O SOM ESTRIDENTE DO GIGANTESCO RELÓGIO CUCO ASSUSTOU ANDRÔMEDA, fazendo com que levantasse em um sobressalto da cadeira confortável de veludo, derrubando vários livros, fichários e outros materiais que estavam sobre a mesa onde adormecera. Sua posição era de ataque, estando preparada para enfrentar qualquer tipo de perigo que pudesse ter atrapalhado seu sono. Felizmente, não haviam ameaças, apenas o maldito relógio cuco que ganhou de presente de casamento adiantado. Uma maldita herança de família do seu noivo com a qual teria de conviver pelo resto da vida.

— Amor! Estou aqui! Você está bem? — O barulho alto gerado pelos objetos pesados que caíram da mesa fizeram com que Javier, seu futuro marido, ingressasse no escritório segurando fortemente um taco de beisebol. Ao ver a figura do noivo preparado para lutar na intenção de protegê-la, as expressões preocupadas de Andie deram espaço para uma gostosa gargalhada, a qual pegou Javier de surpresa — O que foi?

Sorrindo gentilmente, Andrômeda caminhou até o noivo e beijou os lábios com ternura. Existiam fatos sobre ela que permaneciam como segredos para Javier, fatos sobre sua criação e família, fatos que durante os seis anos de união jamais pensou em revelar. Fatos que geraram a graça de ver o homem de 1,86 metros de altura e pouca experiência de combate estando pronto para defendê-la com sua vida, caso necessário. Defender uma mulher de 1,63 metros com super-poderes que derrotou homens mais preparados e maiores que Javier durante o auge da vida que prometera deixar para trás.

— Nada — Mentiu acariciando a face do futuro marido. No fundo ela desejava contar a verdade, explicar sobre sua família antes de trocarem os votos matrimoniais. Mas não queria espantar o primeiro relacionamento "normal" que tivera em sua vida.

Normal. Essa palavra nunca esteve presente no vocabulário de Andrômeda, pelo menos até ela atravessar o Atlântico e começar uma vida nova na Inglaterra com ajuda de seu pai, o excêntrico milionário Sir. Reginald Hargreeves, adotando um novo sobrenome e ignorando o passado. "Você merece um recomeço", essas foram as últimas palavras ditas por seu pai de acordo com Pogo, o mordomo da casa com quem agora só conversa por telefone em datas comemorativas.

Uma vida dentro do que as outras pessoas consideravam ser "normal" não estava na lista de desejos e metas a serem cumpridas de Andrômeda. O diferente a agradava, o excêntrico, a vida que deixou para trás quando saiu do conforto do lar. Ela fazia parte de algo importante e, para ela, fazer parte de algo especial a tornava especial.

A estranheza e o desconhecido fazem parte da sua vida desde o seu nascimento no dia primeiro de Outubro de 1989. Para algumas pessoas essa pode ser considerada uma data comum, para os fãs de Astrologia marca o dia que o sol entra em Libra. Mas para Andrômeda foi quando o inacreditável aconteceu, sendo o primeiro indício de que estava fadada ao extraordinário. No dia de seu nascimento, às 12 horas, 43 mulheres ao redor do mundo e sem ligações aparentes entraram em trabalho de parto, poderia ser apenas outra coincidência comum, afinal crianças nascem o tempo inteiro, entretanto nenhuma dessas mulheres estavam grávidas quando o dia começou.

Dessas 43 crianças extraordinárias nascidas nesse evento "mágico", 8 delas foram adotadas pelo excêntrico e aventureiro bilionário Sir. Reginald Hargreeves. Outro evento que poderia ser considerado comum, afinal muitas famílias adotam. Porém eles não eram uma família como as outras, eles eram uma família de Super-heróis. Dotados de poderes especiais, pelo menos sete deles, todos foram treinados para salvarem o mundo, formando a famosa THE UMBRELLA ACADEMY. E Andrômeda, conhecida como número 8 por ser a última criança a ser adotada, era um dos membros da equipe.

Desde tenra idade ela e seus irmãos foram criados para combaterem o mal, aprendendo a duelar, manusear armas, todos os idiomas existentes e extintos, entre outras atividades que fazem parte do combo de heróis. E, o mais importante, controlar seus poderes. Assim como todo bom super-herói, Andrômeda possui habilidades fora do comum, a sua é a Aeromocinese. Ela é capaz de controlar os odores ao seu redor, manipular os feromônios e captar o perigo graças ao seu olfato aguçado, também possui empatia, sabendo o que as pessoas sentem através dos odores característicos que exalam. Essa é uma das razões de ser bioquímica e sentir atração pelo mundo Boticário.

Toda sua vida de heroísmo foi deixada para trás quando, pouco a pouco, a família foi desfeita e a distância instaurada. O primeiro a deixar a vida de Andrômeda foi Cinco, um dos seus irmãos favoritos, após uma discussão com o pai o menino saiu de casa aos 13 anos e nunca mais apareceu. O segundo foi Ben, por quem Andie era devota e apaixonada, mas não no sentido romântico da palavra. Ele era seu braço direito, seu melhor amigo e favorito, não a chamava de "Garotinha do papai" ou implicava pelo favoritismo que os outros diziam que ela possuía. Quando Ben faleceu durante uma missão, foi como se uma parte dela tivesse sido arrancada. Porém ela nunca deixou de sentir o cheiro do rapaz, pelo menos quando estava perto de Klaus. A terceira foi Allison, sua irmã famosa e menos favorita, as brigas entre elas eram comuns desde tenra idade. Allison costumava dizer que Sir. Reginald tinha Andrômeda como favorita porque ela utilizava de seus poderes, o que era uma afirmação completamente falsa e equivocada. As brigas só pioraram com os anos, chegando ao ponto de perderem o contato por completo, o que para Andie foi um alívio. Com Luther a falta de assunto, tempo e vida adulta foi a responsável por separá-los, nunca foram chegados quando crianças devido aos ciúmes que um sentia do outro em relação ao pai e por Luther estar sempre ao lado de Allison nas discussões, entretanto ele chegou a enviar uma mensagem de suporte quando ela estava prestes a iniciar sua nova vida. Seu distanciamento com Diego ocorreu graças a um evento embaraçoso do qual não gosta de ser lembrada e que ocorreu uma semana antes dele deixar a academia. Os únicos irmãos com quem Andrômeda ainda possui algum tipo de contato são Klaus e Vanya.

De todos seus sete irmãos, Klaus foi o único a ser apresentado para Javier pessoalmente. Afinal, foi graças ao irmão que ela esbarrou com o homem dos seus sonhos num pub no dia de São Patrício. Fazia um ano que Andrômeda havia saído de casa e estava utilizando do sobrenome "Geller" para ter o recomeço de sua vida quando Klaus apareceu no apartamento que morava dizendo estar preocupado com ela. No fundo a visita surpresa era para arrastá-la do conforto do lar para levá-la a uma "aventura" pela Irlanda. Durante essa "aventura" entre irmãos, ela conheceu Javier, na época um homem recém divorciado que buscava aproveitar o tempo perdido com os amigos. A conexão entre eles foi instantânea e desde então seguiram em frente com o relacionamento.

A partir de então o dia de São Patrício tornou um marco na vida de Andrômeda. Pois foi nesse dia que conheceu o amor de sua vida e foi convencida por Klaus a não voltar correndo para a casa do pai, dando uma chance para as novas oportunidades que poderiam aparecer com esse recomeço. O que mais agradou Andrômeda foi o fato de Klaus passar alguns dias em sua casa, onde ela pode cuidar dele e certificar de que o mesmo não usaria substâncias ilícitas enquanto estivesse por perto. Uma das coisas que odiava no irmão eram suas constantes idas a reabilitação, odiava vê-lo jogar a vida no lixo daquela maneira e odiava ainda mais ter de ir ao hospital buscá-lo quando era internado.

A pessoa mais tranquila da família de Andrômeda, pelo menos em sua visão, era Vanya. Diferente dos outros, a irmã de número 7 não possuía poderes aparentes e nunca chegou a participar das missões com os demais, servindo como auxiliar do Sr. Hargreeves durante a maior parte do tempo. Não foi um choque para Andrômeda quando a autobiografia da Vanya foi lançada, no fundo ela faria a mesma coisa caso tivesse sido tratada daquela forma, sendo deixada de lado e quase ignorada. A exposição dos segredos da família não agradavam Andrômeda, o livro em si era extremamente de mal gosto ao seu ver e muitos eventos poderiam ter sido narrados de outra forma. Mas aquela era a visão de Vanya, contendo sentimentos que precisavam ser extravasados. Tanto que foi o lançamento do livro que forçou Andrômeda a aproximar da irmã após ela deixar a casa, a vida dela como Sete fora ruim o suficiente e Andie não queria que a irmã pensasse que não era amada por alguém, não a negligenciaria como antes.

— Estava lidando com os detalhes do casamento, acabei adormecendo — Andrômeda passou a mão sobre o bastão de beisebol que o homem segurava até chegar em sua mão — É ótimo saber que tenho alguém para me proteger.

— Faria qualquer coisa por você, meu amor — Javier beijou a ponta do nariz de Andrômeda, em seguida cada uma de suas bochechas e, por último, seus lábios — Sabe, agora que limpou a mesa do escritório, o caminho está meio andado...

— Não, Javier! — Andie exclamou rindo ao notar as intenções do futuro marido, por mais tentador que fosse, estava deveras cansada para aquele tipo de atividade. Além de que o relógio cuco acabaria estragando a diversão com seu som estridente em algum momento. — Não posso correr o risco de estragar nossos convites, ou os fichários, nenhum deles me pertencem. — Se afastando do noivo, ela abaixou e começou a recolher os objetos do chão — Agora pare de olhar minha bunda e venha ajudar sua bela noiva.

— Claro — Assentiu Javier risonho, rapidamente juntando com Andie na organização — Amor, posso te fazer uma pergunta?

— É óbvio que sim — Ela levantou colocando o máximo dos fichários que conseguiu carregar de volta no lugar — Pode fazer quantas perguntas quiser. Agora, se eu vou responder já são outros quinhentos.

— Engraçadinha — Javier levantou fazendo o mesmo movimento de Andrômeda, porém permaneceu segurando alguns convites nas mãos e o livro escrito por Vanya. — Quando vai me apresentar a sua família americana?

— Você conheceu o Klaus, ou esqueceu dele? — Perguntou Andie tentando disfarçar o mal jeito com a pergunta, a resposta que queria dar de verdade era NUNCA.

— Sei que tem outros irmãos — Disse Javier entortando o lábio — Estamos juntos a cinco anos e você nunca me apresentou a eles.

— Seis anos — Corrigiu Andie retirando o livro das mãos do marido com sutileza e os convites — E tudo no momento certo.

— Qual o motivo de tanto mistério, afinal? Seria ótimo conhecê-los antes do casamento — Insistiu Javier abraçando a futura esposa pela cintura — Amor, você conhece até a família de minha ex-esposa e eu não faço a mínima ideia sobre a sua.

— Já te contei sobre eles — Disse Andie tentando desviar do assunto, havia contado meias verdades sobre seus irmãos e irmãs, e omitido seus nomes, quanto menos informações reais soubesse, menores eram as chances de descobrir o passado de Andrômeda. - Lucius trabalha para a Nasa, Douglas é detetive particular, Arlete é figurante em produções famosas, Klaus é o Klaus, Ben morreu e Vanessa escreve ficções científicas.

— Tudo bem, continue fazendo mistério sobre eles, no dia do casamento vou arrancar o máximo de histórias que escondeu sobre eles, além de algumas de suas bizarrices de infância — Zombou Javier franzindo o cenho. — Aposto como o Klaus vai me ajudar.

— Ah, claro! — Andromeda semicerrou os olhos, concordando cheia de sarcasmo no tom de voz. As bizarrices de sua infância superavam qualquer expectativas que Javier pudesse ter, dando significado a palavra - Pode apostar que ele vai.

Cansada de todo aquele assunto sobre família e determinada a calar Javier por algumas horas mudando o foco da conversa, Andrômeda beijou o noivo com luxúria. Tinha a noção de que em algum momento teria de abrir o jogo com Javier e despejar toda a verdade que omitiu durante os anos. Mas, por enquanto, continuaria desconversando. Quanto menos Javier soubesse, menores eram as chances de fugir a abandonando no altar.

Seria incorreto dizer que Andrômeda não havia imaginado como contar sobre sua vida ao futuro marido, desde o primeiro dia que começaram a viver juntos tinha arquitetado o plano que julgava perfeito. Esperaria o amado estar quase no final de sua vida, já tendo enfrentado todas as doenças e problemas que um casal enfrenta ao longo dos anos, assim a novidade não teria grande impacto negativo. Caso tivesse haviam alternativas. Andrômeda revelaria o segredo lhe entregando a autobiografia da irmã e dizendo "Leia, essa é a verdade sobre minha família", se a revelação de ser casado com uma super heroína não fizesse o coração de Javier parar de bater, alguma parte do livro seria responsável e ele não teria tempo de fazer perguntas, apenas aceitar o quanto o resto de sua vida foi fantástica ao lado da mulher perfeita que Andrômeda provou ser durante todos esses anos.

Estavam prestes a darem início as preliminares quando outro barulho atraiu a atenção do casal, dessa vez o responsável por atrapalhar a concentração de Andrômeda não foi o relógio cuco, mas o seu aparelho celular que vibrava ao som de "Day-O (The Banana Boat Song)". Aquela ligação significava mal agouro, pois aquele toque em específico estava atribuído diretamente ao contato de sua casa. Pogo, o mordomo, era o único que ligava para trazer alguma notícia do lar, algo que não ocorria a alguns anos. Outro fato interessante que teria de contar ao marido no futuro, era que o mordomo que tanto falava com carinho se tratava de um chimpanzé.

— Deixe tocar — Pediu Javier sem parar de beijar o pescoço de Andrômeda.

— Não posso — Andrômeda desvencilhou de Javier e pegou o celular, atendendo o mais rápido que conseguia enquanto deixava o escritório. — Pogo?

— Como está, senhorita Andrômeda? Creio que já tenha visto os noticiários.

— Não, estive lidando com o detalhes do casamento e não passa nenhum jornal que preste a essas horas. O que houve? — Perguntou Andrômeda ficando pálida, o tom de voz do Pogo era péssimo e pelo horário da ligação as notícias não seriam das melhores — É o papai, não é?

— Preciso que seja forte, senhorita Andrômeda. — Pogo fez uma pausa breve e prosseguiu - Seu pai faleceu nessa tarde, o encontrei na cama. Os socorristas disseram que foi infarto fulminante. A polícia também foi acionada, mas não houve indícios de um possível assassinato. Sinto muito, senhorita Andrômeda.

Antes mesmo de Pogo trazer as más notícias, Andrômeda começou a chorar pesarosamente. Lágrimas salgadas percorreram sua face até despencarem do queixo, devido ao forte sentimento de tristeza houve mudança no odor natural que exalava com alteração de seus poderes, deixando de ser o de flores campestres e tornando a mescla de chuva e terra molhada, idêntico ao do dia em que Ben faleceu e foi enterrado. Ela levou a mão até a boca para abafar o grito de sofrimento e amargura.

A morte do pai lhe atingiu como uma faca, um golpe dolorido do destino. Memórias do pasado rapidamente ocuparam sua mente, tranzendo com ela os sentimentos de culpa. Julgava uma péssima filha por não estar ao seu lado nos últimos anos, por não ter contrariado suas ordens sobre "não entrar em contato", por obedece-lo cegamente. Sua última memória do pai era de um abraço sem jeito no seu primeiro e último aniversário em casa, onde estavam presentes apenas ela, o pai, a mãe e Pogo. Todos os outros tinham deixado a casa e Luther estava na lua. Aquele abraço desajeitado foi o primeiro e único contato físico e de afeto que teve com o pai, não era muito, porém fora seu melhor presente de aniversário. Pois através daquele abraço ela teve certeza de que o homem a amava lá no fundo, mesmo sem demonstrar do jeito usual. Ela não deveria ter ficado afastada da família durante todos esses anos.

— Os outros já sabem? — Perguntou Andrômeda com a voz falha.

— Creio que sim, senhorita. Está anunciando em todos os jornais e meios de comunicação — Respondeu Pogo pesaroso.

— Quando será o... — Ela começou a falar, porém as palavras falharam e não foi capaz de terminar a frase.

— Amanhã, quando todos estiverem aqui. Enviamos alguém para buscar a senhorita, esteja no aeroporto daqui uma hora. Acredito que de tempo de organizar seus pertences e falar com seu noivo — Disse Pogo do outro lado da linha.

— Claro... — Ela assentiu nervosa mordendo o dedo indicador — Obrigada, eu... Estarei aí em algumas horas.

Abalada com a notícia, Andrômeda desligou o telefone e sentou na poltrona mais próxima. Precisava de um tempo para absorver todas as informações recebidas. A morte do pai, a primeira vez que reencontraria todos os irmãos em um único lugar depois de anos, como falaria sobre o casamento.

— Andie, meu amor. Está sentindo esse cheirinho maravilhoso de chuva? — Javier ingressou na sala sorridente, tentando fazer suas típicas brincadeiras, no fundo pensava que era outra ligação de Klaus para avisar que tinha ingressado mais uma vez na reabilitação, já que estava perto quando ouviu Andrômeda o fazer prometer que ficaria, pelo menos, três meses sóbrio antes do casamento. Entretanto ao deparar com as expressões da noiva, Javier desmanchou o sorriso e começou a se preocupar — O que houve meu amor? É o Klaus? Ele está bem?

— Não... Não é o Klaus — Ela balançou a cabeça negativamente e correu até o noivo, o abraçando com força em buaca de suporte — É o meu pai... Ele... Ele faleceu. Preciso voltar para casa.

— Meu Deus, Andie — Javier a agarrou em seus braços tentando passar o máximo possível de conforto e presença — Eu sinto muito. Estou aqui por você. Não precisa enfrentar isso tudo sozinha.

— Preciso ir ao aeroporto — Andrômeda afastou de Javier limpando as lágrimas na manga da camisa e andou apressada para o quarto.

— Eu vou com você — Disse Javier decidido enquanto a acompanhava. — Não vai viajar assim.

— Não, preciso que fique — Ordenou Andrômeda espalmando a mão sobre o peito do noivo, o obrigando a parar. — Isso é um negócio de família.

— Por isso que vou, logo estaremos casados no papel e estarei ligado eternamente a você e sua família — Rebateu Javier apoiando sua mão sobre a de Andrômeda. — Isso não é qualquer coisa, seu PAI faleceu.

— Você não vai querer fazer parte disso — Ela puxou a mão e afastou alguns passos — Minha família é um show de horrores quando estão juntos.

— Todas são, porque acha que estou sofrendo com a divisão das mesas na festa? — Javier riu fraco na tentativa de quebrar o gelo. — Vou preparar a minha mala.

— Não tenho tempo para te esperar, serão sete horas de viagem e quero ser a primeira a chegar — Andrômeda puxou a mala que deixava pronta na parte de cima no fundo do closet.

— Você já deixa uma mala de viagem pronta? — Perguntou Javier surpreso.

— Deveria fazer o mesmo, meu amor — Andie depositou um beijinho rápido na boca de Javier enquanto passava por ele — Só preciso pegar os convites e meu livro.

Carregando a mala pesada com certa facilidade graças a todos os anos de musculação e treinamento, Andrômeda foi até o escritório e pegou alguns convites, enfiando todos de qualquer jeito dentro da autobiografia de Vanya.

— Andie, não vou deixá-la sair assim — Disse Javier parando na porta do escritório, a impedindo de prosseguir. — Está visivelmente abalada.

— Não me obrigue a fazer o que não quero — Disse Andrômeda avaliando Javier dos pés a cabeça.

— Você vai me esperar, vamos juntos e...

Notando que aquela discussão iria longe e que não tinha tempo para aquilo, Andrômeda não viu outra opção senão usar seus poderes em Javier pela primeira vez. Concentrando seus pensamentos no que desejava, um odor forte começou a exalar através dos poros da mulher em forma de vapor levemente esverdeado e ingressaram nas narinas de Javier, derrubando ele instantaneamente, caindo desacordado de qualquer jeito sobre o chão de madeira.

Chateada com o que havia feito, ela agachou para certificar de que não havia o matado sem querer. Afinal, faziam anos que não utilizava de seus poderes e efeitos colaterais graves poderiam acontecer se fosse má sucedida. Antes de levantar e seguir viagem, ela sussurrou em seu ouvido.

— Desculpe, meu amor. Mas é para o seu bem. Você não vai se lembrar de nada da última meia hora — Sutilmente beijou a bochecha do futuro noivo. — Espero que não deixe sequelas e já peço desculpas antecipadas pela futura ressaca.

Com os olhos cheios de lágrimas e o coração pesado com a reviravolta causada em sua vida naquela madrugada, Andrômeda escreveu um bilhete dizendo ter ido resolver um problema de família "normal" e pediu para que ele ligasse quando acordasse de manhã. Após assinar como "A. Geller", ela deixou o apartamento e pegou um táxi para o aeroporto.