Antes que eu vá escrita por Sofia Lyra


Capítulo 3
Um apelo sem resposta




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— Não tem graça Jimin. – Jin foi o primeiro a se recuperar do choque. Sua expressão era severa, seus olhos sempre tão alegres e joviais, agora, estavam opacos e sérios.

— Eu queria estar brincando. – Respondi no mesmo tom. Ouvi um arfar ao meu lado, e não precisei olhar para saber quem era, eu sentia sua presença em qualquer lugar. Não me atrevi a olha-lo, não conseguiria me manter de pé se o fizesse. – Há algumas semanas tenho sentido muitas dores de cabeça, pensei que fosse apenas estresse devido a entrega do meu livro e não quis preocupa-los, por isso não disse nada. Eu não poderia imaginar que seria apenas o começo.

Todos me encaravam com expressões variadas de choque e tristeza. Jin mantinha-se imóvel tentando absorver­ as informações, Namjoon recuperado do choque, estava ao seu lado segurando sua mão com força. Taehyung, mesmo sendo o mais espontâneo entre nós, era incapaz de produzir algum som, apenas abria e fechava a boca várias vezes enquanto apertava os braços de seu namorado Hoseok, este que tinha lágrimas nos olhos, mas segurava-as para dar apoio ao mais novo. Yoongi, aquele que alguns consideram uma pedra de gelo estava chorando, seus olhos, ainda que frios para algumas pessoas, pareciam dois rios transbordando.

— As dores de cabeça são causadas por um tumor no cérebro. Aparentemente o tenho a anos, crescendo silenciosamente junto a mim durante toda a vida. E talvez tivesse permanecido assim, se não tivesse expandido recentemente. – Resumi a longa explicação médica com termos que até agora não ouso compreender. Apenas Namjoon, o único médico da sala, parecia compreender minhas divagações.

Novamente ouvi um arfar ao meu lado quando me dirigi a janela. Olhei para a chuva laranja caindo lentamente no parque. Não me cansava de vê-las desprenderem-se dos galhos e rodopiarem em direção ao solo, um final gracioso para uma curta existência. Será assim quando chegar minha hora?

— Na última semana fiz todos os exames imagináveis para tentar encontrar uma falha, algo que provasse se tratava de um erro médico, mas todos trouxeram o mesmo resultado. –Minhas mãos estavam na janela fria, traçando linhas imaginárias. – Todos me deram o mesmo tempo. Alguns um pouco mais se me tornar um rato de laboratório, mas ainda assim muito menos do que um dia imaginei que teria.

Os arfares tornaram-se mais altos no silencio que se abateu na sala mas continuei de costas para Jungkook. A vontade de abraça-lo me corrói, aperto a moldura da janela para não olhar em sua direção. Não quero que vejam o quão quebrado estou neste momento.

Morrer jovem. Talvez um dia tenho isto tenha soado poético para um escritor como eu, mas agora não passa de uma piada sem graça feita pelo destino.

Sinto meus olhos arderem novamente, mesmo depois de dias chorando, as lagrimas continuam incessantes. São lágrimas por planos não concretizados, sonhos não realizados...por uma vida inteira que não será vivida.

Antes que eu pudesse me recompor e colocar novamente a máscara de resignação em meu rosto, senti braços fortes envolverem meu tronco prendendo-me ao seu corpo com força e desespero, como se eu fosse desaparecer se me soltasse.

Seu abraço ainda que sufocante, era reconfortante e logo vi-me anestesiado pelo misto de sentimentos que sempre me atingem quando estou em seus braços. O carinho, cuidado, segurança e, simplesmente, o amor, transmitidos por ele eram tão familiares a mim quanto o ar que respiro, mas que nunca deixa de me surpreender ou tirar-me o fôlego.

Enquanto perdia-me nas sensações em que me declaro viciado, percebi que Jungkook continuava a sussurrar, repetindo algo continuamente como uma prece. Sua voz era tão baixa que mesmo com a inexistente distância entre nós, não conseguia escutar. Curioso, apertei meus braços ao seu redor e me aproximei de seus lábios.

Jimin.

Meu nome. As palavras ditas com tanta devoção não eram nada além de meu nome.

 


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