Naquele momento, pensei o pior. Pensei que a vovó ia ter um infarto, que fosse desmaiar, que fosse fazer uma cena na frente de todo mundo e que estaríamos na capa dos jornais do dia seguinte. Pensei um monte de coisa, mas vocês sabem, é a vovó. O ser humano mais imprevisível do mundo. Dessa vez em especial, seus músculos da face relaxaram e seus dedos devolveram o papel pra mim. 

— Vó? Está tudo bem? — perguntei, cheia de receio.

— Termine de preencher, eu vou tomar um ar lá fora.

E aí ela caminhou, muito lentamente, entre o emaranhado de famílias bruxas, sumindo pela fila e pelo salão. Tomei o cuidado de preencher o mais rápido que pude para alcançá-la ainda no meio do trajeto. Ela me olhou de modo assustadoramente calmo, estendeu o braço para que eu o tomasse numa aparatação guardiada e esperou que eu me aproximasse.

Entretanto, antes que eu tivesse coragem de abrir a boca, suas palavras vieram como tiros alarmantes. Uma ameaça velada, cujo tom eu já estava acostumada, apenas como expectadora, quando um de meus tios ou primos falava alguma besteira. Em minha intenção era a primeira vez. 

— Em casa, a gente conversa.