Filhos da Noite escrita por Scar Lynus


Capítulo 4
Capitulo 4 - Noites


Notas iniciais do capítulo

Bonus para vocês. Adiantadissimo



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[Neftis – Adam]

 

 

Haviam muitas certezas na bela cidade de Londres, uma delas era que a melhor casa noturna da cidade se chamava Neftis. Sempre recheada de público, gigantescas filas para entrar, todas as bebidas que você pode imaginar, diversos tipos de entretenimento diferenciado, muita música alta e um local onde todos sempre eram bem vindos. Não importa quem você é ou de onde veio, enquanto estivesse ali, era apenas mais uma pessoa aproveitando uma noite inesquecível.
Ao menos é assim que eu gosto de enxergar, eu amo minha boate e adorava tudo que construí aqui. Eu estava no meu camarote, acima das áreas comuns dos humanos, selecionando a presa certa, homem, mulher... Isso era indiferente. A presa não seria escolhida por ser a mais forte, a mais linda, o mais beberrão. Conceitos humanos que definem atrações. Eu só vou atrás das presas únicas e elas devem durar, o suficiente até que eu já esteja enxergando a próxima!

— Senhor Balaus?! – Marco um dos meus funcionários chamou na porta, ele tinha seus trinta e poucos, uma mulher e três filhos em casa e nunca perdia uma noite de trabalho. “Bom funcionário.” – Pensei antes de caminhar até a porta para manter o disfarce de que não poderia escuta-lo de longe devido a música.

— Diga? – Perguntei calmo.

— Temos um problema no bar, uma mulher está se recusando a pagar pela bebida e quase agrediu o Barman. – Ele estava nervoso, provavelmente decidiram no palito quem viria me chamar. – Ela disse que não sai até falar com o dono.

— Nesse caso vamos descer até o salão. – Declarei seguindo-o escada a baixo. A música e os gritos invadiam meus ouvidos sem trégua, se não soubesse como desativar meus sentidos eu provavelmente estaria muito irritado.

Caminhamos entre algumas pessoas, estava cheio como sempre, diversas garotas e garotos tentavam uma aproximação quando me viam. – “Quem poderia resistir a perfeição?”— Brinquei mentalmente enquanto me esquivava de todos eles para chegar ao bar.
Fiquei surpreso ao ver quem causava o alvoroço e ainda mais surpreso por tudo ter virado uma bagunça diante dela.

— O que aconteceu aqui? – Questionei ao Barman que limpava o balcão manchado e cheio de cacos.

— Ela exigiu um dos nossos vinhos mais caros, nós a servimos e então ela quebrou a taça e disse que queria a garrafa. Falamos que seria impossível e ela começou uma anarquia senhor. – Me explicou o careca. – Fora o fato de que disse que não pagaria por nada!

— Bastava me entregar a garrafa e estaria tudo bem. – Falou a mulher com sua voz sedutora carregada de deboche.

— Pedi para o Marco lhe chamar para retira-la daqui senhor. – Respondeu o Barman provavelmente esperando me agradar. – “Hora errada pra isso idiota!”

— Acontece que ela é minha mãe seu grandessíssimo idiota! - Repreendi o Bartender. - Ela pode pegar qualquer bebida que quiser, a hora que ela quiser e de graça!

— Aprendeu? - Lilian então sorriu para o homem atrás do balcão. - Agora me dê aquele Sauternes 2001, da Château d’Yquem - Ela pediu a garrafa do segundo melhor vinho do mundo. - Duas taças!

— Me desculpe. - Pediu o homem entregando a garrafa e baixando a cabeça diante da dupla.

— Lembre do rosto dela! – Ordenei. – Se algo assim acontecer novamente você sairá perdendo! E a taça quebrada será tirada do seu pagamento!

Então seguimos para o meu camarote, as pessoas que viram a cena foram abrindo caminho para passarmos. – “Eu adoro o poder impressionista que o medo te dá.” -  Uma vez sentados Lilian encheu suas taças.

— Eu adoro quando você faz o malvado querido! – Declarou ela entregando a minha.

— É eu aprendi a ser tirano com as melhores! – Respondi antes de ver ela tomar apenas um gole do vinho e fazer uma careta.

— Essa porcaria custa oitocentos dólares?! - Reclamou ela indignada. - Ridículo! E por falar em ridículo. Comece a punir esse gado, repreender não é suficiente! Como ele ousou me responder?

— Ele será punido na hora certa. – Expliquei girando a taça em minhas mãos. - Por que veio aqui?

— Uma mãe precisa de desculpa para ver o filho? -  Ela fingiu estar ofendida enquanto eu a encarava com ironia. - Não ouse debochar de quem te ensinou a fazer isso!

— Desculpa. – Pedi. – Faz uns seis meses que não vejo você e mais tempo ainda que não vejo minha mãe.

— Katrina está ótima! – Ela me contou. – Cheia de dinheiro, regalias, obras de arte e bolsas de sangue.

— E você? – Perguntei.

— Olha pra mim querido! Não tenho como não estar ótima! – Declarou ela se levantando. – E aí escolheu alguma refeição para essa noite?

— Ainda não me interessei por nada, mas, tenho uma refeição ótima lá em cima que estou fazendo durar. – Lembrei-me do que havia deixado em casa. – Se quiser subir e adicioná-la ao seu vinho...

— Ora como você é um bom menino! – Ela sorriu tocando minha bochecha. – Prometo ver você antes de ir para a casa querido. – Falou ela enquanto caminhava para o elevador.

— Boa refeição mãe! – Desejei.

Eu apenas iria para o meu quarto uma ou duas horas antes do amanhecer, não gostava de perder de vista toda essa vida abaixo de mim. Eu não tinha nada assim no castelo, o calor era desconhecido enquanto aquelas paredes me cercavam, quatrocentos anos sem sair de lá. Quer dizer, eu sai algumas vezes para esmagar os insetos que se chamam de humanos, mas, sempre voltava para lá!
Agora não mais, nenhuma ordem vinha de minhas mães, eu finalmente estava livre para “dominar o mundo”. Infelizmente descobri que nem nos livros de história eu estou. Muito menos minhas mães e quem dirá Nefertari...
Eu odiava a humanidade, eles tiraram o que eu tinha de mais precioso no mundo, não todos os humanos, mas parte deles, os Belmont a tiraram de mim e a consequência foi a extinção dessa família suja! E depois a extinção da Ordem do Sol e seus padres matadores da minha espécie, todos insignificantes diante de mim e...

— Por que estou pensando nisso? – Perguntei olhando a taça ao observar que meus devaneios estavam em um ritmo muito acelerado. – Talvez eu precise me distrair um pouco... Tomara que tenha sobrado pra mim! – Declarei me levantando e indo até o elevador. – Hora do jantar em família!

 

 

[Alexander – Casa dos Belmont]

 

 

— Archie vem jantar! – Chamei-o enquanto eu  terminava de cozinhar e Adrienne colocava a mesa. – Como foi hoje? – Perguntei me referindo ao seu primeiro dia.

— Bom... Eu organizei minha mesa, tenho um coordenador meio “passivo/agressivo”, meu colega de sala não fala muito... Ah!! Somos obrigados a trabalhar de meias ou descalços. Não se pode pisar de sapatos lá dentro. – Encarei ela confuso com a explicação. – Sim é estranho. E pra completar minha chefe compra arte no mercado Ilegal e tem uma pintura que era da nossa família.

— Como é? – Perguntei interessado nessa última parte.

— Minha nova chefe, ela tem “O Castelo de Drácula” enfeitando um dos andares. Imagina o que tem na própria sala!

— Estou tentando. – Respondi. – Ela é?

— Talvez seja, mas, ainda é cedo para ter certeza. A mão dela era bem quente e não tive nenhuma aversão de imediato, ela nem reagiu ao meu sangue. – Adrienne explicou.

— Fique atenta. – Respondi para ela antes do Archie entrar na cozinha. – Aproveita o jantar, e conta pra Adri sobre o seu dia Archie. – Brinquei com ele antes dele se sentar.

— Eu bati em uns valentões e o Alexander precisou me buscar. – Ele respondeu desanimado. – Aí ele colocou meu diretor injusto no lugar, depois tirou onda com o pai do garoto que arranquei um dente. – Nessa parte da história ele se empenhou.

— Caramba Archie um dente! – Respondeu Adrienne. – Exagerou um pouco, mas, foi por um bom motivo? – Ela dirigiu a pergunta a mim.

— Archie teve seus motivos e foram razoáveis. – Respondi tranquilizando-a.

Continuamos a comer em silencio, as vezes alguém fazia algum comentário ou pergunta simples, tentávamos sempre manter o jantar o mais normal possível, era nosso momento de escape do dia-a-dia.
Quando eu e Adrienne já tínhamos terminado o Archie continuava remexendo o prato dele, jogando a comida de um lado para o outro.

— Tem alguma coisa errada com o seu prato? – Perguntei.

— Não. – Ele me respondeu.

— Então come. – Falei o obvio.

— Eu não gosto de beterraba. – Ele falou cutucando o legume com o garfo.

— Para de graça e termina de comer. – Falei sem paciência.

— Eu não quero. – Retrucou ele.

— Archie eu estou falando sério.

— AAAHHH – Ele gritou levantando da mesa e me dando as costas.

— AAAAAAAAHHHHHHHHH – Gritei mais alto enquanto ele sumia.

— Esse é seu método pra ele comer legumes? – Adrienne perguntou com um olhar de indignada. – Ele grita e você grita mais alto?

— Exatamente. – Respondi orgulhoso, resultando na confusão dela. – Quando faço isso ele se sente intimidado e volta.

— To sem palavras. – Ela respondeu.

Esperamos um tempo relativamente curto para que ele voltasse, sentasse no lugar e finalmente comesse as beterrabas que estavam no prato. Não resisti e encarei Adrienne com um olhar vitorioso e um enorme sorriso.

— Eu não sei quem é pior... – Adrienne teria terminado a frase se não tivesse sido interrompida pela porta sendo escancarada. Sem cerimonias Belle foi entrando como se a casa fosse dela, fazendo barulho com seus saltos até se apoiar na bancada encarando-nos.

— Boa noite! – Ela tinha o sorriso maléfico no rosto, o sorriso que seduzia o Archie toda vez que ela aparecia.

— Oi Belle. – Falei sem muito animo. – Quer...

— Jantar? Adoraria! – Ela se sentou a mesa. – Por favor. – Pediu ela apontando a mesa enquanto esperava que eu a servisse. – “Não sou seu empregado Belle!”

— E por que você veio a nossa casa hoje? – Adrienne perguntou pra ela com um tom de falso cansaço.

— Estava por perto e resolvi dar o ar da graça para meus amigos mais íntimos! – Disse ela confiante tocando o cabelo do meu irmão. – Gostei do seu novo penteado Archibald!

— Você mora do outro lado da cidade Belle. – Falei colocando um prato na frente dela. – Meio complicado achar que você só estava passando por aqui.

— Nossa você não deixa passar nada Alexander! – Comentou. – Eu fui ao salão deixar o cabelo mais brilhante e lindo, depois comprei esse vestido lindo que você não elogiou, depois descobri que tem um lugar onde algum vampiro sabe de um ninho não muito longe e presumi que deveria avisar você – Ela apontou na minha direção. – De nada!

— Ninho do que? – Perguntei. – Vampiros, Lobisomens, Bestas...

— Presta atenção na frase caçador, eu disse que é um bar de vampiros, que pode ou não ter conexão com alguns ninhos de outras espécies. – Ela respondeu vagamente. – O idiota que me deu a informação estava com a dicção ruim já que ao invés de pensar no assunto ele estava pensando em tocar meus peitos!

— Ta bom eu resolvo isso! – Respondi.

— Vai avançar pra segunda base comigo na frente dos seus irmãos? – Ela fez seu melhor olhar de surpresa.

— Do bar e dos ninhos Belle! – Respondi mantendo a paciência.

— Você é quem sai perdendo! – Pude ouvir ela comentar enquanto ia até a oficina.

Nossa oficina e QG de operações contra todos os “Filhos da Noite” era debaixo da garagem, ali estavam nossas armas e equipamentos em geral. Rede de contatos e informações de alguns caçadores sem facção que estão espalhados pela Europa. Vesti meu colete e coloquei a pescoceira, ela tinha sido abençoada por um padre a menos de seis meses e era muito efetiva para evitar golpes ou mordidas letais.
Meu cinto de facas já estava pronto e por ultimo peguei meu chicote de prata abençoado, na ponta dele tinha uma lâmina muito rara, um fragmento da “ceifadora”, a arma que matou Drácula.
Peguei alguns últimos equipamentos de emergência antes de retornar para os outros.

— Isso não deve demorar muito, então logo estou de volta okay!

— Posso ir com você? – Perguntou Archie meio ansioso.

— Ainda não chegou sua hora maninho. - Ele desanimou. - Prometo que logo nós faremos algo do tipo em família.

— Droga. – Reclamou ele.

— Mantenho contato com você enquanto estiver lá. – Adrienne falou já ligando o notebook dela.

— Você fica muito gato com essa roupa e esse olhar intenso! – Belle estragou o momento com um de seus comentários.

— Se livrem dela antes de eu voltar! – Pedi aos meus irmãos. – Amo vocês! – Falei antes de sair e pegar a moto rumo ao endereço que já estava na rota do meu GPS. – “Obrigado Adri.” – Agradeci mentalmente a conexão que ela já tinha feito do computador para o celular. – Hora de matar vampiros.

As ruas eram muitos vazias a noite, andar de moto geralmente era uma tarefa chata no trânsito, mas, a noite e principalmente quando se está indo em direção a um antro de criaturas assassinas. Você tende a burlar uma lei ou outra.
Passei vinte minutos nas ruas mais decentes antes de chegar a uma pequena rua de lajotas, ela era bem apertada e tudo em volta parecia bem pobre ou abandonado. - “Perfeito para não chamar atenção.” – Conclui observando tudo, estava indo bem devagar até avistar um bar no fim do bairro. Ele não condizia com a atmosfera já que de longe eu podia ver que ele era bem mais cuidado e tinha um design diferente do resto da área.
Parei a moto a uma distância considerável do mesmo, se tudo der certo os vampiros não iriam notar que eu estava lá até que eu atravessasse a porta do local.

— Adri eu acabei de chegar, estou vendo o bar. - Falei no comunicador.

— Ótimo agora manda ver tigrão! – Ouvi a voz da Belle do outro lado.

— Cadê a Adrienne? – Perguntei secamente.

— Falei que ela podia ir tomar um banho e se houvesse alguma emergência eu a avisaria. – Respondeu a feiticeira rindo do outro lado.

— Eu mereço... – Praguejei. – Só fique em silencio, quando eu terminar aviso.

— Entendido Cambio! – Ela começou a rir de novo.

Caminhei devagar até o bar, olhando sempre em volta para ter certeza de que não teria nenhuma surpresa. Não tinha ninguém do lado de fora também. – “Excelente.” – Pensei colocando uma runa sagrada na parede externa.
Quando abri a porta vi o tamanho da enrascada. Eram vinte e dois vampiros e talvez mais, caso o local tivesse mais cômodos escondidos. Fui até o balcão sem falar ou mexer com ninguém, apesar de sentir seus olhares sobre mim.
Me animei que no balcão tinha uma daquelas pequenas maquinas para colocar uma moeda e escolher a música. Coloquei vinte e cinco centavos e fiquei esperando a mudança de faixa.

— Você está meio longe de casa amigo! – Um vampiro alto falou parando ao meu lado.

— Só estou de passagem. – Respondi sem me virar.

— Ninguém acaba aqui apenas de passagem. – Ele respondeu. – Qual seu assunto aqui?

— Que bom que perguntou. – Finalmente eu me virei sorrindo pra ele logo que a música mudou. No mesmo instante passei uma faca de prata no pescoço dele, resultando não só em sua morte, mas, na combustão também. – Quem é o próximo? – Perguntei puxando o chicote enquanto os outros me encaravam. – Eu adoro essa música!


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Notas finais do capítulo

amaram?