What If? Um Destino Distorcido escrita por Kureiji


Capítulo 6
Capítulo 6- Jonathan




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Uma noite após eu me tornar um vampiro

 

Eu enterrei o corpo de Jimmy, ninguém vai desconfiar que eu o matei, no nosso último diálogo entendi que ele fazia aquilo escondido da própria família. Quando o sol estava raiando pedi para que todos os serviçais da casa tirassem o dia de folga, não queria ninguém perto de mim no momento, era um risco.

Agora já eram 18:30 da noite e o sol estava se pondo, eu havia descansado bem e já não sentia mais as náuseas. O desejo de sangue ainda estava presente, só que agora era mais como uma necessidade de sentir aquele prazer novamente, mais semelhante à gula do que à fome.

Toc Toc

Era Erina, decidi que compartilharia meus momentos de dor e fraqueza com ela, afinal foi minha solidão que me guiou a eles.

—Boa noite Jonathan-San- Ela disse ao entrar, seu perfume preencheu a sala.

—Boa noite.

Eu estava de máscara, queria evitar o máximo de tentação para que não viesse a lhe causar mal.

—Aconteceu algo? Por que cobre seu rosto?

—Eu...Vou contar tudo, você pode se sentar?

—Sim.

Ela se sentou como uma dama, eu sentei a uma boa distância e comecei a lhe contar tudo desde que ela fora embora até a morte de meu pai.

—Meus pêsames Jonathan, sinto muito que eu não tenha ficado aqui com você...

—Tudo bem, você não tem responsabilidade disso. Você também sofreu e tenho certeza que deve ter muitas histórias desses anos que se passaram.

—Sim, mas continue, ainda não chegou no motivo de cobrir seu rosto, não é?

Continuei, tive cuidado em contar cada parte. Quando cheguei no dia que tentei tirar minha própria vida eu gaguejei, fiquei um pouco calado sentindo uma sensação desconfortável no coração.

—Desculpe...É difícil falar sobre isso.

—Sinta-se à vontade para dizer quando quiser Jonathan, eu estarei aqui por você.

—Obrigado por isso, mas eu preciso contar agora.

Senti-me aliviado dela ter sentado distante, não me sentiria seguro em um abraço dela.

Prossegui e contei sobre o meu momento mais íntimo, ela pareceu horrorizada e também profundamente preocupada, continuei contando sobre como acordei diferente e como ela havia me visitado justo nesse momento. Terminei a história após a parte de Jimmy.

—Então...Você matou alguém?

—Sim...

—Jonathan...Eu não consigo compreender o tamanho da sua dor...

—Faça o que quiser...Eu sei o que me tornei, eu precisava contar isso a você ainda que eu vá para prisão, ou morra.

Ficamos calados, era muita coisa para ela absorver.

Aquilo tudo era muita informação pra mim também, muitos sentimentos misturados a dor que empalava meu corpo, até que minha angústia se materializasse em lágrimas.

Erina foi até a mim ,encostou minha cabeça nela e começou a passar a mão em meus cabelos.

—Você não é um monstro Jonathan, só apanhou muito desse mundo até não aguentar mais. Eu duvido que outra pessoa tenha resistido tanto aos desejos dessa máscara.

—Eu preciso pagar Erina.

—Pelo que você me disse, não há prisão que consiga ou que vá querer prendê-lo, é muito perigoso.

—Então talvez eu já esteja vivendo mais do que o necessário.

Ela me esbofeteou.

—Não diga isso novamente. Sua vida não está mais em suas mãos, estou aqui com você e se você partir estará matando uma parte de mim também.

Continuei a me entregar às lágrimas enquanto ela mexia em meus cabelos e me consolava.

—Erina-san...Essa é a parte que eu tenho que falar, você não pode mais me ver, eu não sei até onde eu me controlo.

—Jonathan, você vem falando muitas coisas bobas. Eu vou vim aqui sim.

—Mas você não entende.

Shiu! Deixe-me terminar, eu vou tirar um pouco do meu sangue, e você vai aprender a conviver com isso, com pouco, tente se alimentar de comida normal ou sangue de animal, eu vou te ajudar a passar por esse processo.

—...

Ela continuou me encarando veementemente.

—Eu não tenho escolha não é? - Perguntei.

—Não.

 

                                                                                                                ***

 

4 dias após eu me tornar um vampiro.

 

A investigação sobre o Jimmy já havia se espalhado por toda zona rural e chegado à cidade também, seus familiares até perguntaram se eu tinha o visto (para eles eu era seu amigo), no entanto eu neguei.

Erina tem passado o dia aqui, eu tenho dispensado os serviçais mais cedo, eles andam preocupados com isso. Esses dias não foram tão ruins, o plano de Erina estava dando certo, ela me dava o seu sangue um dia sim um dia não.

Não era muito sangue, eu tentava compensar comendo muito e as vezes ela trazia sangue de animais -que tinham um gosto muito estranho, não trazia a sensação de satisfação, era mais semelhante a tomar remédio para uma doença.

Eu venho pensando sobre o futuro e quanto mais eu penso mais irritado fico com Dio, na realidade todos meus sentimentos se tornaram mais intensos e difíceis de se conter. Tenho me expressado abertamente para Erina sobre o que sinto e ela devolveu na mesma medida, infelizmente não são apenas os bons sentimentos que se intensificaram.

Todo o rancor que eu sentia pelo Dio aumentou ainda mais, ele foi o principal causador de todas as coisas e se estou passando por isso hoje, pior ainda, fazendo Erina passar por isso, é por culpa dele. Não tenho mais esperanças de que ele vá melhorar, de fato as vezes me pego com tanta raiva que penso em ir até a prisão e faze-lo ver no que ele me tornou. Pensamentos loucos, não sou como ele, isso não resultaria em nada de bom.

Nos últimos dias Erina pôde me contar mais sobre a vida dela, de como ela sentiu minha falta, de como foram os anos na universidade e trabalhando como enfermeira. Também me contou sobre sua família, a vida lá não era fácil com eles, na primeira oportunidade ela passou a morar sozinha.

Pensar sobre o futuro e sobre ela me mostraram que não podemos viver juntos, eu nunca poderia dar a alegria que ela merece. Mesmo sendo uma boa ouvinte ela não entende como me sinto, não teria como ela me entender. Beber tão pouco sangue me deixa sempre tendo que controlar meus instintos, a minha sede, eu nunca me sentiria seguro deitado com ela ou passando uma noite de agonia e dor ao seu lado.

Por isso eu decidi que fugiria daquelas lembranças, daquela vida, dela. Iria queimar as provas sobre o assassinato de Jimmy e iria tentar viver uma vida em outra lugar. Antes de tudo eu deixei pago a fiança de Dio para daqui 3 dias o libertarem, é muito tentador saber que ele está como um rato encurralado ali, tenho medo de que meu ódio apenas aumente e eu acabe cometendo um ato irreversível.

Já eram vinte horas da noite, eu havia desenterrado o corpo de Jimmy e enrolado em um saco plástico. Chegou a hora de contar tudo para Erina.

—Eu tenho que partir Erina-san, obrigado por tudo, mas ...

—Mas eu não lhe entendo e você não se sente bem perto de mim, não é? Eu não sou tola, eu percebi os seus preparativos.

—Então você me entende?

—Entendo, vem, eu vou lhe ajudar, você vai queimar tudo, não é? E jogar o corpo de Jimmy na fornalha, ninguém vai prestar atenção nela com a casa pegando fogo.

—Sim, mas eu já programei tudo, o fogo vai consumir lentamente para que não chame intenção de imediato.

—Entendo...

—Então, isso é um adeus?

—Não Jonathan, eu entendo, entendo que não há como eu lhe compreender, você tem outra vida agora, eu pensei que podia lhe ajudar, mas ao que parece é muito mais complexo, não é?

—Sim.

—Me tira uma dúvida antes Jonathan, eu preciso saber, você me ama?

Por que ela estava fazendo isso? Meus olhos ficaram marejados, já me sentia confortável ao lado dela ao ponto expor minha sensibilidade.

—Sim Erina, eu te amo.

—Então me perdoe, eu vou lhe seguir sem sua permissão.

—Você não pode, pensei que tinha entendido.

—Eu entendo, e por isso.

Ela cortou uma de suas mãos.

—O que está fazendo Erina?

Meu coração acelerou e tudo que aconteceu em seguida foi muito rápido. Ela retirou o maldito objeto de uma gaveta atrás dela e disse:

—Por isso eu rejeito minha humanidade Jojo.

 

                                                                                                   ***

 

Eram meia noite logo após a transformação de Erina e a casa pegar fogo.

 

Não acredito que ela realmente fez isso...Bem, agora não temos mais tempo para pensar, carregávamos apenas dinheiro, algumas roupas e a máscara.

—Então é assim que você se sente...É tudo muito intenso.

—Sim, principalmente no primeiro dia.

—Eu sinto que lhe amo ainda mais.

Eu sorri.

—Todos os sentimentos ficam mais intensos.

Estávamos os dois no topo do edifício mais alto da cidade, escondidos. Nossa carruagem estava estacionada.

—Vamos cuidar dessa sua fome, depois pensamos no que faremos.

—Sim, você disse que os sentimentos ficam mais intensos, mas isso não é bem verdade. Nós vamos procurar algum bandido repugnante certo?

—Sim.

—Pois bem, depois de viver sozinha eu tenho tido mais nojo de homens assim, mas agora eu não sinto mais tanta raiva deles, eu sinto menos, é mais como uma indiferença.

—Faz sentido...

—Eu estou morrendo de fome Jonathan... Ao menos a morte de uma pessoa assim serviria a um propósito.

—Eu estou aqui para assegurar o contrário, não vou deixar você mata-lo, apenas irá se alimentar. Com sorte ele ficará deitado com muita fraqueza e pela manhã será apreendido pela polícia ou alguém o levará ao hospital.

Passamos umas duas horas assim até captarmos um som, nossos sentidos conseguiram dar conta do trabalho no silêncio daquela noite, era um grito de uma moça.

Não sinto mais pena desse tipo de pessoa, vi pelos meus próprios olhos como elas afetam uma cadeia de vidas, no entanto não sinto orgulho do que aconteceu, então irei apenas dizer que conseguimos o que queríamos e não o matamos, apenas o deixamos largado na rua.

—Agora podemos partir. - Eu disse- Se sente melhor?

—Com toda certeza. É tudo muito estranho, mas me sinto bem de estar com você querido.

Abracei-a. Era tão bom poder abraça-la sem sentir medo.

—Nós vamos fazer isso dar certo.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigado por acompanharem até aqui ^^. Digam o que vcs estão gostando mais ou o que acham poderia ser melhor.



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