Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 11
☪ Algo maior e inexplicável




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Hinata franziu o cenho, assimilando a pergunta jogada em seu colo. Fitou longamente a mão de Naruto, que continuava estendida, então cruzou os braços, sem acreditar que ele estava mesmo propondo algo tão estúpido.

— Acha mesmo que vou aceitar entrar em uma missão suicida em troca de receber ajuda para cuidar de uma criança? — questionou, incrédula, perguntando a si mesmo se ele duvidava tanto assim de suas capacidades intelectuais. Quer dizer, lutar com um dragão era infinitamente mais difícil – embora ainda soasse aos ouvidos dela um pouco menos complicado. — Mas nem morta! Como é aquela expressão que os jovens estão usando hoje em dia?... Ah, é! Pode tirar o cavalinho da chuva, querido.

O sorriso vitorioso no rosto do rapaz transfigurou-se em uma expressão ofendida.

— E por que não?

— Será que você ainda não percebeu que é maluquice?   

— Ah, qual é, Hinata, por favor. — fez um biquinho. Foi fofo, tinha que admitir, mas não cairia nessa. — Eu venho todos os dias ajudar com o garoto, em troca você só tem que me ajudar com o dragão.

— Só? — piscou sequencialmente, sentindo os nervos a flor da pele. Ia bater nele. Sério, ia bater! — Você ainda tem coragem de dizer “só”?

Ele murmurou algo incompreensível, recostando mais na cadeira, emburrado. Retesou a mão, colocando-a sobre a mesa e divagou sobre a mãe o enlouquecendo, além do bendito baile, que só se aproximava com o passar dos dias. Não tinha como negar: estava apavorado. Mesmo que não quisesse ir, não havia escolha. Seria mandado nessa porcaria de viagem e, francamente, a vontade dele era que o mundo explodisse.

Suspirou, cansado.

— Mesmo que eu não seja tão ruim assim com uma espada, não sou suficientemente bom para enfrentar um dragão. Eu preciso de ajuda.

Ela pesou as palavras, sentando-se na cadeira. Por um segundo, Naruto sentiu a esperança crescer.

Foi inútil, evidentemente. Afinal, se tratando de Hinata, é óbvio que, dos dois, era a única que pensava racionalmente. Nem ficou surpreso com a reação dela. Surpreendente seria se ela aceitasse logo de cara, sem pensar nas consequências.

— Desista. Não vou aceitar essa estupidez.  

— Sei que é babaquice da minha parte pedir algo em troca por uma tarefa tão simples...

— É. — interrompeu, concordando com a cabeça. — É uma tremenda babaquice.

— ... por isso quero pedir desculpas.    

— Não precisa, está tudo bem.  

— De qualquer forma, Hinata, venho te ajudar até que a mãe do garoto retorne, não precisa me dar nada em troca...

— Fico feliz que tenha recobrado a razão.  

— ... Até porque um amigo de verdade jamais deixaria o outro na mão, independente da situação, seja para cuidar de um pirralho, seja na hora de enfrentar um dragão, não concorda?

Encararam-se, ela percebendo o que ele estava querendo fazer e ele com os lábios repuxado em um sorriso debochado.

Ah, a incrível arte de fazer uma pessoa se sentir culpada – essa o príncipe dominava. Hinata gemeu em frustração.

— Isso foi golpe baixo. — fuzilou-o com as pérolas. — Golpe baixo!  

— Eu tinha que tentar. — sorriu de um jeito inocente e, se a moça não fosse tão controlada, teria dado uma bela de uma bofetada nele.

— Só para deixar bem claro, mesmo com seus joguinhos psicológicos, a resposta continua sendo não. — bufou. — Idiota.

Hinata serviu o jantar com uma enorme carranca, sendo guiada pela força do ódio. Chamou os anões que, felizmente, eram tagarelas o suficiente para manter o clima um pouco mais ameno, embora o mais rabugento deles, o tal Sete, ainda lançasse olhares desconfiados de Hinata para a comida, como se temesse ser envenenado. A jovem, porém, não ligou. Comeu o bife bem passado e sentiu-se revigorada depois de saborear o suco de pêssego.

Naruto a ajudou a lavar a louça – quebrou alguns copos no processo, mas nada que já não tivesse feito. Os anões agora dormiam tranquilamente no sofá, próximos a lareira, aproveitando o calor do fogo; Hinata e Naruto atravessaram a sala com cuidado para não fazer barulho, ela logo atrás.

Parou no batente e o fitou pelo que pareceu uma eternidade. A luz do luar iluminava a feição masculina; embora estivesse claramente cansado depois do longo dia que tiveram, continuava bonito, com o rosto cheio de ângulos proporcionais, as safiras azuis brilhantes e os ombros largos. Tinha que olhar para cima, já que era tão alto.

— Por que quer tanto que eu vá? — questionou, enfim, escorando na parede, cheia de curiosidade. — Você tem um monte de amigos príncipes. Eles poderiam te ajudar.

— Sinceramente? — observou-a concordar com a cabeça, depois enfiou as mãos nos bolsos, pensando naquelas palavras. — Eu não sei. Acho que me sinto mais seguro, sabendo que você usa magia.  

— Magia não é uma escapatória para tudo. — apertou os lábios. — Ajuda, claro. E muito. Mas nem sempre dá para recorrer a isso. É perigoso, até mesmo para quem a manobra. Caso não se lembre, daquela vez em que eu estava enfeitiçada..., Bom, foi um acidente que eu mesma causei, por um erro muito idiota.

Ele piscou sequencialmente.

— Você se enfeitiçou?

— É. — deu de ombros e pensou que, certamente, foi um golpe de sorte que Naruto estivesse passando por aquelas redondezas. Caso contrário, ainda estaria dormindo. — Meio que sim. O caldeirão parece gostar de explodir na minha cara, pelo visto. Hoje ele não sobreviveu ao estrago que o pelo de rabo de unicórnio causou.

Encararam-se longamente.

— E por que pelo de rabo de unicórnio causa isso?

Hinata deu de ombros.

— Tem propriedades explosivas.

Certo. Fazia sentido.

Aparentemente, esse se tornou só mais um motivo para Naruto continuar odiando unicórnios. Além de quase ser chifrado na infância, tinham propriedades explosivas no rabo... Não devia estar tão surpreso.

— Bom, amanhã eu volto. — olhou para o céu. As primeiras estrelas despontavam em uma vastidão escura. Azriel continuava no mesmíssimo lugar, pastando, entre as macieiras. Enxergou, em um galho, a coruja de Hinata, que o encarava cheio de curiosidade. — Vou trazer uns brinquedos, talvez isso acalme o pirralho. A propósito, qual o nome dele?

— Não faço ideia.

— Você nem perguntou? — havia um quê de indignação na voz do rapaz.

— Eu estava desesperada, — tentou se defender. Naruto, porém, sorria daquele jeito irritante e julgador. — nem lembrei que o pivete tinha nome.

— Você sabe que não pode ficar chamando-o de pivete para sempre, não é? — arqueou as sobrancelhas. — Por que não pergunta a ele?

— Para quê? — meneou a cabeça. — Ele corre de mim sempre que me vê.

— Lógico, você olha para ele como se fosse comê-lo no jantar.

— Eu jamais faria isso. — fez cara de nojo. — Não sou como minha avó.  

Ele piscou sequencialmente, imaginando que havia escutado errado. A expressão no rosto dela, porém, era a de quem falava sério.

— Espera! — arqueou as sobrancelhas, em choque. — Sua avó comia... crianças?

— É. Até construiu uma casa de doces no meio da floresta, para atraí-las. Parece suspeito, mas funciona. — revelou, muitíssimo infeliz. — Eu mesma quase fui uma vítima quando tinha cinco anos. Minha mãe a manteve longe de mim até a pré-adolescência, só a partir daí conseguimos conviver em plena harmonia.

Ok, ele nem sabia o que dizer.

A situação era tão bizarra que não havia palavras.  

— Sua família parece ser bem problemática.  

— Você não faz ideia.

Houve um silêncio longo entre os dois.

— Acho que vou indo, Hinata.

— Nos vemos amanhã.

Ele virou as costas e começou a andar com passos largos até o cavalo.

Hinata não soube o que a impulsionou a fazer o que fez. Poderia ter ficado quieta, vendo-o partir, mas não conseguiu. Havia algo dentro dela que a levava a cometer esses pequenos deslizes. Primeiro, quando o conheceu e ele pediu para que o ajudasse a encontrar o local que tanto procurava. Hinata subiu naquele cavalo sem sentir um pingo de medo, sem saber ao certo o porquê. E, agora, isso.

Não se tratava de sentimentos. Era algo maior, inexplicável, do qual não tinha controle. Uma vozinha em sua cabeça, que dizia que o caminho certo era aquele – mesmo que soasse como loucura.

Queria – e deveria – se conter, contudo, não conseguiu.

Foi mais forte que ela.

— Ei, Encantado! — ele virou repentinamente ao ser chamado, claramente surpreso, embora sustentasse o desagrado na feição por conta do apelido. Hinata respirou profundamente, sentindo as mãos formigarem. — Vou pensar. — ele abriu a boca e arqueou as sobrancelhas. — Vou pensar na sua proposta. — Os olhos azuis brilharam lindamente, esperançosos, e ela se sentiu uma idiota por estar dizendo algo assim. — Mas não fique felizinho demais com isso. Não estou concordando com nada.

— Ainda.  — apesar da provocação, o sorriso alargou-se, com uma sinceridade genuína. — Obrigado.

Observou-o subir no cavalo, sentindo-se estranhamente aliviada. Não havia como explicar a sensação. Sensação de dever cumprido, de fazer o que era certo, mesmo que não fizesse o menor sentido.

Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos, e entrou dentro de casa.

Certamente, devia ser só o cansaço.  

+

O castelo estava em absoluto silêncio quando Naruto chegou, provavelmente todos dormiam. Após levar Azriel ao estábulo, o príncipe atravessou as portas da entrada, sendo recebido pelos guardas, e tratou de caminhar pelos corredores, torcendo para que todos estivessem suficientemente ocupados para não notar sua falta durante o dia. Devia ser cerca de meia noite e, mesmo que tivesse jantado na casa de Hinata, ele acabou direcionando-se até a cozinha do palácio, ainda com fome.

O cômodo era amplo, bem arejado e a luz brilhava no chão de mármore, impecavelmente limpo, como se os empregados passassem o dia inteiro esfregando-o. Havia armários por todos os lados, cinco fogões e um bocado de ingredientes em potes, espalhados pelos balcões. Os cozinheiros já dormiam na tranquilidade de seus quartos e a cozinha estaria completamente vazia se não fosse pela presença inusitada de Karin, sentada na mesinha dos empregados, usando pijamas de bolinha e com um pote de sorvete entre as pernas.

Para completar o pacote, estava chorando, levando as colheradas até a boca, em uma cena muito patética.

— Sério que você está acordada uma hora dessas, chorando por causa do Sasuke?

Ela o encarou com a mesma expressão furiosa da mãe. Nas horas de raiva, as duas conseguiam ser insuportavelmente parecidas.

— O que foi? — ela fungou, com o nariz vermelho. — Veio até aqui só para debochar da minha cara?

— Que mal humor é esse? — abriu a geladeira, encontrando fast-food, churrasco, pizza e toda a comida medieval que se pode esperar de um grande conto de fadas. — Só vim fazer uma boquinha.

— Por onde andou? Você saiu do nada, não avisou ninguém... O papai quase morreu de preocupação.

— Isso, minha cara, — optou por um enorme pedaço de bolo. Quase gemeu de satisfação ao provar do doce, então fitou a irmã por cima do ombro. — não é da sua conta.

— Estava com a Renara. — não foi uma pergunta.

— Para a sua informação — escorou no balcão, segurando um rolar de olhos. — é Hinata. E, sim, eu estava com ela. — deu outra mordida no bolo para, então, encarar os olhos avermelhados da caçula. — Digamos que problemas surgiram, continuaram e foram superados.

— Que problemas?

— Você não vai querer saber.

— Ah, acredite, eu quero. Você sabe que essa é a frase universal para atiçar a curiosidade alheia.

— A verdade é que você não consegue ficar um minuto sem saber das coisas. 

— Independente do motivo, — revirou os orbes, apontando a colher na direção dele, com uma expressão emburrada. — é o mínimo que você deve fazer, já que te encobri o dia inteiro. Isso mesmo, querido, — sorriu em satisfação ao ver a expressão incrédula no rosto dele. —  tive que inventar a maior desculpa para a mamãe não colocar a guarda-real inteira atrás de você. Ela está uma fera.

— Só porque saí?

— Não sei nem quero saber. A ignorância é uma dádiva quando se trata de dona Kushina. 

Naruto ponderou as palavras, meio desconfiado, mas acabou contando os detalhes sórdidos do que aconteceu durante todo o dia – excluiu, evidentemente, a parte em que pediu para que Hinata fosse com ele na missão porque, bom, é vergonhoso admitir que não conseguiria completar seu único dever sozinho.

— Então, ela reagiu normal quando soube que você sabia que ela era uma bruxa?

— Sim.

— Ok. Odiei o plot twist, esperava por algo mais dramático.  

— Fala isso porque não é com você. — murmurou, desgostoso. — Sete anões e um bebê chorão não é suficientemente dramático?

— Você não entendeu. Eu queria choro, brigas e reviravoltas.

— De brigas e reviravoltas já basta esse seu relacionamento com o Sasuke.

Ela fechou a cara, estufando as bochechas.

— Eu já tinha esquecido esse maldito.

— O que ele fez dessa vez?

— Sinceramente, — deu de ombros, levando outra colherada até a boca. — o mesmo de sempre. Fui tirar satisfações com ele do porquê teve a coragem de mentir para mim que tinha uma namorada... Não acabou bem.

Naruto suspirou, descrente.

— Eu preciso mesmo te dar mais conselhos?

— Não precisa. — murmurou, emburrada. — Você sabe que só desisto de algo depois que quebro a cara, no mínimo, umas cinquenta vezes.

— O problema é que você quebra a cara cinquenta vezes por semana. — ela franziu o cenho, contudo, não discordou. — Sério, Karin, qual o seu problema? Se o cara não te quer, e você sabe disso, por que continua insistindo?

— A esperança é a última que morre.

— A sua devia ter morrido há uns três anos, quando começou com essa palhaçada.

— Você é mesmo um pé no saco, em. Vaza daqui! 

Ele saiu entre uma risadinha, lambendo os dedos. Cansado e com o quadril doendo por passar tantas horas em cima do cavalo, o Uzumaki andou pelos corredores até o andar dos quartos. Foi um verdadeiro alívio encontrar a porta que tanto almejava; a mente planejou todos os passos seguintes. Tomaria um longo banho quente, colocaria um pijama confortável, então se jogaria na cama, entre os travesseiros, pronto para afundar em um mundo de sonhos. Só de imaginar sentiu uma sensação quentinha dentro do peito.

Infelizmente, nem sempre tudo ocorre como planejamos.

Principalmente se tratando de Naruto.

Assim que empurrou a porta, os olhos arregalaram e o queixo caiu. O quarto estava o mesmo, cheio de móveis lustrosos, contudo, no centro do cômodo, sentada em uma cadeira desconfortável, Kushina ostentava uma expressão muito infeliz.

O fato de ela estar com vários bobs na cabeça, pantufas e usando um roupão ridiculamente rosa, com a cara cheia de creme verde não tornou a situação mais agradável. 

Minato, atrás da esposa, parecia igualmente infeliz enquanto fitava o primogênito, o braço direito sustentado em uma tipoia graças ao corte que recebeu no torneio do festival. 

A imperatriz cruzou as pernas.

— Olá, meu bem. — o mais jovem piscou sequencialmente, ainda surpreso com a repentina presença dos pais. — Pode me dizer o que significa isso? — só então ele reparou. Nas mãos, a rainha segurava a edição de Podres de Konoha, aberta especificadamente na página que falava sobre a “garota misteriosa”.

Naruto engoliu o seco. Kushina, por outro lado, carregava uma expressão assassina e Minato o mirava com pena.   

Soube, naquele instante, que estava em maus lençóis.


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Notas finais do capítulo

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