Antes que eu vá escrita por Sofia Lyra


Capítulo 2
Outono


Notas iniciais do capítulo

Se alguém estiver lendo, espero que goste.



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"Às vezes tudo o que precisamos é que alguém nos encontre."

Sofia Lyra.

 

As folhas caiam sem parar naquela tarde cinzenta de outono. As folhas secas e alaranjadas amontoavam-se em baixo das árvores, tornando o cenário ainda mais belo para a pequena criança que corria pelo parque.

Suas pernas curtas andavam o mais rápido que podiam, enquanto seus braços balançavam animadamente ainda que presos pelas muitas roupas de inverno. O pequeno parecia uma bolinha de tecidos com tantos casacos para protegê-lo na tarde fria, entretanto, isto não parecia incomodar o menino que continuava a brincar, pulando nos montes de folhas.

Jimin, em seus recém-completos 6 anos, era um "menino grande" como dizia sua mãe, gostava correr e correr por horas sem parar, e naquela tarde não era diferente. Embora a primavera fosse sua estação favorita, o tímido garoto gostava das folhas secas do outono, ficava fascinado com as mesmas caindo lentamente das árvores. O parque localizado no centro da cidade parecia mágico com a chuva laranja caindo pela força do vento.

Finalmente o pequeno menino cansou-se e jogou-se em mais um monte de folhas abaixo de uma arvore. Ele ria enquanto jogava as folhas para o ar, mas logo parou ao ouvir um barulho próximo a si. Curioso, Jimin levantou-se tirando as folhas que cobriam seu corpo e deu a volta na arvore em busca do causador do estranho chiado.

—Olá. – disse ao encontrar um menino encolhido chorando ao lado de um cachorro. – Por que esta chorando?- questionou ao se aproximar, mas logo parou com ao ouvir o latido do filhote de cachorro que o acompanhava. O menino desconhecido apenas acariciou seu bichinho para aquieta-lo, Jimin aproximou-se novamente, desta vez sentando ao lado do garoto. –Por que esta chorando?

Sem resposta novamente.

­–Mamãe sempre me diz que falar sobre o que machuca faz bem para o coração. ­– Jimin continuou a falar sem importar-se com o silencio do companheiro. –Sempre que fico triste meu coraçãozinho dói. O seu esta doendo? 

Após um longo momento de silêncio, em que já pensava que seria ignorado novamente, ouviu um fungar e viu o menino assentir enquanto esfregava os olhos para limpar as lagrimas. 

O dono do filhote de cachorro era pequeno, ainda menor do que ele mesmo e também aparentava ser mais novo. Seus cabelos e olhos eram castanhos, mas não da mesma cor que os seus, eram mais escuros, mais bonitos. Ele trajava uma calça preta e um casaco da mesma cor, roupas muito escuras que pareciam não combinar com o menino de olhos gentis.

—Qual seu nome? –perguntou ao menor que havia parado de chorar.

— Minha mãe disse para não falar com estranhos. – O menino de cabelos escuros respondeu.

—Mas você já esta falando comigo. – Jimin respondeu enquanto sorria. –Sou Jimin, mas a mamãe me chama de Jiminie.  – O garoto de cabelos escuros o olhou atentamente antes de dizer com a voz baixa e rouca pelo choro.

—Jungkook. Meu nome é Jungkook.– o menino disse enquanto voltava a se encolher.

—Jungkook...Jungkookie.– Jimin parecia testar o som do nome de seu novo amigo.– Vou te chamar de Jungkookie!

­–Por que? – o pequeno menino questionou enquanto fazia um bico. Não queria conversar com o menino estranho que sentava ao seu lado, mas não gostava do apelido, pois ele já era grande, tinha 4 anos.

—Porque eu gosto de Jungkookie!– Jimin respondeu como se fizesse toda lógica do mundo.

—Aish... – O menino com olhos de chocolate tinha as bochechas rosadas enquanto reclamava- Então vou te chamar... Vou te chamar de... Jiminie.

Jimin sorriu, feliz que o menino parecia esquecer-se do que lhe deixava triste.

—Quantos anos você tem Jungkookie? – questionou percebendo quão pequeno o companheiro era em relação a si.

— Eu tenho 4 aninhos!– Jungkookie lhe respondeu abrindo um sorriso pela primeira vez. Mesmo contido seu sorriso o deixa ainda mais fofo, parecia um coelhinho.

—Eu sou mais velho! Tenho 6 anos. – Jimin exclamava orgulhoso.

—Então você é meu Hyung! – Jungkookie disse surpreso, o pequeno filhote que lhe acompanhava latiu animado ao ver que seu dono não mais chorava.

— Seu cachorro é engraçado Jungkookie.  –Jimin ainda sentado ria com as lambidas do cachorro em seu rosto.

—Ele gostou de você Hyung.– o acastanhado respondeu sorrindo. Agora quase não se via resquícios de choro, apenas o nariz mantinha-se avermelhado.

—Por que estava chorando? – Jimin tornou a perguntar ao menino.

—Por que o papai mentiu pra mim! – Jimin quase se arrependeu de perguntar ao ver o pequeno sentar-se encolhido outra vez.– Ele disse que voltaria...ele disse que sempre voltaria, mas ele mentiu. Mamãe me disse que agora ele é uma estrela no céu! Como ele voltará agora que é uma estrela?!

Jimin, apesar da pouca idade compreendeu o que isto significava. Seu avô havia partido para o céu e se tornado uma estrela há algum tempo. Ele ainda sentia falta das histórias e abraços do mais velho, mas sua mãe sempre dizia que quando tivesse saudade deveria olhar para o céu e buscar a estrela mais brilhante, logo saberia que era seu avô.

Jungkookie...–o menino começou mas logo foi interrompido.

—Ele prometeu que sempre voltaria! Ele me deixou... Ele mentiu pra mim! – o pequeno repetia em meio aos soluços. – Eu odeio mentiras.

—Ele não quis fazer isso Jungkookie.– Jimin disse enquanto abraçava o novo amigo.– Ele não mentiu por mal, ele não voltou por que tinha que ir rápido para o céu assim como meu avô. Minha mãe me disse que apenas as pessoas mais amadas tornavam-se estrelas no céu. Você ama seu pai? – "muito" ele ouviu o pequeno fungar ainda com o rosto escondido em seu peito.—Então agora ele é a estrela mais brilhante do céu, tenho certeza.

— De verdade Hyung?– o pequeno Kookie questionou soltando-se do abraço– Você não esta mentindo?

—Não.– Jimin negou com firmeza para seu novo amigo.– Eu não minto!

—Nunca vai mentir? – assenti rapidamente– Jura? De mindinho?– O pequeno ressaltou já levantando o dedo mindinho.

—Juro de mindinho que nunca mentirei pra você Jungkook.– Jimin jurou enquanto entrelaçava seu dedo ao do menor.

Pronto. A maior promessa de todas havia sido feita. A promessa de mindinho. Para algumas pessoas talvez não fosse tão sério, mas para aqueles garotos, era uma promessa para a vida toda.

Se abraçaram mais uma vez para selar aquela promessa, esta que daria inicio a uma bela história de amizade e amor – não que soubessem disso, não ainda.

FlashBack

Mesmo após 18 anos, ainda me lembro daquele dia com clareza, e sempre que vejo a queda das folhas de outono me perco nas doces lembranças. 

Por isso comprei meu apartamento no prédio em frente aquele mesmo parque. Gosto de divagar em pensamentos enquanto observo a paisagem tranquila, sentado no pequeno acolchoado da  janela. Jungkook costuma dizer que este é meu cantinho especial. Eu sempre sorrio e mantenho-me em silencio, guardando aquele pequeno segredo para mim mesmo.

Hoje mais uma vez as folhas caíam em uma fria tarde de outono. Por fora, a calmaria do outono se mantinha intacta, porém por detrás daqueles vidros, que pareciam separar duas realidades distintas, acontecia uma guerra.

Palavras desconexas eram ditas a todo o momento, gritos e pedidos de silencio soavam em meio ao tumulto. Todos queriam falar, expor seus sentimentos, sejam de raiva, tristeza ou apenas preocupação. Enquanto isso eu apenas observava meus amigos discutirem entre si temporariamente em uma aparente disputa sobre quem fala mais alto.

—Quietos! – Jin gritou perdendo a paciência. – Calado! – disse rapidamente ao ver Taehyung abrir a boca.– Agora sim, Jimin querido, poderia nos explicar porque se isolou neste apartamento por uma semana, e não nos atendeu ou nos deixou entrar? E espero que haja um motivo para ter ignorado minha existência! – terminou com as mãos na cintura e uma expressão que dizia claramente "não me obrigue a te dar uns tapas!".

Pelo visto não teria escapatória, teria que lhes dizer a verdade, não que quisesse mentir, apenas não queria contar-lhes desta forma. Infelizmente, esta seria outra coisa que não poderia mudar.

Suspirei levantando-me da poltrona em que estive sentado nas ultimas horas, desde que Jungkook convocou nossos amigos, e me dirigi a mesa de centro em que meus exames – ou minha sentença se preferir – permaneciam intocados e os entreguei a Namjoon, que me olhou confuso antes de começar a ler. Em poucos segundos, sua expressão passou de confusa para incrédula.

—Jimin não...isso...isso não pode ser verdade.  – ele gaguejou ainda em choque atraindo ainda mais a atenção de nossos amigos, afinal eram raras as vezes que o víamos gaguejar. O papel balançava em suas mãos tremulas enquanto o mesmo mantinha o olhar fixo em mim, buscando algum indicio de que aquilo fosse uma piada, uma brincadeira de mal gosto. Apenas assenti para ele em confirmação.

— O que esta acontecendo Jimin? – Jungkook que se mantinha calado desde que nossos amigos chegaram questionou. Namjoon  ainda permanecia paralisado, quando Jin preocupado arrancou o exame de suas mãos e começou a ler.

— Um exame? O que isto quer dizer Jimin? – Jin perguntou sem entender o conteúdo. 

Hoseok, Taeyung e Yoongi se aproximaram dele tentando ler, mas permaneceram com a mesma expressão confusa. Olhei para todos, tentando buscar forças para o que viria a seguir, e por fim, olhei para Jungkook que me observava com aflição. Me perdoe meu amor... Irei me tornar uma estrela no céu.

— Quer dizer que eu estou morrendo. – Eu disse por fim.

 


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