A chuva está potencialmente mais fraca, mas o ar ainda muito úmido e o solo completamente encharcado. Naquele cenário caótico, Azulon e Thomas se entreolhavam enquanto Ysabel, com um exército muito inferior ao de outrora, recuava – exterminando os soldados de cima no caminho.

— Eu não entendo. — Um homem disse, ao lado de Ysabel. Era um soldado forte, jovem, de olhos verdes e um cabelo castanho escuro bem cacheado. — Por que estamos fugindo?

— Ouça-me, Oleg. Há coisas que não valem a pena sacrificar, vocês são uma delas. — disse Gestova, referindo-se aos homens que a seguiam. — Estamos em número muito menor, não há porquê insistir numa luta de frente nesse cenário. Além disso — De repente, dois relâmpagos dourados caíram no horizonte, distante, de onde estavam Ellie e Dylan — existem coisas mais importantes que requerem nossa atenção.

Não tão distante dali, o caos. Titãs se apropriavam dos soldados, devoravam-os enquanto eles lidavam, ainda, com os que vinham de cima, lentamente silenciados pelos movimentos ágeis de Akira, já coberto de sangue, barro e água.

O cavalo de Roy era um dos poucos que seguia firme, saindo daquela ala destruída rumo ao centro. Estava visivelmente ofegante, com Lisa na garupa. De repente, o equino grunhiu; o mais velho olhou para baixo e notou: caiu numa armadilha para urso armada pelo adversário.

Como é de se esperar, ambos caíram rolando na lama, na medida que mais titãs se aproximaram lentament

— Erga-se, Roy! — exclamou Lisa, ajudando-o a se levantar. — Eu vou contê-los. Preciso que saia da área de explosão, você consegue?

— É claro. — respondeu Roy, mesmo com arranhões no rosto. — Não me subestime, Manifield. Eu ainda posso lutar.

— Não o subestimo, mas deve seguir rumo à leste. Encontre Ysabel, precisamos que nossos exércitos ganhem tempo. — A ruiva passou sutilmente a lâmina de uma espada em sua mão, deixando um fio de sangue escorrer. Os titãs já estavam muito pertos, e Roy se afastou brevemente. — Eu vou ajudar Ellie.

Subitamente, do céu chuvoso, um raio dourado desceu e atingiu Lisa com brutalidade, queimando uma área ao redor na explosão – já com Roy brevemente distante. O esqueleto se ergueu, não tardou e os músculos vieram, o braço de retorceu para um golpe no titã irracional que vinha e logo se concretizou, repelindo o gigante de doze metros para longe.

Por fim, a pele cresceu em várias áreas específicas, enquanto outras continuaram em carne viva. O corpo se modelou para uma estrutura ligeiramente afeminada, os cabelos ruivos saíram do couro cabeludo já até a altura do quadril, e os olhos azuis tomados por um brilho acolhedor agora queimavam num tom de ameaça. A Manifield acelerou os passos, e com fúria, desferiu um ágil chute que arrancou várias árvores de uma só vez.

Akira, já na metade do seu gás, sobrevoou Lisa e entendeu seu pedido apenas com o olhar: naquela área estava tudo sob controle. Ejetou com mais velocidade e foi seguindo Roy pelo ar, disposto a atropelar qualquer ameaça que viesse contra aquele que o acolheu no último ano.

— Uh...?

Ellie finalmente abriu os olhos, zonza. Sua visão estava ligeiramente embaçada, e tudo que via era a intimidadora sombra do Titã Bestial se aproximando.

Por mais que nitidamente desnorteada, entendia a gravidade da situação e num tempo curtíssimo se ergueu, dando alguns passos para trás. Os olhos vermelhos de Dylan realmente assustavam qualquer um, e nem mesmo seus soldados interviam na situação (estavam ocupados lidando com os titãs que eles mesmos criaram, por ironia do destino).

— Por que você continua lutando...? Eu não consigo entender. Dylan, talvez você só esteja hesitando. Seu desejo é o mesmo que o de seu pai.

Ellie disse para si mesma, de dentro da nuca do Titã de Ataque. Ergueu os punhos e deixou vapor quente escapar entre os dentes cerrados.

Distante dali, de cima do "morro", os soldados de Becker eram devorados um por um, e Dylan sequer reagia. Aquilo irritava Ellie profundamente. 

— Eu estou cansada de esperar!

Num célere movimento, Ellie se projetou contra o Titã Bestial, com os punhos cerrados e um rugido de fúria. Dylan ansiava por aquela brecha. Com um movimento tão potente ao ponto de empurrar o ar com sua palma, aproveitava o breve descontrole de Ellie para destruir sua face com um tapa tão poderoso que somente aquele Titã poderia dar. Mas fracassou.

O Titã de Ataque estava condenado, isso caso o descontrole fosse real. Num ágil movimento, Ellie dobrou a coluna e se ejetou para baixo, fazendo a palma de Dylan passar reto de maneira surpreendente. Após, o Titã se reergueu de maneira destrutiva e inteligente: lançou seu punho contra o queixo do Titã Bestial, destruindo seus dentes e deformando sua mandíbula inteira.

— Ninguém tem sua força, Dylan. Talvez nem Ulrich. Mas, para sua infelicidade, eu mudei. Eu tenho treinado por todo esse tempo, e pra sua informação — Ellie agarrou o desnorteado inimigo pelos chifres — eu sei todas suas desvantagens!

Puxando para baixo a cabeça do Bestial pelos chifres, o Titã de Ataque levantou brutalmente seu joelho e deu-lhe um potente golpe contra sua face, fazendo um dos olhos se ejetar para fora e o sangue jorrar para todos os lados.

— Então pare de me subestimar!

Ergueu desta vez o rosto deformado do Bestial, e com a mão livre, mais um soco. O titã foi repelido contra o chão, e lá permaneceu enquanto vapor regenerava suas feridas.

— Você... por que não reage?!

É verdade, Dylan parecia hesitar a todo momento. Talvez estivesse querendo perder, ou talvez aguardando o momento certo.

Os titãs que o exército de Becker lidava desceram morro abaixo, e antes que pudesse ver, três deles (cinco metros, nove metros e doze metros) já vinham na direção de Ellie. Com fúria, o Titã de Ataque rugiu, desferiu um soco e arrancou a cabeça do menor; após, apanhou o de nove pela boca e a abriu forçadamente até descolar a cabeça do maxilar. Estava pronta para reagir ao último, mas foi pega de surpresa quando ele entrelaçou seu corpo ao dela, na tentativa de alcançar a nuca.

Ellie não hesitou pelo irracional, mas pelo que viu atrás dele. O Bestial em sua forma mais crua, com olhos em fúria e vapor quente saindo de cada buraco no seu rosto. Sabia, ali, que estava fadada a perder – pelo menos naquele "round".

Numa corrida súbita e célere, Dylan abaixou a cabeça e o tronco, usando o chifre para passar pelo irracional agarrado à Ellie e, por fim, destruir completamente o tronco de sua rival e de quebra ejetá-la, mais uma vez, para longe.