O Amanhã escrita por Nahy


Capítulo 10
Capítulo 10




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— Você está com raiva?

Viro-me para trás ao escutar a voz da minha mãe. Ela estava encostada na beirada na porta e me observava com uma expressão triste.

Ofereço a ela um sorriso, mesmo que este tenha saído um pouco forçado, e a convido com sentar ao meu lado do chão.

Ela olha para o antigo álbum que eu tenho nas mãos e para as várias fotos espalhadas pelo chão. Seus dedos se inclinam para pegar uma foto onde estavam eu, papai e ela abraçados em frente a nossa casa, completamente encharcados depois de brincarmos na chuva em um dia chuvoso de verão.

Eu suspiro.

— Por que eu estaria? – pergunto enquanto observo seus dedos alisarem a superfície da foto delicadamente. Ela fica em silêncio, mas não preciso que ela responda para saber o motivo das suas preocupações. – Por estarmos indo embora daqui?

— Por te tirar a única coisa que seu pai te deixou.

Baixo a cabeça e aperto o álbum em minhas mãos.

A casa.

Nossa casa.

— Nós não temos escolha. Precisamos pagar ao banco e não temos dinheiro suficiente – disse e mamãe suspirou.

— Ás vezes eu me culpo por você não ter tido uma infância adequada. Você é tão madura para sua idade... – ela confessou e levantei o rosto para olhar para ela.

— Eu já tenho 11 anos, não sou mais uma criança – reclamei fazendo uma careta e ela riu.

— Claro, claro, me desculpe Sra. Adulta – brincou e levou uma mão ao meu cabelo, bagunçando-o e fazendo minha careta aumentar ainda mais.

De repente ela parou e me puxou um braço, envolvendo seus braços tão fortemente ao meu redor que quase me sufocou.

— Não importa quanto tempo passe... – ela sussurrou e estranhei o seu tom de voz, tentei me afastar, mas ela me impediu. – Você sempre será a pessoa mais importante na minha vida.

— Mãe? – perguntei confusa e ela me afastou pelos ombros para olhar em meus olhos e me surpreendi ao ver as lágrimas acumuladas nos seus.

— Você é minha vida, jamais duvide disso. Não importa o que aconteça, eu sempre vou te amar.

Eu não sabia o motivo, mas estava assustada. Sentia como se ela fosse desaparecer a qualquer momento e esse desespero se acumulava em meu coração.

— Eu sempre vou estar com você.

Meus olhos queimavam pelas lágrimas que ameaçavam sair e eu não conseguia mais olhar para ela, pois meu coração doía tanto... A dor era insuportável.

Meus olhos focaram nas fotos espalhadas ao nosso redor.

Meu aniversário de 12 anos.

O casamento da mamãe.

Nossa nova casa.

Nossa ultima viagem a La Push...

Aquilo, todos aqueles momentos, eram acontecimento da minha vida, a nossa vida.

Com os olhos arregalados levantei a cabeça e ela continuava ali, me olhando com os lábios curvados para cima e uma expressão que dizia tudo, mas ao mesmo tempo tão misteriosa como se guardasse um segredo que não pudesse me dizer.

— Quem... – minha voz saia rouca e embagada, as palavras desapareceram nelas e eu não conseguia formular uma palavra. – Quem é você?

Seu sorriso aumentou e ela levou uma mão para minha face, limpando as lágrimas que escorriam com o polegar.

— Você se tornou uma pessoa maravilhosa – disse e eu não conseguia fazer outra coisa a não ser olhá-la com os olhos arregalados. – Eu estou muito orgulhosa de você.

— Por qu... – o primeiro soluço escapou da minha boca.

— Eu estou tão feliz por ver a mulher que você se tornou.

— Não... – balancei a cabeça sem conseguir proferir mais nenhuma palavra. Eu queria dizer a ela que estava errada, que eu não merecia seu orgulho, que eu me tornei uma péssima pessoa, mas as palavras estavam presas na minha garganta e tudo que eu conseguia fazer era chorar enquanto soluçava desesperadamente. – Desculpa... Desculpa...

Eu não conseguia colocar em palavras tudo que eu sentia, meu arrependimento por abandoná-la, a dor que eu sentia, o amor que eu sentia... Então continuava a repetir “desculpa”, torcendo para que ela pudesse entender tudo que eu queria dizer com aquilo.

— Você não precisa se desculpar por nada bebê – seus olhos me olhavam com tanto carinho e amor que me levou mais lágrimas aos olhos. - Eu te perdoei há muito tempo e espero que um dia você consiga se perdoar também.

Meus soluços eram incontroláveis e eu não conseguia fazer nada, mas eu tinha que dizer a ela. Eu tinha que dizer algo que eu sempre me arrependi de não ter dito antes.

— Eu... – respirei e olhei em seus olhos. – Eu te a-amo... Eu te amo mãe.

Uma lágrima caiu dos seus olhos e seu sorriso aumentou. Ela se inclinou para frente e depositou um beijo na minha testa.

— Eu também te amo, meu bebê – respondeu com a voz embagada pelo choro e se afastou. – E eu sempre vou te amar.

Eu sorri e a puxei para um abraço, seus braços me rodearam e descansei minha cabeça em seu peito.

E, pela primeira vez desde que ela se foi, eu consegui descansar.

...

 

A primeira coisa que senti ao acordar foi à mão de alguém acariciando meu rosto, deslizando dois dedos pela minha pele, tão lentamente que me causava arrepios.

Eu abri os olhos e encontrei Edward sentado em frente à cama, olhando para mim com uma expressão pensativa e triste.

— Você estava chorando – ele disse assim que percebeu que estava acordada e recolheu sua mão, olhei para cima e observei o teto branco do quarto do hospital.

— Eu tive um sonho – fechei os olhos por um breve momento e sorri – Um lindo sonho.

— E por que estava chorando? – perguntou e virei o rosto para olhar para ele.

— Porque eu estava feliz.

— E você não é? – sua pergunta quase não passou de um sussurro e lembro-me que ele já me perguntou algo parecido antes.

Lembro-me de ter lhe respondido que não sabia, porque eu realmente não sabia a resposta. Afinal, o que é a felicidade? Uma pessoa pode ter tudo, mas ao mesmo tempo se sentir vazia por dento, ou o oposto, uma pessoa que não tem nada pode ser feliz.

Então, o que é a felicidade?

Eu ainda não sei a resposta, mas estou disposta a procura-la.

Levei uma mão ao rosto de Edward e acariciei suas sobrancelhas franzidas com o indicador, meus lábios se curvaram formando um pequeno sorriso.

— Eu pensava que não... – disse sinceramente. – Pensava que felicidade não era para mim, que eu não merecia ser feliz, mas eu estava errada.

Seus olhos me observavam atentamente, como se quisesse ver através da minha alma, não sei o que ele viu, mas pareceu aliviado. Ele de repente se inclinou para mais perto de mim, pegando minha mão e entrelaçou com a sua, beijou-a e trouxe para o pequeno espaço entre nós dois.

— E o que te fez mudar de ideia? – perguntou com o rosto bem próximo do meu e acabei sorrindo.

— Bom... Uma pessoa bem teimosa na verdade - seus lábios se curvaram em um sorriso torto e de repente toda minha razão foi embora, tudo que mais tinha vontade de fazer era abraçar seu corpo e beijar aqueles lábios como nunca antes. Então, tomada apenas por aquele desejo, envolvi meus braços ao redor do seu pescoço e o abracei o mais forte que conseguia. – Edward... – sussurrei perto do seu ouvido. Havia tanto há ser dito, mas ao mesmo tempo nenhuma palavra parecia ser suficiente para expressar o que eu sentia, então com a voz embagada de uma criança, eu só pude dizer – Obrigada por não desistir de mim.

Seus braços envolveram meu corpo e, assim como eu, ele parecia querer transmitir mais do que gratidão com aquele gesto. Não era apenas um “obrigado”, era algo mais do que isso, um sentimento que palavras não conseguiam descrever.

De repente ouvimos um pigarro e nos separamos. Olhei para frente e me surpreendi ao Emmett na porta e, mais surpreendente ainda, uma Alice com cara de choro.

Ela continuava exatamente como eu me lembrava, como se não tivesse passado tantos anos desde que a vi pela ultima vez.

— Alice... – sussurrei ainda sem acreditar que ela estava realmente ali na minha frente, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Alice correu em minha direção e praticamente se jogou em cima de mim, me envolvendo com seus braços com tanta força que quase me sufocou.

Alice começou a soluçar e chorar desesperadamente enquanto eu ainda continuava sem reação. Olhei para cima e Edward encarava a cena com um sorriso.

Sem saber ao certo o que fazer, eu a envolvi com meus braços e afaguei suas costas, tentando oferecer algum consolo.

— Por que você não falou nada? – ela murmurou com a voz embagada com o rosto no meu ombro e então eu compreendi que ela tinha descoberto toda verdade.

— Eu... – comecei hesitante e então ela se afastou para me olhar. Esperava ver raiva ou algo parecido em seus olhos, mas ela não me olhava assim. Baixei a cabeça e murmurei com a voz tímida. - Eu não queria que vocês sofressem com isso de novo, principalmente agora que vocês tem uma famili...

— Bella – Alice me interrompeu antes que eu terminasse. Ela falou com tanta convicção que me surpreendeu. – Você sempre vai ser nossa irmã.

— Isso mesmo, não importa o que aconteceu antes – Emmet se aproximou de nós e colocou uma mão em meu ombro. – Você sempre vai ser da família – declarou abrindo um sorriso e fazendo meus olhos formigarem.

— Obrigada – só pude dizer com a voz falha enquanto tentava desesperadamente não cair no choro.

— Bella – Alice pegou minhas mãos nas suas e olhei para ela, mas ela olhava para nossas mãos e mordia o lábio com força com o cenho franzido, como se tentasse impedir o choro. - Me desculpa...

— Alice? – perguntei confusa e ela balançou a cabeça e grossas lágrimas caíram dos seus olhos.

— Naquele dia, quando a mãe morreu... – a voz dela falhou por um segundo. - Eu não estava lá com ela, por ela ou por você... – ela levantou o rosto para me olhar e eu podia ver o arrependimento esculpido em seu rosto. – Eu sinto tanto.

Balancei a cabeça e um soluço escapou dos meus lábios, queria dizer que estava tudo bem e que ela não precisava se desculpar comigo, mas estava na hora de admitir a verdade.

Eu não estava bem.

Em algum lugar dentro de mim existia uma pequena chama e essa chama me consumia aos poucos, devastando tudo em mim, incendiando-me e queimando-me a todo o momento. Eu tinha me tornado esse tipo de pessoa, com tanta... Raiva e ódio, vivendo assim por oito anos.

Oito anos...

Oito anos e eu não consegui deixar de me sentir assim.

Eu não queria viver assim, não mais.

— Bella, eu... – Emmett disse e olhei para ele. Seus olhos cheios de lágrimas e a voz tremula, era a primeira vez que o via assim, tão frágil. – Nós erramos com você e com a mãe. – Ele não precisava me falar nada, sua expressão falava por si só, a culpa que ele sentia por isso, o arrependimento... Eu me via olhando para um reflexo de mim mesma.

Eu não queria que ele vivesse o resto da vida se culpando também, nem Alice ou Carlisle. Mamãe nunca quis isso e ela nunca iria desejar algo assim para alguém, principalmente se fosse alguém que ela amasse.

Por isso estava na hora de deixar esse sentimento ir embora e para isso eu precisava começar perdoar a eles e... A mim mesma.

— Eu amo vocês – confessei com a voz embagada pelo choro e as lagrimas escorreram por meu rosto e, apesar de tudo isso, meus lábios se contraíram formando um sorriso. Eu queria dizer muitas coisas a eles, mas tudo que consegui fazer foi puxá-los para um abraço. – Eu amo vocês... – repeti e ambos me abraçaram de volta.

Eu perdoo vocês...

Eu me perdoo.


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Notas finais do capítulo

Retornando depois de uma grande pausa, mas eu precisava terminar essa história.
Estou voltando a escrever as fics aos poucos, mas vou tentar atualizar toda semana.
Até o próximo cap!



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