrando da expressão cansada de sua irmã.

   “Jenny diz o mesmo, o tempo todo.” Electra se pronunciou. “Mas ela está sempre feliz quando tem novos filhotes para cuidar!”

   “Ela tem coração de mãe. Sempre cabe mais um.” Tugger deu de ombros, com uma piscadela para seu companheiro. “Uma toca de mãe, também.”

  Mistofolees riu, balançando a cabeça com as memorias de seus anos de filhotes, quando costumava dormir em uma pilha de pequenos gatinhos no meio da toca quente da velha Gumbie Cat. Sempre que Tugger se juntava ao grupo, ele gostava de se jogar em cima de todo mundo, praticamente esmagando Victoria e Mistofolees , que eram os menores.

   “Eu quero ter filhotes um dia!” Etcetera disse de modo animado, agarrando as patas de Electra. Todos ficaram quietos, surpresos com as palavras da jovem gata, até mesmo Electra. “Vamos ter filhotes juntas!”

   “Sim!” Electra disse, após se recompor, sorrindo de modo tão animado quanto a malhada.

   “Vocês vão precisar de um macho para ajudar, Cettie.” Mistofolees mencionou, rindo com a inocência da jovem rainha.

   “O Tugger pode ajudar!” Etcetera disse em um tom agudo e agitado, suas bochechas ficando rosadas.

  Mistofolees se surpreendeu com o comentário, se voltando para seu companheiro. Tugger simplesmente balançou a cabeça e riu, já tinha ouvido aquilo várias vezes antes. Mistofolees notou um leve tom de timidez tanto na voz quanto na expressão de seu companheiro e ele não conseguiu deixar de sorrir.

   “Bem, talvez depois de vocês dançarem no próximo Baile Jellicle, podemos falar sobre isso.” Ele disse com um rolar de ombros e as jovens gatas começaram a conversar entre si sobre filhotes animadamente.

   Tugger lançou um olhar e um sorriso para Mistofolees , mas tudo o que o gato mágico fez foi encolher os ombros. Barrigas-de-aluguel e doação de esperma era normal entre os Jellicles – e a maioria dos gatos – e vendo que Tugger era um gato tão amado pela tribo, não era surpresa saber que alguns gatos tinham interesse em receber a “ajuda” do Maine Coon para formar uma família. Mistofolees se lembrava de quando Tugger, desde jovem, lhe contava sobre todos os convites que recebia dos outros gatos, sempre com aquele típico sorriso torto dele no rosto, mas também com aquele tom tímido que apenas o gato de smoking parecia notar.

   Ouvindo aquilo mais uma vez, depois de tanto tempo, Mistofolees se encontrou pensando. Ele nunca tinha conectado Tugger à ideia de paternidade, pelo menos não seriamente.

   “E vocês dois?” Sillabub perguntou, tirando o gato preto e branco de seus pensamentos.

   “O que?” “O que?” Tugger e Mistofolees perguntaram ao mesmo tempo.

   “Quando vocês vão ter filhotes?” A fêmea levemente amarelada perguntou com uma risadinha e as demais gatas assentiram animadamente, erguendo olhos curiosos e brilhantes para o casal, suas caudas erguidas e curvadas com interesse.

  Mistofolees e Tugger se entreolharam, sem saber como reagir àquela pergunta. A expressão de Tugger era difícil de descrever e Mistofolees sabia que estava refletindo-a com perfeição; Tugger parecia até mesmo confuso, talvez um pouco nervoso.

   “Eu não sei... O Tugger já dá tanto trabalho sozinho...” O mágico se forçou a ser o primeiro a falar, tentando ignorar a pergunta com uma piada.

   “Ei!” Tugger choramingou em tom de ofensa, fazendo as fêmeas rir.

   O tema foi logo esquecido, com Tugger começando uma conversa sobre outra coisa que rapidamente tomou toda a atenção das pequenas. Em segundos, ele estava de pé, começando a mover a cintura daquele modo que fazia Mistofolees revirar os olhos de modo exasperado, mas afetuoso.

   Lá estava aquele mesmo detalhes que Mistofolees sempre havia notado: a surpreendente facilidade que Tugger tinha em lidar com gatos mais novos.

   Tugger era bom com filhotes, Mistofolees já sabia disso, mas ele nunca tinha pensado muito a fundo. Ele sempre tinha sido um bom tio para Jemima e Sillabub e, de algum modo, sempre sabia como lidar com filhotes no geral; sabendo sempre como fazer com que obedecessem e se comportassem, até mesmo quando estava gritando animadamente ao redor dele.

    Mistofolees tinha quase certeza de que nunca tinha pensado em Tugger tomando a posição de pai algum dia em sua vida, mas tinha ouvido coisas sobre isso; principalmente de Munkustrap, que aparentemente sempre desejou que seu irmão mais novo começasse uma família com alguém; mas também dos gatos mais velhos, que sempre sentiam a necessidade de comentar sobre a natureza, sempre inconstante, irresponsável, um grande flerte, e como aquilo não era uma boa influência para os mais jovens da tribo.

   Honestamente, muitos gatos acreditavam que Tugger um dia teria alguns filhotes, uma vez que sempre vivia pulando de fêmea para fêmea, pelo menos até se relacionar com Mistofolees – não que ele não saísse para se divertir com outras fêmeas e machos de vez em quando, especialmente quando o gato preto e branco não estava com vontade de fazer mais do que ficar abraçados. Era assim que os dois haviam decidido que seu relacionamento funcionaria, era algo até comum para muitos outros gatos da tribo, e ambos estavam felizes com a decisão.

  Mistofolees não conseguiu deixar de manter um olho aberto para qualquer filhote de aparência Maine Coon andando por aí, desde que Jellylorum havia feito um comentário sobre tal. Se Tugger já tinha divido seus genes com alguma fêmea, eles não pareciam ter florescido. Mas não era como se Tugger não fosse contar sobre tal coisa para Mistofolees, os dois dividiam tudo, Mistofolees provavelmente seria o primeiro a saber.

   E, por um momento, o gato mágico não conseguiu deixar de imaginar o Rum Tum Tugger desfilando pelo ferro-velho com uma ninhada de Maine Coons seguindo seus passos. Talvez até com uns gatinhos de smoking misturados com os Maine Coons...

  Mistofolees balançou sua cabeça.

   “Misto?”

   “Ah, sim, Jems?” O gato preto e branco se voltou para a jovem avermelhada que tinha se arrastado até ele.

   “Tugger disse que você está trabalhando em novos truques de mágica! Você mostra pra gente?” Ela perguntou num tom de animação digna de um filhote, embora já fosse uma adolescente. As outras fêmeas se juntaram à Jemima, agarrando-se à Mistofolees do mesmo modo que faziam com Tugger; que estava sorrindo para seu companheiro, a cabeça inclinada para o lado e uma sobrancelha erguida.

  Mistofolees apreciou a distração, e depois de lançar mais um olhar para Tugger, que apenas deu de ombros, ele se levantou, movendo as patas no ar e produzindo brilhos e faíscas que fizeram as fêmeas rir.

   Ele se deixou distrair de seus pensamentos bobos.


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