Escolhas, lembranças e heróis. escrita por Madame K1945


Capítulo 3
Cap 2. Móveis empoeirados e tapeçarias queimadas.


Notas iniciais do capítulo

Pov. Neville.



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Alguns dias depois daquele fracassado jantar, a senhora Weasley pediu para que eu e Gina limpássemos os armários da sala de estar e Hermione foi junto, mesmo ninguém ter pedido nada dela. Ron ainda não havia saído da cama. A sala era escura, como todos os outros cômodos da casa pareciam ser, com cortinas pesadas e armários em ébano. Estava cheia de teias de aranha.

— Meu deus, isso ´tá mais sujo que o sótão lá de casa! – exclamou Gina, segurando um pequeno bichinho, com cara de nojo.

— Vovó nunca deixaria qualquer parte da casa chegar nesse ponto, ela mandaria o elfo lá de casa limpar na hora e- parei de falar de repente, me lembrando do F.A.L.E. de Hermione, não querendo que ela ficasse ofendida com nada, mas ela continuou lá, calada e limpando freneticamente um vaso de prata ao canto, com o olhar fixado.

Olhei para Gina, como se perguntando se esse estava sendo um comportamento normal ultimamente e ela apenas me manda um olhar resignado como resposta. É Ron e Hermione realmente não foram mais os mesmos depois... depois de tudo.

Então, o quarto ficou em silêncio novamente, apenas com os ocasionais barulhos de Gina se impressionando com alguma sujeira ou Monstro, o elfo doméstico da casa Black resmungando quando passava pela porta. A sala estava abafada com o calor do verão londrino e aquele silêncio se estendia pelo resto da casa, naquela hora em que todos estavam no trabalho ou limpando outras partes da casa, tornando-a ainda mais sombria.

..

Saí da sala com o balde de tralhas para colocar na lixeira da cozinha e enquanto estava passando pelo corredor, vi Sirius Black, o homem mais procurado do ministério, de robes escuros e um cigarro na mão, encarando a parede de forma absorta.

Recolhi toda a coragem que me restava (não era muita, admito, mas foi o suficiente) e me aproximei dele, tentando ser silencioso. Logicamente, eu sabia que eu não precisava consolá-lo, que a morte do afilhado dele não era, de forma alguma minha culpa, mas eu sabia que se Harry estivesse aqui, era isso que ele faria. Porque Harry Potter era assim, apenas uma pessoa muito boa para ter sofrido o que sofreu.

— É uma arvore genealógica?- eu disse, assustando levemente o homem, que não devia estar esperando nenhuma interrupção.

Black olhou para mim com seus olhos escuros, como duas pedras de ônix, um céu sem estrelas. Ele não me respondeu por mais de um minuto, ainda me encarando e de repente toda aquela coragem que eu havia conseguido recolher mais cedo se esvaiu, deixando no lugar a insegurança que eu já conhecia bem. Ele com certeza estava com raiva, o que eu estava pensando, que eu conseguiria fazer algo como Harry? Que ridículo, Harry era uma pessoa legal, segura de si, corajosa e eu era apenas um garotinho assustado, que não merecia nem ser um grinfinório. Como eu ia derrotar Voldemort? Onde estava com a cabeça quando aceitou a proposta de Dumbledore? Eu ia estragar tudo e o mundo ia...

— A grande e nobre casa Black, orgulhosa de seu sangue intacto por todas as gerações, desde sua criação... que grande merda.- finalmente respondeu Sirius, voltando a olhar para a tapeçaria que adornava as paredes, com uma expressão de desdém. – No fim, o único que sobrou fui eu, o deserdado. Vê esses pequenos buracos?

Disse que sim silenciosamente, aliviado que ele havia me tirado de meu redemoinho de pensamentos, mesmo que inintencionalmente.

— Todos esses buracos foram pessoas, mas que não concordavam com as regras da família, por isso foram excluídas. Aqui era meu tio, o único adulto da minha família que eu podia conversar sem querer vomitar depois, aqui era Andrômeda, minha prima e a filha dela, que você já conhece, Tonks. E esse aqui era eu.

Eu tinha consciência do quanto as famílias puristas podiam ser extremistas e, bem, terríveis de uma maneira geral, mas eu nunca imaginei que pudesse ser algo desse nível. Era realmente terrível. Famílias tinham que acolher certo? Pelo visto não aquela.

— Eu sinto muito mesmo.

— Não sinta garoto, eu não senti. No fim eu me voltei para a única família verdadeira que já conheci, os Potter. James e seus pais me acolheram e passei a morar com eles. É claro que eu tinha Remus ainda, mas James era... ele era como um irmão para mim.

Novamente o sentimento de culpa se apoderou de mim. Se eu não fosse puro-sangue, talvez Voldemort fosse atrás da minha família, talvez Harry estivesse aqui agora, saldável e vivo, talvez Black nunca seria preso e Ron não estaria trancado no quarto como um morto vivo...

— Pare de fazer essa cara criança, não é sua culpa.

Mais uma vez Sirius Black me tirou de minha espiral de pensamentos e eu olhei para ele assustado. Como ele sabia? Será que ele tinha lido minha mente?

— Acredite, reconheço uma cara de culpa quando vejo uma. Continue seu caminho criança, ainda há muitas coisas para se limpar nesse inferno de casa.

E saiu, se dirigindo para as escadas, com os robes balançando e a fumaça do cigarro o seguindo.

..

Já era de noite e eu estava deitado com os olhos fechados, mas sem dormir. Ficava ruminando as coisas que aconteceram no dia. Depois da minha conversa com Black, continuei limpando as coisas com Gina e Hermione, ainda em silêncio. Então a senhora Weasley nos chamou para almoçar e de tarde fiquei conversando com Gina na biblioteca. Ela me contava como foram as coisas para eles nos primeiros dias, como Ron não conseguia falar nada e como isso a assustava. Contou também que Hermione estava com eles desde o começo do verão, mas não comentava nada sobre os pais. Contou que não queria voltar para Hogwarts de jeito nenhum, mas que pelo menos conseguiria sair da melancolia da casa. Da minha parte, contei finalmente sobre a conversa que tive com Dumbledore.

— Meu Merlin Neville! Então podia ter sido você desde o começo? Que loucura!

Foi lembrando disso que eu de repente ouvi um barulho, como se alguém estivesse entrando no quarto. Abri os olhos minimamente e continuei parado.

Hermione havia entrado e seguia para a cama de Ron. Então eu vi algo que achava que nunca mais veria. Ela se abaixou para cochichar algo no ouvido dele e ele se levantou, seguindo-a para fora do quarto. Ainda parecia cansado, mas seus passos eram leves como plumas, iguais aos de Hermione. A aporta rangeu um pouco, o que significava que eles haviam saído.

Nem me arrisquei a segui-los, pois sabia que eu acabaria acordando a casa inteira. Olhei no relógio e percebi que era pouco mais de meia noite. Só dormi quando Ron voltou para o quarto, quase uma hora depois. Não sabia o que pensar sobre essa nova informação, então decidi não pensar nada por hora e apenas dormi.

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? A conversa do Neville com o Sirius, a Hermione e o Ron lidando com o luto, comentem tudo!
Obrigada por lerem!



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