O Desconhecido da Mansão Valentine escrita por Morello, Ytsay


Capítulo 4
Surpresa. Brilho fraco de uma luz.


Notas iniciais do capítulo

Hi! Trago um capitulo escrito no ano passado e revisado umas três vezes, kkk.
Dando um sopro de vida e esperança nessa história em 2022...

Divulguem, interajam e apoiem, me ajuda muuuito a focar em concluir esse projeto ❤.

Boa leitura!



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Às vezes a perna direita de Prince dava algumas pontas de dor e formigava, mas a cirurgia já havia sido há meses e o carro percorria suavemente toda a estrada até a enorme mansão que surgia entre os bosques, numa estranha planície com jardins coloridos e arbustos podados. Depois de dez anos, Prince Valentine ficou surpreso e curioso se era certo pensar que aquelas flores e plantas ornamentais fossem novas. E, se eram, desde quando seu pai estaria investindo dinheiro naquela decoração externa que quase ninguém podia apreciar? Enquanto pensava distraído no banco de trás do sedã, lembrava-se de como tudo aquilo era apenas um gramado extenso e sem graça, combinando com o bloco de concreto pálido e solitário que era o enorme casarão no meio do verde.

Assim que desceu do veículo a sombra do edifício, o jovem Valentine deu um suspiro longo, cansado por estar de volta, e notou que o ar possuía o perfume das flores e da umidade de alguma fonte que jorrava em algum lugar com um baixo chiado. O motorista nem se ofereceu para ajudá-lo com a mala, simplesmente pegou-as e foi levando para dentro sem dizer muita coisa. Os degraus de entrada foram vencidos sem pressa e no hall não havia ninguém para recebê-lo. O mármore frio e decorado do chão e as pilastras que sustentavam o teto alto com gravuras, ainda continuavam frios e sem graça, os móveis pareciam os mesmos de sempre, mas as pinturas expostas em quadros nas paredes haviam sido substituídas por outras igualmente sem vida. Para ouvir, apenas os passos do motorista ecoavam, subindo através da larga escadaria principal, mostrando que o prestativo homem estava mesmo levando suas coisas até seu velho quarto.

A longa viagem de retorno do exterior podia ter sido desgastante, mas Prince estava com pressa e disposto em não permanecer na casa muitos dias, por isso logo quis encontrar seu pai para ter uma boa conversa sobre as condições de ele ter sido obrigado a estar na mansão depois de ter ficado independente e começado a viver sua própria vida aos vinte e poucos anos. Começou imediatamente sua procura pelo homem andando pelos corredores do térreo, atrás do escritório ou de alguma alma vida que lhe dissesse onde estava o poderoso Senhor Glória Valentine.

No mínimo, felizmente após alguns minutos de caminhada a circulação de sangue amorteceu a pequena dor insistente na perna, quase o deixando agir normalmente e esquecê-la. Mas saber que o ferimento persistia sensível depois de meses, fazia Prince lembrar-se tristemente de como sua vida estava indo bem e desmoronou...

Tinha conseguindo levar sua pequena companhia de dança para teatros mais prestigiados na Europa, tornando-os mais populares. Seus colegas eram sua família e estavam sempre junto dele em direção ao sucesso em um mundo seletivo. O jovem Valentine já sonhava com o momento em que ia poder se dedicar em uma dança solo para apresentar no próximo semestre. Todos elogiavam sua habilidade e talento, todos viam um futuro grande e o admiravam por apostar seu dinheiro na companhia que engatinhava para sair das sombras. Mas tudo foi indefinidamente adiado depois que ele foi seqüestrado e acabou com um ferimento que lesionou uma de suas pernas. Desde esse momento traumático, Prince teve que pedir ajuda do senhor Valentine para ser resgatado e, por não ter mais economias e nem em quem confiar, ali estava ele, cumprindo uma das condições do pai de se recuperar morando na mansão.

A enorme casa era um labirinto, concluiu o rapaz perdido, após ter acreditado que se lembraria de todos os corredores e cômodos. Não havia encontrado e nem ouvido nenhum empregado até ali, mas seguiu andando.

Quando começou a se questionar para onde todos foram e um sutil medo da solidão brotava, caminhou mais rápido e assim que passou por um cruzamento de corredores Prince parou e recuou seus passos. Finalmente havia visto algum movimento no que lhe parecia ser uma estufa anexada a casa. Determinado, ele caminhou em direção às portas duplas e de vitrais abertas no fim do percurso, aonde enxergou um empregado agachado de costas e distraído com um canteiro cheio de plantas. A súbita mudança do sombreado e frio corredor para o espaço mais aquecido e brilhante atordoou o Valentine, sendo logo atingido pelos raios solares filtrados e pelo cenário de diversos tipos de folhagens verdes, flores coloridas e perfumes. Por um momento ele parou completamente encarando tudo, parecia que tinha entrando em um mundo mágico e acolhedor, completamente vivo e alegre que jamais poderia existir naquela casa. Correspondendo a mágica do lugar, uma estranha sensação de que sua alma se aquecia o deixou ansioso e mais urgente em agir e falar com o empregado que cuidava daquilo tudo:

— Olá! Com licença. Saberia dizer se o senhor Valentine está na casa? — disse alto, chamando atenção.

— Oh, desculpe-me — o empregado rapidamente se colocou de pé e virou-se enquanto livrava-se das luvas. — O senhor Gloria estará fora por mais... um dia pelo menos. — Assim que se encararam, a voz do empregado ficou baixa e Prince reconheceu aquele rosto surpreso.

Apesar de agora o loiro estar mais alto e robusto que antes, suas feições eram reconhecíveis, mesmo que uma cicatriz no lado esquerdo e próximo da boca se destacasse. Algo se agitou no Valentine ao notar que o olhar de reconhecimento era recíproco, mas logo o empregado abaixou o olhar, hesitando e nervoso. Enquanto Prince só conseguia encará-lo, admirado em reencontrar alguém que havia visto muito poucas vezes naquele lugar quando criança e agora estava adulto, bonito, bem vestido e com certeza trabalhando na mansão para seu pai. Porém sua mente compreendeu que na verdade mal sabiam algo um do outro então não dava para cumprimentá-lo com um abraço saudoso como se fossem velhos e bons amigos. Conteve suas emoções e seguiu com o tema que o levou ali:

— Um dia... Eu não sabia que ele estaria fora. Acho que vou ter que esperar até que volte, então. — Prince disse para cortar o silêncio entre eles.

— Infelizmente, senhor — respondeu o outro apenas para lhe dar um retorno na conversa, mas Prince não saiu do lugar. O loiro o olhou desconfiado e logo desviou sua atenção para luvas, incerto do que fazer naquela situação incomum de ver o filho do mestre da mansão. Sabia que dependendo de como o tratasse ou suas ações fossem entendidas por aquele novo rapaz, a história poderia chegar á governanta e complicaria sua própria vida. Mas mesmo assim, tomou coragem: — P-precisa de algo mais?

Os olhos do empregado eram verdes e, apesar de parecerem temerosos em ter que contato com Prince, transmitia uma sensação de curiosidade que deixa o Valentine inquieto.

— Na verdade, sim — sorriu, relaxando o corpo ao alisar uma das longas mechas de cabelo escuro que caia sobre o ombro. — Eu acabei de chegar e, depois da longa viagem, fiquei com vontade de comer bolo. Será que tem?

— Creio que sim, mas vou verificar para o senhor. Com licença. — E o loiro passou por ele pra ir rapidamente.
— Espere Ozzie! Eu vou com você.

O empregado parou, sorriu de leve escondido e esperou Prince chegar ao seu lado para acompanhá-lo até a cozinha. Ozzie tinha seus motivos para não conversar demais com o jovem Valentine e apenas rezou para que o jovem patrão não o compreende-se mau se não respondesse algo certo ou dissimulasse sobre algum assunto. Entretanto, não precisou fazer nada, por que Prince não tentou fazê-lo falar durante todo o trajeto, apenas aproveitou da companhia em silêncio e com um sorriso constante.

Após uma larga porta de madeira num canto da casa e um degrau, pisaram na enorme cozinha da mansão. Assim como era estranhando para Ozzie ver o Valentine naquele cômodo de serviço, o lugar era incomum para Prince, mesmo que ele tivesse vivido naquela mansão por anos todos os detalhes eram novos aos seus olhos, os pisos claros subindo pela parede, as janelas no alto, os diversos balcões e aparelhos e uma pia tão grande que poderia ser confundida com uma banheira de ladrilhos.

— Com licença, vou apenas lavar as mãos. — disse o loiro meio sem graça e se dirigiu para uma pia menor, isolada em um canto distante, deixando Prince observar os detalhes do ambiente. — Senhor? Ali têm alguns bolos. — Ozzie apontou para um balcão que ainda tinha coisas para um café da manhã, guiando a direção em que deviam ir.

Havia três opções de bolo já prontos para se tirar uma fatia, Prince fingiu analisar enquanto Ozzie explicava os sabores, o recheio de um deles e alguns acompanhamentos, mas ele queria era continuar mais tempo na companhia do rapaz e cultivar a amizade, já que ia ter que ficar na casa por mais tempo. Por essa razão e sabendo que os empregados eram instruídos a sempre prestar um bom trabalho, Prince tinha certeza que se escolhesse um daqueles, Ozzie iria educadamente expulsá-lo da cozinha e servi-lo na mesa do salão de jantar, como o senhor Valentine sempre quis.

— Não... Não quero nenhum desses — afirmou e Ozzie ficou confuso. — Quero um de chocolate que me faz lembrar quando era criança. Acha que temos os ingredientes?

— P-provavelmente, senhor. Chamarei a cozinheira.

Antes que o loiro se afastasse, Prince segurou-o pela roupa, rindo:

— Não precisa! Nós podemos fazer! É coisa simples.

Por um instante, o olhar surpreso de Ozzie questionou se Prince tinha certeza e pela expressão confiante que recebeu de volta entendeu que não havia duvidas.

— Como quiser — respondeu um pouco nervoso por não ter pratica em cozinhar.

Enquanto ajudava Prince na sua aventura culinária, começando por encontrar um livro de receitas, Ozzie foi relaxando e entendendo como lidar com o jovem patrão, que era apenas um jovem comum que não se importava com ordem hierárquica, formalidade ou ser sério. Ele era definitivamente diferente do Senhor Valentine. O dono da casa que mantinha os empregados sob controle, exigia respeito e que mantivessem as coisas em ordem e como ele desejava, e se não fosse assim ele poderia ser capaz de qualquer coisa. Já Prince era carismático, divertido e aberto, conseguindo fazer Ozzie rir e lhe contar alguma história de comidas que não deram certo como se fossem amigos. Sua simpatia era um grande oposto do pai, isso deixava Ozzie confuso e hesitante em alguns momentos, já que era duvidoso que o moreno realmente tivesse o mesmo sangue da família Valentine. Essas coisas até fizeram o loiro pensar se Prince não estivesse atuando e o manipulando, o deixando relaxando até que cometesse algum erro para que o senhor Gloria ficasse sabendo de uma fonte confiável como Ozzie era como empregado.

Prince estava completamente alheio aos pensamentos do amigo, apenas ria, ouvindo o fim de uma historia sobre uma calda agridoce não planejada para um pudim enquanto o loiro terminava de deixar a forma do bolo pronta para receber a massa.

— Ozzie? — chamou-o distraidamente — Você se lembra daquela tarde?... A que nos encontramos na trilha.

O empregado ficou imóvel por um segundo, o sorriso bobo sumiu, mas rapidamente um forçado assumiu o lugar, e isso não foi percebido então Ozzie fingiu estar atento em organizar as coisas sobre o balcão:

— Ah, sim. Claro, senhor.

— Aquela é a melhor lembrança que tenho desse lugar! Acho que era para termos sido amigos desde aqueles dias e durante esses anos todos, Ozzie. — Prince riu sonhador. — Talvez, eu até pensasse em voltar para essa casa mais vezes se soubesse que alguém legal como você estaria aqui.

O empregado forçou um riso e assentiu, dissimulando seu desconforto pela lembrança da punição que recebeu depois daquele momento divertido. Por ter fugido de Morgana, interagido com o segundo herdeiro e corrido como se não existisse um amanhã, naquela mesma noite aprendeu melhor qual era seu lugar na hierarquia da casa. Infelizmente não conseguiria explicar essas coisas mais difíceis que envolvia a memória boba que deixava Prince tão feliz.

— Sabe, eu... Gostaria de saber mais sobre você, Ozzie. A partir de agora. — E Prince segurou o pulso dele, desconfiando rapidamente de sua distração em verificar pela segunda vez se os potes de farinha estavam fechados. O loiro congelou com o toque, mas um minuto depois o olhou com um sorriso tímido:

— E-eu estou lisonjeado por isso, Senhor Prince. — o Valentine acabou sorrindo de volta, meio confuso se a rápida impressão que teve de que o empregado ficou tenso foi real. — Acho melhor colocarmos essa massa na forma agora.

Prince concordou, soltando-o e indo obedecer.

— Então... Sua mãe ou algum parente trabalha aqui também? — perguntou curioso e distraído.

Ozzie logo estranhou que o filho do senhor Valentine não soubesse a verdadeira razão dele estar ali há tanto tempo e achasse que fosse algo simples como aquilo. Mas pensou rápido, não lhe cabia dar gratuitamente aquela informação se Prince realmente foi poupado de toda a história pelo próprio pai, então se perguntou o que devia responder, devia ser algo que não lhe causasse problemas e nem deixasse o jovem Valentine desconfiado. De repente, antes que pensasse na resposta mais adequada, uma mulher entrou no cômodo e fixou o olhar irritado diretamente nele, parado e de mãos vazias perto do balcão, aparentemente à toa:

— Ozzie! — ela gritou — Você não terminou seus trabalhos ainda. O que está fazendo aqui?

O rapaz teve um breve susto:

— Perdoa-me, Dona! Irei cumpri-las em seguida! Só vou ajudar o senhor colocando o bolo dele no forno — indicou Prince, que havia terminado de virar toda a massa e olhava para a mulher de forma incomodada pelo seu tom de voz mandão. Sem perder tempo Ozzie pegou a forma e colocou no forno pré-aquecido. — Segundo a receita em alguns minutos deverá estar pronto, mas venho conferir. Se me der licença, senhor Prince, tenho algumas tarefas para terminar o quanto antes.
Ozzie o encarou ansioso, esperando uma autorização.

— Claro — disse sem esconder que estava aborrecido. Com uma rápida reverencia o loiro se foi.

— Oh! Oras! É o Senhor Prince! — a grande mulher ficou subitamente sorridente e calorosa. — Não notei que o senhor já havia chego! Seja bem vindo! Bem vindo! Veio ver seu pai, não é? Ele infelizmente não está. — A mulher não esperou nenhuma resposta. — É previsto que ele chegue semana que vem. Ou antes, com um pouco de sorte. Posso ajudá-lo em algo mais? Hm? Talvez queira que lhe preparem um banho? A viagem deve ter sido cansativa...

— Não, não — respondeu sem animo, indo sentar-se em uma das cadeiras gastas de uma longa e pesada mesa de madeira para esperar. — Pode ir fazer seus afazeres, Dona. Estava tudo bem.

Sorrindo, a mulher de batom vinho concordou e saiu da cozinha. A governanta sempre soube quem ele era e não eram nada próximos. Ela agia sempre muito prestativa diante dele, mas Prince notava e sabia das reclamações dos empregados sobre sua administração de ferro desde que era pequeno.

O tempo passou tediosamente na cozinha vazia, mas estava chegando o momento de Ozzie voltar e Prince poderia conversar mais com ele, então começou a esperar ansiosamente que o loiro surgisse pela porta. Contudo, quando deu o tempo, uma jovem empregada entrou no cômodo, cumprimentou-o com um sorriso simpático e foi direto para o forno, abrindo-o, conferindo e tirando a forma de bolo com cuidado.

— Hei! O que está fazendo? — Prince questionou sério.

— O bolo está pronto, senhor. Vim tirá-lo — ela sorriu meio nervosa. — Ozzie está ocupado demais para terminar de servi-lo então me mandaram. — O Valentine encarou-a sem esconder sua frustração. — O senhor deseja comê-lo quente ou frio? — ela perguntou interessada.

Prince suspirou ao se levantar e respondeu caminhando para a saída:

— Apenas deixe um pedaço no meu quarto daqui a pouco, por favor — e saiu chateado de não ter nem perguntado à Ozzie como ou onde poderia encontrá-lo na mansão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por acompanhar a história!


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