I'm With You escrita por condekilmartin


Capítulo 3
O Retorno


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Mais um capítulo fresquinho pra vocês conhecerem o nosso mocinho! Espero que gostem ♥



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Antônio de Castro havia desistido da agitada vida em Lisboa por livre e espontânea pressão.

Ora, é claro que, como todo bom advogado recém-formado e possuidor de boas condições financeiras, o jovem estava aproveitando sua estadia na capital ocupando cada segundo dos seus dias, desde seu trabalho na empresa do amigo Luís Santos durante o dia, a festas regadas com bastante vinho e mulheres à noite.

graças a Deus que os vinhos que regavam suas noites eram os vindos da cidade de Porto. Não precisava lembrar de casa todos os dias de sua vida ali. Não precisava lembrar que a Quinta do Girassol estava apenas esperando que concluísse sua graduação para retornar ao trabalho que infelizmente lhe era de direito.

Até que seu pai o lembrou.

Manuel de Castro não aguentava mais esperar que seu filho mais velho terminasse os estudos. Antônio tinha responsabilidades com a Quinta desde que nascera e seu pai realmente esperava que o jovem não se deslumbrasse com todas as festividades e mulheres que Lisboa poderia oferecer, ainda mais com a surpresa que havia preparado. Ele só esperava que o filho não o odiasse quando descobrisse o que estava por vir.

Antônio recebeu a carta de seu pai na manhã de uma quarta-feira de maio, quando estava no escritório a trabalhar.

"Antônio,

Percebo que você já não envia mais notícias tão frequentemente para casa. Tua mãe está a desfalecer de tamanha preocupação, não sabe em que te meteste ou com quem andas.

Ainda estás a trabalhar no escritório de Luís, não é? Ou esta mensagem será escrita em vão, pois será entregue ao lugar errado, visto que este foi o endereço que tivemos na última missiva que enviaste.

Pois bem, vou direto ao assunto: preciso que voltes para a Quinta do Girassol o mais rápido que puderes. Estou a fechar um acordo importante com José Augusto de Albuquerque e preciso que estejas presente. Tenho certeza de que é um acordo que irá beneficiar muito bem o lado de Albuquerque e, mais ainda, o nosso.

Espero-te em casa até o final do inverno.

Teu pai."

O jovem advogado não sabia o que esperar desse tal acordo que o pai mencionara na missiva. De que forma iria beneficiar os Castro? E os Albuquerque? Até onde Antônio se lembrava, José Augusto de Albuquerque era um dos homens mais poderosos da região de Alto Douro, dono da fazenda de gado mais prolífera da área. Não fazia sentido fazer um acordo de tamanho porte com uma vinícola, afinal, eram negócios completamente distintos, apesar de ambas serem famílias extremamente poderosas em toda Portugal.

O que será que seu pai estava tramando e o que Antônio tinha a ver com isso? Seu Manuel nunca precisou que o filho estivesse presente para fechar qualquer acordo que já fizera em sua vida, apesar de tê-lo forçado a participar de vários para "aprender o negócio da família".

Antônio estava com uma pontada de dúvida sobre o assunto. Iria mesmo largar o emprego estável em Lisboa para retornar a Alto Douro?

Depois de alguns dias refletindo sobre o assunto, ele tomou sua decisão final. Sentia que aquele assunto, o que quer que fosse, iria mudar sua vida para sempre.

— E vais mesmo voltar para o interior? – Luís perguntou ao amigo, que havia ido ao escritório comunicar ao amigo e chefe que precisava tirar algumas semanas para resolver os problemas familiares.

— Preciso ir, meu amigo. – Antônio deu de ombros. – Mas sabes muito bem que, se eu pudesse, deixaria toda a Quinta do Girassol nas mãos de Afonso e ficaria em Lisboa para sempre.

— O dever lhe chama, Antônio, e sabes que teu irmão não é flor que se cheire quando o assunto são negócios. – Luís o lembrou. – Mas trate de me mandar um telegrama para avisar se precisar de mais alguns dias, estou sentindo que você vai precisar.

— Pois espero não ter que enviar nada para ti e voltar no início do verão, como prometido.

— Se você diz... – Luís puxou o amigo para um abraço rápido. – Até mais ver, meu amigo, e boa sorte.

— Obrigado, Luís. – Antônio devolveu o abraço do amigo e partiu rumo ao seu pequeno apartamento no centro da cidade.

Depois de conferir se todas as suas coisas estavam em ordem, o advogado seguiu para a estação de trem e, ao ocupar seu lugar dentro do vagão, se permitiu relaxar um pouco a cabeça e admirar a paisagem.

Não sabia o que estava por vir, não sabia que rumo sua vida ia tomar, não sabia que planos seu pai tinha traçado para ele, mas sabia que não teria como dizer não.

Manuel não fora um pai ruim, que lhe deixou traumatizado, nem nada do tipo, mas sempre haviam batido de frente quando o assunto era deixar o filho sair de casa e não assumir suas responsabilidades como herdeiro da vinícola e da grandiosa Quinta do Girassol. Antônio nunca quis tal responsabilidade e agarrou a primeira oportunidade que teve de ir para a capital com todas as forças que teve e estava se saindo bem, até agora.

A paisagem ia mudando à medida que o trem ia se aproximando do interior, trocando as imagens de casas modernas, fábricas e prédios em construção para a grandeza dos casarões antigos, grandes plantações e área rural, até chegar à estação que ligava os dois lugares.

Antônio precisou respirar fundo e tomar uma dose de coragem antes de descer do trem e ir para os fundos da estação, sem querer encontrar nenhum familiar ou conhecido antes de chegar à Quinta.

Só havia uma pessoa a qual ele tinha avisado que estava voltando: Vicente Martins, seu melhor amigo e jornalista local.

— Quem é vivo sempre aparece, meu amigo! – Vicente puxou Antônio para um abraço saudoso.

— Ah, Vicente, sabes muito bem que, se eu pudesse, não voltaria mais para esse lugar. – Antônio suspirou. – Embora esteja muito feliz de vê-lo.

— Mas é claro que está feliz em me ver, quem mais haveria de planejar toda a sua volta para essas terras?

— Você, obviamente. – Antônio sorriu. – Ou achas que eu deixaria tudo nas mãos do irresponsável do Afonso?

— Nem me fale do seu irmão, ele anda impossível. – Vicente deixou os ombros caírem, mas não entrou em detalhes. Aquele era um assunto que dizia respeito apenas a Antônio e Afonso, ele não tinha o direito de enfiar o nariz onde não fora chamado.

— Meu pai deve realmente estar querendo matá-lo se a notícia está tão espalhada assim, não é mesmo? – O advogado sempre soube que o irmão mais novo iria causar algumas dores de cabeça quando crescesse.

— Você vai descobrir tudo quando chegar na Quinta.

Vicente ajudou o amigo com as malas e ambos rumaram para a casa em que o advogado passara quase toda a sua vida.

Antônio precisava admitir que, por mais que adorasse a vida em Lisboa, havia sentido falta da vista de Alto Douro todos os dias. Os belíssimos lagos de águas brilhantes cercando os vinhedos de sua família e as fazendas de gado eram uma paisagem de encher os olhos. Ele podia ir para qualquer lugar do mundo, mas nenhum chegaria aos pés de sua terra natal.

Quanto mais se aproximavam da Quinta do Girassol, Antônio sentia o coração apertar, uma sensação estranha, esquisita, considerando que havia acabado de voltar para casa.

Assim que desceu do carro, precisou de um minuto para admirar a grande casa onde cresceu. O jardim de sua mãe enfeitava toda a frente da casa, dando um ar de aconchego, sem contar a vista para a plantação das uvas tão amadas de seu pai.

Em uma lufada de ar, Antônio tomou coragem para entrar em casa pela primeira vez em uns bons anos.

Ele ter voltado para casa com Vicente era uma das razões para ter chegado tão rápido: não precisou fazer a grande cena de reencontro com a família na estação de trem. Seus pais provavelmente ainda estariam o esperando e ficariam meio irritadiços quando percebessem que ele não iria chegar nunca, mas iriam sobreviver. Antônio precisava de um momento sozinho, precisava acalmar a sensação desconhecida que tomava conta de seu peito.

Não teve muito tempo para isso, no entanto. Seus pais entraram num rompante, poucos minutos depois de o advogado ter se acomodado na sala de estar.

— No que aquele garoto insolente estava pensando... – Manuel resmungava e sua voz ficava cada vez mais próxima da sala de estar. – E nós ficamos igual idiotas esperando por ele, Olívia. Falando no diabo, ah, Antônio, pelo visto seu trem chegou mais cedo.

— Sinto muito termos nos desencontrado, meu pai. Tenho certeza de que foi puro acaso do destino. – Fingiu Antônio, enquanto seguia para dar um beijo no rosto da mãe. – Olá, mamãe.

— Meu filho! Como está diferente! – Olívia abraçou o filho e depositou um beijo em sua testa. – Está ainda mais bonito, se é que isso era possível.

— Sabes muito bem que herdei a beleza da senhora. – Antônio lhe sorriu e a abraçou novamente. Sentia muita falta de sua mãe.

— Que bom que chegou bem em casa, filho. – Manuel estendeu a mão para o filho mais velho, que a apertou firmemente, encarando os olhos azuis que havia herdado.

— Todos os ossos estão no lugar. – Antônio fingiu conferir.

— Pelo visto continua o mesmo de sempre. – Manuel analisou.

— Admita que sentiu falta do meu humor, meu pai. – O advogado disse. – E onde está Afonso?

— Com certeza está nos causando problemas mais uma vez, só espero que não tão grandes quanto o último. – Manuel suspirou cansado. Apesar de já estarem adultos, os dois filhos ainda lhe davam bastante trabalho, especialmente Afonso.

Antônio atualizou os pais sobre a vida em Lisboa, sobre a universidade e o pós-graduação, sobre o trabalho na firma de Luís e suas aventuras. Deixou de lado as histórias sobre noitadas, bebidas e mulheres, tinha certeza de que esse era um tópico que deixaria sua querida mãe, no mínimo, escandalizada, e não queria correr o risco de acabar com a mãe estatelada no chão em um desmaio causado por ouvir suas aventuras.

Depois de tantas histórias trocadas e um belo almoço, o advogado estava pronto para ter seu momento de descanso, mas seu pai decidiu que esse era o momento certo para terem a conversa que ele mencionara em seu bilhete.

Os dois seguiram juntos para o escritório de Manuel e o dono da Quinta do Girassol abriu uma garrafa de vinho branco, servindo uma taça para si mesmo e para o filho.

— Preciso lhe falar sobre o acordo que fiz com José Augusto. – Manuel iniciou o tópico de forma direta. Sabia que o filho não ia gostar nada do que estava por vir, mas não havia muito o que mudar. Já estava feito.

— Como é que vocês dois uniriam dois negócios completamente diferentes em um acordo, meu pai? – Questionou, sem esconder sua curiosidade. – Ainda mais um acordo tão rápido?

— Não sei se você lembra, Antônio, mas José Augusto não possui filho homem. – Manuel bebericou um pouco de seu vinho antes de continuar. – Apenas uma filha, a quem ensinou tudo o que sabe sobre cuidar de fazendas de gado.

— Ainda não consigo enxergar as semelhanças com seus negócios. – Disse o advogado, que já estava sentindo a raiva rugir em seu peito se aquilo em que estava pensando realmente fosse acontecer.

— Acontece que uma fazenda tão poderosa quanto a Fazenda Albuquerque precisa um herdeiro, e, por coincidência, nós também, ainda mais se formos precisar contar com sua força de vontade e a do seu irmão. – Manuel sorveu um generoso gole de vinho e encarou os olhos do filho. – Portanto, você vai se casar com Catarina de Albuquerque.

— EU VOU O QUÊ? – Antônio gritou. – Está maluco? Perdeu o juízo? É isso? Porque eu acabei de ouvir que vou me casar com uma garota que sequer conheço. Enlouqueceu?

— É isso o que você ouviu, e este assunto não está aberto a discussões. – Manuel encarou o filho com seriedade. O olhar mortal que fazia com que o filho desistisse de lutar.

Antônio detestava a pessoa em que se transformava quando o pai lhe mandava aquele olhar. Detestava que aquele simples gesto o deixasse paralisado, ainda mais numa decisão tão importante quanto essa.

Aquela era a sua vida. Seu futuro. Não podia se casar com uma garota que não conhecia. Não iria.

— Você perdeu completamente o juízo. – Antônio passava as mãos pelos cabelos louros, uma tentativa falha de conter a raiva.

— Está feito, Antônio.

Manuel já esperava aquela reação do filho e não se surpreendeu quando ele saiu de seu escritório como se quisesse cometer um crime. Só esperava que seu filho o perdoasse e entendesse que fez o que fez pelo bem de sua família.


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Notas finais do capítulo

É o mundo do Antônio caindo e a gente aproveitando de camarote haha
Comentem o que estão achando!
Um beijo ♥



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