(Des)Encontros escrita por Karry


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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A Toca sempre foi um lar de felicidade e animação e fora inevitável para Molly não se acostumar com o barulho alto e a constante bagunça que suas crianças faziam. Ela se sentia feliz e completa em ser a mãe e chefe da casa, cada uma das pessoas que moravam ali completavam o quebra-cabeça divertido que formava a família Weasley.

Bill era o mais velho, dentre os sete, ele era sempre o chefe das brincadeiras e das limpezas da casa. Todos os irmãos o obedeciam sem questionar, ele era um líder natural.

Charles era fascinado por animais (especialmente os dragões) e nada no mundo o fazia se sentir mais vivo do que as criaturas fantásticas, Molly ainda tinha a imagem gravada em sua mente de um Charlie pequenino gritando de felicidade ao abrir o pacote de ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ que havia ganhado de presente de aniversário de sete anos.

Percy era um intelectual - mas Molly sempre se gabou das notas e da inteligência de todos eles -, ele sempre estava com a cabeça enfiada em algum livro e, quando tinha idade o suficiente, começou a conversar sobre política, economia e problemáticas sociais. 

Já Fred e George (e estes ela simplesmente não conseguia separar, sempre estavam juntos) seus amados gêmeos, tão parecidos com os irmãos que uma vez ela teve, alegres, inteligentes, pregavam peças em qualquer um sempre que tinham uma oportunidade. Molly chegou a se preocupar com o senso de brincadeira desses dois, mas a Gemialidades Weasley fora construída para lhe provar o contrário, eles eram sim capazes de se tornar adultos responsáveis, afinal.

Ronald. Muitas vezes Molly se preocupava que Ron estivesse perdido, e talvez, em algum momento ele de fato estivesse. Ron era o tipo de garoto que se aplicava não às matérias da escola como Transfiguração e Poções, mas se alguém precisasse matar uma criatura mitológica, era ele quem deveria chamar. 

E por fim, Ginevra. A doce e tempestuosa Ginny, a única menina entre sete filhos, a mais nova, a garotinha com que ela sempre sonhou. Entretanto, Ginny nasceu para acabar com todas as suas expectativas, ela não era delicada, calma e paciente, muito pelo contrário, era forte, imponente e grandiosa. E Molly não poderia estar mais orgulhosa.

Molly era uma mulher feliz, tinha tudo aquilo que poderia pedir a Deus. Mesmo que às vezes o dinheiro parecesse não ser suficiente ou a única solução era fazer com que as crianças repetissem e passassem suas roupas para os irmãos seguintes, ela não mudaria absolutamente nada. 

A felicidade que sentia não poderia ser comprada com dinheiro. 

E mesmo quando tudo ao seu redor pareceu desmoronar, Molly não deixou de se sentir grata. 

Quando Fred se foi, Molly se perguntou se aquilo não era apenas uma piada de péssimo gosto da vida. Primeiro seus irmãos (gêmeos) tinham sido assassinados, e então ela fora agraciada com gêmeos idênticos, só para poder perder um deles novamente. 

Mas Molly se manteve firme, ela teve de continuar, não havia escolha. Ainda era mãe de seis outras crianças que precisavam dela, e Molly fez tudo o que esteve ao seu alcance. 

A guerra passou e com ela, a calmaria após o luto de perder seu querido e amado Fred e todos aqueles amigos que ela também perdeu por conta das mais sangrentas batalhas. Às vezes ela se questionava se somente ela estava sofrendo com tudo isso, todo mundo parecia tão bem, tão feliz, tão prontos para celebrar a vida. 

Ela levou anos para perceber que, na verdade, as pessoas apenas fingiam estar bem, e ela passou a fazer o mesmo. Afinal, não sabia o que aconteceria no dia de amanhã, sequer sabia se estaria viva para poder sofrer por algo. 

Fora uma época boa, aquela vida após a guerra. Bill havia se casado com Fleur, mas sempre permanecia em contato, Charlie estava sempre por perto, Percy voltou a morar sob o mesmo teto que sua família, George, Ron e Ginny ainda estavam ali. 

Mas tão rápido quanto começou, todos eles foram embora. Bill e Charlie pararam de visitar, Ron, Ginny e George se casaram e também diminuíram a frequência com que a visitavam, o último deles a ir embora fora Percy e, ainda assim, ele também se foi. Só haviam restado ela e Arthur.

Molly sabia que estava sendo uma mãe mimada e egoísta, não havia criado seus sete filhos na esperança de que ficassem para sempre a sua disposição, ela tinha plena consciência de que eram indivíduos e que alguma motivação externa os faria lutar por sua própria independência. Então ela observava de longe, como uma espectadora oculta, um a um ir embora. 

Sua vontade era a de gritar com cada um deles: “voltem aqui, aonde vocês pensam que vão? Eu criei vocês, dei tudo o que podia e não podia em prol de todos vocês e agora vão me abandonar?”, mas nunca o fez, ela não tinha esse direito.

— Nós ainda temos um ao outro, querida — sussurrava Arthur para ela, com um sorriso sincero nos lábios. Ela sabia que ele também se sentia da mesma forma. 

Agora A Toca era silenciosa demais, vazia demais. E as fantasias mais absurdas de Molly envolviam vira-tempos para poder voltar no tempo em que todos os seus filhos ainda estavam sob sua proteção (incluindo Fred). 

E a pior das coisas aconteceu.

Molly acordou naquela manhã, mas ainda não havia aberto os olhos. Ela conseguia sentir o peso do corpo imóvel de Arthur ao seu lado, ainda dormindo. Então Molly se levantou, foi ao banheiro e fez toda a sua rotina de costume. Mais tarde, naquele mesmo dia, ela se lamentaria sobre como deveria ter acordado durante a madrugada para ver se seu marido estava bem, se poderia ajudá-lo e salvá-lo.

Quando Molly saiu do banheiro, ela soube que algo estava errado. Todas as manhãs, assim que ela terminava de lavar as mãos, Arthur despertava e quando ela saia do banheiro, sempre dava de cara com o marido lhe esperando, de olhos abertos e com um sorriso no rosto. Naquela manhã, entretanto, quando voltou para o quarto, Arthur estava deitado na mesma posição, com a boca escancarada e o corpo imóvel. Molly se aproximou, a fim de acordá-lo, e então ela percebeu que Arthur estava gelado demais.

Era uma manhã quente e metade de seu corpo estava coberto por uma grossa manta, então não havia possibilidade de Arthur estar gelado daquele jeito. Ela o sacudiu uma, duas, três vezes e Arthur continuou da mesma maneira.

Molly saiu do quarto desesperada e com o coração batendo rápido, suas mãos tremiam e seus olhos ardiam, cheios d’água. Sua mente já havia aceitado, mas seu coração se recusava a entender. Ela agarrou diversos pedaços de papel, uma pena e tinta, mas mal conseguiu escrever a primeira carta. 

Percy chegou alguns minutos depois em que ela havia se sentado sobre a mesa da cozinha para escrever as cartas, ele tinha uma cópia da chave da casa e consigo trazia uma enorme sacola de pano. 

— Mãe? O que aconteceu? Porque está chorando?

Molly não sabia que estava chorando, sequer havia percebido que agora as lágrimas escorriam por seus olhos e manchavam o papel que ela havia escrito algumas poucas frases, todas trêmulas e borradas de tinta. Ela sequer conseguiu responder Percy, fora ele quem começou a invadir todos os cômodos da casa até encontrar o problema. 

Percy voltou pálido para a cozinha e, sem dizer uma palavra, se colocou a escrever cartas para os irmãos e uma para o Hospital St. Mungus. Molly continuou sentada enquanto Percy escrevia e escrevia até suas mãos começarem a tremer, diante de tamanha força que ele estava depositando sobre o papel diante de si.  

— O que aconteceu? Você sabe? — ele sussurrou, após todas as cartas serem escritas e enviadas, estavam sozinhos e em silêncio na cozinha, o cheiro agradável das guloseimas que Percy havia trazido preenchiam o ar ao redor deles, mas Molly havia perdido todo o apetite que estava sentindo quando acordou.

— Eu não sei — ela sussurrou em resposta, e ela realmente não sabia o que havia acontecido. Arthur estava ótimo na noite anterior, jantaram e conversaram como qualquer outra noite. Molly vasculhou todas as memórias das últimas duas semanas, Arthur estivera saudável como um trasgo, não havia reclamado de nada que pudesse ser letal ao ponto de matá-lo enquanto dormia. 

Percy se levantou e abriu a torneira da pia, ele esfregou o rosto com a água gelada e se manteve apoiado sobre a mesma em silêncio. Ela sabia que havia sido um choque e tanto para ele, mas o que poderia ter feito? Não conseguia dizer, sua boca simplesmente era incapaz de dizer o impronunciável: “seu pai está morto”.

*

Os outros cinco chegaram quase todos ao mesmo tempo. George e Ron foram os primeiros, eles aparataram assim que Hermione insistiu que conseguiria fechar a loja sem a ajuda deles (e em seguida convencer Ronald de que voltaria para casa, pois Rose já sabia da notícia e também precisava de apoio). Os dois não conversaram a respeito da visita de Hermione até a loja e ficaram em silêncio diante da Toca, ambos encarando sua silhueta, sem coragem de se mover.

Em seguida, Ginny desaparatou ao lado dos dois. Os três se tiraram desconcertados, ninguém estava devidamente preparado para a reunião de família. Ginny acenou com a cabeça e os três se puseram a caminhar em direção A Toca.

Charlie desaparatou na cozinha alguns minutos depois. Ninguém se deu ao trabalho de levantar a cabeça para vê-lo, Percy estava ocupado enchendo a xícara da mãe com café e George, Ron e Ginny a cercavam num abraço e afago desajeitado.

Bill fora o último a chegar e junto dele, três médicos do St. Mungus.

Assim que todos entraram na Toca, Percy fez companhia aos médicos do St. Mungus até o quarto onde seu pai ainda estava. Os três médicos precisavam fazer a biópsia para só então liberar o corpo de Arthur a fim de prosseguir com um velório e enterro dignos.

Percy os acompanhou no piloto automático, não conseguia continuar na cozinha com todos os irmãos e a mãe. Havia sido forte o suficiente para não chorar em frente a ela e não se daria ao luxo de derramar uma lágrima em frente aos irmãos. Alguém precisava se manter forte para segurar o resto da família, era isso que Arthur teria preferido.

No andar de baixo Molly tentava, entre soluços, contar aos filhos o que havia acontecido. Ela lhes disse que Arthur não havia dado sinal algum de que estava doente, ainda era difícil de entender o que havia acontecido.

— E então Percy chegou — sussurrou ela com a voz entrecortada e o peito se enchendo de tristeza — Ele… foi ele quem escreveu as cartas.

Molly olhou para cada um de seus filhos, os cinco rostos vermelhos e inchados do choro inevitável que tiveram após receber a notícia. Era a primeira vez em muito tempo que estavam todos ali, sentados sobre aquela mesma mesa, como os irmãos que sempre foram.

— Eu não queria que vocês descobrissem dessa maneira — murmurou ela.

— A culpa não foi sua, mãe — respondeu Ginny, os outros quatro balançaram as cabeças em concordância — Era a maneira mais rápida e eficiente.

Ninguém disse mais nada. Não havia o que dizer, afinal de contas. Todos eles continuaram ali em silêncio, soluçando e fungando sobre a morte do homem mais especial de suas vidas.

Percy desceu as escadas e então se sentou à mesa, ao lado de Charlie. Todos olharam para ele, em busca de respostas a respeito da biópsia.

— Doença do Agoureiro¹ — anunciou Percy.

Charlie se sobressaltos, com os olhos arregalados.

— Ele… Ele teve uma parada cardíaca? — questionou, Percy apenas assentiu, cruzando os braços sobre o peito, tinha um olhar cansado em seu rosto.

— Ele não tinha histórico de doenças cardíacas antes e… tem uma substância mágica que encontraram na saliva dele, algo assim, não entendo muito bem — Percy esfregou os olhos e inspirou fundo — Os médicos levaram o corpo dele para limpá-lo através de magia e, em dois dias, poderemos enterrá-lo.

— Dois dias?! — berrou Molly — Mas é muito tempo, não vou aguentar ficar sozinha nessa casa sem ele.

— Mamãe, não vou deixá-la sozinha, vou dormir aqui — respondeu Percy.

— Eu também — anunciou Ginny.

E todos os outros também concordaram, o que acabou por fazer o coração de Molly desinchar. Era a primeira vez que todos dormiriam com ela sobre o mesmo teto novamente.


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Notas finais do capítulo

¹ doença inventada por mim, baseada nos contos do agoureiro do mundo de Harry Potter (que é um pássaro mágico que eles acreditam que traz a morte)



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