A Farsa escrita por Linesahh


Capítulo 8
"Rei e Cavaleiro"


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal! Estou muito feliz porque hoje é um dia muuuito especial, pois eu e a Sahh estamos fazendo aniversário!!!! Dezoitão chegou e eu descobri uma coisa: NADA MUDOU HAUHAUHAUA
(Bem, tirando o fato de que agora dá pra gente ser presa :x)

Como disse no capítulo passado, nesses últimos capítulos o romance será o foco PRINCIPAL, então podem se preparar para boiolar muito pelos nossos meninos maravilhosos
Vamos começar pelos Iwaoi! Estão preparados?

Boa Leitura



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A noite estava fria, mas agradável. Sentado na larga varanda de casa, Oikawa observava a rua, pensativo. Havia escolhido assentar-se no início dos degraus da curta escadinha que levava à porta de entrada da residência, com os joelhos flexionados e dando apoio a seus cotovelos. Via, distraído, as crianças do bairro retornando a suas casas para o jantar, o cheiro de ensopados e especiarias invadindo suas narinas; contudo, sentia-se sem fome.

Estava deprimido. Exausto. Toda aquela história maluca que Tobio havia lhe contado ainda há pouco não saía de sua mente. Tudo havia sido esclarecido e posto em panos limpos, e, no fim de tudo, aquele namoro que tanto lhe deu dor de cabeça nem ao menos era real. Não devia estar feliz por isso?

Não… Não era assim que deveria sentir-se. Muitas coisas haviam acontecido por causa daquela mentira, seu sono, saúde e sanidade mental haviam sido totalmente testadas e comprometidas no processo, e até agora não havia se recuperado totalmente. Cometeu muitos erros e magoou algumas pessoas em meio a seus delírios vingativos e acessos de ciúmes, e, agora, tudo isso pareceu cair como uma avalanche em seus ombros.

Já fazia uma boa meia-hora que Tooru estava ali sentado, sem sair do lugar e apenas divagando pelas últimas semanas turbulentas que passara. Takeru já havia-o chamado duas vezes para entrar e jogar algum jogo, mas Oikawa não estava com cabeça ou ânimo para isso agora.

Em seu íntimo, sabia que estava fazendo um papel de espera. Talvez fosse um ato masoquista de sua parte, mas não queria ir dormir mais uma noite sem ter resolvido as últimas pontas soltas daquela história com ele. Simplesmente não possuía mais forças para adiar o inevitável.

Não havia mandado mensagens, sequer carregava o celular consigo naquele momento, mas algo lá no fundo lhe dizia que iriam se encontrar dali a pouco. Suas palmas tensas e a palpitação no peito revelavam isso. Dessa vez, não ditaria nenhuma ordem; sequer moveria um único dedo: iria somente confiar no destino e ver no que isso iria dar.

A brisa era fria, mas não hostil; sua suavidade tinha um tom dúlcido e afável, dominando suas mechas delicadamente, que deslizavam para longe de suas feições para, no instante seguinte, retornarem à comum moldura em sua face. Ajeitou o cachecol cinza-escuro, protegendo o pescoço do vento, e observou, divagante, os espirais de fumaça branca que formavam-se no ar conforme expirava. O céu encontrava-se injetado da cor azul-escura, quase beirando ao preto. Havia a presença de algumas nuvens esbranquiçadas e opacas em sua extensão, mas a atração principal eram as centenas de estrelas que cintilavam lá no alto, com seu brilho onifulgente passando uma sensação mística e aconchegante para o peito abalado e confuso do jovem rapaz.

… E foi enquanto tinha os olhos vagando pela imensidão do céu, que sentiu outra presença instalar-se no ambiente; vis-à-vis de onde encontrava-se, largando a bicicleta no gramado e aproximando-se em passos baixos.

Desceu os olhos, assim, tendo a visão completa de Iwaizumi. Não disseram nada nos primeiros segundos, ambos apenas ocupados em avaliar a aparência e a aura um do outro, como há tempos não faziam com calma. Ainda que tivesse-o visto todos aqueles dias na escola, para Oikawa, foi como se tivessem passado várias semanas em países diferentes.

Agora, vê-lo diante de si, sem mais mentiras e farsas preenchendo a muralha que havia se formado entre eles, por alguma razão, fez com que seu peito se comprimisse.

Só agora conseguia sentir claramente a dor que a falta dele lhe proporcionou durante todos aqueles dias. Uma dor pura e genuína.

Decidiu ignorar isso. De nada adiantaria se lamentar ou expor fraqueza agora. Já havia esgotado toda sua dose de emoções instáveis e, por hora, só lhe restava ser indiferente e impassível.

Pigarreou, tomando a primeira frase.

— Por que você tá todo cheio de terra?

Essas foram as primeiras palavras que saíram de sua boca, ainda que tivesse uma enorme lista de pendências decididamente mais importantes a serem postas à mesa. Avaliou a imagem de Iwaizumi com um ar desinteressado, o rosto apoiado na mão direita, analisando-o com feições neutras. Sua pergunta era válida, afinal, as manchas de terra seca no jeans e no casaco escuro dele eram bem visíveis a qualquer um.

— Problemas com um javali. — Iwaizumi resmungou, as mãos nos bolsos. Sem avisar ou pedir um consentimento, ele aproximou-se, subindo alguns degraus e sentando-se ao seu lado.

Sem perceber, Oikawa soltou o ar, entre irritado e apreensivo. Não estava contando com uma aproximação tão direta e sem nenhum precedente. Isso lhe atrapalharia deveras, especialmente porque sua decisão em assumir uma atitude indiferente não funcionaria muito bem com a presença de Iwaizumi tão próxima — a ponto de seus braços roçarem um no outro.

Hajime observava o rosto de Oikawa sem ligar em ser discreto, atento a sua postura retesada e parcialmente rígida — ainda que o levantador buscasse parecer natural —, assim como, também, em sua teimosia em permanecer com o rosto inclinado para o outro lado, evitando seus olhos.

Suspirou. Ele estava magoado, é óbvio. Sabia que as coisas seriam mais difíceis do que desejava, mas havia tomado uma decisão após sair da casa de Hinata, e não seria agora que voltaria atrás. Já havia sido orgulhoso e negligente demais com seus sentimentos e os de Oikawa, e sabia que precisava resolver aquilo de uma vez por todas.

Pigarreou, encostando propositalmente o pé direito no dele, num gesto que visava chamar sua atenção.

— Então… — cruzou os braços, desviando os olhos para a rua. — Você já está sabendo de tudo, né?

Oikawa soltou uma risada sem emoção.

— Graças ao Tobio. Já se fosse depender de você, Iwa-chan, eu estava sendo feito de idiota até agora, não é? — o rancor em sua voz estava nítido.

— Oikawa…

— Você me surpreendeu, Iwa-chan. De verdade. — ele o interrompeu, ainda sem encará-lo, os olhos castanhos presos na visão deserta do asfalto. — Não achei que você fosse o tipo de pessoa que aceitasse participar dessas encenações ridículas.

“Isso porque você é esse exato tipo de pessoa, não é?”, Iwaizumi segurou-se para não soltar uma dessas. Sabia que discutir agora era a pior opção a se seguir, afinal, quem havia cometido o pior erro fora ele. Mas também não poderia deixar Oikawa assumir todo o papel de vítima e lhe julgar por horas a fim, não quando ele também tinha seus próprios débitos para acertar.

Oikawa Tooru tinha sim um rosto delicado e inocente, mas “anjo” era a última denominação que daria a ele.

— Eu errei, e assumo isso. — olhou-o. — Eu não devia ter começado essa história, e me arrependo amargamente por ter escutado o Hanamaki. Mas isso não significa que tudo que você fez vai ser esquecido também...

— E lá vem você querendo me censurar… — Oikawa revirou os olhos, soltando o ar com irritação. — Francamente, Iwa-chan! Quantas vezes eu já disse que você não é minha mãe?

Iwaizumi cerrou os dentes.

— Será que pelo menos uma vez na vida você pode admitir que errou, Oikawa? Mas que merda, você nunca deixa de ser criança? — frustrou-se, balançando a cabeça negativamente.

— Agora eu sou a criança da história? — ele indignou-se pra valer após isso. — Por Deus, foi você que decidiu criar um namorico-falso nível jardim-de-infância! — frisou — Não venha inverter os papéis agora!

À essa altura, Iwaizumi estava vendo que não daria para conversar sem discutir.

— Você que quis terminar comigo, só pra começo de conversa. — relembrou.

— E eu fiz isso com muita razão! — Oikawa exclamou, a raiva e mágoa preenchendo cada um de seus traços. Ele enterrou o rosto nas mãos, esfregando os olhos, frustrado. — Quer saber? Terminar foi realmente a melhor decisão que tomei, já que você não sabe ter consideração dentro de um relacionamento. — suspirou, descobrindo os olhos. — Talvez… seja melhor as coisas continuarem como estão agora. — soltou baixo, sem encará-lo. — Boa noite.

Quando Oikawa fez menção de se levantar, Iwaizumi o segurou firme, puxando-o novamente para sentar ao seu lado. Não seria agora que deixaria tudo ir por água abaixo, não deixaria as coisas daquela forma.

Se deixasse Oikawa ir agora, sabia que não teria mais volta.

— Hajime, eu vou chamar meus pais… — ameaçou, tentando desvencilhar-se do aperto em seu braço, que impedia-o de sair.

— Mas que droga, Tooru! — disse entredentes. — Será que nunca vamos conseguir conversar sem brigar? Calma... — soltou-o lentamente. — Pronto, viu? Não faça chilique, por favor.

Oikawa resmungou baixo, fazendo questão de afastar-se e deixar claro que queria que mantivessem uma distância segura. Abraçou os joelhos, evitando que seus olhares se encontrassem. Permaneceram em silêncio por um tempo, cada um preso em seus pensamentos e em como dirigir aquela conversa sem que um lado saísse magoado — ou pior: de coração partido.

O momento era muito delicado, Oikawa sentia isso. Pouco a pouco, um sentimento de medo irrefreável ia tomando conta de seu corpo, temendo o resultado que sairia dali, temendo que ambos se separassem definitivamente e seguissem seus próprios caminhos.

… Mas, mais do que tudo, tinha medo que fosse ele a pessoa a ter o coração partido naquela história.

Imaginar o mundo sem Iwaizumi ao seu lado; seu melhor amigo e amante indubitável, era quase enlouquecedor. Apenas esse pensamento já o deixava tenso e sem rumo, uma bile enorme preenchia sua garganta e seu peito apertava-se em apreensão.

Iwaizumi sempre estava pronto para apoiá-lo em qualquer decisão que viesse a tomar, era seu apoio e seu pilar absoluto, fosse em meio aos jogos, à escola ou no próprio cotidiano que levavam. Ter sua presença ou ao menos seus conselhos que o impediam de cometer alguma burrada — por mais teimoso que Oikawa pudesse ser — já fazia parte de seu dia a dia; na verdade, desde que eram apenas dois pirralhos.

Lembrar de toda a jornada que passaram juntos, desde as brincadeiras inocentes da infância até o início da atração e dos sentimentos aflorados no começo da adolescência, o fazia enxergar um filme em sua retina; um filme cheio de cenas memoráveis e recheado de emoções inesquecíveis. Haviam sido tão teimosos e orgulhosos em admitir que estavam apaixonados um pelo outro, os anos passavam e eles apenas buscavam ignorar aquilo, acreditando ser uma coisa passageira, mas o significado sempre esteve lá; como quando Iwaizumi o mandava dormir cedo e pedia para não exagerar nos treinos; ou nas vezes em que Oikawa dividia com ele suas inseguranças e medos de não atingir seus objetivos, temendo ser superado por Ushijima e Tobio; ou nas simples expressões emburradas que Hajime fazia toda vez que uma admiradora de Tooru vinha lhe entregar um presente ou tirar uma foto.

Os sinais sempre estiveram ali. E foi como se um sonho tivesse se realizado quando finalmente se confessaram e se beijaram pela primeira vez no vestiário após o fim de um treino. Sempre que pensava naquele dia, a única coisa que conseguia lembrar era no quanto seu coração batia rápido e de como temeu que os calos em seus dedos incomodassem o rosto de Iwaizumi em meio ao contato. Mas, principalmente, lembrava-se do alívio que sentiu ao descobrir que os sentimentos eram recíprocos e que, mais uma vez, Hajime estava disposto a lhe dar a mão e embarcar naquela aventura.

Agora, era como se tudo isso, toda a construção lenta e delicada que cultivou e formou aquela relação durante anos, assim como todos os momentos que haviam passado juntos, pudesse ser arruinada por um simples ato imprudente ou uma palavra que proferissem sem pensar, movidos por raiva e impulso.

E, no íntimo, Oikawa sabia que era perito em estragar as coisas com as palavras.

— Oikawa… — Iwaizumi chamou-o baixo, sem tocá-lo ou mandar que olhasse em seus olhos. Seu tom calmo foi o suficiente para que Tooru permitisse que o castanho-escuro se encontrasse com o verde-oliva. — Eu não quero isso. Não quero que esse seja o fim definitivo entre nós.

Oikawa sabia que ele estava se esforçando muito para dizer aquelas palavras em voz alta, sabia o quanto era difícil para Hajime passar por cima de seu orgulho...

E foi por isso, apenas por isso, que permitiu-se passar por cima de seu próprio.

— Eu também não quero. — admitiu em voz baixa. — Eu nunca quis nada disso, Iwa-chan, eu apenas… — desviou os olhos para as próprias mãos, não sabendo ao certo o que dizer. Suspirou. — Eu nem sei mais dizer o porquê de ter tomado aquela decisão precipitada. Não parece mais fazer sentido agora. — revelou, desanimado.

Iwaizumi encarava-o com certa surpresa, certamente não esperando que Oikawa fosse ser sincero daquele jeito. Eram raras as vezes em que o levantador permitia-se, verdadeiramente, chegar perto de dizer que “estava errado”, e o atacante não podia deixar de aproveitar essa oportunidade.

— É o que acontece quando somos movidos pela raiva. — falou. — Quando nos acalmamos e olhamos para trás, não compreendemos mais os motivos que nos fizeram tomar aquela decisão, e acabamos nos arrependendo. Foi como quando você terminou comigo e também o que me fez entrar naquela farsa. Atitudes impulsivas e insensatas.

Oikawa ficou calado e pensativo, refletindo as palavras de Iwaizumi. Lembrou-se da atitude infantil que adquiriu após o término, causando ciúmes propositais no outro saindo com algumas garotas e ignorando-o nos treinos do time, recusando-se a levantar a bola para ele. De uma forma ou de outra, havia sido o responsável que levou Iwaizumi a tomar aquela atitude drástica, não importasse o que dissesse ou argumentasse.

No fim, suspirou. Sabia que não conseguiria fugir disso.

Não com Iwaizumi.

— … Me desculpe.

Nenhum fardo era mais pesado do que a palavra “desculpa”. Foi só o que disse: “me desculpe”. Apenas isso; sem prolongar ou especificar os motivos. Não olhou-o ao proferir os dizeres, pois isso já era pedir demais. Continuou apenas encarando o chão da calçada, sentindo o olhar intenso do outro sobre sua figura.

Ademais, sabia que, para Iwaizumi, aquilo era mais que o suficiente vindo de si.

E foi exatamente isso que permitiu a “segunda rodada” da noite:

— Me desculpe, também. — Iwaizumi disse.

Como num passe de mágica, a tensão pesada entre eles desapareceu. Aquelas míseras palavras, capazes de ditar o caminho irreversível entre o rancor e o perdão, haviam cumprido seu trabalho — positivamente, no caso deles.

Mas ainda não era o fim.

Iwaizumi olhava para Oikawa ao seu lado, guardando na memória cada detalhe dele. Haviam sido dias tão loucos e corridos, que nem lembrava-se mais da última vez em que o viu de perto assim; totalmente natural e irresistivelmente bonito. Os cabelos castanhos-escuros estavam rebeldes por conta do vento, vez ou outra deslizando para frente de seus olhos, necessitando que o dono os afastasse para o lado ocasionalmente. Seu corpo magro e atlético estava todo encoberto pelos tecidos da calça de moletom cinza e pelo casaco de tecido grosso que ele trajava. O cachecol cinza-escuro era um contraste com a pele alva de seu rosto, e nunca o vira tão adorável com os lábios levemente comprimidos e a ponta do nariz vermelha por conta do frio.

Uma rajada de adoração e desejo o preencheu, e tudo que mais tinha vontade era de erguer a mão direita e tocar seu rosto, sentir sua pele macia e o gosto de seus lábios contra os seus próprios. Por um minuto inteiro, considerou tocá-lo, mas sempre acabava desistindo no meio do caminho, continuando com a mão direita enfiada no bolso da jaqueta. No fim, numa última tentativa, acabou apenas pousando-a na própria nuca, sem conseguir terminar o movimento.

Ridículo. Parecia um moleque de treze anos, sem experiência ou atitude alguma.

No fim, foi com surpresa que sentiu a mão de Oikawa deslizar por seu braço e, delicadamente, enlaçar ambas as mãos num toque suave e sem pressão, apenas um encostar leve.

Sem perder tempo, Hajime acariciou o interior de sua palma, logo envolvendo os dedos longos e finos dele entre os seus, sentindo cada pequeno calo e marca provindos dos anos de treino como levantador.

Amava tanto aquelas mãos...

— Então… estamos bem? — indagou, baixo e suave, sem querer estragar aquele momento delicado e envolvente que havia sido formado entre eles.

… Infelizmente, deveria ter lembrado que o próprio Oikawa era perito em “destruir-momentos-românticos”.

— Hum… quase. — ele destacou, virando o corpo em sua direção, fazendo seus joelhos se encostarem. Sobre o olhar confuso de Hajime, ele continuou: — Eu ainda não consigo engolir que você beijou o Tobio-chan. Simplesmente não consigo! — anunciou, cruzando os braços e desfazendo o contato íntimo de suas mãos.

Iwaizumi revirou os olhos em amolação. Depois Oikawa vinha reclamar que eles “nunca tinham momentos românticos”… e por que será, né?

— É sério que você vai desenterrar isso logo agora? — ficou incrédulo. O clima estava tão bom… soltou um longo suspirou, cansado. — Você tinha acabado de falar um monte de merda pra mim no telefone naquele dia, Oikawa. Eu tava bravo, não pensei direito. Mas admito que errei. — acrescentou, desejando mais do que tudo sair daquele assunto.

Oikawa, como sempre, era a teimosia em pessoa.

— Não, não; não posso engolir isso, aí já é demais. Meu ego nunca esteve tão ferido quanto agora. — fez um bico teimoso e chateado. — Só de imaginar como foi essa cena já me dá ânsia de vômito… — estremeceu, fazendo uma careta.

Nessa hora, Iwaizumi mandou tudo para o inferno. Havia tentado ser gentil e compreensivo, e até mesmo delicado, mas Oikawa, como de costume, havia conseguido estressá-lo.

E, como sempre, o faria pagar por isso.

— Você chama aquilo de beijo? — aproximou-se, deixando seus rostos praticamente colados, as respirações misturando-se numa onda de espirais esbranquiçadas. Pôde ouvir o coração de Oikawa disparar e a cor castanha de seus olhos lampejar, tornando-se mais compacta e escura.

Sorriu.

“Vou te mostrar o que é um beijo de verdade, Shittykawa”.

Deslizando as mãos pelas laterais de seu rosto num enlace firme, uniu seus lábios intensamente, tornando o contato, de imediato, urgente e recheado de ânsia, sentindo Oikawa ofegar baixo para logo em seguida acompanhá-lo com certa hesitação, surpreso, logo enterrando os dedos em sua nuca. A rua estava vazia, apenas com a brisa fresca e as estrelas contemplando a união dos dois jovens, usufruindo de toda emoção e expectativa que tal reencontro trazia a seus corações carentes.

Iwaizumi sentia seu interior explodir como uma bomba, havia sentido tanta falta daquilo… aquela separação de quase dois meses havia sido enlouquecedora, principalmente quando lembrava de todas as noites em que ia dormir sentindo a falta dos lábios e das carícias de Oikawa. Não sabia como havia conseguido resistir durante todo aquele tempo, e agora que havia provado de seus lábios doces e inebriantes novamente, não deixaria que algo assim acontecesse nunca mais. A saudade, misturada com toda a paixão voraz e os dias de distanciamento, haviam culminando num contato intenso, onde não havia espaço para suspiros ou juras de amor; apenas duas almas desesperadas para sentir uma a outra o máximo que podiam por meio daquele beijo.

Por estarem sentados lado a lado, a posição não era das melhores, e Iwaizumi não hesitou em inclinar o tronco de Tooru para trás, deitando-o no piso da sacada e deixando sua palma direita como apoio para a cabeça dele. Beijava-o como se fosse a última vez, movimentando os lábios sobre os dele com volúpia e paixão, sentindo o interior ferver em brasas e a vontade de dar continuidade aquilo só aumentar.

Oikawa sentia-se derreter todo por dentro, o coração dava pulos em seu peito, e uma felicidade avassaladora, seguida de um alívio gigantesco, preencheu cada centímetro de seu espírito. Finalmente aquele pesadelo havia acabado, depois de passar semanas sofrendo e se descabelando, indo dormir chorando em seu travesseiro e ouvindo as zombarias de Takeru em seu ouvido, havia conseguido Iwaizumi de volta, e era só isso que importava naquele momento.

Sentia-se em paz.

Seu fôlego ia indo embora a cada segundo passado naquele contato abrasador, e sentir o corpo de Iwaizumi acima do seu despertava diversos desejos primitivos em cada um de seus sentidos, o calor que circundava-os inundando-o e enlouquecendo sua mente. Suas mãos iam alternando entre o rosto e a nuca do atacante, aprofundando o contato com cada vez mais vigor, sentindo o sabor único e viciante que aquela união proporcionava a seu espírito.

E as mãos dele… as mesmas mãos que concluíam seus levantamentos perfeitamente e quase nunca o desapontavam em nenhum sentido, senti-las, agora, levando chamas a seu corpo conforme deslizavam por seus cabelos, nuca e cintura, era simplesmente arrebatador. Podiam chamá-lo de “rei”, mas quando dividiam esses momentos, era sempre Iwaizumi a ditar o ritmo e a intensidade de cada movimento e toque, deixando para Oikawa apenas a ocupação de sentir cada uma das carícias e retribuí-las da melhor forma que conseguia.

Iwaizumi findou o beijo por alguns segundos, deixando que Tooru puxasse ar enquanto o ás se distraía com outras partes de seu rosto, descendo para seu maxilar e pressionando os lábios em sua pele, agora, totalmente quente e sensível. A pressão era esmagadora, e Oikawa só conseguia sussurrar seu nome em meio aos suspiros e às carícias que recebia. Ouviu Iwaizumi resmungar sobre o fato de seu cachecol ser muito grosso e não ter acesso a seu pescoço, logo desistindo e unindo seus lábios novamente, recomeçando com todo o processo de intensa volúpia: lábios movendo-se em meio a uma lascívia sincronia dotada do mais puro desejo.

Aquele seria um momento inesquecível entre eles. Oikawa sempre se lembraria daquele beijo com uma expressão boba-apaixonada e com uma certa vergonha e acanhamento — afinal, aquilo tudo havia rolado bem na porta de sua casa, e agradecia por nem sua mãe e nem seu pai terem saído para chamá-lo ou qualquer coisa do tipo.

Quando enfim o fôlego de ambos foi utilizado até a última gota, Iwaizumi apenas descansou a testa sobre a sua, as respirações aceleradas e os rostos corados e ofegantes depois de tantas carícias trocadas nos últimos minutos. Oikawa deslizou as mãos para seu rosto, passando o polegar com suavidade por seu maxilar e lábio inferior, admirando e sentindo a textura de cada centímetro de sua pele. Iwaizumi decidiu entrar na brincadeira e pressionou os lábios nas pontas de seus dedos, depositando alguns beijos suaves em seus contornos conforme Tooru o enchia de carinhos.

Teriam ficado naquele clima gostoso e confortável por mais algum tempo se não tivessem escutado uma voz infantil e inocente soar acima de suas cabeças:

— Eh??... Então quer dizer que vocês voltaram?

Oikawa soltou um berro. Num reflexo violento, ergueu a cabeça, e a primeira coisa que Iwaizumi sentiu foi uma dor lancinante explodir em seu nariz com a baita “testada” que havia levado em cheio bem no centro dele.

Gemendo, Iwaizumi saiu de cima de Tooru, rolando para o lado, o rosto afundado nas mãos. Choques extremamente dolorosos e violentos varriam cada músculo de sua face, deixando-o um pouco zonzo. Ouviu a voz de Oikawa exclamar, finíssima, ao seu lado:

— Takeru-chan! Há quanto tempo está aí?! — o levantador arregalou os olhos, horrorizado em pensar que o moleque havia visto tudo.

O sobrinho apenas deu de ombros, enfiando as mãos no bolso em desinteresse.

— Cheguei agora. A tia mandou te chamar pra jantar. — disse apenas.

Vendo que Iwaizumi estava sofrendo ali ao lado, Oikawa somente mandou o sobrinho desaparecer lá pra dentro, dizendo que logo entraria. “Maldição, Takeru…”, fez uma careta, comprimindo os lábios em apreensão. Teria que se resolver com ele depois, ou estaria verdadeiramente encrencado.

— Iwa-chan, você tá bem? — ajudou-o a se erguer, demonstrando preocupação.

— Acho que você quase quebrou meu nariz… — os olhos de Iwaizumi lacrimejavam, e Oikawa o obrigou a tirar as mãos da frente, querendo ver o estrago feito.

— Deixa eu ver se machucou muito… — analisou, não vendo sangue ou hematomas presentes. Menos mal. — Ah, não foi nada, tá inteiro. — disse aliviado.

— Fale por você… Tá doendo mais que receber saque na cara. — Hajime reclamou, esfregando a região ferida. — Acho que preciso de gelo.

— Então vamos entrar e eu faço uma compressa pra você. — Oikawa sugeriu. — Assim aproveitamos pra dizer pros meus pais que voltamos a namorar!

— Rápido assim? — Oikawa fez cara feia, e Iwaizumi logo consertou: — Tá, tá, é uma boa idéia… só acho meio constrangedor encará-los agora, sabe? Principalmente depois de eu ter “abusado” do filhinho perfeito deles… — abriu um meio sorriso malicioso.

— Como você é rude, Iwa-chan! — Oikawa avermelhou-se, mordendo os lábios e desviando os olhos. — Vem, vamos entrar.

Antes que ele abrisse a porta, porém, Iwaizumi puxou sua mão, fazendo-o parar.

— O que foi? — ele estranhou.

Iwaizumi apenas o encarou em silêncio, uma rara expressão suave e leve pregada em seus traços fortes, intensos e irresistivelmente atraentes na visão do levantador.

Iwaizumi deu um aperto leve em sua mão.

— Eu… estou feliz. — disse apenas. — Obrigado, Tooru.

Oikawa ergueu as sobrancelhas, agradavelmente surpreendido. Nunca imaginaria uma iniciativa dessas vinda de Hajime. Normalmente era sempre ele a pessoa da relação que fazia demonstrações de carinho espontâneas...

E, igualmente, sentiu-se feliz.

— Eu também estou. — sorriu, aliviado e emocionado. Apertou a mão dele em resposta. — Obrigado, Hajime.


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Notas finais do capítulo

Sem palavras, gente. Quando comecei a ver Haikyuu no início do ano, eu juro pra vocês que eu achava que Iwaizumi e Oikawa eram um shipp canon, de VERDADE, sério. Tinha tudo pra ser, ainda mais pq o anime se passa na atualidade, né. De toda forma, na MINHA cabeça, eles são um casal e ponto.

Espero de verdade que vocês tenham gostado do capítulo, até hoje eu não sou muito segura pra escrever cenas de beijo (só devo ter feito umas duas ou três), então espero que tenha ficado à altura desse shipp tão lindo

Kagehinas, preparem-se para o próximo capítulo, ok? Acho que seus corações vão derreter de amor
Até!



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