Burnin' In The Third Degree escrita por Lady Liv


Capítulo 2
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O Exterminador observa tudo.

Ele hackea sistemas enquanto espera, ouve as frequências enquanto se prepara, busca pelo rosto de seu alvo através da internet. Nada era mais importante que a missão.

Os humanos por outro lado também tinham uma missão... não, espere. Essa não era a designação. Humanos não tinham missões. Eles tinham propósito. No futuro, o propósito deles era lógico e glorioso: servirem as máquinas até a auto eliminação.

No passado, eles continuavam a mesma raça fraca e inferior, mas com um propósito longínquo e obtuso: proteger uma simples e decrépita estação policial.

[ALVO LOCALIZADO]

[OBJETIVO: ELIMINAR LEIA ORGANA]

Ela estava lá dentro. Ela precisava ser eliminada.

O Exterminador adentra a recepção à passos duros.

[COMUNICAÇÃO: NECESSÁRIA]

[VOCAL: ATIVADO]

— Eu sou amigo de Leia Organa. Posso vê-la, por favor?

O humano não tira os olhos da tarefa que exerce. — Você é de qual revista? É o terceiro jornalista que aparece aqui essa madrugada. Ela não está aqui.

Analisando...

Resposta automática acompanhada de um resmungo.

O humano mente.

O Exterminador olha ao redor, calculando algoritmos de percursos para aquela situação. Haviam exatos 37 oficiais armados no lugar. Eles iriam atrasá-lo segundos preciosos.

[ALGORÍTMO CONCLUÍDO]

[MELHOR DILIGÊNCIA: EXTERMÍNIO]

— Eu vou voltar.

 

↑○◙○↓

 

 

Leia acorda com uma explosão.

Ela se ergue do sofá como se tivesse acordado de um pesadelo, apenas para perceber que o pesadelo na verdade estava acontecendo agora, na vida real. Por causa dela.

— Capitão Antilles!

O homem já está de pé com uma arma em mãos.

— Leia, fique aí dentro. Tranque a porta. Vai ficar tudo bem.

— Mas-

Ele a faz recuar, fechando a porta da sala e a obrigando a trancá-la, e então---

—--e então os gritos começam.

Os tiros incessantes a fazem se esconder embaixo da mesa, colocando as mãos contra os ouvidos. Era tão alto. Lembrou-se de Detetive Merrick a mostrando um colete à prova de balas, o que provavelmente protegeu o atirador da morte. Lembrou-se do psiquiatra falando sobre os efeitos das drogas, o que provavelmente afetou seu salvador/sequestrador. Lembrou-se deles falando que iam continuar as buscas pelo criminoso da festa e que iam mandar Solo para Kamino. Lembrou-se deles dizendo que ela nunca mais os veria, nenhum dos dois. Que ela estava segura.

Mentira.

Era tudo um grande monte de merda para acalmar uma garotinha assustada e explicar algo... nada real.

Vocês são todos patéticos, sabia?! A voz de Solo ecoou em sua mente, a fazendo arregalar os olhos. Ele estava falando a verdade. Aquela loucura toda era verdade mesmo.

As ordens desesperadas do lado de fora apenas comprovavam o que Solo tinha previsto: nada ia parar o Exterminador. Até que ela estivesse morta.

As luzes piscam, a energia acabando, e Leia morde os próprios dedos para controlar um soluço. — Desgraçado!

Ela estava frita.

Os tiros estavam cada vez mais perto, lhe trazendo a horrível sensação de paralisia, o mesmo medo que a atingiu na festa mais cedo. Mexa-se! Solo tinha gritado para ela então, a obrigando a correr. Caramba, ela precisava correr. Aquela porta não ia pará-lo.

Começando a se mexer, Leia engatinha para fora de seu esconderijo, checando a janela da porta. Subitamente, uma sombra aparece através do vidro e ela volta para atrás da mesa, o coração quase saindo pela boca. Não, não, não. Suas pernas se acomodando embaixo de seu queixo, pressionando um estômago enjoado. O Exterminador quebra o vidro e destranca a porta, adentrando a sala e-

E é isso.

Ela vai morrer aqui. Sozinha. Aos 19 anos. Caramba, ela nem tinha feito tudo que tinha vontade! Ela vai morrer desse jeito, sem ao menos dar adeus aos pais e-

— Leia! Leia!

Exceto que não é o Exterminador.

— Solo! — trêmula, ela se levanta. Solo arregala os olhos ao vê-la.

— Você está bem, está ferida?!

— Estou bem! — ela diz, apesar de... não estar. Ela com certeza não está bem.

— Vamos sair daqui.

Ele segura sua mão dessa vez, e Leia o mantém firme.

A primeira coisa que ela percebe é que há um incêndio. As chamas são o que iluminam o caminho. Eles correm se desviando do fogo e... e dos corpos... oh-

Antes que ela possa pensar em checa-los, Solo a puxa. Ele a coloca na sua frente, praticamente correndo de costas enquanto protege sua retaguarda e se prepara para uma possível aparição do Exterminador.

Seria um ótimo plano se ela ao menos soubesse pra onde está indo.

Como se tivesse ouvido seus pensamentos, Solo a segura pela cintura, movendo-a em direção a um grande corredor com uma única porta vermelha no final.

— Saída de emergência, vai!

— ‘Tô indo, ‘tô indo!

Eles saem no estacionamento. Leia tosse, a fumaça finalmente sendo deixada para trás. A adrenalina não para por aí, Solo tira tempo para escolher um carro comum entre tantas viaturas e com mãos mais rápidas, consegue liga-lo sem chave alguma.

— Abaixa!

Leia escorrega para o tapete enquanto os tiros raspam pelo metal do veículo, que acelera.

Foi por pouco.

Eles escaparam por muito pouco.

Depois que ela se ajeita no acento do carro, Leia passa a observar pelo retrovisor o fogo da estação ficando cada vez mais distante. As bochechas dela brilham com lágrimas que ela não tinha percebido chorar. Capitão Antilles. Detetive Merrick. Todos aqueles policiais... mortos. Mortos por tentar protege-la. Mortos pelo Exterminador.

— Ah, se o Lando pudesse me ver agora! — Solo comenta, seu tom de voz fazendo com que ela o encarasse aborrecida. Como havia imaginado, ele estava sorrindo. Sorrindo.

— Como é que é?

— Um amigo meu. Você ia gostar dele. Todo cavalheiro, assim como os homens daqui. Humpth, cavalheirismo no meio de um apocalipse! Do que isso valeu no final das contas...

Leia franze o cenho.

Solo dá de ombros.

— Ah, só tentando te distrair. Você não precisa ficar olhando pra trás o tempo todo, esse é o meu trabalho. — ele explica, fazendo exatamente o que ela fazia antes e checando o retrovisor. — Sabe, Lando era bem engenhoso. Foi acolhido no time de mecânica depois que conseguiu desconstruir e reprogramar uma das máquinas. Ele tinha boas ideias.

Ela assente, respirando fundo e limpando o suor da testa. Certo. Distrair. Não pensar em todo mundo que acabou de morrer por nada.

— Também tenho um amigo construtor.

— É?

— É, Luke Skywalker, o conheci em uma expedição humanitária há uns... quatro anos... engraçado, parece mais tempo.

— Conheço a sensação.

— Ele é como um irmão pra mim. Fazemos até aniversário no mesmo dia.

— Soa como um bom homem.

— Assim como o seu amigo.

Ele assente, o rosto inexpressivo.

Leia o observa. — Você tem outro nome, Solo?

É um longo momento de silêncio, e Leia pensa até que ele não vai responder-

— Han.

— Han. — ela repete. É simples, fácil, suave. Ele tem mesmo cara de Han. — Obrigada.

 

↑○◙○↓

 

A gasolina acaba há quilômetros de Coruscant, em uma estrada deserta de asfalto. A luz do sol ainda está há uma hora de distância, então Leia e Han empurram o carro para baixo de um viaduto e se escondem entre o metal e o concreto, atentos a qualquer movimento.

Leia treme com o frio, o vestido de gala agora um mero trapo sujo. Ela se senta no chão, abraçando as próprias pernas.

Han, como sempre, tem seus olhos sobre ela.

— Está com frio?

— Congelando.

Ele se senta ao seu lado, erguendo o braço e-

— O que está fazendo? — Leia indaga, fazendo ele parar no meio do ar.

— Oh, eu achei... — Han pisca. — Eu ia te aquecer.

— Como, exatamente?

Podia estar escuro, mas Leia tinha quase certeza que as bochechas dele ganharam um tom avermelhado. Own. Era quase adorável ver um homem daqueles envergonhado.

— Só me dá o seu casaco, tenho certeza que vai servir. — Leia pede, apreciando o momento com um sorriso cínico.

— Humpth! Não?

— O que?

— Aí sou eu quem vai ficar com frio! — Han responde, se encolhendo no próprio casaco.

— Hey! — Leia reclama. Mas que babaca! — Sou eu quem precisa de proteção aqui, esqueceu?

— Aaah, então agora você acredita né? Legal. Demorou o que, só uns dez encontros com uma máquina de matar.

— Não fale comigo nesse tom, soldado. Devo te lembrar que eu sou a mãe do seu líder?

Ele rola os olhos.

Leia lhe dá as costas. Tanto para um trabalho em equipe!

No entanto, alguns segundos depois, ela sente o casaco dele cair sobre os próprios ombros, acompanhado de um baixo pedido de desculpas. Leia se vira, surpresa.

— Você é bem complicada, né. — Han comenta, fazendo ela sorrir.

— Só quando um estranho me sequestra de um baile tedioso.

— E põe tedioso nisso! Viu só, os fins justificam os meios.

— Esse não é um pensamento muito- — Leia se interrompe, seus olhos finalmente percebendo uma mancha no braço de Han. Oh-oh. — O que é isso?

Ele faz uma careta, tentando se afastar. — Nada não.

— Como assim nada não, é sangue! — mas Leia o segura firme, horrorizada. — Quando você se feriu?!

— Não, não vamos ter essa conversa. Eu sabia que ia reagir assim.

— O que?!

— Fica tranquila, Leia.

— Fica tranquila, Leia. — Leia repete em zombaria. Han arqueia as sobrancelhas. — Espera aí! Por isso não queria tirar o casaco? Estava escondendo isso de mim?

— Consegue imaginar o porquê?

— Achei que estivesse com frio!

— Eu sou um soldado, Leia. Já enfrentei temperaturas mais baixas que essas.

...okay, ela se refreia pensativa. Soldado. Não babaca.

— Mesmo assim, devia ter me avisado, caramba!

— E este é o porquê. Você ia surtar.

— Eu estou surtando!

— Estou vendo!

— Ah cala a boca, me deixa pensar! Você levou um tiro, precisa ir ao-

— Nada de hospitais.

— Nada de hospitais! Perfeito!

— Relaxa, sempre levamos tiros no futuro, acredite isso aqui não é nada.

— Bom, nós não estamos no futuro, estamos?! — ela se levanta, irritada com ele. Por ele. Com ela. Por ela. Céus, ela nem sabe mais! — Tá, fica aqui.

— Aonde você vai?!

— Tem um kit de primeiros socorros no carro.

Ela vai, pega a caixa com mãos menos trêmulas do que esperava, e volta para ele rapidamente.

— Okay, estende o braço.

— Isso realmente-

— Me obedece! — ela exclama, fazendo ele erguer as sobrancelhas. — Só... só estende esse braço, por favor-

Ele o faz e ela se sente mais aliviada ao ver que a bala não estava alojada. Aparentemente.

— Okay... está tudo sob controle... tudo bem... tudo bem...

— Falando desse jeito não parece não.

— Quer parar de me irritar?! Eu ‘tô me controlando pra não ter um treco aqui!

— Isso é você se controlando?

— AAAAAAAAAAAARGH!

— TÁ BOM! — Han grita, olhos arregalados em susto. — Nossa, você sabe ser assustadora. Eu vou parar. Pelo seu próprio bem.

— Ora, obrigada! — ela agradece quase rosnando.

— De nada! — ele responde da mesma forma.

Leia começa a limpar o ferimento, aplicando o álcool com mais força que necessária, apenas para descontar a raiva nele.

Surpreendentemente, não pareceu funcionar. Han continuou imóvel e indiferente.

Hmm. As coisas deviam ser ruins mesmo no futuro.

— Okay, não consigo fazer isso em silêncio, fala alguma coisa.

— Espera, eu ouvi direito?

— É! Fala alguma coisa! De preferência que não vá me estressar, por favor.

— Tipo o que?

— Eu não sei, alguma coisa! Qualquer coisa, me fala- Me fala sobre o meu filho! Isso. Como ele é?

Han sorri. — Bom, pra começar, ele não é nada igual a você.

Leia para o que faz, o encarando com uma carranca. Han quase ri, sentindo um tipo de adrenalina crescendo em seu peito que ele não sabia que existia.

(Devia ser o que alguns sortudos chamavam de diversão.)

— Eu morreria por Ben Organa. — Han, ainda sorrindo, se vê sussurrando como um segredo.

— Sério?

— Sem hesitar.

Leia o encara por mais alguns segundos antes de piscar, voltando ao ferimento.

— E... e foi por isso que você veio pra cá?

— O que?

— É que, você falou sobre uma máquina do tempo ou sei lá. Na delegacia, lembra? Eu só pensei... que não parece algo muito seguro. Ele deve ter te escolhido por isso, né, a sua disposição em... sei lá...

Sei lá? Que tipo de comentário era aquele? Ela tinha tanto medo assim de dizer a palavra morte?

Ela era... tão frágil, Han pensou, a observando. Não triste. Ainda não.

Sua personalidade forte acompanhada de respostas irritantemente lógicas e esnobes eram apenas uma armadura contra situações imprevistas, e ele acreditava, em qualquer situação realmente. Leia Organa era só uma garota naquele tempo, assim como General Organa havia avisado. Ela tinha pressões em sua vida, fúteis ao ser comparadas com o destino da humanidade, mas ainda assim, pressões que a afetavam de verdade e que a deixavam cada vez mais longe da imagem valente que ela construiria em alguns anos.

Aquilo ia se tornar um problema. Ela tinha que aprender a se mexer. Ela poderia desfalecer de cansaço bem ali, enfaixando o braço dele, e não perceberia.

— Não. — ...por sorte, Han sabia como mantê-la acordada.

— Não?

— Não só por isso, eu quero dizer. — Han continua, e ela tem a impressão que ele gaguejou um pouco. — Conhecer você é um bônus que muitos iam desejar.

— Conhecer a mim?!

— A lendária Leia Organa, que ensinou o filho a lutar contra as máquinas... Você, Leia, vai inspirar muita gente no futuro.

Ela ri.

Ri e balança a cabeça, focando-se em prender a gaze firmemente ao braço dele.

— Como são as coisas lá no futuro?

— Nada fáceis. Não existe formação alguma, é tudo passado de pai para... quem quer que estiver sobrando, pra falar a verdade. Sucateiros se tornam mecânicos, costureiros se tornam enfermeiros, soldados se tornam... algo pior. Se você sabe apertar um botão, você pode hackear um computador da Skynet. Só que o seu filho... — Han suspira, os olhos brilhando em respeito. — De algum modo, Ben Organa sabe fazer tudo aquilo funcionar. A gente confia nele. Ele é um bom homem.

— Oh. Isso é... bom. — Leia assente, e seus lábios se repuxam em um sorriso de verdade. — Ben. Eu gosto. Ao menos agora eu sei qual nome dar a ele.

— Ele pediu que eu te dissesse uma coisa, uma mensagem. Ele me fez memorizar.

— Oh?

Han respira fundo, lembrando-se da voz do General tão claramente que poderia jurar que ainda estavam juntos no mesmo lugar.

Obrigado Leia, pela sua coragem nos anos sombrios. Eu não posso ajuda-la no que em breve você vai enfrentar, exceto dizendo que o futuro não está estabelecido. Você tem que ser mais forte do que imagina ser capaz. Você tem que sobreviver, senão eu nunca vou existir. — o soldado repete, buscando alguma emoção na expressão de Leia. — É isso.

— Hum.

— Hum?

— É, não parece ser uma mensagem pra mim, parece ser uma mensagem pra mãe guerreira dele. — Leia suspira, passando a mão pelos cabelos. As tranças que ele secretamente passou a admirar já desaparecidas. — Eu não sei você, mas eu não me vejo como a mãe salvadora da humanidade, quer dizer, eu nem sei pegar numa arma! Como eu vou preparar o meu filho do futuro para esses anos sombrios aí?!

— Você vai aprender.

— Como?! Eu não tenho nem mentalidade pra isso! Olhe onde a gente ‘tá! Embaixo de um viaduto e tudo que eu consigo pensar é de onde eu vou conseguir tirar coragem pra enfrentar o Exterminador! Porque ele vai nos encontrar, Han! Ele vai matar a mim, ele vai matar a gente, ele vai-

— Shh, shh, para. Para.

Enquanto ela continua a falar, Han a segura pelos ombros, subindo as mãos para seu rosto enquanto balança a cabeça suavemente. Leia eventualmente se acalma, porém seus olhos grandes persistem em brilhar com lágrimas contidas. É uma imagem que... o incomoda bastante.

— O que eu vou fazer?! — o medo diminui a voz dela para um sussurro e Han corrige:

— O que nós vamos fazer. Nós vamos escapar dessa.

— Han-

— Sente esse medo? Sente? Sente a ansiedade subindo? Eu quero que você sinta e a segure na palma da sua mão, porque você vai transformar tudo isso em força, Leia.

Ela soluça, os olhos fixos nos dele.

— Como?

Han sorri.

— Eu vou te ensinar.

 

↑○◙○↓

 

Ele espera alguns minutos até ela se sentir pronta, e então a ensina como segurar uma arma propriamente. Leia sente o peso do revólver em suas mãos, o metal frio lhe trazendo um estimulante arrepio. Isso a ajudaria, ela pensou. Isso a ajudaria a se defender.

— Talvez não tão perto dos ouvidos, sim? — Han avisa, estendo os braços dela.

— Certo.

— Esse dedo aqui, vai girar a trava de segurança. Consegue fazer isso?

— É óbvio que consigo.

— Digamos que quando se trata de você, não é tão óbvio.

— Hey!

— Só dizendo. Não quero levar outro tiro, obrigado.

— Ora ora, pra quem disse que não era nada

— Presta atenção, por favor? Ótimo, agora esse dedo vem aqui- não, espera, aqui. E mantém a arma o mais longe possível do rosto, tá. Isso é muito importante.

— Eu sei disso, estou tentando, mas-

— Está mesmo?

— Argh, essa é a pior hora pra ter uma aula assim! — Leia rebate. Han cruza os braços.

— Do meu ponto de vista, é a melhor hora. É assim que praticamos no futuro.

— No escuro?

— De noite, — ele corrige, rolando os olhos quando ela abre a boca. — De madrugada, durante a alvorada, antes do sol nascer, que seja! Nossos alvos geralmente estão se mexendo então tecnicamente, estou pegando leve com você. — Han diz, se inclinando em sua direção. Leia sente como se ele estivesse tentando desafiá-la de algum modo.

O que é claro, só faz com que ela erga o nariz para cima em orgulho.

— Humpth. E quem disse que eu quero que você pegue leve.

— Não me provoque, princesa.

 

↑○◙○↓

 

Ele era esforçado. Han Solo.

(E sim, muito atraente, ela não era cega.)

Tinha momentos que ele oscilava entre ter a paciência para com uma criança frustrada e a irritação para com um adulto preguiçoso. Bastava apenas um olhar de Leia para lembra-lo que ela não era nenhum dos dois, e então seu tom de voz se tornava mais suave. Gentil, até. Era estranho para ela. Ele costumava tomar ações mais brutas com aquela voz profunda. Ele não era um homem gentil por natureza.

E então ele olhava para ela, e simplesmente se tornava tudo o que ela precisava.

 

↑○◙○↓

 

Ela atira cinco vezes contra o alvo.

Ela não acerta nada.

Han parece fazer uma piada, falando da primeira vez em que tentou se rebelar e como tudo deu errado. Ela sabe o que ele está tentando fazer e apenas finge que escuta.

Silenciosamente, ela se pergunta quanto tempo tem até o Exterminador matá-la.

 

↑○◙○↓

 

 

Buscando...

Buscando...

Buscando...

O Exterminador aprende com as duas falhas.

Ele não vai mais agir rápido.

Ele vai agir melhor.

 

↑○◙○↓

 

Leia Organa observa o típico motel à beira da estrada com a sobrancelha erguida. Ok, não era a escolha mais apropriada, de longe era sequer uma escolha, mas ela aceitaria. Eles já tiveram muita sorte com a carona que receberam do caminhoneiro desatento.

— Não sei porque ficou tão preocupada. — Han comenta, abrindo a porta do quarto que haviam pago. Um quarto com cozinha, ele tinha pedido. Tão específico.

— Não sei porque você não está, quer dizer, olha o estado das nossas roupas! Eu não duvido nada que meus pais já tenham colocado a minha cara na televisão.

— É, mas ao menos que eles tenham oferecido muito, mas muito dinheiro em troca de informações, nada vai acontecer.

— Como assim?

— Perguntas geram problemas, Leia. E pessoas não se importam. Em nenhuma parte do tempo. — Han conclui, terminando de checar cada canto do quarto e tomando uma postura séria. — Olha, eu vou sair. Precisamos de mantimentos.

— Oh. Okay.

Eles se encaram.

Han lhe estende uma arma.

— É uma péssima ideia. — Leia murmura, relutantemente aceitando o objeto. Han olha para ela uma última vez antes de sair, e ela sabe o que ele está pensando. Por favor, não morra.

(É o que ela pensa para ele também.)

 

↑○◙○↓

 

Ela sobrevive. Ela é uma Organa.

Han também não demora a voltar, o que é ótimo pois ela está faminta. No entanto antes de entrar no quarto, Han assobia para um cachorro de rua perambulando no estacionamento e tira tempo para lhe fazer um carinho nas orelhas. Leia espera pacientemente que ele entre para começar a provocar:

— O que o seu General diria se soubesse que um cachorrinho é a sua maior fraqueza?

Ele para um momento, o suficiente para ela ver que tinha o atingido na mosca, e então a ignora.

— Então não tem cachorros no futuro ou você é só um grande fofo por dentro?

— Se quer tanto saber, temos sim. É bom mantê-los por perto.

— Por que?

— Eles sabem distinguir humanos dos ciborgues.

— Uau, isso é bem conveniente. — ela retruca, indecisa entre acreditar ou não. — Você tinha um?

Han não fala mais nada, e Leia tem a ligeira impressão de que seu silêncio é igual ao de quando ele falou sobre Lando. Certo. Futuro ruim. As vezes ela esquecia.

Sentindo o coração pesar, Leia não pergunta mais nada.

 

↑○◙○↓

 

Eles descansam e se limpam como podem. Banho era fácil, mas as roupas cheiravam mal; suor e fumaça e sangue. Leia nunca pensou que fosse notar tal odor tão facilmente. Ela já estava tão longe de quem era ontem.

— Ei, Leia.

— Oi?

Ele lhe arremessa um pano umedecido com... alguma coisa. Leia apura as narinas, franzindo o cenho. — Vinagre?

— Vai ajudar a tirar o cheiro de fumaça. É bem útil no futuro.

— Existe vinagre no seu futuro apocalíptico?

Han a olha por um momento, e---

—--e sorri, lhe mandando uma piscadela que a atingiu mais forte do que todas as quedas que ela tinha sofrido nas últimas 15 horas.

O cérebro de Leia parece falhar por um momento. Mas o que raios-

Ele se afasta antes que ela possa chegar à uma conclusão.

 

↑○◙○↓

 

Os dois passam o resto da tarde se preparando. É uma estranha dinâmica, e Han tem uma bipolaridade que a irrita bastante as vezes, mas... funciona. Ele tem um mapa do país aberto e Leia lhe dá algumas dicas sobre o clima e as leis de cada estado. Se eles iam fazer isso, era melhor fazerem sem chamar atenção. É temporário, Leia se esforça em lembrar. Apenas até destruirmos o Exterminador. E então ela poderia voltar para casa. Sim.

Ele lhe fala mais sobre os Exterminadores, criados pela divisão científica da Skynet, a Primeira Ordem.

— Mas a Skynet já não era uma divisão científica por si própria?

— Sim, mas eles evoluíram. Aprenderam a pensar. Se reinventaram com os anos. — Han explica, as mãos fechadas em punho. — Eles se tornaram um Império sobre nós. Literalmente.

E Leia não sabia ainda, mas foi ali, durante aquela conversa, que a primeira faísca de coragem havia sido plantada em seu coração. Ela havia se tornando então como Han. Ela não os temia mais.

Ela tinha ódio deles.

 

↑○◙○↓

 

Quando anoitece, ele abre o resto das sacolas que havia trazido da rua, e a ensina a fazer granadas caseiras. É mais fácil do que parece, Han explica, uma das primeiras coisas que se aprende na Resistência.

Bom, deveria ser fácil! Leia pensa, frustrada com sua terceira e falha tentativa. Um dos pinos havia prendido entre seus dedos, beliscando tão forte que a obrigou a parar.

Han atravessa a cozinha, tendo visto a cena acontecer, e se senta ao seu lado.

— Não foi nada. — Leia murmura, envergonhada com si mesma.

— Foi a vista. — Han corrige, afastando os protótipos da mesa e puxando a mão dela para examinar o pequeno machucado. — Você está cansada, só isso.

— É? Ainda acha que eu tenho jeito?

— Tenha um pouco de fé. Nunca pense nas chances.

Ela rola os olhos, o encarando. Han faz o mesmo.

— Me fala uma coisa, como são as mulheres do seu tempo?

— Boas guerreiras. Mas não pense nisso, você ainda tem muito o que aprender-

— Não, não foi isso que eu quis dizer.

Ele pisca. — Ah.

Aaah. — Leia sorri, levantando as sobrancelhas. — Então. Alguém especial?

— Não.

— Não?

— Não.

— Não acredito.

— Por que?

— Porque você tem jeito de salafrário.

— Salafrário?! — Han repete, e Leia não sabia dizer se era porque ele não tinha ideia do que tal palavra significava ou se estava apenas ofendido. Ela ri, resolvendo esclarecer:

— Foi um elogio! Aposto que deixava as mulheres maluquinhas. Vai, me conta. Vamos. Me conta, vai. Me conta. Haaaaaannnn.

— Você é bem irritante, não é.

— Vamos lá, estou em abstinência. Preciso de fofoca.

Han balança a cabeça, quase rindo. — É, teve uma vez que... eu cheguei a pensar... enfim, não ia dar em nada. Era só um sonho. Um sonho distante. — Ele dá de ombros, sua postura cabisbaixa fazendo o sorriso dela sumir. — Também não era como se houvesse... tempo... pra isso.

— Isso... amor?

Ele se cala diante da pergunta e fecha os olhos. Leia sente como se o coração dela estivesse se quebrando. Viver em um futuro tão ruim e sozinho...

— Eu sinto muito, Han. Sinto mesmo.

A mão dela ainda estava na dele, então ela o aperta de modo confortante. Han a encara.

Os olhos dele.

E de repente era como se eles tivessem todo o tempo do mundo. O silêncio confortável e hipnotizante. Ele era gentil, ela pensou, ele sabia ser gentil. Não apenas um soldado determinado ou um homem desesperado, mas... ele era alguém. As vezes aborrecido. As vezes convencido. Mas humano. Sempre humano.

— Ben Organa me deu uma foto sua uma vez. — Han sussurra, quase hesitante e a surpreendendo. — Não sei o porquê... era uma foto antiga, não acho que muitas pessoas tenham visto. Você estava jovem assim, do jeito que está hoje... e eu sei pois memorizei cada traço... cada expressão sua.

Há algo no tom de voz dele. Algo que ela nunca ouviu antes e que faz o coração dela acelerar.

E pela primeira vez naquelas horas desgraçadas, Leia não sentiu medo da adrenalina.

— Você parecia triste. Ficava me perguntando o porquê. — Han comenta, e após um momento, ele revela: — Eu voltei no tempo por você, Leia. Era minha única chance de...

— De o que?

Ele não diz. Ele apenas a olha com aqueles olhos. A intensidade denunciando seu sentimento. Para Leia, era o suficiente.

Han Solo era o suficiente.

Com todos seus defeitos, em meio a toda aquela loucura, ele era... uma âncora. Ele era mais do que suficiente.

Ela o beija ternamente.

 

↑○◙○↓

 

Nem tudo era terno.

Mas também, nunca foi. Eles se conheceram no meio de um tiroteio e estavam fugindo de um Exterminador. Era bem claro que ambos estavam fadados a viver em meio a intensidade.

Só que nem toda intensidade era ruim... e Leia gostava quando ele perdia o controle. Ela não era nenhuma boneca de porcelana.

Abraçados na cama, Han murmura: — Sabe, eu me lembro de alguém ter me garantido que ficaríamos seguros e quentinhos e bem longe de confusão. Não devia ter duvidado.

Leia morde os lábios para tentar conter o sorriso.

Ele beija o topo de sua cabeça.

— Obrigado, princesa.

 

↑○◙○↓

 

— Podíamos ir pra Endor.

— Estamos em Endor. — ele suspira de modo preguiçoso, beijando seu pescoço enquanto ela revisitava o mapa.

— Estou falando de Endor, o estado. Não este hotel. Olha, é uma população relativamente pequena. O turismo é quase inexistente, muitas florestas... menos risco de pessoas se machucando caso o Exterminador nos encontre.

— Bem pensado.

— Eu sei.

— Mas e quanto aos ursos?

Leia morde os lábios. Opa.

— Quer dizer, as chances dos animais serem-

— Não se preocupe, não se preocupe. Vamos dar um jeito. — Han repete ao se levantar, a tirando de seu colo e a deixando sentada na cadeira. Ela quase sente falta de seu calor. — Sabe, quando eu me juntei a Resistência, isso tem uns, quinze anos, acabei ficando doente. Foi horrível. Febre, enjoos e dores de cabeça, eu... eu estava com tanto medo. Lutar tanto pra morrer daquele jeito, sabe. Parecia um desperdício.

Leia tenta conter o rolar de olhos.

— Mas então, Ben Organa veio ver os feridos com a esposa dele e-

— Ãhn?

— Ah, é, ele-

— Existem casamentos no seu futuro apocalíptico?

— Leia, esse não é o ponto.

Ela sorri, se levantando e o abraçando pelo pescoço.

— E qual é o ponto meu amor.

— Tá, eu vou resumir. Ele se apoiou ao lado da minha cama e me disse para nunca pensar nas chances... e aquilo virou meio que uma oração pra mim desde então.

— Aaaah.

— Então não pense nas chances, Leia. Esse é o meu ponto.

— Entendi. Ursos não estão na equação.

Ele dá uma risada, abraçando sua cintura e a trazendo ainda mais perto.

— Não exatamente, mais pra... só tem uma raça que faz os cálculos e não somos nós.

 

↑○◙○↓

 

Eles decidem seguir viagem aquela madrugada. Seria um longo caminho então Han aproveita um último banho e Leia espera sua vez enquanto mordisca alguns biscoitos.

Ela se lembra de seus pais. A saudade que sentia se tornava quase sufocante quando pensava neles. A última vez que havia os visto parecia mais ter sido há uma eternidade. Capitão Antilles falou que eles estavam vindo ao seu encontro na delegacia e ela nunca ficou tão ansiosa para um abraço. E aí o Exterminador aconteceu, e ela nunca ficou tão aliviada por eles não terem chegado a tempo. Eles estavam à salvos e Leia sabia, muito preocupados.

Ela olha para o telefone.

Ela olha para o banheiro.

Ela pensa.

E decide fazer mesmo assim.

— Pois não? — a voz de sua mãe é recompensa o suficiente e Leia respira aliviada, apertando o telefone contra o ouvido para conter a emoção. Mama.

— Sou eu.

— Leia?

— Sim.

— Leia, aonde você está? Você está viva! Eu não descansei essa noite pensando em você!

— Eu sei mamãe, desculpa, eu não queria preocupar ninguém, desculpa mesmo! Eu estou bem, ‘tá bom? Diz pro papai que eu estou bem, vocês podem ficar tranquilos. Mas eu vou ter que ficar longe por um tempo. Eu prometo que explico tudo quando isso acabar.

— Isso o que? Leia, não estou entendendo! Volte para casa, filha! Por favor.

— Não, eu não posso. Agora não. — Leia nega, e sabendo que ela insistiria, começa a se despedir: — Dá um abraço no papai por mim, okay? Eu estou bem. Vai ficar tudo bem.

— Leia, me diga aonde você está! Por favor.

— Eu vou voltar pra casa logo, mãe. Eu prometo. — Eu espero, Leia pensa fazendo uma careta. — Eu te amo, mãe.

 

↑○◙○↓

 

— Eu te amo, mãe.

Amo?

Amo.

A-M-O.

Buscando...

A-M-O-R (?)

AMOR. // substantivo masculino

1. forte afeição por outra pessoa, nascida de laços sanguíneos ou de relações sociais.

2. atração baseada no desejo sexual.

Analisando...

Eu te amo, mãe.

Analisando...

Eu te amo, mãe.

Analisando...

— Eu também te amo, filha. — O Exterminador finalmente responde, a voz de Breha Organa saindo de seu aparelho vocal sem problema algum. Ninguém nunca notaria a diferença. Nem mesmo Leia Organa.

Ele desliga o telefone e se levanta, desviando dos corpos e saindo pela porta da frente da destruída mansão. Ele havia conseguido o que queria: o alvo estava localizado.

Ele tinha uma missão para cumprir.

 

↑○◙○↓

 

O cachorro começa a latir quando eles estão prestes a sair.

Leia e Han perdem apenas dois segundos de tempo antes de chegarem a mesma realização.

— Ele nos achou.

 

↑○◙○↓

 

É tudo um borrão a partir daí.

Han joga o motorista de uma picape para fora, roubando mais um veículo. Caramba, ele era bom nisso. Ele põe Leia para dirigir na rodovia e usa das granadas caseiras que construíram para tentar atrasar o Exterminador, que os segue de moto e passa a atirar em suas direções. Uma, duas, três batidas de coração tão doloridamente fortes. Oh espere, talvez fosse apenas os tiros. É difícil assimilar tudo. Leia é a mais pura adrenalina.

— HAN! — ela grita quando ele se encolhe de repente, arfante. Há sangue se formando perto de seu ombro. Oh caramba, Leia esperava que não tivesse atingido seu peito! Por favor, não. — Han, aguente firme!

Aguente firme mesmo, porque ela estava prestes a fazer uma loucura.

Assim que o Exterminador chega perto mais uma vez, ela decide jogar a picape contra a moto dele.

A moto capota.

E a picape também.

 

↑○◙○↓

 

[AVISO]

[AVISO]

[AVISO]

Pequenos danos, sim. Ele havia percebido.

Leia Organa havia o derrubado de sua locomoção, e causado um atropelamento contra ele. O motorista do caminhão forçou o freio e agora estava se aproximando rapidamente.

[AVISO: MÚLTIPLAS DILACERAÇÕES VISÍVEIS]

O Exterminador se levanta com um pouco de dificuldade, ignorando os avisos constantes em relação à sua aparência humana. Não importava mais se aquela raça visse parte de sua verdadeira forma. O alvo estava bem ali. Um algoritmo já havia sido rodado em seu processador e a melhor diligência era-

— Meu Deus, o senhor está bem?!

O Exterminador gira o braço e o atinge na cabeça. O humano cai desacordado.

O Exterminador anda em direção ao caminhão de gás, abrindo a porta do motorista e percebendo outro humano no banco do passageiro. Ele lhe olha com uma expressão comum de medo.

— Saia. — O Exterminador ordena. Não tinha tempo para lidar com irrelevantes.

Acelerando o veículo, ele mantém a direção nos alvos correndo pela avenida. Leia Organa havia sobrevivido ao capotamento e estava correndo junto do soldado da Resistência. O Exterminador mataria os dois se fosse necessário.

Subitamente, o soldado da Resistência toma outra direção.

Leia Organa passa a correr sozinha pela calçada.

O Exterminador mantém o foco na missão e gira o veículo para a esquina, prestes a concluir seu objetivo principal. Ela nunca ia conseguir escapar naquela velocidade.

O Exterminador acelera---

—--e suas lentes explodem com vermelho e calor.

Muito calor. O que-

errrrrrr- rrrrrroorrrr-

[SISTEMA OFFLINE]

[REINICIANDO]

[REINICIANDO 16,07%]

[REINICIANDO 38,01%]

[REINICIANDO 54,09%]

[REINICIANDO 82,11%]

[REINICIANDO 100%]

O caminhão de gás explodiu.

Como-

[OBJETIVO: ELIMINAR LEIA ORGANA]

A missão.

A missão era tudo o que importava.

Buscando...

[AVISO: DANO IRREVERSÍVEL— TECIDO HUMANO COMPROMETIDO]

Buscando...

Buscando...

O Exterminador se apoia em suas mãos metálicas. Sua verdadeira forma completa e à vista para qualquer raça. Fogo ao seu redor. Leia Organa deveria estar por aqui. Seu sistema demorou exatos 1 minuto e 42 segundos para reiniciar. Ela tem que estar por aqui ainda.

[ALVO LOCALIZADO]

Suas lentes brilham em vermelho sangue ao encontrá-la. Ela estava abraçada ao soldado da Resistência. Bem que o relatório avisou sobre as chances de conflito.

— Han, HAN! Ele está vindo! — ele ouviu Leia Organa gritar, mancando com o humano. — MEXA-SE SOLDADO! Vamos!

Eles estavam danificados. Assim como ele.

[CHANCES DE SUCESSO]

Calculando...

[CHANCES DE SUCESSO: 62%]

Era o suficiente.

 

↑○◙○↓

 

O Exterminador os cerca dentro de uma fábrica.

Eles correm, se escondem como ratos, porém ambos sabem que é em vão. Agora era questão de tempo. Era tudo ou nada.

Com sua mão esquerda, Han segura firmemente uma última granada.

— Você tem um plano?

Com sua mão direta, ele segura Leia.

— Tenho.

— E...?

— É um plano bem ruim.

Leia e todos os sonhos que ele nutriu com apenas uma foto e histórias.

Leia e todos os sentimentos que ele aprendeu a nutrir ao conhece-la de verdade. Ela não era uma lenda, não ainda, mas que havia o ensinado tanta coisa; sorrir, apreciar, amar.

Pela primeira vez em toda a sua vida, Han relaxou ao seu lado e encontrou paz.

— Vamos lá, Han. Nunca me diga as chances, não é? — ela tenta brincar, seu tom trêmulo denunciando seu medo. Ele solta sua mão, e toca em sua bochecha, seus olhos percorrendo cada centímetro de seu rosto. — Han?

Obrigado Leia, pela sua coragem nos anos sombrios, — ele começa a citar, fazendo ela balançar a cabeça quase que imediatamente. — Eu não posso ajuda-la no que em breve você vai enfrentar-

— Não diz isso, eu não quero ouvir isso.

—exceto dizendo que o futuro não está estabelecido.

— Han! —ela exclama, esforçando-se para manter a voz em um sussurro. Escondidos, apenas uma pequena luz que atravessa o teto os ilumina. — Nos vamos sair dessa, você prometeu!

Ele engole a angústia e continua a mensagem quase como uma oração: — Você tem que ser mais forte do que imagina ser capaz-

— Não. — Leia choraminga, abaixando a cabeça.

Você tem que sobreviver, — ele diz e toca seu queixo, erguendo sua cabeça. — Ei, olhe pra mim, querida. Se não ele nunca vai existir.

Duramente, ela rosna: — Não me importo com ele, caramba!

Han assente. É claro que ela não se importava. Como poderia? Ele era só uma história, só um sonho distante.

Oh, mas ela iria.

Quando o conhecesse, quando visse que ele era real, ela iria amar Ben Organa à ponto até de morrer por ele.

Sua missão era protege-la. Talvez, com muita sorte, não morrer no processo. Mas Han não era burro, ele entendia que as chances eram improváveis. General Organa sabia.

Metal sendo arrastado se aproximava.

O brilho vermelho iluminando o corredor escuro.

E tudo que Han tinha era um plano ruim.

— Vai ter que servir. — ele resmunga, sentindo a granada pesar em sua mão.

Prestes a se levantar, Leia o segura. — Espere! — e o beija, os lábios de ambos fervorosos em sentimento. — Eu te amo!

E por um momento, ele pode ver.

Em outra linha temporal, onde os Exterminadores não existiam; numa outra galáxia, aonde eles nasceriam na mesma época; em um outro universo ele a amaria de novo, e iria ter uma confiança irritante o suficiente para responder Eu sei.

Aqui, agora, eles não tinham tempo.

E Han não tinha confiança alguma que iria sair dali vivo.

Ele sorri mesmo assim. — Eu também te amo, princesa.

 

↑○◙○↓

 

Han o destrói da cintura para baixo.

Quando ele morre, acaba levando um pedaço dela com ele.

 

↑○◙○↓

 

Leia Organa mata seu primeiro Exterminador assim: se arrastando sozinha por baixo de uma prensa metálica e ligando a máquina contra a metade de seu perseguidor, que ainda insistia em estender o braço para completar uma missão falha desde o começo.

Han havia a salvado tantas vezes.

Mas no final, coube a ela ter coragem para salvar a si mesma.

Ou Ben Organa nunca iria existir.

 

↑○◙○↓

 

Ben Organa... que na verdade é Ben Solo.

Ela se descobre grávida três meses depois. Não é difícil fazer as conexões.

 

↑○◙○↓

 

— Devo te contar sobre o seu pai? Rapaz, ele era durão... afetaria sua decisão de manda-lo pra cá se soubesse? Você vai ser mais velho do que ele jamais foi quando finalmente o conhecer... e vai ser o chefe dele. Alguém que ele vai admirar. Ah, se ele soubesse!

A voz de Leia é suave, os olhos melancólicos e distantes no berço aonde o pequeno bebê dormia. Sobre a estante, um gravador ligado que ela não tinha mais forças de segurar. Estava se reservando para ele agora, Ben, toda a sua energia era dele. Seu filho, que vai salvar a humanidade um dia. Ainda um bebê. Inocente. Oh, Han...

— Mas você vai saber, filho. Eu vou te contar quem ele foi. O futuro não está estabelecido, então ainda vai poder fazer memórias com ele. É verdade que não vou poder te ajudar no que em breve você vai enfrentar, principalmente quando for enviá-lo de volta, mas... Eu não acho que estará sozinho, Ben.

Apoiando a mão sobre o queixo, ela fecha os olhos. Lembranças de Han preenchendo sua mente e coração.

— Saiba que nos poucos momentos que estivemos juntos... nos amamos uma vida toda.

Um flash de câmera a faz despertar.

A imagem de um Luke Skywalker sorrindo lhe traz uma forte sensação de déjà vu.

— Sonhando acordada de novo, Leia?

— Fazendo gravações de novo. E é melhor rasgar essa foto!

— Quer saber? Talvez essa eu rasgue. — Luke fala após analisar o papel recém saído da câmera polaroid, e lhe entrega. — Parece cansada, há quanto tempo não dorme?

Ben Organa me deu uma foto sua uma vez.

Será que-

Não, claro que não.

— Algum tempo. Sabe, maternidade não é fácil.

— É, mas hey, eu ainda estou aqui não é?

Ela se esforça para sorrir. Luke merecia um sorriso. Ele estava sendo um grande amigo nos últimos meses, sempre paciente e nunca perturbado com os novos hábitos dela.

— Enfim, trouxe as compras da semana. Eu ia trazer aquele chocolate que você gosta, mas não tinha.

— Tudo bem.

— Achei melhor vir logo pra cá, viu a tempestade se formando lá fora? Vai ser uma das grandes!

— Eu sei. — ela responde, tensa ao observar seu bebê no berço. Seu filho, a única esperança da humanidade. Dormindo tranquilamente e frágil. Tão frágil.

Mas Leia o protegeria com a sua vida.


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Notas finais do capítulo

Foto da Leia que o Han 'tava falando: https://imgur.com/a/pUl9eff

Então foi só quando eu comecei a corrigir esse capítulo que eu percebi que o relacionamento do Kyle com a Sarah me incomoda um pouquinho, sei lá.
Estariam interessados numa sequência? eu 'tô brincando com a ideia de Judgement Day na cabeça e quem sabe né...