Filhos da Noite escrita por Scar Lynus


Capítulo 11
Capitulo 11 - O Primeiro Movimento




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[Archie - Romenia – Presente]

 

— Alguma vez eu te chamei de chato? – Theo perguntou notavelmente infeliz com o fato de termos subido direto após o jantar.

— Quase todos os dias desde que nos conhecemos. – Respondi sem muito animo.

— Toda oportunidade de interagir com as pessoas, pessoas da nossa escola e que tem a nossa idade... – Ele andava de um lado para o outro ao reclamar. – Você deixa passar. Assim você me complica cara.

— Você pode ficar lá. – Respondi. – Eu estou tranquilo aqui.

— Eu vou tomar um banho antes que pense mais uma vez em pedir para te expulsarem do meu quarto! – Ele fez seu último protesto enquanto pegava sua bolsa pessoal e se trancava no banheiro.

Não era que eu não quisesse, eu não tinha particularmente nenhum problema em estar lá. Contudo, eu já estava percebendo. Tem vampiros aqui, era obvio que havia vampiros, mas, eles estavam nesse hotel. Provavelmente pensaram que nenhum caçador viria para cá, afinal, é a famosa tática de se esconder em plena vista.

— Nenhum caçador que se preze iria procurar um vampiro no “Castelo Drácula”. – Falei sozinho olhando para a tela do computador. Eu já havia hackeado parte das câmeras e sistemas desse hotel. – “Obrigado Adrienne”. – Pensei enquanto seguia minha busca.

A maioria dos funcionários até então estava limpo, venho observando o comportamento deles e verificando tudo diariamente, criando um filtro entre o possível ou possíveis vampiros e os humanos.

— Bom, isso me deixa com vocês três... – Conclui com as fichas de três funcionários na tela. Bons currículos, aparência relativamente “boa” para a idade, dois deles sem nenhuma família, os três não cumpriam horas extras, trabalhavam bem pelo que analisei e os mais importantes fatos, não vi nenhum deles tocar em algo de prata ou cruzar tranquilamente um caminho com espelhos e todos estavam no último turno, entrando após as dezenove horas e saindo antes do sol nascer.

Corri até a minha mala e abri o fundo falso, lá estavam, dois vidros de água benta, uma estaca de prata, uma pescoceira que mais parecia a menor e mais fina cota de malha do mundo, projetada para que os vampiros tivessem seus momentos de esperança. Minhas pulseiras nunca deixavam meus braços, então foi uma questão de aprontar tudo e ser paciente para quando Theo acabasse dormindo, o que normalmente não demorava após o banho.
Minha mente rapidamente foi até Alexander e Adrienne. Eu deveria avisá-los? Eu estava tomando a decisão certa? Era um risco cabível? Eu sabia que era arriscado, mas, era minha chance, voltar para a casa e provar que estou pronto, provar que posso ajudá-los, que eles conseguiram, que o treinamento não era desperdiçado. Guardei tudo de volta e me deitei em minha cama, logo Theo iria deitar, logo... Eu faria o necessário.

...

Eram três da manhã. Eu ainda tinha mais três horas e meia até o nascer do sol, ou seja, mais duas horas até que todos eles deixassem o hotel. Eu estava pronto, não seria burro de tentar encurralar a todos juntos, minha estratégia seria simples, desabilitar as câmeras, pegar cada um separadamente e não dar a chance para qualquer um.
Deixei meu quarto em silencio e terminei de colocar os sapatos no elevador para o subsolo, abaixo do estacionamento, a área da lavanderia interna e pelo que me consta um tipo de “super estoque” do hotel.

Sai com calma do elevador, analisando a área, procurando o primeiro alvo, não demorou muito até que eu estivesse de olho nele, sempre garantindo que não pudesse me ver ali e aproveitando os pontos cegos.
Felizmente ele era previsível e acabava passando várias vezes pelo mesmo lugar durante os afazeres. – “hora do teste” – Pensei preparando a água benta e pingando sobre a superfície de algumas toalhas, aguardar era chato, mas, necessário.

— AAAHH! – Gritou o homem rapidamente quando tocou a toalha... Eu tinha acertado com esse.

Não poderia permitir que ele tomasse consciência da situação, rapidamente aproveitei minha posição, agachado e com velocidade cravei à estaca no joelho da criatura, supreendentemente ele não gritou e agora havia me visto, entretanto, não era um problema enquanto seu movimento estivesse limitado. Dois socos diretos no queixo com o soco inglês de prata, em seguida puxei à estaca do joelho onde estava, me preparando para um novo golpe, mas, ele resolveu atacar, instintivamente coloquei a estaca entre sua mão e meu rosto, perfurando a palma e obrigando-o a cessar o ataque, mais socos foram certeiros e um chute para quebrar o outro joelho dele. Agora estava ganho, peguei a estaca e fui direto para o peito dele, ou, pelo menos era o objetivo original...

— Nunca matou ninguém antes garoto? – Ele perguntou entredentes ao levantar e me jogar para o outro lado da sala. – Deu sorte. Me pegou desprevenido e veio preparado. – Percebi que ele só mancava com a perna onde a estaca havia atravessado. – Prata pura nessa estaca e socos ingleses... Uma pena que hesitou. – Ele investiu, agora era eu que não teria tempo para reagir.

Usei minhas forças para pular a esquerda, ele empurrou o carrinho que anteriormente eu havia batido as costas. Eu não tinha uma espada, nem um chicote, discos, lâmina secundária, nada para me auxiliar, me aproximar e não apanhar era a única estratégia e precisava acelerar esse ritmo porque começamos a fazer barulho, duvido que alguém não apareça ou pior, duvido que algum aliado dele não venha.
Ele avançou mais uma vez, direto pra mim. O que eu fiz não foi elegante, não foi preciso, foi apenas um improviso sem demora. Peguei o primeiro travesseiro disponível ao meu lado e atravessei com a estaca, rasgando-o no ar, pequenas plumas estavam ao nosso redor e por um segundo, a distração que eu precisava.

“Vampiros não enxergam da mesma forma que nós. Eles possuem mais atenção, são mais minuciosos aos detalhes ao redor. E por isso é importante usar as distrações a nosso favor Archie! Areia, água, sal, palha, até mesmo confete, qualquer coisa que fique dentro do campo de visão em alta quantidade, use a superatenção dele, contra uma aglomeração de detalhes. É nesse momento que você aproveita a brecha e ataca.”

As palavras de Alexander voltaram a minha mente como um guia, me dizendo exatamente o que fazer. Eu ataquei, direto no peito e agora sem hesitação.

 

[Cobertura do Neftis – Belle]

 

De joelhos no chão desde o momento em que retornamos, ele não falou, ele não se moveu, ele não fez nenhum tipo de som. Uma hora exata, foi o tempo que ele passou estagnado naquele local. Eu respeitei o silencio dele, contudo, já sentada, com meus sapatos de volta e apenas aguardando.

— Eu sei... – As primeiras palavras dele antes de calmamente se levantar e caminhar até sua parede de vidro, tocando a superfície como se procurasse sentir o próprio rosto, ali ele observava sua feição, não era choque, não era raiva, não era frustração... Ele só estava perdido, totalmente perdido no espaço.

— Adam... – Ele ergueu o braço para me impedir de falar.

— Eu só... – Suspirou – Estou me recompondo. - Olhos fechados e silencio por mais um minuto. – Você cumpriu sua parte do acordo! – Disse ele.

— Caso precise de um tempo par...

— Não! – Ele abriu os olhos e virou para mim. – Eu sou um príncipe e devo manter a minha palavra! – Estalando os dedos uma adaga apareceu em sua mão, era notável que não havia sido feita por humanos ou de maneira convencional. A lâmina não se assemelhava a nenhum metal que eu já tivesse visto, era como um vidro negro translucido, tons estranhamente se misturavam na peça, o punho pálido e brilhante, uma combinação estranha de vinhas e penas, ou ao menos, era o que parecia. – Me dê sua mão. – Pediu estendendo a própria.

Assim que segurou a minha mão, ele usou a adaga, um corte preciso e linear na diagonal da minha palma. Em seguida o mesmo com a própria mão, entretanto, agora o corte era na direção oposta.
Rapidamente tocou nossas palmas de forma que os cortes formavam um “X”. Seus olhos completamente negros enquanto uma energia branca flutuava a nossa volta e parecia seguir envolvendo nossos braços.
Pela primeira vez em algum tempo eu lembrei de como era sentir dor, dor real, percorrendo meu corpo como se fosse atingida por um raio. Era como sentir que tudo no meu corpo convergia diretamente para aquela mão.

— Seu propósito já está cumprido! – Ele falou sem um foco, ele não estava falando comigo.

Mais energia convergia, até nossas mãos e agora eu via cores, não era branco, era um tom mais quente, o branco estava ali, mas, contornado por laranja e amarelo. Logo, eu senti, algo saiu do corte, algo pequeno, tão pequeno que mal faria um incomodo. Não possuía uma forma, era apenas “magia pura”, agora parada na palma dele e apenas ali, diante de nós.
Embora nada estivesse diferente, eu poderia dizer que era um alívio.

— Encontre um novo propósito com novos seres. – Foi o que ele pediu aquela pequena energia antes dela desaparecer em sua mão. – Está feito! – falou separando nossas mãos, agora eu via que ambas já não possuíam cortes e a adaga havia sumido.

— Como pode ter certeza? – Eu queria confiar, obviamente eu só queria garantir que nunca, nunca eu teria de ter medo dessa maldição mais uma vez.

— Maldições estão tão vivas quanto a própria magia. Humanos não veem forma ou vida nelas, mas, nós vemos, nós podemos ver, nos comunicar, entender, aprender sobre elas através delas mesmas, permitindo que nos mostrem o caminho. – Ele se sentou, voltando ao seu semblante perdido. – Eu desassociei a maldição de você e do seu sangue, ela não se foi e nem está destruída, apenas vai aguardar, aguardar dentro do universo pelo momento que precisem dela de novo.

—  Por hora é o suficiente. – Fui andando até a porta, mas, ele nem me acompanhou com os olhos. – Isso encerra nossa parceria senhor Balaus... – Ele pareceu voltar ao mundo nesse momento.

— Adam! Só o primeiro nome por favor. – Ele se aproximou. – Obrigado senhori... Belle. – Concluiu sorrindo.

— Espero que encontre quem procura. – Respondi estendendo a mão para ele.

— Lhe desejo a mesma sorte em seu caminho. – Ele segurou minha mão entre ambas as suas. – Eu não tenho apreço por muitas coisas ou pessoas, contudo, você sempre será bem-vinda!

— Fico feliz em saber. – Respondi abrindo a porta e vendo o elevador. – Até alguma noite. – Fechei a porta atrás de mim sem saber qual seria sua expressão ou reação. O que eu sabia era que estava livre, sem medo, sem receios, sem um relógio para me dizer quanto tempo eu tinha. Finalmente o controle do meu destino estava nas mãos mais capazes de todas!

 

[Archie - Romênia – Presente]

 

Devagar abri meus olhos, tentando assimilar novamente a situação e meu estado atual. Minhas mãos estavam amarradas e eu estava em um local com zero iluminação, podia escutar vozes próximas, mas, não era capaz de enxergar e dar um rosto a elas.
Eu fui apagado naquele ponto da luta, eu não sabia como, não sabia quem, mas, eu sabia que não tinha alcançado o peito dele com a estaca.

— Acordou finalmente! – Disse a primeira pessoa a entrar na sala, um dos meus suspeitos, mas, não o que lutou comigo. – Você é bem feroz garoto, quase eliminou um vampiro bem mais velho e com quase nada de equipamentos. – Ele listou a situação antes de sentar-se à minha frente, logo, outro apareceu a porta, esse eu já conhecia. – Acho que é isso que devemos esperar de um Belmont afinal!

— Eu vou rasgar o joelho dele!  - Falou o que estava a porta irritado, percebi que ainda estava mancando.

— Não vai fazer nada. O menino aqui quase te matou sozinho, ele vale muito só por ser um aprendiz talentoso. – Ele puxou meu celular do próprio bolso. – Não, nós vamos é atrair o peixe maior para cá! – Ele tirou uma foto de mim, e eu sabia para quem ele iria enviar essa foto. – Uma dica, caçadores tem que colocar senha no celular!

— Eu quero uma retribuição! – O outro seguia irritado.

— Por que não me desamarra se quer uma revanche? – Respondi desafiando-o.

— Pode até ser interessante ver você bater e destruir o orgulho do meu amigo aqui. – O homem a minha frente continuava despreocupado. – Mas, você, este Alexander e Adrienne... Vocês são mais importantes, ainda mais agora. Se acha que somos ruins, não sabe o que te espera quando Lady Lilian chegar aqui.

— Você a avisou?! – Agora o irritado havia mudado a feição e a atitude.

— Óbvio, temos uma mensagem continental de lordes e dela mesma solicitando informações sobre Belmonts caçando. – Ele apontou para mim. – E nós iremos dar três de presente para ela.

— Vocês é que deveriam estar assustados. – Debochei de ambos que me encararam confusos. – Vocês acabaram de alertar o Alexander, não estaria surpreso se ele chegasse de manhã para limpar o chão com vocês dois e essa mulher que estão falando!

— Vamos ver quem vai rir por último garoto! – Ambos saíram da sala, mais uma vez eu estava no escuro, me preparando para fugir.

 

[Adrienne – Residência dos Belmont – Presente]

 

Eu ainda estava abalada com toda a situação atual e meu próprio dilema em revelar ou não para Alexander sobre Katrina e seu “orfanato” de jovens vampiros, ela não estava fazendo mal a ninguém, ela só estava protegendo-os, isso não é algo errado, o único pecado daquelas crianças era terem nascido vampiros, isso lá é uma justificativa?

— Boa noite! – Falei quando abri a porta esperando um grito de oi, mas, não foi o que veio. Precisei pensar rápido e segurar uma mochila que veio direto ao meu rosto. – Alex?

— Suas coisas estão aí! Pegue um capacete e água benta na garagem! – Ele falou antes de ir ao próprio quarto e voltar.

— Parado agora mesmo! – Ordenei. – O que está acontecendo?

— Olha seu celular! – Respondeu rígido.

Peguei o objeto no bolso e vi uma notificação do Archie, uma foto. Assim que abri, meu coração veio parar na garganta. Ele estava amarrado a uma cadeira, não parecia ferido, mas, isso já era o suficiente e na legenda dizia “perderam alguma coisa caçadores”.

— Estamos indo pra Romênia então. – Confirmei colocando a mochila nas costas.

— Sim! – Ele falou com a chave nas mãos, trajado e com uma bolsa nas costas. – Eu não vou envolver os outros caçadores, nós vamos ir lá e vamos fazer um expurgo entre todos os vampiros que ficarem entre nós e nosso irmão! – Alexander estava muito irritado, poucas vezes vi ele nesse estado.

— Vamos chegar lá de manhã se formos de trem! Posso pesquisar no caminho, podemos montar um plano, verificar a atividade na área, não precisamos só correr para o perigo. – Tentei argumentar.

— Eles pediram perigo quando pegaram nosso irmão e nos provocaram! – Ele parou na porta por um momento, ele estava respirando pelo que parecia.

— Alex?

— Eu estou bem! – Respondeu. – Nós vamos ir de trem! – Ele suspirou, finalmente voltando ao seu casual estado calculista. – As estrelas já estão prontas?

— Em fase de testes, só temos dois protótipos! – respondi e fui até o escritório, voltando com um pequeno compartimento para o cinto dele, estão ambas aí dentro.

— Ótimo! – Ele prendeu o objeto entre outros dois já no equipamento. – Vamos testar no fogo cruzado, você não precisa entrar diretamente na luta, só preciso que me auxilie e esteja preparada, vampiros pequenos não iriam ganhar nada capturando Archie... – Ele continuou pensativo. – Independente de quem estivermos enfrentando. Só temos um objetivo!

— Voltar os três para casa! – Respondi pronta para sairmos! – Não importa se um vampiro tentou ser bom, no fim do dia, temos que dar um jeito neles!


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