BakuVision escrita por Lenka Volkovesque


Capítulo 6
Efeitos especiais


Notas iniciais do capítulo

Peço perdão pelo tamanho do capítulo e pela demora para atualizar.



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Torre Kyuusei. Sete anos atrás. 

— Você? Um pai? 

Katsuki sentiu um leve tremor sobre sua barriga. Ochako ria como se três palhaços tivessem caído de seus monociclos, um de cada vez. 

— Que foi? Acha que eu seria um pai ruim? 

— Não é isso - ela disse, contendo os últimos resquícios de riso - Só achei bem aleatório. 

Estavam no dormitório dele, na torre Kyuusei. Ambos deitados na cama, num momento descontraído; ela por cima. 

— Eu tenho vontade de ter uma família grande. Com três ou quatro filhos - Um semblante relaxado. Nenhum tom de defensiva, nenhuma resposta seca. Katsuki só se abria assim com ela. 

— Por que tantos filhos? Por que não um ou dois? - Não era uma tentativa de convencer o feiticeiro de algo, ou de contestar suas vontades. Ela realmente estava curiosa sobre ele. Sobre todos os seus desejos incógnitas. 

— Minhas melhores lembranças são correr e jogar bola cercado de outras crianças. Quero isso para os meus filhos.  

— Me fale sobre seus amigos em Naririku.  

— O que você quer saber? 

— Você tem esses poderes de bruxo. Os outros também faziam algo fora do normal? 

— Sero era um velocista. E, sim, a gente tirava muito com a cara dele por isso. Corria tão rápido que chegava a dar raio em volta. Denki conseguia produzir eletricidade. Isso dava muito pepino pra ele, várias vezes ao dia; e foi assim até ele aprender sozinho a controlar essa miséria. Mina liberava ácido. Ela também sofreu muito antes de aprender a manejar essa desgraça, mas, quando aprendeu, se saiu melhor que o Bateria. E Eijiro conseguia endurecer o corpo. Denso como uma rocha. E ficava áspero, chegava a cortar se relasse muito rápido.  

— Ele endurecia sempre que queria? 

— Isso. 

— Então você e ele eram os que melhor controlavam as mutações. 

— Basicamente. 

— Mas você estudou magia? 

— E precisa? Eu só faço - e mexeu as mãos, mostrando a luminosa névoa vermelha que se formava. 

— A Mina... Ela namorava algum de vocês? 

— Ela e o Eijiro tinham um lance. 

— Um lance? - o rosto púrpura se contorceu, diante do conceito desconhecido. 

— Eles se pegavam - Katsuki explicou - No começo eles tentaram fazer parecer discreto, mas tava muito na cara. Nem tinha por que disfarçar, já que eu e os caras pegávamos no ar que eles tinham algo.  

— Tipo... a gente? 

— Eles transavam muito. Mas era algo sem compromisso. Eu te disse que nós cinco vivíamos uma fantasia anarquista. Fora que ele também gostava de homem. E ela colava velcro sempre que tinha chance. 

— Interessante. Confuso, mas eu acho que consigo entender. 

— O que é confuso? A bissexualidade ou o relacionamento aberto? 

— A segunda opção. Me fale mais do que vocês faziam pela cidade. Moravam mesmo entre becos ou foi uma figura de linguagem que eu não peguei? 

— De onde você tira paciência pra me ouvir falar tanto da vida em Naririku? 

— Eu só gosto de te ouvir contar sobre eles. Seu rosto fica... Eu não sei. Mais iluminado. Não sei descrever. Você parece genuinamente calmo. Eu percebo uma melancolia doce. 

Ochako descobria um pouco mais sobre a humanidade a cada dia. E não existia objeto de estudo melhor que aquele feiticeiro indômito. 

    Os olhos grandes e brilhantes da sintezoide o atraíam feito ímãs, principalmente quando estudavam seu rosto. Katsuki deixou escapar um sorriso afetuoso; em seu olhar, havia desejo. 

— O nome disso é nostalgia, R2. Chega mais perto pra estudar melhor. 

    Ao que ela se levantou de seu peito a fim de aproximar-se, Katsuki aproveitou para girar o corpo, ficando por cima dela.  

— Era uma armadilha! - ela balbuciou, entre risadas. 

Depois de se beijarem um pouco, Ochako afastou o rosto. 

— Acha que eles teriam ido com a minha cara? 

Katsuki deu um sorriso seco. Conhecendo cada um do squad, não tinha dúvida de que eles a adorariam se a conhecessem. Incluiriam-na como um deles em dois tempos. Até conseguia imaginar Sero e Denki passando cantada na sintezoide. Ou mesmo Mina; ela teria adorado fazer uma amiga mulher. Eijiro a acolheria como uma irmã. 

— Teriam? - insistiu, acordando-o de seus devaneios. 

— Pode apostar - era tudo o que conseguia dizer. Não estava acostumado a verbalizar sentimentos de afeto. Ao pensar nisso, subitamente, teve uma ideia - Eu acho que posso compartilhar algumas das minhas memórias. 

— Como? - Uravision ficara intrigada. Será que ele tinha algum pendrive com multimídias que ela poderia ler? 

— Fecha os olhos. 

Quando ela o fez, Katsuki movimentou os dedos, criando um pequeno amontoado de luz vermelha. Levou as mãos até a altura da cabeça de Ochako, direcionando sua magia para a joia na testa dela. 

Ela viu. Viu as memórias de Katsuki Bakugou; sua adolescência andando de skate e fugindo do orfanato; viu as aulas de marcenaria com Eijiro e Sero. Viu o crescimento dos quatro amigos, viu seus sorrisos, ouviu suas vozes, ouviu seus risos, sentiu a adrenalina de todas as vezes em que se arriscaram em algo perigosamente divertido. Ela sentiu saudades, saudades de uma vida que fora de outro alguém. 

— Eu estou vendo, estou vendo suas memórias! 

Se ela produzisse lágrimas, elas teriam escorrido por seu rosto instantaneamente. Lágrimas de euforia. Talvez um pouco de inveja. 

Ochako Uravision não admitiria tão cedo, mas as memórias compartilhadas pelo feiticeiro lhes despertaram o anseio por fazer parte de uma família. 

O que mais fascinava Katsuki Bakugou era como o rosto de um androide poderia expressar tantos sentimentos complexos, como alegria, divertimento ou até uma nostalgia emprestada; como olhos feitos de fibra de vidro lhe transmitiam tanta sinceridade. Infelizmente, não pode se demorar olhando para as feições adoráveis de Uravision, já que um alarme o despertou de seus devaneios. Os kyuuseishu convocados embarcavam em pouco tempo. 

Katsuki levantou-se da cama e começou a se trocar, vestindo uma jaqueta num tom puro de vermelho, que chegava a ferir os olhos mais sensíveis.  

— Nervoso? - Uravision o observava se vestir, os cotovelos apoiados na cama. 

— Eu deveria estar? 

— É sua primeira missão internacional. Onde vai ser a primeira parada? 

Com um sorriso coquete e uma pitada de arrogância, o feiticeiro respondeu: 

— Lagos, Nigéria. 

 

Fronteira de Nishigawa. Hoje. 

— Dra. Hakagure - a voz de Sekijiro soava como um trovão antropomórfico - Panorama das transmissões da última semana. 

O diretor da Bengou fora pessoalmente até o departamento de física da instalação. Ao que tudo indicava, o chefe não pretendia correr riscos com telefone sem fio, pensara Iida.  

— A primadonna está esperando um filho. - "Resta saber se vai nascer bruxo ou robozinho ou um híbrido", ela pensou, mas não disse; diante de algumas figuras de autoridade, a palhaça dentro dela sabia a hora de se resguardar - O cenário das transmissões vem se mantendo o mesmo. Nossos protagonistas continuam em casa, saindo algumas vezes para ir ao mercado. Nenhuma paródia ou releitura de franquias famosas.  

 - Como estão os níveis de radiação? - perguntou o diretor Sekijiro, como se recebesse um relatório de missões como qualquer outro. Iida permanecia em silêncio 

— Estáveis - disse Tooru - Parece que a agitação das moléculas na barreira aumenta de acordo com o grau de realismo do enredo.  

— Mantenha-me atualizado. Qualquer inquietação, qualquer variação que você perceber, me envie um memorando. Reunião no centro da instalação, daqui a duas horas.  

Antes que o diretor virasse para seguir o caminho de volta, Tooru fizera menção para que esperasse. 

— Senhor. Gostaria de compartilhar uma teoria. Elaborada por mim, pelo agente Iida e pelo garoto Izuku. 

— Estimo que compartilhem durante a reunião - ele se demorou por alguns segundos, um olhar confuso se formando em seu rosto. - Onde está o Fóton? 

— Na Kyuusei - responderam Tenya e Tooru em uníssono, como duas crianças que encobrem suas tramoias com uma mentirinha ensaiada. 

O diretor Sekijiro manteve os olhos no agente e na cientista durante os três primeiros passos que dera ao se afastar, antes de voltar para de onde veio.  

— Será que ele tá bem? - Tooru sussurrou. - Eu tô achando que esse menino se perdeu. 

Fronteira de Nishigawa. Dois dias atrás, durante a alvorada. 

— Você tem certeza disso, garoto? - gritava Hakagure. 

 Empacotado num casaco acolchoado, Iida rangia os dentes. A ventania fria do alvorecer estava longe de acalentar. Conseguia sentir seus ossos congelarem. Midoriya, no entando, não tremia nenhum pouco, vestido em seu uniforme de espandex revestido em kevlar; o que era um tanto quanto anormal, mas não tão surpreendente caso se parasse para lembrar que ele era um super-herói. Hakagure, vestindo seus jeans e um simples suéter, também estava incólume à baixa temperatura. Ela havia passado tanto tempo trabalhando como civil e cientista que Iida às vezes esquecia que ela era a Mulher Invisível. 

— Eu sou páreo para os poderes de Bakugou - justificou Izuku - Já lutamos antes. 

— Levar uma explosão de luz vermelha na cara e ser movido por telecinese é uma coisa - replicou Iida, as sílabas saindo pausadas por causa do frio. 

— Atravessar esse campo pode bagunçar sua estrutura molecular - advertiu Tooru. 

— Meus poderes vieram de uma explosão radioativa - protestou o jovem herói. 

— Mais motivos para você não se arriscar! - a cientista insistiu. 

— Na melhor das hipóteses, você estará sob controle mental dentro da zona enfeitiçada - pontuou o agente Iida. 

— Alguém precisa acordar Bakugou! Sabe-se lá o que pode acontecer aos residentes de Nishigawa se continuarem presos aqui por mais um dia. Meu corpo aguenta esses níveis de radiação; os deles é que não. 

O garoto estava certo. Foi por causa dos cidadãos reclusos que toda aquela instalação fora erguida, afinal. Os telefonemas dos familiares aflitos não paravam; apenas tinham seus intervalos. Era imprudente arriscar qualquer chance por se preocuparem com um herói disposto a fazer seu trabalho. 

Iida se aproximou de Izuku, colocando as mãos em seus ombros. Olhando fixamente nos grandes olhos do rapaz, solicitou: 

— Recapitule o plano. 

— Entrar sorrateiramente na cidade enfeitiçada; conversar com os civis e conseguir um diagnóstico preliminar da situação. Tentar despertar Bakugou para a realidade. 

Iida aquiesceu. O garoto Izuku sabia o que estava fazendo. Não era uma criança qualquer; era um herói que entendia a magnitude de suas missões. 

— Tenha cuidado - advertiu Iida. 

Quando Midoriya virou-se para a barreira, Tooru chamou-o: 

— Fóton. Não irrita o Feiticeiro. Chega na surdina. Dança conforme a música; você tem que demonstrar estar ao lado dele. 

Izuku ascentiu confiantemente para a física. Voltou-se para a parede de glitch; desta vez definitivamente. 

Respirou fundo antes de erguer a mão para a frente. Seu coração palpitava. Não tinha como voltar atrás em sua decisão. Estava nervoso; precisava pular nessa piscina gelada de uma vez. E ele não sabia se iria afundar em ácido. 

Ao que finalmente encostou sua mão ao campo de energia, sentiu seu corpo sendo atraído para dentro, como um ímã numa superfície de ferro. Sentiu um leve choque por todo o corpo, como se toda sua pele tocasse a tela de uma televisão velha. Quando se deu conta, tudo à sua volta eram bastonetes cinza, azuis, vermelhos e verdes. 

Nishigawa. Residência Vision-Bakugou 

No sofá da sala, tendo o colo de Katsuki como travesseiro, a sensação que Ochako tinha era de ter cochilado por duas horas. No entanto, passaram-se apenas vinte minutos entre o momento em que se entregara para um sono vespertino até que fosse acordada pela mão de Kat levantando-lhe a blusa e acariciando sua barriga. A semente dentro dela ainda era pequena, imperceptível; não havia volume. Mas já recebia tanto carinho. Ochako colocou sua mão sobre a de Katsuki. 

Ele não tirou os olhos do livro em momento algum. 

— O que você descobriu até agora? - ela estava curiosa. 

— Os desejos esquisitos mais comuns em grávidas são de comer terra e tijolo - ele continuava com os olhos no livro. 

— E qual a explicação pra isso? 

— Deficiência de ferro. 

— Faz sentido. Tijolos têm até 6% de óxido de ferro em sua composição. 

— Pensei ter trocado seu cérebro de robô por um de humano - ele finalmente olhou pra ela. 

— Eu lembro das coisas que aprendi quando minha cabeça ainda pegava wifi. 

— Também lembra de quanto ferro tem em porções de terra? 

 - Aí vai depender de onde foi colhida essa amostra de solo - sorriu, coquete. 

Katsuki levara a mão de Ochako aos lábios e voltou-se para seu livro. 

— Tem sentido desejos? 

— Você. 

— Desejos de comida, R2. 

— Eu quero comer de tudo. Você sabe que eu ainda não escolhi meus sabores favoritos. 

O feiticeiro deixou o livro de lado. Acariciou o cabelo da esposa, tirando-o de sua testa. A pele dela brilhava.  

— Gosta da ideia de ter um filho?  

Katsuki olhou fundo nos olhos castanhos de Ochako. Queria sua sinceridade. Ela sabia o que aquela pergunta significava. Com um manejar de mãos, poderia tirar a pequena semente da barriga dela, se ela o pedisse. Mas estaria Katsuki Bakugou disposto a abrir mão do que tanto desejava se ela lhe dissesse que não queria mais estar grávida? 

Ochako estava quase certa de que sim, ele abriria mão.  

— Gosto, sim! - ela se sentara, saindo do colo dele - Eu estou doida pra conhecer nosso bebê. 

Katsuki beijou-lhe os lábios suavemente. 

— Tem tido enjoos? 

— Bem leves - Ochako vomitara duas manhãs atrás, mas não passou disso. 

— Eu posso tirá-los de você, caso volte a acontecer. 

— Mas como vamos saber se algo estiver errado? 

 - Vamos ao médico toda semana. 

— Eu quero sentir tudo, Katsuki. As dores, os enjoos matinais, as tonturas - Eu quero me sentir tão humana quanto qualquer mulher grávida. 

— Se mudar de ideia, só falar. 

— Kat? - ela tocou-lhe o rosto, de volta. 

— Hm. 

— Menino ou menina? 

— Não sou vidente, R2. Só faço feitiços. 

— Não. Eu quero saber qual você prefere que seja. 

— Prefiro que tenha seu rostinho. Mas que puxe a cor dos meus olhos. 

Ochako protestou, defensiva sobre seus olhos castanhos e ignorando que o feiticeiro admitira que desejava que os filhos herdassem os traços dela. Enquanto batiam boca levianamente sobre quais seriam as melhores combinações, Katsuki sentia-se em paz. Permitiu-se respirar sem medo; sem precisar manter-se alerta, vigiando cada segundo antes que lhe fosse roubado o direito de viver no calor de uma família. 

Fronteira de Nishigawa, instalação da Bengou e Kyuusei.  

Hakagure não costumava sentir nervosismo ao apresentar teorias. Sua carreira de dez anos de físico-química contava com uma longa lista de simpósios e encontros de cientistas, e quanto mais seus projetos eram bem recebidos, melhor a recepção relegada a seu trabalho. O famoso efeito Pigmalião. No entanto, o diretor Sekijiro não era um de seus ex-professores do Departamento de Física da Universidade de Kyoto; tampouco os representantes de cada setor ali presentes eram filantropos interessados em alguma pesquisa ou projeto para patrocinar. Ela nem sequer havia ensaiado seu discurso, que, pra constar, nem se tratava de química ou física. Eles estavam ali como estrategistas diante de um problema relacionado a super-heróis. 

Ao menos Iida estava a apoiando silenciosamente. 

— ...por isso, nós acreditamos que Bakugou tenha sofrido não algum tipo de lavagem cerebral total, mas parcial. Como uma hipnose. Quem quer que tenha feito isso talvez tenha bagunçado a memória do feiticeiro vermelho, distorcendo sua percepção da realidade, ao mesmo tempo em que manipulava os poderes do bruxo em seu subconsciente. É como se o cara estivesse num sonho lúcido, manipulando a realidade com tudo o que ele quer. Até a ex-noiva morta dele está lá; acredito que seja um simulacro. Quando ele ou ela conseguiu mexer o suficiente na cabeça de Bakugou, simplesmente o deixou ali, para que ele mantivesse sozinho a barreira que já estava formada, como que pra proteger seu "reino dos sonhos". Talvez ele nem saiba que existe uma barreira; talvez ela esteja lá e ele mal a perceba, como um zumbido no ouvido ao qual você já se acostumou. 

Os profissionais presentes a ouviam em silêncio, sem tirar os olhos de sua figura. 

— Talvez a questão nem seja com o Feiticeiro Escarlate! Talvez ele seja só um bode expiatório. Vai ver seja algo pessoal com os cidadãos de Nishigawa; ou então alguma distração para as próprias autoridades! O que eu estou tentando dizer é que talvez o Feiticeiro seja tão prisioneiro das barreiras e dos roteiros quanto qualquer um ali dentro. 

Terminada a declaração de sua tese, Tooru Hakagure silenciosamente puxou fôlego, enquanto se recompunha para voltar a sentar-se. 

—  Obrigado pela teoria, Dra. Hakagure - declarou o diretor Sekijiro - Vejamos agora as razões pelas quais ela é incabível. 

Iida quase conseguia ouvir a voz de Tooru chamando o diretor de "cretino". 

—  Estas filmagens estavam, até ontem, sob sigilo. Foram liberadas esta manhã pela central da Kyuusei.  

Sob o comando de Sekijiro, o projetor iniciou a reprodução de uma gravação. Passava-se numa das instalações científicas da Kyuusei. Filmagens das câmeras de segurança, a cada cena um ponto diferente. Katsuki Bakugou, trajando uma jaqueta vermelha vibrante, quebrava as paredes de uma das unidades de pesquisa robótica. As imagens mostravam o feiticeiro ameaçando os funcionários que pesquisavam o corpo desmembrado do que outrora fora Uravision. Os guardas, armados, apontaram para Bakugou, que com um só gesto com as mãos, fê-los apontar as armas para os próprios rostos. Seu último ato fora erguer o corpo da sintezoide nos braços, como quem carrega sua noiva para a noite de núpcias, e voou para fora da torre. 

— Ainda acreditam que Bakugou seja tão vítima quanto aqueles cidadãos? - indagou retoricamente Sekijirou. As gravações se repetiam, com os áudios desligados. - Alguém que comprou a teoria mirabolante da Mulher Invisível continua acreditando que Katsuki Bakugou seja inocente nessa empreitada que aprisiona e isola um distrito inteiro? 

Toda a comitiva mantinha-se em silêncio.  

— Permitam-me refrescar suas memórias sobre quem é o Feiticeiro Escarlate. 

Os vídeos em looping do furto do cadáver robótico de Uravision foram substituídos por filmagens antigas dos Kyuuseishu numa missão na Nigéria. Bakugou poderia ser visto usando sua telecinesia para levitar um homem-bomba até o oitavo andar de um prédio, explodindo-o inteiro. A demolição quase acarretou no incêndio do bairro. Muitos cidadãos foram mortos; outros feridos. 

Na sequência, foi apresentado um vídeo mais antigo, apresentando Bakugou ao lado de Eijiro Kirishima, da época em que trabalhavam ao lado de Ultron. Os dois mutantes podiam ser vistos no epicentro dos destroços de um bairro em Kyoto. 

— Acreditam mesmo que um terrorista seja vítima de uma empreitada erguida com seus próprios poderes? Que um controlador de mentes seria capaz de ser manipulado? - Sekijiro olhou para Hakagure – Fizeram bem em mandar Fóton para dentro do território enfeitiçado. 

O coração de Iida errou uma batida. O de Hakagure já estava em bradicardia havia muito. 

— Imagino que tenham planejado um confronto entre o Kyuusei e o bruxo insano. Os poderes de Midoriya são supersônicos e se elevam aos níveis de alguém tão implacável quanto o feiticeiro. Com Bakugou abatido, as barreiras podem ser desfeitas, e os cidadãos, resgatados – com um gesto, Sekijiro requiriu que um de seus subservientes desligasse o projetor - Estão todos liberados. Agradeço pela audiência. 

Iida e Hakagure não sabiam dizer o que estava errado; mas sabiam que havia algo errado. Hakagure achava que fosse apenas seu orgulho ferido; não estava acostumada a ter suas teorias contrariadas. 

No entanto, se Momo Yaoyarozu ou Fumikage Tokoyami estivessem ali, sussurrariam a Tenya e Tooru que as filmagens de Bakugou roubando o corpo de Uravision eram falsas. Ambos trabalhavam para a Kyuusei. Ambos estiveram presentes na missão em Lagos, e também viram quando Bakugou queimou sua jaqueta vermelha dois dias depois, durante uma crise. Queimou com um fósforo e um pouco de combustível, porque se recusou por uma semana a usar seus poderes, com medo de machucar mais alguém.  

Iida então perguntaria como teriam sido feitas as filmagens falsas. Se Izuku Midoriya também estivesse ali, cogitaria tratar-se da mesma tecnologia utilizada por Kai Koto, um vilão com quem ele lidara não havia muito tempo antes do estalo do titã; um vilão que dispunha de hologramas de tecnologia avançadíssima e contava com uma vasta equipe de animadores de computação gráfica. 

Mas o agende Iida e a Dra. Hakagure estavam sozinhos e não dispunham de tais informações. Sua teoria estava, sim, equivocada. Completamente. Mas Sekijiro mentia, e tramava alguma coisa contra o Feiticeiro. 

O telefone de Iida tocou. 

— É Camie. Com licença, Tooru. 

Hakagure sentia saudades de suas pipetas, de seu jaleco, e do estalar das bobinas de Tesla. Desde que se prontificou a atuar como heroína, após o incidente que lhe deu poderes de invisibilidade, aos 23 anos, alguns casos pareciam becos sem saída. E este, especialmente, parecia mais sufocante que qualquer outro. 

Sufocados deveriam estar os Nishigawanos, ela pensara.  

— Tokage – chamara a cientista. 

— Doutora? 

— Pode me dar um panorama sobre a identidade dos cidadãos já identificados, e me dizer se as famílias foram avisadas sobre sua segurança? 

A funcionária mostrou a Tooru um dossiê, contendo as fichas de vários dos Nishigawanos identificados de acordo com sua aparição nas transmissões televisivas do feitiço.  

— Os cidadãos cativos que não participam do roteiro ativamente continuam sem poder ser noticiados para suas famílias. E quem foi jogado de escanteio como figurante, por pouco, foi identificado. E a baixa definição da TV foi um empecilho a mais. 

— Isso é preocupante – comentou Tooru – Pra gente poder falar pra família que eles estão vivos, eles vão ter que interagir com nossos protagonistas. 

— O mais intrigante – continuou Setsuna Tokage - é que só um dos coadjuvantes ativos ainda não foi identificado em nenhum dos arquivos de cidadãos do Japão. 

— Você teria uma foto dele? 

Tokage entregou uma fotografia a Hakagure, que reconheceu na hora o rosto como um personagem recorrente da programação de Bakugou e Uravision. Cabelos loiros lisos, olhos num tom de azul-celeste, uma expressão facial requintada que, por pouco, denunciava a atitude espalhafatosa do cavalheiro. Tooru quase conseguia ouvir sua voz só de olhar uma foto.

— Logo o homem que rouba as cenas. Não vou mentir, eu acho que esse cara ainda vai ser homenageado pelo casal Vision-Bakugou, se é que você me entende – comentou Tooru, esquecendo-se momentaneamente da gravidez de Ochako. 

Tokage engasgou. A Dra. Hakagure não tinha papas na língua. 


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Notas finais do capítulo

Pequenas explicações:
Mantive o nome de Ultron, enquanto troquei o nome de outro vilão: Mysterio, que lutou contra o Homem Aranha, aqui ganha a alcunha de Kai Koto.

Apesar de fazer as vezes de Homem Aranha, Midoriya dispõe dos poderes da Capitã Marvel; e como vocês verão, ele interpreta o papel de Monica Rambeau.



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