Immortals: O Livro da Magia escrita por Ariri


Capítulo 5
Uma não tão comum primeira semana de aula




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Maxine nunca achou que fosse possível uma pessoa se perder incontáveis vezes em uma única semana, mas ali estava ela. Ela que sempre se gabou de ter memória de elefante. Sempre foi ótima em se encontrar no bosque que cercava os limites do bairro em que vivia, e céus, era facilíssimo para ela direcionar os colegas caso se perdessem em alguma aventura.

Mas aquele castelo testava suas habilidades e mais importante, testava sua paciência.

Havia cento e quarenta e duas escadas em Hogwarts: largas e imponentes; estreitas e precárias; umas que levavam a um lugar diferente às sextas-feiras; outras com um degrau no meio que desaparecia e a pessoa tinha que se lembrar de saltar por cima. Além disso, havia portas que não abriam a não ser que a pessoa pedisse por favor, ou fizesse cócegas nelas no lugar certo, e portas que não eram bem portas, mas paredes sólidas que fingiam ser portas. Era também muito difícil lembrar onde ficavam as coisas, porque tudo parecia mudar frequentemente de lugar. As pessoas nos retratos saíam para se visitar e Maxine tinha certeza de que os brasões andavam apenas para irritá-la.

Os fantasmas também não ajudavam nada. Era sempre um choque horrível quando um deles atravessava de repente uma porta que a pessoa estava querendo abrir. O Barão Sangrento não poderia se importar menos com eles, mas Pirraça, o Poltergeist, era o pior de todos; representava duas portas fechadas e uma escada falsa se a pessoa o encontrasse quando estava atrasada para uma aula. Ele despejava cestas de papéis na cabeça das pessoas, puxava os tapetes de baixo de seus pés, acertava-as com pedacinhos de giz ou vinha sorrateiro por trás, invisível, e agarrava-as pelo nariz e guinchava: “PEGUEI-A PELA BICANCA!”

Pior que Pirraça, era Filch, o Zelador. Brincando de jogar bexigas com Draco um dia, Maxine sem querer acertou Madame Nora, a irritante gata de Filch. Como um pulo de mágica, ele apareceu na frente deles e ameaçou arrastá-los pelas orelhas até que elas rasgassem de suas cabeças, e correr do zelador não era uma experiência agradável, já que a maldita gata parecia ter um pressentimento de onde eles se esconderiam. Maxine descobriu que todos odiavam a gata desgraçada, e seu maior desejo se tornou dar um pontapé naquela bunda peluda para que ela fosse parar no outro lado do mundo.

Além disso, quando a pessoa conseguia encontrar o caminho das salas, havia as aulas em si. Mágica era muito mais do que sacudir a varinha e dizer meia dúzia de palavras engraçadas. E foram nelas que Maxine se encontrou, como se uma urgência interna finalmente estivesse sendo atendida, e ela se tornou uma estudante ávida. Os dias de aulas eram fantásticos, era uma aluna dedicada, apesar de sentir certa preguiça para prestar atenção em muitas das classes, ainda recebia muitos elogios dos professores que exaltavam seu talento nato.

As aulas de astronomia eram na quarta à noite, tinham que aprender o nome das estrelas e o movimento dos planetas. Mesmo tendo dificuldade, ela adorava olhar para as estrelas, e acabou por pegar o costume de passar o tempo da Torre de Astronomia, observando o céu e sentindo a brisa noturna. Três vezes por semana tinha aula de Herbologia, na estufa dos fundos do castelo, e gostava bastante apenas pela oportunidade de meter as mãos na terra, algo que fazia Theo revirar os olhos constantemente.

O Prof. Flitwick, que ensinava Feitiços, era um bruxo miudinho que tinha de subir numa pilha de livros para enxergar por cima da mesa. No começo da primeira aula ele pegou a pauta e quando chegou ao nome de Maxine, lançou a ela um olhar curioso e questionador, avaliando-a com interesse. Ela não entendeu muito bem, mas apenas deu de ombros, pois era uma postura adotada por todos os professores.

Sem dúvidas, a aula mais chata era a de História da Magia, a única matéria ensinada por um fantasma. A princípio, Maxine achou que isso seria interessantíssimo, mas sua alegria se dissipou nos primeiros dez minutos de aulas. O Prof. Binns era realmente muito velho quando adormeceu diante da lareira na sala dos professores e levantou na manhã seguinte para dar aulas, deixando o corpo para trás. Binns falava sem parar enquanto eles anotavam nomes e datas e acabavam confundindo Emerico, o Mau, com Urico, o Esquisitão.

Quando chegou o dia da aula de Transfiguração, a Profa. Minerva mostrou ser severa e firme, extremamente inteligente. Ela deu um sorriso discreto de cumprimento a Max quando ela chegou, e já começou com o sermão:

― A Transfiguração é uma das mágicas mais complexas e perigosas que vão aprender em Hogwarts. Quem fizer bobagens na minha aula vai sair e não vai voltar mais. Estão avisados.

Max ficou exultante quando a Profa. transformou a mesa em um porco e a transformou de volta, imaginando todo tipo de coisa que poderia fazer com esse tipo de habilidade. Ela se dedicou ao máximo e ao fim da aula, ela, Theo e Draco foram os únicos estudantes a conseguiram transformar o fósforo em agulha, embora o dos meninos não ter sido perfeito. A professora deu um sorriso de aprovação a ela e dez pontos à sonserina.

A disciplina de Defesa Contra as Artes das Trevas era um fiasco. Max detestou; ficou com dor de cabeça naquela sala fedorenta e não gostou nem um pouco do Prof. Quirrel. Sua sala cheirava fortemente a alho, que todos diziam que era para espantar um vampiro que ele encontrara na Romênia e temia que viesse atacá-lo a qualquer dia. Seu turbante, contou ele, fora presente de um príncipe africano como agradecimento por tê-lo livrado de um zumbi incômodo, e Maxine prontamente bufou com desdém incrédulo diante do que ouvira, principalmente depois dele rapidamente desviar o assunto antes que alguém perguntasse algo.

Era o primeiro professor que ela tinha pegado antipatia, e ela tinha um pouco de dificuldades em esconder isso. Na sexta-feira estava sentada ao lado de Theo no café da manhã, e conversava com ele sobre isso:

― Você gosta do Snape, como pode não gostar dele?

― Snape é legal. O Quirrel é estranho.

― Só porque ele fede.

― Também – admitiu dando de ombros – mas eu realmente acho que ele tem algo estranho. Chame de instinto.

― Instinto?

― Sim, assim como meu instinto me diz que se a cara de Buldogue não parar de me encarar com essa careta, vou torcer a boca dela em três.

Theo soltou uma risada olhando para o outro lado da mesa, onde Pansy encarava enfezada Max. Era ridículo. Desde o primeiro dia que a garota pegou rixa com ela, ela e Blásio, tomaram antipatia dela. O sentimento foi reciproco, ela odiava a soberba do menino e não suportava a garota, evitando estar perto dela sempre que podia, mesmo quando ela estava acompanhada de Daphne, outra garota de seu ano de quem Max aprendeu a gostar.

No entanto, Daphne parecia ter sido influenciada pela Parkinson, pois não direcionava nenhuma palavra mais a ela, além de bom dia, boa tarde, boa noite. Maxine se sentiu um pouco mal com isso, e chegou a se questionar se havia algo de errado com ela. Como Draco vivia cercado pelos gorilas ou era acompanhado de Blasio e Pansy, os dois não conversavam tanto. Theo era o único que parecia ter adotado sua companhia como regra, e os dois viviam grudados de um lado a outro do castelo.

― Bem, eu pagaria para ver isso.

― Não terá que esperar por muito tempo, pelo visto.

Theo sorriu ao tomar o resto do suco e se levantou da mesa.

― Vamos, temos aula de Poções com o Snape, e ele detesta atrasos.

― Vejo que não nos daremos nem um pouco bem então. Eu adoro me atrasar.

― Contanto que isso não nos custe pontos, tudo bem.

Os dois saíram do Grande Salão, descendo as escadas até as Masmorras. Um aluno mais velho já havia apresentado a eles a sala de Poções e o escritório do Prof. Snape, que era o diretor da casa deles, logo, sabiam onde ir. Max foi saltitante, escutando de Draco a história sobre a maior partida que já existiu de Quadribol, e não pôde deixar de se entusiasmar por querer aprender o esporte o mais rápido que pudesse.

Ao entrarem na sala, viram alunos da grinória já presentes, e enquanto Draco se despedia para sentar entre os idiorilas, Max se sentou no fundo com Theo, acenando de longe para Harry e Rony, que corresponderam sem graça. Ela estranhou aquilo, mas assim que o professor fez a chamada, ela se esqueceu. Quando o Prof. Snape chamou o nome de Harry, Draco e a dupla soltaram risadinhas, assim como Theo, mas Max se limitou a revirar os olhos.

― Vocês estão aqui para aprender a ciência sutil e a arte exata do preparo de poções – começou. Falava pouco acima de um sussurro, mas eles não perderam nenhuma palavra. Como a Profa. Minerva, Snape tinha o dom de manter uma classe silenciosa sem esforço. – Como aqui não fazemos gestos tolos, muitos de vocês podem pensar que isto não é mágica. Não espero que vocês realmente entendam a beleza de um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a tremeluzir, o delicado poder dos líquidos que fluem pelas veias humanas e enfeitiçam a mente, confundem os sentidos... Posso ensinar-lhes a engarrafar fama, a cozinhar glória, até a zumbificar, se não forem o bando de cabeças-ocas que geralmente me mandam ensinar.

Mais silêncio seguiu-se a esse pequeno discurso. A garota Granger parecia ansiosa para provar que Snape estava errado, e Max riu baixinho disso.

― Potter! – disse Snape de repente, sobressaltando Max. – O que eu obteria se adicionasse raiz de asfódelo em pó a uma infusão de losna?

Raiz do quê em pó a uma infusão do quê? Max olhou para Theo que deu de ombros, e enquanto Harry parecia ter levado uma livrada na cara pálida, Hermione Granger estendeu a mão ansiosa enquanto a resposta se assentava na cabeça de Maxine.

― Não sei, não senhor – disse Harry.

A boca de Snape se contorceu num riso de desdém.

― Tsc, tsc, a fama pelo visto não é tudo.

E não deu atenção à mão de Hermione.

― Vamos tentar outra vez, Potter. Se eu lhe pedisse, onde você iria buscar bezoar?

Hermione esticou a mão no ar o mais alto que pôde sem se levantar da carteira, e dessa vez Max fez o mesmo porque havia lido isso no livro, mas Harry não parecia ter a menor ideia do que fosse bezoar. Draco, Crabbe e Goyle riam o mais alto que podiam; Max arrancou um pedaço de papel, fez uma bolinha e jogou na cabeça do loiro, que olhou irritado para ela.

― Não sei, não senhor.

― Achou que não precisava abrir os livros antes de vir, hein, Potter?

Snape continuava a desprezar a mão trêmula de Hermione, e vendo isso, Max abaixou a dela.

― Qual é a diferença, Potter, entre acônito licoctono e acônito lapelo?

Ao ouvir isso, Hermione se levantou, a mão esticada em direção ao teto da masmorra.

― Não sei – disse Harry em voz baixa. – Mas acho que Hermione sabe, por que o senhor não pergunta a ela?

Alguns garotos riram, Max já gargalhava sob a companhia da risadinha de Theo; os olhos de Harry encontraram os dela e Max deu uma piscadela para ele. Snape, porém, não gostou nem um pouco da tirada de Harry:

― Sente-se – disse com rispidez a Hermione – Poderia dizer, srta. Snow, as respostas?

Max se levantou sorridente:

― Asfódelo e losna produzem uma poção para adormecer tão forte que é conhecida como a Poção do Morto-Vivo. O bezoar é uma pedra tirada do estômago da cabra e pode salvá-lo da maioria dos venenos. Quanto aos dois acônitos são plantas do mesmo gênero botânico.

Hermione olhou para ela com raiva, mas Max fez o aceno da rainha de um lado a outro da sala, fazendo Draco assoviar e mais risadas eclodirem.

― Dez pontos para a Sonserina. Agora, porque não anotaram tudo que ela disse?

Ouviu-se um ruído repentino de gente apanhando penas e pergaminhos. E acima desse ruído a voz de Snape:

― E vou descontar um ponto da Grifinória por sua impertinência, Potter.

Max comprimiu os lábios, pensativa. As coisas não estavam muito boas para o lado de Harry, e isso só fez piorar ao longo da aula, não só para Harry mas para todos os alunos da Grifinória. Eles foram separados em pares para misturar um poção simples de curar furúnculos, e Snape caminhava pela sala criticando quase todos exceto por Draco e Max, que descobriu uma grande facilidade no ritmo calmo e objetivo de preparar a poção. Foi a matéria que mais conseguiu se concentrar, as informações se encaixavam, era estimulante e pragmático.

Ela era uma garota pragmática.

Snape tinha acabado de dizer a todos que olhassem a maneira perfeita com que Draco e Max cozinharam as lesmas quando um silvo alto e nuvens de fumaça acre e verde invadiram a masmorra. Neville Longbottom, o menino de rosto redondo tinha acabado de derreter o caldeirão de seu colega grifinório, transformando-o numa bolha retorcida e a poção dos dois estava vazando pelo chão de pedra, fazendo furos nos sapatos dos garotos. Em segundos, a classe toda estava trepada nos banquinhos enquanto Neville, que se encharcara de poção quando o caldeirão derreteu, tinha os braços e as pernas cobertos de furúnculos vermelhos que o faziam gemer de dor.

― Menino idiota! – vociferou Snape, limpando a poção derramada com um aceno de sua varinha. – Suponho que tenham adicionado as cerdas de porco-espinho antes de tirar o caldeirão do fogo?

Neville choramingou quando os furúnculos começaram a pipocar em seu nariz.

― Levem-no para a ala do hospital – Snape ordenou ao colega dele. Em seguida voltou-se zangado para Harry e Rony, que estavam trabalhando ao lado de Neville. – Você, Potter, por que não disse a ele para não adicionar as cerdas? Achou que você pareceria melhor se ele errasse, não foi? Mais um ponto que você perdeu para Grifinória.

Max ficou boquiaberta com aquela injustiça. Harry parecia querer falar algo, mas logo se calou, cutucado por Rony. Theo segurou seu braço, mandando ela ficar quieta, e Max bufou, irritada. Uma hora depois descia as escadas para o Salão Comunal satisfeita consigo mesma, mas levemente incomodada com aquela situação. Ela não deveria se importar, ela estava indo bem, nada daquilo era problema dela.

― Srta. Maxine. – Max despertou e se virou para a professora Minerva, que estava atrás dela – Pode me acompanhar a minha sala por favor?

― Claro professora.

Maxine seguiu a professora escada acima, meio indignada por seus planos de se refugiar na cama com Nyx terem sido interrompidos. Subiram até uma das torres quando ela abriu a porta e permitiu que Max analisasse a sala repleta de livros, elegante e maravilhosa.

― Sente-se Maxine.

Max obedeceu, e a professora tomou a cadeira de frente a ela na mesa de mogno linda.

― Eu fiz alguma coisa errada?

― Ah, não Maxine. – Max deixou escapar um suspiro de alívio – Recebemos uma carta da responsável de seu orfanato. – Max olhou para a senhora de óculos quadrados, que sorria bondosa mais uma vez – Eles gostariam de entrar em contato com você, mas não sabem como, arriscaram de qualquer jeito, mas como não costumamos receber cartas por meios trouxas, tivemos que responde-la dizendo que não enviasse mais assim.

― Entendo.

― Como vejo que são muito próximas, e você acabou por comprar um gato no lugar de uma coruja como outros estudantes, está impossibilitada de enviar cartas a elas, por isso, quero que saiba que minha coruja está à sua disposição. – Max sorriu largamente, mas a profa. Minerva continuou a falar – Claro que terá que pedir antes, e caso eu não tenha uma carta a ser enviada, poderá manda-la às Irmãs do Orfanato.

― Obrigada, Professora. – Minerva assentiu, e empurrou um frasco de biscoitos para ela.

― Como uma biscoito. – Como era basicamente uma ordem, Max obedeceu, pegando um biscoito que por acaso era delicioso. – Fico feliz que tenha uma relação boa com as Irmãs, quer dizer que foi bem cuidada por elas.

― Ah sim – Max limpou os farelos da boca com o dorso da mão – Somos muitas por lá, mas mesmo com algumas exceções, elas sempre se esforçaram para oferecer um lar para nós, somos como uma grande família.

― Entendo... Deve sentir falta de seus pais.

Max engoliu o biscoito, pegando outro sob o olhar atento da professora.

― Não há como sentir falta do que não conheci, Professora. – Ela suspirou fundo e encarando os olhos ternos de Minerva, tomou coragem para perguntar o que queria. – Professora, a senhora poderia me falar da guerra de dez anos atrás?

Minerva se sobressaltou, e após alguns instantes, raspou a garganta e perguntou calma:

― O que quer saber?

― Minha mãe me deixou uma carta.

― Sim...?

― Ela a escreveu no meu aniversário de um ano, onde se despedia de mim, dizendo que caso ela e meu pai morressem, eu receberia essa carta por meus avós ou meus padrinhos. Mas não tenho ninguém, e quem me entregou ao Princesa Cordelia disse que toda minha família morreu. – Profa. Minerva ergueu a sobrancelha e a olhou seriamente. – Na carta ela diz que estavam em meio a uma guerra, e que continuava a lutar para que eu tivesse um futuro seguro, que ela e meu pai continuariam a lutar e que achava estar mais segura do que os outros, só que estavam perdendo companheiros. Draco me disse outro dia que Você-Sabe-Quem foi um grande bruxo das trevas e foi derrotado por Harry, então me pergunto se a morte de meus pais tem algo a ver com isso.

A Profa. Minerva a estudou por alguns instantes, e ainda em silêncio, se levantou e sumiu de vista, reaparecendo minutos depois com um bule de chá e duas xícaras que pousaram na frente dela. O chá foi servido sozinho enquanto a professora se sentava novamente, com um olhar pesaroso.

“Quem são os pais dela?” Minerva pensava, olhando para os fios ondulados da menina, e sua memória se voltou para os olhos cinzentos que Maxine possuía, olhos ainda mais familiares, mas que não conseguia ligar a ninguém, por algum motivo.

― Pegue um biscoito, querida. – Max obedeceu, mesmo sem estômago para comer novamente – Está com a carta aí?

― Deixo escondida no meu malão, não quero perde-la.

Minerva meneou a cabeça em confirmação e tornou a falar:

― Há dez anos houve de fato uma grande guerra, contra Voldemort, um terrível bruxo. Muitos sofreram contra ele, e muitos morreram. Havia um grupo que continuava a lutar contra ele, junto ao ministério. Eram chamados de A Ordem da Fênix. Muitos bruxos bons se juntaram à causa, muitos morreram pela causa, infelizmente. Quero que saiba que seus pais foram muito corajosos em se levantar contra a tirania, e que você é filha de heróis.

Max sorriu, tocando a foto por cima do bolso das vestes.

― Obrigada Profa. McGonagall.

― Não precisa agradecer, querida. – Max se levantou, pronta para sair – Escreva uma carta e enviaremos amanhã mesmo.

― Sim, professora.

― Volte na próxima sexta, para tomar um chá, nessa mesma hora.

― Com certeza, professora.

Maxine abriu a porta e animada, deu seus primeiros passos até esbarrar em um corpo mole. Ela parou instintivamente, e olhou para baixo, para a mulher de óculos redondos que deixavam seus olhos imensos e vestia uma roupa ridiculamente estranha. A mulher havia derrubado uma bola de cristal no chão, e Maxine se apressou para pegá-la antes de dar trabalho a ela.

― Tome mais cuidado por onde anda.

― Sim, senhora. – Maxine respondeu com um suspiro, e se aproximou da mulher com um sorriso educado, afinal, a irmã Nora a havia ensinado a ser educada. – Aqui está.

A mulher tomou a bola de cristal da mão de Maxine com brutalidade, mas antes que Maxine se visse livre dela, algo mudou no ar.

A bola de cristal mais uma vez foi ao chão, tilintando enquanto a mulher agarrava o pulso de Maxine de forma agressiva e a outra mão segurava seu queixo com força. Maxine deu um passo para trás, tentando se afastar do toque que estilhaçou todos os pedaços de sua segurança, mas a mulher apenas a agarrou com mais força, forçando seu rosto a olhar diretamente a ela.

Com o coração saltando dentro de seu peito e a urgência para que saísse correndo crescendo em suas veias, Maxine encontrou os olhos vidrados da mulher, completamente brancos, e sua boca contraída em uma linha rígida.

― Tão bonita, tão quebrada, a menina queimada.

A respiração de Maxine pareceu se perder no tempo. Paralisada, Maxine observou com a respiração curta, a mulher aproximar o rosto dela e analisa-la com os globos oculares brancos. Maxine sentiu o tremor começar em suas pernas, e mordeu a bochecha por dentro em um grito interno de socorro enquanto a marca que descia de sua nuca pelos ombros pinicava com a menção.

Como ela sabia daquilo?

― Maxine o que... Sibila? – Maxine não se virou para ver a profa. Minerva, pois tudo em seu corpo ainda gritava para que corresse dali o mais rápido que pudesse – Oh meu Merlin.

A estática que sentia no ar pareceu se agravar. Um gato prateado passou correndo do lado de Maxine, mas ela não teve tempo de se perguntar o que aquilo era ou tentar entender o que diabos estava acontecendo.

A mulher arregalou os olhos e virou a palma de Maxine, deslizando a unha em seu pulso, encravando com força suficiente para que sua carne sangrasse, mas ela não conseguiu ver o que era, pois já dava um pulo para fugir, apesar da forma impossível com que a mulher a segurava.

― Pare! – Maxine gritou, choramingando, mas a mulher não parou.

Braços cercaram os ombros de Maxine, e ela na mesma hora se virou e escondeu o rosto nas vestes da profa. Minerva, o corpo tremendo tanto que mal sentia os soluços que irrompiam de seu peito, o suor frio descendo por sua coluna.

Por fim, a mulher parou, sem soltá-la.

Antes que Max a olhasse, a voz soou parecendo tomar todo o ar do ambiente para si.

Sem origem, sem futuro

A garota vinda de lugar nenhum voltou

Em seu sangue mui antigo correrá a dor

Em seu coração misterioso as cicatrizes serão marcadas

O perigo a cerca, as sombras a perseguem e a calamidade virá,

A luz dos que se foram a guiarão.

Há bruxos que esperam por ela.

O nobre que poderá ser diferente,

O campeão que partirá antes de viver o que mais deseja

O escolhido que deverá decidir entre o dever e o coração,

O dividido entre dois lados que perdeu a luz em seu caminho,

O traído sem felicidade que uma vez antes a perdeu.

Sobre as linhas tênues das trevas e da luz,

A garota quebrada, a menina queimada, escolherá

A quem dar sua lealdade, a quem dar seu amor, a quem dar sua vida

Por quem sangrar, salvo está, vencedor será.

Por sangrar, condenada sua alma estará, vida não mais terá

Até que as paredes do castelo queimem, uma escolha deverá tomar.

Sua escolha final será aquela que a todos salvará.

A voz se calou e a mulher a soltou.

Maxine soltou a respiração que nem percebia te prendido.

Uma mão invisível acariciou seu cabelo.

E os braços da profa. Minerva a envolveram em um abraço seguro.

Maxine continuou a tremer, vozes distantes que não deveriam estar ali pareciam chama-la para um ponto distante, por uma luz temerosa.

― Ah, Minerva. Como vai?

Maxine se sobressaltou e se soltou, olhando de uma mulher a outra. A que a agarrou tinha os olhos de volta ao normal, e a olhava curiosamente. Já a profa. Minerva tinha a atenção em outra coisa, concentrada demais para sequer ter escutado o cumprimento da mulher; ela segurava a mão de Maxine e com o cenho franzido analisava a ferida causada pela outra. Max seguiu seu olhar e o que encontrou, por algum motivo, fez seu coração disparar mais uma vez.

Um triângulo, a mulher havia gravado um triângulo em seu pulso. Mas havia algo mais dentro do triângulo que Maxine não conseguia entender, ou teve tempo para isso. A profa. Minerva encontrou seu olhar e deu batidinhas carinhosas em sua mão, um sorriso doce nos lábios sempre severos, algo incomum que quase distraiu a menina da preocupação que estampava seus olhos graves, uma preocupação que beirava o pânico, sombreados por uma determinação feroz.

Maxine sabia bem como reconhecer isso.

Foi com esse mesmo olhar que a Irmã Nora a encontrou naquele porão anos antes.

― Vamos, srta. Maxine. Não acho que a feriu muito, mas Madame Pomfrey gostará de dar uma olhada nisso, por via das dúvidas. – A mão suave da professora a guiou para os degraus, distanciando-a da mulher que as olhava com curiosidade – Sibila, por favor, espere aqui até a chegada de Dumbledore, sim?

― Ham... Claro.

Mas Minerva não esperou por resposta. Já descia os degraus arrastando Maxine atrás de si, ambas caladas. Max mantinha o olhar na marca cravada pela tal Sibila, sem conseguir entender o que havia acontecido, e o que parecia ser o peso de mil pessoas invisíveis, a seguiam escada abaixo.

― Professora...

― Isso não foi nada querida. Sibila por vezes tem alguns ataques, mas ela não fez por mal, sim? – Minerva olhou por cima do ombro com um sorriso tranquilizador, mas a tormenta em seus olhos.

― Claro...

― Esqueça o que ela disse, sim? Eram apenas devaneios de uma mulher louca.

― Certo...

― Ótimo. – Maxine não percebeu como já estavam perto da enfermaria, mas Minerva não parou – Agora quero que se acomode enquanto chamo seus amigos para te fazer companhia.

Ela abriu a porta sem esperar por resposta, sentou Maxine em uma das camas e saiu apressada.

Maxine ficou parada, com os olhos presos nas sombras que se avolumavam na porta aberta, as sombras que tapavam a iluminação da janela, disputando pela chance de vê-la, de chama-la. Max engoliu em seco e cerrou os punhos contra os olhos, tentando mais uma vez, escapar da escuridão que parecia chama-la, das vozes aterrorizadas que clamavam por ajuda, das formas que espreitavam as sombras, esperando por ela.

Ela deitou, as mãos ainda cobrindo os olhos, pressionou os joelhos contra a barriga e respirou fundo. Maxine sabia melhor que ninguém que não se podia fugir de fantasmas, não daqueles. Portanto ela apenas concentrou-se em sua respiração e deixou-os do lado de fora, sem dar a eles a chance de falar.

Apenas uma voz a alcançou, um toque suave e maternal que deitou por cima de seu corpo, protegendo-a dos outros, acalmando-a com palavras amorosas. Aos poucos, o tremor de seu corpo sumiu, e seu medo foi substituído por calma, por paz, pela segurança que sempre acompanhava aquele.

“Está tudo bem agora, eu estou aqui. Durma e eu os soprarei para longe”

Max confiou nas palavras de sua mãe e deixou o sono a alcançar.

Como prometido por ela, as sombras não invadiram seu refúgio.


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Notas finais do capítulo

Essa primeira parte - o primeiro livro - não será muito longo, afinal, o livro não é muito longo.
Espero que tenham gostado.
O que acharam da profecia? O que acham que ela significa?
Muitos mistérios, não é?
Beijos na bunda!
Comentem pleeeeease!!!!



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