As máquinas estão chegando

Os olhos do pequeno brilharam enquanto perguntava ao avô:

— Vô Chico, quando o senhor tinha o meu tamanho a cidade também brilhava?

O ancião espiou pela janela, vendo os postes, os carros e as máquinas. Lembrando-se de quando nada era enferrujado, inclusive o coração das pessoas.

— Brilhava, mas a luz era das estrelas. O chão tinha rosto e cheiro de casa, ouvia a família tagarelando, e os trilhos dos trens tinham nossa amizade.

A criança tentava imaginar a metrópole infantil, sem os barulhos dos carros, sem todo mundo com pressa e sem o cimento quente e duro sobre os seus pés.

— Sabe, meu neto — continuou o velhinho —  eu vi a cidade aumentar, as máquinas tudo chegar e o mundo virar essa bola. Se há uma coisa que me arrependo de não ter feito, é de ter acertado aquela gente rica com o meu peão.