Criação escrita por AmadoraLL


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! :)

"Criação" é uma fanfic que surgiu há dois anos e que durante esse período, foi escrita e reescrita.

Como a história já está finalizada, postarei um capítulo novo a cada sábado.
Sem mais delongas, desejo uma boa leitura ♥



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Sasuke sentiu algo molhado sob os seus pés. O moreno levantou o pé direito e sentiu o coração acelerar quando percebeu o líquido rubro e viscoso pingar da sola da sandália.    

Sangue.

Sasuke desviou o olhar e vasculhou o espaço ao seu redor. A quietude deu lugar à intensidade. Suas pernas vacilaram quando encarou os corpos dos seus pais diante de si. 

Os olhos injetados de sua mãe ainda o encaravam e Sasuke quis fugir daquele olhar. O moreno de um passo hesitante para trás, outro e depois outros. O Uchiha apenas parou quando trombou em algo. Antes que pudesse se virar, o homem sentiu braços envolverem os seus calcanhares. 

—-Irmãozinho tolo…

Ao escutar aquilo os pelos da nuca de Sasuke se eriçaram. O moreno tentou se libertar, mas o aperto pareceu ficar mais ficar, chegando ao ponto de ficar doloroso.

—-Papa.-- A voz infantil se fez presente e Sasuke abriu os olhos, encarando o teto do quarto.    

Sasuke fechou os olhos novamente e enquanto tentava normalizar a respiração, aguçou os outros sentidos. O moreno sentiu a maciez da cama sob si, ouviu o som dos pássaros e até mesmo percebeu o gosto azedo do próprio mau hálito matinal. Então, sentiu a mão de Sarada sobre a sua. O Uchiha virou a cabeça e olhou a menina descabelada. Mesmo com a baixa luminosidade do quarto, o homem era capaz de ver os olhinhos analítcos da morena o encarando. 

—-Foi um pesadelo.-- Ao escutar Sasuke, Sarada assentiu. 

Sem dizer nada, a garota levantou uma perna sobre a cama e se impulsionou de um jeito engraçado.

—-Vou ficar com você, tá?

Poucos minutos depois, ambos estavam deitados, mas apenas Sarada dormia. Sasuke admirava o rosto adormecido da morena; os olhos da Uchiha estavam entreabertos e dava para ver a sutil movimentação de suas orbes. O moreno já nem se importava com a dormência que acometia o seu braço e sabia que era questão de tempo para que sua filha começasse a babar no seu antebraço. Um breve sorriso se desenhou em seus lábios.

Apesar da fama de arrogante e orgulhoso, foram poucas as decisões que Sasuke se orgulhava de ter tomado. Mesmo após toda a sua jornada de redenção, conseguir se perdoar era um desafio diário e, sinceramente, não julgava aqueles que ainda o odiavam. 

Sarada resmungou algo e Sasuke voltou a admirá-la como um devoto. A única coisa que trazia esperança era saber que, depois de todos os seu pecados ele fora capaz de ter algo tão puro como aquela criança. 

Sasuke suspirou e por não poder se mover, tentou adivinhar que horas eram. O moreno decidiu esperar mais um  pouco e decretou mentalmente que era hora de acordar Sarada quando a luminosidade começou a incomodar os seus olhos. 

—-Sarada, está na hora de acordar…-- Ao escutar a voz de Sasuke, a morena franziu o cenho, tão parecida com Sakura que chegava a fazer doer o peito do moreno.

—-Vamos, sem reclamar.-- Sasuke se levantou e viu Sarada coçar os olhos.

Após fazer a sua higiene matinal, Sasuke retornou para o quarto para garantir que Sarada não voltara a dormir. O moreno se deu por satisfeito ao ver a morena agachada, tentando encontrar sua pantufa que foi parar debaixo da cama. O Uchiha então desceu as escadas e saiu de casa sem se importar com a friaca da manhã. O homem caminhou até a caixa de correspondência e sentiu o coração bater mais forte. Ele abriu a caixa metálica e suspirou ao encarar o vazio. Ficou alguns minutos olhando o nada, como se alguma coisa pudesse surgir do vácuo. Por fim, o ninja desistiu e se arrastou para dentro de casa. 

Encontrou Sarada na cozinha, fazendo o café da manhã dos dois. Concentrada nos ovos que fritava, a morena sequer desviou os olhos da frigideira ao dizer:

—-Nada de novo, né?

Sasuke não respondeu, mas Sarada entendeu o que o moreno queria dizer. A morena usou a espátula para virar os ovos e abriu a boca para perguntar por que ele insistia naquilo. Porém, o moreno foi mais rápido que a Uchiha:

—-Faz tempo que não escrevemos. Podemos fazer isso mais tarde.

Apesar da frase soar como uma sugestão, Sarada não encontrava coragem para declinar. Havia uma expectativa velada que fazia o peito da morena doer. A Uchiha se limitou a assentir, mas logo tratou de engatar o assunto que queria:

—-Mais tarde você pode me ajudar com o jutsu de fogo. Acho que melhorei!

Dessa vez foi Sasuke quem assentiu à contragosto. Pai e filha comeram em um silêncio agradável e assim que o moreno terminou de lavar a louça e encarou os olhos brilhantes de Sarada. Enquanto o Uchiha estava ocupado com afazeres domésticos, a menina subiu para o quarto, trocou o pijama por uma roupa mais atlética.

—-Vou trocar de roupa.

Ao escutar Sasuke dizer aquilo, o sorriso de Sarada se alargou e não tardou para que o moreno estivesse pronto. Assim que saíram o vento frio os recepcionou. A morena ia começar a andar, mas sentiu a mão pesada do Uchiha em seu ombro. A menina esperou que o homem dissesse algo, mas o ninja se limitou a flexionar os joelhos e puxar o zíper do casaco da Uchiha, a protegendo do frio.

Pai e filha caminharam durante alguns minutos. Sarada seguia na frente, pulando em poças de água e brincando com o próprio hálito que se condensava no ar. Três passos atrás estava Sasuke e o seu caminhar sereno. Apesar da postura relaxada, o moreno mantinha a audição aguçada. No entanto, apenas escutava o canto dos pássaros, a brisa passando pelos galhos e a menina cantarolando. O moreno suspirou, sentindo-se paranoico. O Uchiha fora criado em meio à dor, violência e morte. A paz que o homem desfrutava agora parecia com uma borboleta: efêmera, frágil e um tanto quanto ilusória. O homem estava acostumado com a guerra, não com a calmaria. O riso infantil o tirou de seus devaneios e o ninja observou a criança agachada, admirando uma joaninha. Era nesses momentos em que ele apreciava viver na propriedade imensa que era o Complexo. A melhor decisão que tomara fora quando demoliu todas aquelas construções assombrosas e levantou uma casa nova para si.

Logo, pai e filha chegaram diante de um lago. A grama fazia cócega nos calcanhares e a placidez da água fazia a superfície refletir o céu como um espelho. Sarada esfregou uma mão na outra e estranhou quando viu Sasuke sentar na relva, endireitar a postura e fechar os olhos. 

—-Achei que… íamos treinar jutsus.-- Sarada coçou a cabeça. 

—- E vamos, mas antes vamos meditar; você é muito ansiosa.-- A fala de Sasuke não soara como uma crítica e sim como uma constatação.

Em resposta, Sarada revirou os olhos e se sentou ao lado de Sasuke. 

—-Não ouse revirar os olhos para mim, mocinha.--Sasuke disparou, apesar de continuar com os olhos fechados. 

Sarada corou e logo tratou de imitar Sasuke. A morena alinhou a coluna, abriu o peito, fechou os olhos, respirou fundo e esperou que a tranquilidade viesse. Depois de pouco tempo a menina teve que conter um bocejo. A Uchiha abriu os olhos e fitou o moreno. Observou toda a serenidade e foco que emanava do homem e se perguntou como era possível ser tão concentrado assim.

—-Foco, Sarada.

Sarada se empertigou e voltou a fechar os olhos.

—-Já está acabando?

—-Você sequer começou…--Sasuke murmurou.

—-Sim, sequer começamos a treinar!--Sarada jogou os braços para o alto. 

Ao escutar a reclamação de Sarada, Sasuke abriu os olhos e encarou a morena com o cenho franzido. Os dois pareciam duas crianças birrentas e teimosas que detestavam ser contrariadas. O moreno suspirou quando percebeu quanto a morena era parecida consigo. Era tragicamente cômico como o cenho franzido da menina formava o mesmo vinco arrogante que o seu. Por conhecer a insistência dos Uchihas, o homem sabia que não teria como fugir. 

—-Que seja, então.--Sasuke deu de ombros antes de se levantar. 

Em resposta, Sarada abriu um sorriso enorme e em um lampejo, Sasuke viu as feições de Sakura. Infelizmente, a semelhança não se resumia apenas à fisionomia; ela era tão irritante quanto à mãe. O moreno se levantou e ficou ao lado da morena. 

—-Olha só!

Sarada respirou fundo e encheu os pulmões de ar. Com as bochechas infladas, a menina começou a fazer os selos. Poucos segundo depois, uma faixa de fogo saiu dos seus lábios e se estendeu por alguns metros e logo cessou. As labaredas eram ardentes, intensas e se refletiam nos olhos da Uchiha fazendo valer a chama viva do clã. Quando terminou, a morena voltou os olhos brilhantes para Sasuke. Ela até mesmo falaria “E então?” se tivesse fôlego. Em sua testa, algumas gotas de suor molhavam sua pele e fazia grudar alguns fios de cabelo. Passou as costas da mão na pele, limpando as gotas que ameaçavam chegar à sobrancelhas. O silêncio estava começando a ficar intenso e o moreno percebeu que deveria dizer algo.

—-Foi… intenso. Eu não gostaria de ser o seu  oponente.--Sasuke deu um meio sorriso e Sarada sorriu abertamente.-- Agora apenas precisamos gerir melhor essa intensidade. 

    O sorriso de Sarada diminuiu, mas a morena acenou com a cabeça, digerindo o feedback. Sasuke continuou:

—-Dependendo do oponente a batalha pode durar bem mais do que o esperado. Não podemos gastar chackra e jutsus até a exaustão.--Sasuke fez uma pausa antes de prosseguir.-- Uma vez, sua mãe lutou durante horas e horas contra Sasori, um inimigo fatal. Sakura soube administrar sua força e por isso venceu. 

Sasuke falava como se contasse uma história. Os seus olhos não mais fitavam Sarada, pareciam encarar o nada, presos no passado. a morena não sabia o que o responder. A fala do moreno começou como uma lição e terminara com uma memória. A morena trocou o peso do corpo de uma perna para a outra e chegou a se repreender mentalmente. Sakura era quase que uma figura quimérica: maravilhosa e ilusória. 

Para evitar que Sasuke continuasse, Sarada falou:

—-Entendi, vamos de novo.

E então, Sarada tentou de novo, mais uma vez, novamente…

—-Chega por hoje.--Disse Sasuke ao ver Sarada cambalear para o lado.

—-Eu posso te carregar até em casa. 

Sarada levantou o dedo indicador e o meu para os lados, negando a sugestão de Sasuke. 

—-Já sou grande demais para isso, pai. 

O caminho de volta para casa foi silencioso. Sarada estava esgotada e se arrastava para voltar para casa; de vez em quando, um bocejo lhe escapava. Enquanto isso, a tarde começava a ceder espaço para o crepúsculo. Quando chegaram a morena foi direto para o banho. A Uchiha deixou que a água morna caísse sobre si. Apesar da sensação gostosa a voizinha da consciência a lembrou do desperdício que estava cometendo. A menina suspirou, fechou o chuveiro e se ensaboou. Os músculos dela reclamavam e o simples ato de tomar banho exigisse força demais. Apesar da exaustão, a serotonina corria em suas veias. 

Assim que saiu do banheiro, Sarada sentiu o cheiro da janta que Sasuke preparava. O estômago da morena roncou alto quando a menina desceu as escadas devagar, cada perna pesando uma tonelada. 

—-Podemos treinar mais amanhã?--Sarada puxou uma das cadeiras da mesa para se sentar. 

—-Melhor você descansar.-- Sasuke sentou-se diante de Sarada e levou o hashi para a boca. O moreno arqueou as sobrancelhas.-- Ah, e amanhã vamos ao mercado. Você precisa de algo?

Sarada apenas continuou a comer.

—-Roupas, acessórios…--Sasuke sugeriu.

Enquanto bebia seu suco, Sarada negou com a cabeça e Sasuke suspirou e voltou a comer. Durante o jantar, a menina lutou bravamente para manter os olhos abertos e assim que o moreno foi lavar louça, a morena se aninhou no sofá. O estofado estava tão aconchegante quanto um abraço e agora a Uchiha não tinha mais nenhuma justificativa para manter os olhos abertos. 

Se havia uma tarefa doméstica que Sasuke detestava era  lavar louça. O moreno detestava a àgua fria, o aspecto molhado dos restos de comida e principalmente o cheiro estranho que parecia impregnar  as suas mãos. O homem se deu por satisfeito após lavar as mãos com detergente e sentir os dedos cheirando a coco. Em um estalo, o Uchiha lembrou-se de uma coisa importante que precisava fazer. O homem caminhou pela casa atrás dos materiais necessários e voltou o para a sala com um papel, uma caneta e um envelope. 

—-Sarada, eu já es-

Sasuke se calou ao ver Sarada adormecida no sofá. O moreno suspirou e se sentou na poltrona e apoiou o papel na perna. O moreno manejou a caneta entre os dedos, olhando para o nada. Como sempre, sofria para começar a carta. Era a morena quem o ajudava a desemperrar as palavras. 

O homem suspirou e decidiu começar pelo básico: uma saudação. “Olá, Sakura”. Depois de escrever a frase, o ninja empacou novamente e ele se pegou encarando as letras durante minutos. Lembrou-se de quando a morena lhe apresentara um macete para escrever as cartas. 

Segundo Sarada, bastava manter em mente a seguinte pergunta “O que eu gostaria de saber sobre Sakura?” e assim ir guiando as palavras para ter tal resposta. Era uma estratégia persuasiva e interessante. Sasuke se empertigou. Bem, primeiramente o moreno gostaria de saber como a rosada estava, assim como a situação em Okagure. 

“Eu e Sarada percebemos que suas cartas estão mais escassas e apesar de entendermos a situação, gostaríamos de saber se algo aconteceu. Espero que você não esteja sendo irritantemente tão dedicada e esteja se alimentando. Afinal, você não poderá cuidar de ninguém se não cuidar de si primeiro. 

Além disso, como as coisas estão em Okagure? As informações que chegam não soam boas. Alguns dizem que a guerra civil está sob um cessar fogo; outros, que países fronteiriços podem se juntar ao banho de sangue. O que é verdade?

Bem, você deve estar querendo saber sobre a Sarada. Resumindo, ela está bem e a cada instante se parece mais com você. Nossa filha cresce com a sua teimosia, alegria e determinação. É desafiador, principalmente agora que ela está virando adolescente e está cada vez mais interessada no mundo ninja. O porém é que não domino o taijutsu e espero que você consiga ensiná-la em breve.

Com carinho,

Sasuke e Sarada”

Sasuke encarou o papel. Havia tanta coisa implícita que a carta parecia codificada. Felizmente, Sakura saberia interpretar o sentimento por trás das palavras. É o super da rosada; lê-lo como se fosse um outdoor. O pensamento o fez sorrir com um traço nostálgico. O moreno decidiu que era hora de terminar a carta e dobrou o papel ao meio. 

No sofá oposto Sarada se moveu e Sasuke a olhou. Ao se mover, a morena deitou em cima do próprio braço, a cabeça afundou ainda mais na almofada e as pernas flexionaram, encolhidas. Aquela parecia ser uma péssima posição para se dormir, mas a morena logo voltou a ressonar. 

Sasuke lembrou-se de quando Sarada ficava eufórica para escrever para Sakura. As primeiras correspondências eram enviadas com desenhos infantis nas margens e até mesmo a morena “escrevia” alguns garranchos indecifráveis. Por outro lado, a rosada respondia com cartas que mais se assemelhavam à capitulos, enviada objetos e até mesmo fotos de si mesma. Na primeira imagem que a Uchiha enviou ela aparecia sorridente, fazendo pose com as mãos na cintura. Porém, com o passar do tempo, os registros se tornaram mais escassos. Na última foto, enviada há meses, dava para perceber o desgaste da médica. O cabelo da mulher estava preso de qualquer jeito, olheiras rodeavam os olhos e até o sorriso parecia cansado.

Depois de alguns minutos, um som grave se fez presente; era parecido com um rangido. Sasuke levantou as sobrancelhas e fez uma nota mental de levar Sarada ao dentista já que o bruxismo da morena estava cada vez mais frequente. O moreno levantou-se da poltrona e deixou a carta em cima de um móvel próximo. O Uchiha caminhou até a criança e quando a acomodou no seu colo, sentiu ela resmungar algo inteligível. O homem subiu as escadas devagar e sorriu consigo mesmo;  a filha jamais estaria grande demais para o seu colo


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Notas finais do capítulo

A proposta é inverter o enredo original e mostrar como seria se Sakura se ausentasse da Vila por anos e a criação de Sarada fosse feita por Sasuke.
Gostaria muito de saber o que vocês acharam desse primeiro capítulo.
Até sábado ♥



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