A Farsa escrita por Linesahh


Capítulo 2
O plano é feito


Notas iniciais do capítulo

Feliz dia das MÃES!!! Como vocês estão, o dia foi bom? Espero que tenha sido um domingo cheio amor pra todo mundo ♥️
Nem teria capítulo hoje, mas como a data é especial, resolvemos abrir uma exceção; afinal, mãe é mãe, né gente

Bem, eis o segundo capítulo para que vocês comecem a entender melhor o que tá rolando entre o Iwa e o menino Kags; iremos viajar uma semana no passado e ver tudo o que rolou

Boa Leitura ♥️



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Uma semana antes... 

— Ginásio Aoba Johsai

 

Naquele ameno começo de tarde de terça-feira, o ginásio de vôlei do colégio Aoba Johsai estava particularmente cheio, revelando que aquele não era um dia de treino comum. Pudera; em ocasiões de amistosos com outras escolas, as coisas nunca estavam desanimadas.

De toda forma, nem mesmo a presença dos rivais Karasuno (os antigos "Corvos Caídos") estava sendo capaz de despertar o interesse e foco de um rapaz em particular. Com cabelos castanhos-escuros e olhos de um verde-oliva que transpassavam firmeza e intensidade únicas, estava ali o vice-capitão do poderoso time Aoba Johsai.

Iwaizumi Hajime. Ou — como vinha sendo chamado nos últimos tempos — "o ex do Oikawa".

E era exatamente sobre essa nova "denominação" de sua pessoa que Iwaizumi estava pensando, a qual possuía ligação direta com a fonte de todos os seus problemas.

Hajime geralmente não era de ficar se remoendo em pensamentos, longe disso; todos o conheciam como alguém totalmente confiável e de personalidade sólida, por vezes, agindo com solidariedade com os outros — especialmente com os colegas de time. Quando não era Tooru a impulsionar a moral dos integrantes mais novos, era Iwaizumi que cumpria com esse papel, o que tornou-o respeitado e admirado por eles.

No entanto, nada disso estava importando agora. Iwaizumi simplesmente não estava conseguindo aflorar seu auto-controle de forma que pudesse passar pela situação atual sem grandes estresses. Muitas vezes, achava que chegaria a ponto de explodir.

E tudo isso por causa de seu "querido" ex-namorado: o belo e desalmado Oikawa Tooru.

Ele e Oikawa haviam terminado fazia três semanas, e nem por isso aquela situação tensa — para não dizer ridícula — entre ambos parecia diminuir. Oikawa simplesmente estava torturando e provocando Hajime de todas as formas possíveis, formas essas que já estavam passando dos limites da invejável (ou não tão assim) paciência de Iwaizumi.

Oikawa, indiscriminadamente, o irritava sem parar, fosse direta ou indiretamente. O habilidoso levantador, quando Iwaizumi estava por perto, não deixava de comentar, em detalhes, como vinha sendo seus variados encontros com as garotas, assim como os agradáveis passeios que fazia com elas na saída da escola. Além disso, Tooru sempre pontuava o quanto estava feliz de estar solteiro, principalmente pelo motivo de poder aproveitar sua liberdade de forma agradável, agora que não tinha mais um "peso" para carregar.

E isso, é claro, incitava completamente a raiva e o ciúme avassalador de Iwaizumi.

Nem mesmo em relação ao vôlei a situação estava melhor. Nos treinos e amistosos, Oikawa simplesmente não se dava ao trabalho de fazer um levantamento sequer para ele cortar, fingindo que Hajime não estava em quadra. É claro que em partidas oficiais a situação mudava, pois, se existia algo maior que o orgulho de Oikawa, era sua sede pela vitória. Todavia, nem isso possibilitava uma melhor interação entre os dois ex-namorados; além de a comunicação não passar de pura profissionalidade por parte de Tooru, era inevitável impedir que uma tensão recaísse sobre o time.

Aqueles estavam sendo dias extremamente difíceis, dias em que, a todo instante, Iwaizumi tinha vontade de pegar Oikawa pelos ombros e chacoalhá-lo até que aquela postura infantil e insuportável o deixasse para sempre.

Mas sabia que as coisas não eram tão simples assim.

Hajime podia até estar fervendo de raiva e impaciência, tentando reprimi-las o máximo possível, mas, ainda assim, não conseguia ignorar o sentimento que mais incomodava seu peito: culpa. Afinal, acima de todas as atitudes provocativas e impiedosas de Oikawa, Iwaizumi não podia esquecer que aquela situação toda só estava acontecendo por culpa sua.

Era duro admitir, mas... Mesmo que seu orgulho afirmasse o contrário, tudo o que Hajime mais desejava era que seu namoro com Oikawa fosse reatado. Já havia presenciado várias vezes o espanto dos outros a respeito do relacionamento entre os dois, especialmente por conta de ser meio incomum que alguém como Iwaizumi fosse se afeiçoar justamente pela pessoa que Oikawa representava: alguém que, na maior parte do tempo, apresenta atitudes infantis, arrogantes e sem seriedade alguma, além de ser visto por muitos como possuidor de uma personalidade "avarenta".

Iwaizumi, porém — que conhecia Oikawa desde criança —, reconhecia muito bem as verdadeiras qualidades e ideais do ex-namorado. Mesmo não demonstrando, o belo rapaz de olhos-oliva orgulhava-se da pessoa que Oikawa era, admirando sua inteligência e sagacidade e se preocupando quando ele extrapolava demais nos treinos. Oikawa, mesmo com sua confiança imparável, carregava várias inseguranças no peito, e Iwaizumi sabia muito bem reconhecê-las quando essas vinham à tona.

É. Estava realmente com problemas. Oikawa já havia fisgado totalmente a paixão, respeito e amizade de Iwaizumi, e o moreno sabia que não seria de um dia para o outro que todos aqueles sentimentos desapareceriam.

Pois ele não queria que desaparecessem. Podia não parecer, mas Hajime conseguia ser tão teimoso quanto Tooru, e definitivamente precisava achar uma forma de reatar o relacionamento deles. Mas...

Suspirou, enquanto entornava mais uma vez a garrafa d'água, aproveitando a pausa após o fim de um longo set. Era oficial: Iwaizumi não sabia mais o que fazer. Suas ideias para se entender com Oikawa já haviam mais do que se esgotado.

Observou o ex-namorado ao longe. Oikawa conversava amigavelmente com Kunimi e Kindaichi, certamente oferecendo conselhos úteis e práticos para os mais novos. Seu rosto perfeito estava moldado numa expressão leve e satisfeita, a voz certamente soando com o costumeiro tom alegre de quando o levantador encontrava-se de bom-humor.

Iwaizumi sentiu-se incomodado. Desconfiava se, por dentro, Oikawa transpassava a mesma tranquilidade que apresentava por fora.

Em meio ao turbilhão de pensamentos amargurados e estressados de Hajime, não demorou para que os sempre unidos, Matsukawa e Hanamaki, se aproximassem.

— Ainda com problemas, não? — o de cabelo castanho-rosado, certamente tendo percebido o olhar de Iwaizumi fixo em Oikawa, questionou, naturalmente. — Quando vocês vão se resolver, hein? O time está uma droga com vocês se estranhando assim. Não é, Matsukawa?

O outro rapaz, de sobrancelhas grossas e tendo o lábio superior mais pronunciado que o inferior, concordou, com os braços cruzados em tranquilidade.

— Está mesmo bem chato. — expôs, apenas. Matsukawa não era alguém de muitas palavras.

Iwaizumi revirou os olhos, a impaciência voltando a sobressair-se com tudo em seu espírito.

— Se for depender do Oikawa, nunca. — afirmou, enfezado. — Sinceramente, estou cheio disso tudo. Se ele quer que as coisas fiquem assim, que fiquem então. Não quero mais saber de nada. — acabou soltando.

Um longo silêncio abateu o trio de terceiranistas. As palavras de Iwaizumi, mesmo não condizentes em nada com aquilo que verdadeiramente estava sentindo, refletiam boa parte de seu espírito ofendido. Realmente estava cheio daquela situação, e simplesmente não conseguia acreditar que Oikawa estava se mostrando tão normal com tudo aquilo, enquanto que ele sentia-se cada vez mais imerso numa eterna pilha de nervos.

Observando que, por trás de toda aquela pose de durão, Iwaizumi estava realmente péssimo com tudo aquilo, Hanamaki, após uns segundos de reflexão, foi atingido por uma luz.

— Você quer reconquistá-lo? De verdade?

A pergunta, um tanto estranha e inesperada, pegou Hajime de surpresa, que, esquecendo-se momentaneamente do peso esmagador em seu peito, confundiu-se.

— ... Como assim? — franziu o cenho.

Hanamaki parecia cada vez mais animado com a ideia que ia perigosamente tomando forma em sua cabeça, e estava claro, pelas feições bem-humoradas de Matsukawa, que lá vinha uma das ideias mirabolantes do amigo.

Assim, o rapaz de cabelos inclinados a um tom rosado deu seguimento à lógica:

— E se você inverter as coisas? — propôs. — E se você fizer o Oikawa correr atrás a partir de agora?

Iwaizumi estava ainda mais confuso. Como assim "fazer o Oikawa correr atrás"? Qualquer um sabia que isso era algo humanamente impossível de fazer (especialmente quando estavam lidando com a pessoa mais orgulhosa do planeta terra).

— E como eu faria isso? — Hajime não escondeu o absurdo que sentiu ante a ideia idiota.

Makki não desanimou. Virando-se para ter uma melhor visão de todos do ginásio, ficou satisfeito ao achar quem estava procurando.

— Pois bem — apontou para um ponto específico. — Se quer chamar a atenção do Oikawa, finja que está com ele.

Iwaizumi ficou totalmente perdido nos primeiros segundos, até seguir a direção que o indicador de Hanamaki apontava, avistando o pessoal do Karasuno e, surpreendentemente, uma figura alta e um pouco afastada, que bebia a água das garrafas acima dos bancos.

Iwaizumi sentiu a mente pifar.

— O quê? — seu tom saiu entre desacreditado e perturbado. — Do que está falando?

Matsukawa pareceu compreender a ideia.

— Ah... aquele não é o Kageyama, o ex-kouhai que o Oikawa odeia? — comentou.

Makki assentiu, animado.

— Exato. — olhou para Iwaizumi. — Finja que está namorando com ele. Oikawa com certeza será incapaz de ignorar uma coisa dessas. — explicou, simplesmente.

Hajime não estava acreditando no que estava ouvindo. Aquela ideia absurda de Hanamaki havia superado toda e qualquer idiotice que já tinha visto Oikawa dizer na vida.

Fingir-se de namorado de ninguém mais, ninguém menos que... Kageyama Tobio?

— Que ideia mais imbecil é essa? — não conteve o tom rude na voz, a irritação e impaciência que sentia contribuindo totalmente para isso. — Oikawa vai ficar ainda mais furioso do que já está, isso só vai piorar as coisas!

Matsukawa fingiu não entender a gravidade da situação, um leve sorriso preenchendo seu rosto.

— Mas não é ele, afinal, que está pedindo pelo método mais difícil? — um fraco aspecto de divertimento perpassou por suas feições, e Makki continuou:

— Isso mesmo; te ignorando, saindo com as "fãzinhas" dele... — complementou, a voz repleta de indireta e ironia. Ele queria mesmo ver o circo pegar fogo. — Diz se ele não merece passar "um pouco" de nervoso?

Iwaizumi sentiu-se abespinhado. Estava pronto para negar, afirmando que aquela era a maior idiotice que já havia escutado e que nem em um milhão de anos aceitaria participar de algo assim. Até que...

Não entendeu. Por que raios, de repente, lembranças e sentimentos negativos que estiveram lhe acompanhando nas três últimas semanas estavam retornando com o máximo de vigor e resistência possível agora?

Por mais que tentasse, não conseguiu evitar... Desse modo, Iwaizumi começou a pensar em todas as sujeiras que Oikawa vinha fazendo consigo sem dó; de todos os telefonemas sem retorno; de todas as provocações e indiretas; de toda a negligência e ignorância com a qual estava sendo tratado...

Enquanto isso, o que Iwaizumi estava fazendo? Isso mesmo: nada — além de executar um perfeito papel de idiota.

Hajime estava dando seu máximo para resolver aquela situação, mas estava óbvio que Oikawa não cederia tão cedo. Ou pior: talvez nem chegaria a ceder.

E foi movido a todos esses sentimentos de cólera e mágoa que Iwaizumi, sem pensar, decidiu-se (para a imensa surpresa e animação dos dois companheiros):

— Tudo bem. Estou dentro.

 

◾◾◾

 

Kageyama definitivamente não estava em seus melhores dias, e participar daquele amistoso de última hora contra o Aoba Johsai não ajudava a melhorar seu péssimo humor. A presença de Oikawa era, claramente, a principal contribuidora para acionar uma certa ansiedade e temor em seu peito, assim como — é claro — um sentimento de rivalidade e perseverança obstinados.

Ainda assim, daquela vez não era precisamente Oikawa o motivo para seu estresse e desconforto nos últimos dias. A máquina de bebidas em Karasuno, a qual Kageyama utilizava todos os dias para pegar suas amadas caixinhas de iogurte, havia quebrado no começo da semana anterior, e tal tragédia fazia com que a impaciência e desagrado do levantador aumentasse em graus elevadíssimos.

O time, sabendo de sua "sensível condição", não o importunava ou mexia com ele. Percebendo isso, no começo, Kageyama até sentiu medo de sua atitude estar afastando-os ou despertando desconfianças para cima de si, mas ele logo se acalmou ao ver que os colegas simplesmente sabiam que, assim que a máquina voltasse, Kageyama voltaria a relaxar.

É. Aquilo não era Kitagawa Daiichi, e Kageyama ainda tinha que enfiar isso permanentemente na cabeça.

O único que não se dava ao trabalho de esconder o claro temor em relação à personalidade mal-humorada de Kageyama era, como esperado, Hinata. O garoto de labaredas alaranjadas procurava passar bem longe do amigo nos últimos dias, mostrando-se bastante ansioso em se aproximar de Tobio e, por conseguinte, receber sua fúria.

Aquilo, é claro, não surpreendia Kageyama, e era até conveniente que Hinata se mantivesse longe, pois o pequeno, quando Kageyama estava nervoso, realmente costumava virar alvo de suas frustrações. Tobio apenas se impacientava levemente com o quanto Hinata, às vezes, era medroso. Shouyou definitivamente não merecia carregar o título de mais velho entre os primeiranistas, enquanto Kageyama encontrava-se como o último da lista.

Sim. Aqueles estavam sendo dias difíceis para o antigo "Rei da Quadra", e o próprio Tobio tinha ciência de que seu estado de espírito só voltaria ao normal após ingerir um dos deliciosos iogurtes de leite.

E, como se não bastando todo desânimo e inquietação pelo qual estava passando, Kageyama não estava entendendo absolutamente nada daquela conversa bizarra e absurda que os terceiranistas da Seijoh haviam começado a jogar para cima de si.

O amistoso havia acabado há alguns minutos, e enquanto os jogadores do Karasuno recolhiam seus pertences para regressar ao colégio, Kageyama foi chamado num lugar reservado para conversar com os membros mais velhos do time da Aoba Johsai.

A parcial surpresa de Tobio ficou clara. Geralmente, tentava passar longe do pessoal daquela escola, especialmente por já ter convivido com alguns deles numa época que não gostava nem um pouco de lembrar.

Mesmo o desentendimento preenchendo as simétricas feições de Kageyama, isso não impediu Hanamaki e Matsukawa de despejar sobre si a ideia mais louca e mirabolante que o mais novo já tinha escutado. Os dois terceiranistas pareciam bastante animados e insistentes com o plano maluco, enquanto que Iwaizumi Hajime, que também encontrava-se ali, mantinha-se calado, os olhos evitando mirar Kageyama, desconfortáveis. O antigo veterano de Tobio não parecia estar gostando nada da conversa, mas também não a cortava, de qualquer maneira. Ele só mostrava, na verdade, grande parcela de constrangimento por trás de sua estatura permanentemente firme.

Bem, não podia-se dizer que Kageyama não achava isso totalmente compreensível.

"Me fingir de namorado do Iwaizumi-san?", sentiu uma quentura entre irritada e desconfortável subir-lhe à face, a vergonha e aflição nítidas. Aquilo era uma piada?

É claro que, de imediato, recusou.

— Oras, não seja tão careta, Kageyama. É só para ajudar o Iwaizumi; lógico que não será de verdade. É só uma brincadeira; uma farsa. — Makki insistiu, usando do tom mais natural possível para convencê-lo, como se, assim, a situação se assemelhasse a algo perto do "comum". — E veja bem: fazendo isso, você irritaria o Oikawa, como forma de vingança ou algo assim. — levantou o ponto, enquanto Matsukawa acenava num gesto apoiador.

Kageyama piscou, de repente, parecendo um tanto receptivo à ideia. Mas, é claro, não demorou para a dúvida lhe preencher em poucos instantes.

Obviamente, a ideia de amolar Oikawa era tentadora, mas... Isso não tratava-se de motivo suficiente para fazer algo tão idiota assim, não é?

Embora considerasse tal lógica, não conseguiu esconder grande hesitação na voz. Sentia-se bastante deslocado na presença dos mais velhos, principalmente a respeito de sua inclusão inusitada em um plano doido como aquele:

— Eu não...

— Você quer alguma coisa? — Hanamaki finalmente apelou para sua cartada final.

— Hã? — Kageyama se confundiu.

Makki acenou, categórico. Ele realmente parecia disposto a fazer qualquer coisa para que tudo aquilo funcionasse.

— É; qualquer coisa que você quiser. Vamos, pode dizer.

— Especificamente o que estiver ao nosso alcance. — Matsukawa não deixou de acrescentar. Tinham de ser realistas, apesar de tudo.

Pedir alguma coisa? Mesmo que na política de negociação aquilo fosse algo esperado, Kageyama foi pego de surpresa pela oferta.

Mas... o que Tobio poderia tanto querer que ultrapassasse as barreiras do desconforto e constrangimento que a execução daquele plano iria, certamente, lhe causar? Definitivamente nada, não?

Apesar que... de repente, foi como se uma força desconhecida tivesse se apossado de seus sentidos gustativos, relembrando-o da abstinência que estava sofrendo há vários dias e que, definitivamente, precisava sanar.

E foi sem pensar nas próprias palavras que Kageyama soltou, distraído:

— Ah... eu queria o meu iogurte. — informou, simplesmente. — A máquina do Karasuno quebrou.

A confusão no rosto de Makki e Matsukawa foi unânime, fazendo Iwaizumi se intrometer pela primeira vez na conversa:

— Sei do que está falando. É o mesmo que você costumava beber no Kitagawa Daiichi, não? — um pouco surpreso, Kageyama assentiu. — Temos esses iogurtes aqui, na Seijoh. Você pode vir pegar com a gente a hora que quiser.

Kageyama não sabia o que lhe deixava mais desnorteado: o fato de, após dias procurando em todas as lojas de conveniências — incluindo a do técnico Ukai —, não ter encontrado seu amado iogurte em lugar algum e, agora, descobrir que a Aoba Johsai possuía-os em sua grade alimentícia; ou o simples fato de os quatro estarem negociando míseras caixinhas de leite quando, na verdade, para qualquer um de fora parecia que estavam planejando onde esconder o dinheiro da máfia que faziam parte.

No entanto, mesmo agora sentindo-se extremamente inclinado a aceitar participar do plano, ainda assim, Kageyama não estava cem por cento convencido.

No entanto, era óbvio para os terceiranistas que, com mais um empurrãozinho, conseguiriam ter o garoto na palma da mão.

— Olha, eu não sei...

— A gente paga, falou? — Makki, enfim, deu a cartada final.

As feições de Kageyama mudaram por completo. Da dúvida e desconforto, foi, indiscutivelmente, para surpresa e contemplação.

Definitivamente viu vantagem na proposta. Bem que estava querendo economizar para comprar uma bola de vôlei nova; a sua já estava gasta de tanto treinar levantamentos retos.

Por sinal, a nova postura de aceitação para qual Kageyama considerava, agora, aquela ideia de farsa, revelava, também, outra curiosidade sobre sua pessoa:

Ele realmente não era muito inteligente.

— Tudo bem. — acenou, desabrochando a animação e surpresa dos dois mais velhos na mesma hora. Iwaizumi, por outro lado, somente suspirou, como se dissesse para si mesmo: "E lá vamos nós... droga". — O que tenho que fazer?

Hanamaki estava com um sorriso enorme, e os olhares que ele e Matsukawa trocavam revelavam que, definitivamente, se divertiriam muito com tudo aquilo.

— Por enquanto, nada. — garantiu. — Não se preocupe, a gente vai te avisando por mensagens. Agora que está tudo certo, precisamos resolver quando soltaremos a bomba para todos. A única coisa que você vai precisar fazer, quando chegar a hora, é dizer "sim" para aqueles que perguntarem se você e Iwaizumi estão realmente namorando; simples assim.

Desse modo, após receber um aceno de cabeça divertido de Matsukawa, a dupla de terceranistas se afastou, ambos parecendo extremamente agradados com o planejamento daquela farsa idiota.

Foi só então que Tobio percebeu a presença de Iwaizumi, que ainda estava ali. Talvez fosse por uma questão de respeito, mas Kageyama sentiu a estranha necessidade de ajeitar a postura; afinal, além de admiração, sempre achou Hajime um cara legal (diferentemente de Oikawa, que, na época do Kitagawa, parecia não suportar a presença do "gênio" mais novo).

Iwaizumi parecia envergonhado, e não era para menos; ter de arriscar a própria credibilidade numa ideia como aquela e, ainda, recorrer a ajuda do ex-colega de time mais novo? Kageyama imaginou que seu orgulho como veterano estava sendo gravemente ferido.

Hajime se preparou para falar algo, mas, por algum motivo, desistiu. Em vez disso, após respirar fundo e acenar para si mesmo como forma de conseguir — ou tentar — lidar com a situação do jeito mais natural possível, apenas disse:

— Venha amanhã, que entregarei os iogurtes para você. — e, lhe oferecendo um último olhar com seus olhos verde-oliva, os quais transpassavam interna dúvida se aquilo realmente funcionaria, proferiu: — Até.

Assim, Kageyama também logo se retirou, a confusão e desconcerto ainda presentes em seu espírito. Sua mente custava a entender tudo o que havia acabado de acontecer ali.

Assim como, principalmente, no que ele havia se metido.

De toda forma, a surpresa que sentia em relação à Iwaizumi ter aceitado participar daquilo tudo sobressaia-se bastante. Pelo que conhecia do mais velho, dificilmente ele concordaria com algo do gênero.

Lembrou-se, então, do ex-namorado do moreno. Iwaizumi devia realmente estar desesperado...

No entanto, mais inusitado que qualquer coisa, por que ele, Kageyama, havia aceitado fazer parte daquela farsa? Diferentemente de Iwaizumi, ele não possuía motivações sólidas o bastante... bem, isso tirando sua grande — catastrófica — abstinência dos iogurtes. Também tentou se convencer de que a pressão que os terceiranistas lhe impuseram contribuiu fortemente para esse cenário.

É, não tinha mais volta. Ao menos não teria mais de se contentar com o suco de laranja horrível que a cantina oferecia.

Enquanto se aproximava do ônibus que levaria tanto ele, quanto o resto do Karasuno, de volta ao colégio, Kageyama ainda se perguntava se havia feito o certo, até que, ao longe, viu a figura pequena e alaranjada de Hinata Shouyou, a qual embarcava no automóvel conversando alegremente com Nishinoya.

E foi nesse instante que Kageyama Tobio soube:

Já estava arrependido.


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Notas finais do capítulo

Sim, Kageyama aceitou entrar na farsa por causa de IOGURTE, gente. Não dá pra levar esse menino a sério, Mas do jeito que ele sempre se mostrou besta e sonso no anime (com excessão do vôlei, é claro) não duvido muito que ele fizesse algo do tipo huaahuaauahau
E agora? O que será que vai dar esse namoro falso, hein? Será que o Oikawa vai realmente correr atrás ou irá fazer outra coisa? E quanto ao Hinata? Ele vai ficar bem com essa mudança? Digam aí o que vocês acham
O próximo capítulo se chama “Oikawa entra em cena”, então já viu, né...
Até o próximo ♥️



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