Blooming Flowers escrita por Onni


Capítulo 2
Clandestine Happiness


Notas iniciais do capítulo

Yooo! | ´・ω •`)ノ

Foi um longo hiatus, peço perdão por isso, mas com tantos pedidos resolvi trazer essa fic à ativa ;)

Eu passei por tanta coisa nesses últimos anos que essa fic foi meu conforto com essa aura doméstica, fluffy e tranquilla. Por ser um slowburn, me senti muito mais à vontade de escrever sem muita pressão. Então, caro leitor, espero que essa fic sirva como um refúgio, um conforto para você também.

Como tinha dito, tenho a maioria dos capítulos prontos, mas essa fic ainda não está terminada, portanto peço para que leiam de novo o cap 1 pq alterações foram feitas desde a última vez que postei.

Quero agradecer também pela paciência para comigo, tenho passado por uns bocados, mas estou tentando voltar ao meu ritmo.

OLHEM ESSA ARTE INCRÍVEL QUE A @Lyragirl FEZ DO CAPÍTULO 1 TAMBÉM < 33 esse presente veio como uma dádiva para mim e sou muito grata a ela.

Detalhes sobre a história e o capítulo vou deixar nas notas finais.

Sem mais delongas, boa leitura ~



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Felicidade Clandestina

 

Izuku finalmente poderia relaxar agora que Kacchan estava bem e seguro.

 

Surpresa era muito pouco para descrever o estado que ele ficou por encontrar seu ex-colega de classe e amigo de infância no meio daqueles escombros depois que o aroma de caramelo, canela, óleo de sândalo e auto-lubrificação cruzou com seus sentidos em sua busca por sobreviventes, afinal já não era tão impactante sentir o cheiro da auto-lubrificação em algumas das vítimas ômegas, porém o choque foi que o cheiro de Kacchan estava embutido à mistura. Sua parte alfa ficou totalmente em alerta e seu estômago apertou num medo cego desconfortável e gelado. Izuku chegou um pouco depois do desmoronamento onde o vilão foi detido, mas até conseguir identificar e salvar as demais vítimas, já havia anoitecido. Ninguém o havia encontrado ainda e a forte sensação de preocupação se instalou profundamente em seu âmago.

 

Suas expectativas foram confirmadas ao se aproximar da fonte e ser o que ele temia: era o cheiro puramente de Kacchan.

 

Onde estava? Onde? Ele profusamente usou o nariz respirando forte e potente, jogando os olhos para todos os lados na esperança de encontrar algo, qualquer coisa. Algum sinal, por favor.

 

Então o cheiro ficou mais forte, inundando sua cabeça com desespero num grito mudo de socorro. Ali.

 

Usando 20% do One for All, ele foi jogando para o lado todos os entulhos e destroços do caminho da fonte do cheiro levantando mais poeira no ar e causando barulho, cavou intensamente na esperança de enxergar nem que fosse um vislumbre sequer, só esperava que não fosse tarde.

 

Ele removeu o bloco de concreto de cima da fonte do cheiro, encontrando Kacchan ali. Ao mesmo tempo que ficou aliviado, seu alfa ficou angustiado com a visão.

 

Vê-lo sob os escombros não era nada com a imagem que ele estava acostumado de Kacchan, tão energético e expressivo, agitado e barulhento; era totalmente paralela desta dele imóvel e sem forças. Uma angústia sem igual o tomou por completo. Levou um momento para seu cérebro sair do transe da imagem que via e se recusava a aceitar com a realidade.

 

Quando ele puxou Kacchan do buraco com cautela, visivelmente este negou seu aperto e virou-se um pouco para revelar uma terceira figura. Izuku teve pouquíssimos segundos para superar a surpresa de Kacchan estar com seu filhote no local do acidente e de ele estar o protegendo tanto que queria que o filhote fosse resgatado primeiro. Refazendo a pegada, Izuku segurou Kacchan enquanto o ômega trazia o filhote firmemente agarrado em si e quando enfim em seus braços, o ômega relaxou e até encostou a cabeça em seu ombro agradecido.

 

Naquele momento, todos os sentimentos e pensamentos ruins esvaizaram-se relaxando seu interior com satisfação. Os instintos alfas estavam borbulhando animados e orgulhosos por ele ter conseguido achar o ômega com seu filhote e resgatá-los com segurança. Ele se sentiu um alfa tão bom e competente.

 

Izuku ainda tentou murmurar que agora eles estavam seguros esbanjando em sua voz o quão feliz ele estava por eles estarem bem, mas Kacchan parecia longe dali. Ele só reagiu quando tiraram a criança de seu aperto protetor, Izuku rapidamente tentou acalmá-lo e suas palavras fizeram efeito, ao mesmo tempo que partiu seu coração ver a criança indefesa e inconsciente sendo afastada com Kacchan lutando para tê-la.

 

Por mais que quisesse dar assistência ao seu amigo e secreta paixão, Izuku ainda tinha outras pessoas para resgatar e forçou para baixo todos os instintos orgulhosos em prol de continuar com seu trabalho.

 

No fim daquilo tudo, ele só pôde vê-los quando era alta madrugada. Ele chegou bem a tempo que iriam devolver o menino ao pai depois de todos os procedimentos médicos e descobrir sua estabilidade, Izuku se voluntariou a fazê-lo e por mais que a enfermeira quisesse negar por seu estado – sujo, empoeirado, sangrento, com suor seco e cheio de inúmeras bactérias –, ela acabou cedendo quando Izuku retirou as luvas e lavou as mãos para segurar a criança e colocou uma camisola por cima do uniforme imundo.

 

Uma das vantagens de ser o herói número um no ranking era isso.

 

Quando finalmente recebeu a criança em seus braços, Izuku a embalou com zelo. O menino deve ter reconhecido seu salvador, pois levantou o nariz curioso para farejar o ar e suspirou feliz se aconchegando nos braços fortes. Izuku queria chorar. Sua mãe sempre disse que ele era um alfa manteiga derretida e era verdade mesmo. Ele tinha o prazer em segurar crianças que acabara de salvar de volta para suas mães e responsáveis, ou simplesmente a dádiva de alguma pessoa que salvara lhe apresentar suas crias tão lindas e fofas. Seu desejo mais secreto era começar uma família, contudo havia seus poréns:

 

1- Seu posto de Pro-Herói №1 o impedia de ter espaço para uma vida pessoal.

2- Kouta de vez em quando vinha passar umas semanas com ele.

3- Ele ainda estava preso a um amor platônico de infância.

 

Kacchan conseguiu aquilo que ele mais almejava recebendo de brinde uma queda de 2º lugar no ranking de heróis para o 7º, aquilo o enfureceu tanto na época, mas agora Kacchan parecia estar em paz com isso.

 

E naquele momento, vendo esse lindo menino em seus braços, com a mesma fisionomia do pai, enchia-lhe de lágrimas boas com o sentimento radiante inflando o peito de trabalho cumprido, que duplicou-se por ser o filhote de sua paixonite.

 

Além de pai solo, Bakugou tinha que enfrentar a constante humilhação e discriminação sendo um ômega não reivindicado com filho além do seu trabalho de herói. Izuku não queria nem imaginar o peso que Bakugou carregava ao dia a dia nem se comparava ao cargo dele de herói №1.

 

Foi uma satisfação pessoal entrar no quarto que Bakugou estava alojado, com ele ainda dormindo, e devolver a criança para o lugar que ela pertencia. O cheiro estéril de produtos de limpeza, tristeza, estresse e cansaço logo foi substituído com um aroma saltitante de ômega contente. Izuku poderia dizer que nunca viu Kacchan tão em paz ao abraçar seu filhote.

 

A interação deles foi curta, porém o suficiente para reavivar seu amor por seu amigo de infância e satisfazer seu alfa interior de que sua matilha[¹] estava bem. E o agradecimento tão singelo e sincero de Kacchan antes de adormecer encheu-lhe de orgulho de um trabalho bem feito.





Quarta-feira, um de seus raros dias de folga.

 

Izuku preferiu aproveitar o dia para conversar com um dos poucos que sabiam sobre seu problema carinhosamente intitulado por seus amigos de "Conflitos Amorosos: Bakugou Katsuki": Todoroki Shouto. O outro alfa sempre foi tão neutro e complacente sobre esse assunto quando ocasionalmente descobriu anos atrás. A personalidade tranquila e indiferente muitas vezes deu luz para muitos dos problemas que Midoriya vinha lhe contar e pedir ajuda.

 

Aproveitou que Todoroki também estava de folga depois de uma longa missão para o chamar para tomar um drink na cafeteria que eles sempre marcavam de ir quando queriam desabafar e vice-versa.

 

Além de ser outro alfa, depois que Midoriya ajudou Todoroki com os problemas relacionados a seu dom e seu pai, ambos foram se aproximando até chegar a esse patamar de terem pontos de encontro regulares dependendo do assunto a ser tratado.

 

O relacionamento deles era confortável e totalmente aberto, e Izuku estava muito feliz em ter alguém a quem recorrer sem medos e dúvidas.

 

— Não sei não, Shouto. Sinto que esse encontro será minha perdição.

 

Todoroki tomou um longo gole de seu café gelado enquanto ouvia toda a história de alguns dias atrás.

 

— O que seu alfa está dizendo?

 

— Está dizendo que estou perdendo tempo, que eu já esperei mais do que o suficiente e que eu agora deveria tomar uma iniciativa.

 

Silêncio.

 

— Bem, você não acha que deveria ouvi-lo dessa vez?

 

— O que você quer dizer?

 

Os olhos heterocromáticos piscaram para ele como se o óbvio estivesse estampado em sua testa, Izuku piscou de volta não entendendo a indireta.

 

— Não estou insinuando nada, mas se é assim que você se sente, por que você não o convida para ficar em seu apartamento só até ele se recuperar?

 

Midoriya encarou Todoroki como se tivesse ofendido sua mãe enquanto tomou um gole de sua batida de kiwi.

 

Ok. Todoroki teria que ir com calma e explicar com clareza sua ideia ao amigo desesperado.

 

— Você sabe, Bakugou sofreu algumas fraturas e ganhou um afastamento por tempo indeterminado para poder se recuperar. Ele tem uma criança pequena ainda para cuidar, você não acha que ele irá precisar de alguma assistência?

 

Uma lâmpada acendeu sobre a cabeça do outro alfa. Depois que a realização passou por seu olhar, a incredulidade tomou seu lugar.

 

— Qual é, Shouto — começou com um sorriso cético de lado. — Estamos falando de Kacchan. Ele não aceitaria ajuda, principalmente a minha.

 

— Talvez.

 

Aquilo empurrou Midoriya contra uma parede metafórica.

 

— Qual o seu ponto?

 

— Se for realmente como você me disse, e conhecendo ele como conhecemos, há uma grande possibilidade d'ele pensar que agora está te devendo algo em troca disso.

 

— Shouto — chamou num tom descrente. — Ele odeia pedir ajuda ou admitir que precisa de alguma, mesmo que realmente precise.

 

— Você o conhece mais do que ninguém. Não passou por sua cabeça que talvez ele possa querer retribuir o favor? 

 

Algo clicou forte em sua mente, mas tão rápido quanto, Izuku o empurrou de volta com medo da possibilidade.

 

— O quê? Mas é o meu trabalho! Salvar pessoas!

 

— Diga isso para o ego dele.

 

Izuku riu sem humor. 

 

— Eu mal paro em casa se não para dormir e ainda tenho Kouta que ocupa setenta por cento do meu tempo quando ele vem. Não teria condições de trazer alguém debilitado com uma criança pequena.

 

— Sustento minha opinião de que ele aceitaria sem hesitar se você oferecesse.

 

— Shouto, não… — disse ele soando mais ferido do que realmente queria. — Pare de tentar me alimentar com esperanças. Não quero me aproveitar dele.

 

— Não estou dizendo que você vai se aproveitar dele, só estou dizendo as condições evidentes aqui. Bakugou não faria esse tipo de coisa?

 

— … Faria.

 

— E você não estaria se aproveitando dele se estiver oferecendo ajuda com sua recuperação. E outra, é temporário. Com certeza você pode lidar com isso. Lidou com o péssimo temperamento dele por todos esses anos.

 

Izuku bufou resignado claramente perdido a discussão.

 

— Tudo bem, tudo bem. Hipoteticamente falando, e se eu adotasse essa ideia? Não seria o mesmo que nada? Eu voltaria morto do trabalho e mal teria tempo para eles.

 

Todoroki encostou a bochecha no punho levantado apoiado na mesa e sorriu.

 

— Que pai atencioso você.

 

Izuku se engasgou com sua bebida, cuspiu tudo sobre a mesa e tossiu deploravelmente, o que só fez Todoroki sorrir mais com graça.

 

— Pelo menos seria melhor do que nada. Ele ainda poderia ir para a casa dos pais dele, mas a casa deles fica do outro lado da cidade, como você o visitaria com sua rotina super ocupada?

 

— Você tem razão — anuiu Izuku terminando de se limpar com o guardanapo.

 

E como Midoriya detestava que seu amigo tivesse razão. Tomando mais um gole de seu café esquecido, Todoroki continuou:

 

— Então seu apartamento é o mais viável. E outra, Bakugou não é uma criatura indefesa como você mesmo disse, ele sabe se virar e ainda teria Kirishima e os outros quando você não puder estar. Ele ficará bem.

 

Izuku se encolheu mais na cadeira, matutando tudo o que foi discutido até chegar a essa conclusão. Nisso, Todoroki segurou seu ombro.

 

— Tire alguns dias de folga, você tem trabalhado por anos a fio. Está na hora de você ter algum descanso, mesmo que seja só por causa disso. Mas lembre-se: você está fazendo isso pelo Bakugou, e não somente por você mesmo.

 

Houve um momento longo de silêncio que Todoroki quase podia ver as engrenagens funcionando na cabeça do amigo.

 

— E você acha que ele vai aceitar? — disse com olhos grandes e esperançosos.

 

— Faça a proposta, depois o resto conversamos.

 

Izuku cortou o encarar envergonhado e mordeu o lábio inferior pensativo.

 

— Tudo bem.

 



Izuku voltou no dia em que Bakugou receberia alta, uma semana depois do acidente. Ele pensou e repensou muito sobre tudo o que ele e Todoroki haviam discutido analisando a situação em todos os pontos de vista, agora que estava na porta do quarto de Kacchan, não tinha como voltar atrás.

 

Inspirando fundo tentando criar coragem, Izuku tentou limpar seu cheiro e pose de qualquer traço de nervosismo para não sobrecarregar mais o ômega.

 

Abrindo a porta vagarosamente, ele espiou dentro para ver se Kacchan estava acordado e o que encontrou fez coração bater rapidamente feliz.

 

Kacchan estava com a criança embalada em seus braços olhando-o com amor e serenidade enquanto mantinha a camisa de hospital levantada até a altura do peito para amamentá-lo. Viu Kacchan arrumar a posição da cabeça dele para ficar mais ereta, então puxou sua cabeleira loira para fora da testa aproveitando para esfregar os dedos na pele do bebê.

 

Ali mesmo, na porta do quarto, Izuku derreteu-se inteiro. A amamentação em público não era incomum, mas era tão íntimo entre mãe e bebê que Izuku acabou se sentindo um intruso querendo simplesmente sumir. Ter um Kacchan tão ameno e pacífico desse jeito lhe era extremamente inédito, ainda mais com esse olhar afetuosamente maternal, Izuku não estava pronto para isso e tudo atingiu-o de uma vez só como uma pancada.

 

Por Kacchan nunca falar sobre seu menino, era até comum que todos se esquecessem desse fato, como se nunca houvesse criança. Contudo, vendo essa cena agora, era praticamente impossível Izuku apagar essa futura memória e relacionar o Kacchan que conhecia a esse Kacchan completamente doméstico.

 

Izuku riu do pensamento. Se Kacchan soubesse disso, o daria um belo chute na bunda.

 

— Pare de murmurar assustadoramente por aí e feder o quarto. Isso é bizarro.

 

Oh-ho. Izuku foi pego.

 

Sorrindo querendo cobrir seu deslize, ele finalmente entrou fechando a porta.

 

— Como você está?

 

Sua presença chamou a atenção da criaturinha que abriu os olhos âmbar com interesse no intruso. Com isso, Kacchan esfregou o polegar entre os lábios da criança que largou o mamilo com um "pop" pequeno e concentrou-se em Izuku. Rapidamente Kacchan abaixou a camisa e ajeitou o menino para se sentar agora em seu colo pressionado contra o torso.

 

Era tão bom ver a criança acordada e totalmente recuperada diferente da maneira que Izuku o encontrou, ele teve que reprimir seu orgulho de trabalho bem feito e o ego alfa inflado para se manter formal aqui.

 

Então Kacchan finalmente lhe direcionou o olhar com uma sobrancelha arqueada.

 

— Você arrumou um tempo de sua patrulha só para vir me checar? Não sou feito de vidro, obrigado.

 

— Sim, eu sei. Na verdade eu… queria falar com você.

 

Kacchan deu um olhar de "e o que está esperando?". Izuku crispou os lábios olhando para a criança, reflexivamente Kacchan seguiu seu olhar e voltou a encará-lo desconfiado. Izuku pigarreou cortando o contato.

 

— Ahm… há pés descalços na sala gelada[²].

 

O olhar de Kacchan não vacilou e Izuku estremeceu de leve por não saber o que Kacchan estava pensando.

 

Depois de um longo momento, um dedo de Kacchan deslizou para o botão da enfermeira e Izuku suspirou aliviado.

 

Quando a enfermeira chegou para levar a criança, o menino resistiu se agarrando às roupas do pai fugindo das mãos da beta.

 

— Vamos, não seja teimoso — ordenou Kacchan sério. O menino virou o rosto. — Katsumi.

 

Katsumi.

 

Era esse o nome do menino. Agora Midoriya tinha um nome pelo qual chamar, sorriu com a pequena vitória.

 

— Não queira criar problemas. Vá.

 

— Ei, Katsumi — chamou Izuku ficando na altura da criança recebendo um olhar cauteloso de Kacchan que dizia "não se intrometa" que ousadamente ignorou. — Eu posso roubar seu pai por alguns minutos? Prometo que será rápido.

 

Ele recebeu piscadas curiosas em troca.

 

— Faria isso por mim?

 

Vagarosamente Katsumi acenou com os olhinhos esbugalhados e deixou que a enfermeira o pegasse, porém ele continuou olhando para Izuku fixamente por cima do ombro da enfermeira em curiosidade, Izuku acenou curto para ele com um sorrisinho convincente. Assim que a enfermeira saiu do quarto, houve silêncio.

 

— Kacchan, não minta para mim. Qual o seu quadro?

 

Ainda silêncio.

 

— Kacchan… eu só quero ajudar.

 

— Pra quê? — O aroma picante de canela superou a doçura do caramelo e cobriu quase totalmente o óleo de sândalo. — Eu não sou uma donzela delicada.

 

— Kacchan, eu sei…

 

— Então por quê? O que há com essa generosidade e cuidado de repente? — Ele mostrou as presas.

 

Com o repetindo silêncio de Izuku, Bakugou soltou um riso sarcástico.

 

— Eu já sei. Seus instintos alfas estão empurrando você a fazer isso depois que viu Katsumi? Depois de resgatá-lo, seu alfa pegou compaixão, é isso?

 

— O quê? Não!

 

— Então o quê? Ele não é seu filhote! Não vejo motivos de você estar aqui!

 

— Kacchan, eu não vim aqui pra isso! Eu só queria que você viesse para meu apartamento!

 

Bakugou pareceu atordoado por um momento, só para tornar a carranca pior e arregaçar mais os dentes.

 

Oh, porra…

 

— Não! Não desse jeito! — O rosto de Izuku ficou numa linda coloração de rosa. — Eu imaginei que com seus ferimentos, você iria precisar de alguma ajuda com, você sabe… com Katsumi. Por isso perguntei sobre seu quadro. Imaginei que poderia fazer alguma coisa por você, estou realmente pedindo isso como um amigo. Então…

 

A primeira reação que Bakugou teve foi cobrir o rosto com a palma soltando um longo e pesado suspiro.

 

— Por que o nosso primeiro encontro em semanas tem que ser através disso?

 

Antes que Izuku questionasse o estranho pronunciamento, Bakugou ergueu o olhar irritado para ele.

 

Não estou fazendo isso. Odeio que sintam pena de mim.

 

— Não é "pena", Kacchan. É solidariedade. Estou preocupado com você, na verdade, também estou preocupado com Katsumi. E mesmo que recuse minha proposta, não está pensando nele?

 

Kacchan estava ouvindo sem interrompê-lo, já era alguma coisa.

 

— Seria mais fácil assim, mesmo que meu tempo em casa seja muito curto. Ainda é um apartamento grande adaptado para reabilitação, já que vivo me machucando… — murmurou essa última parte. — E outra, vocês teriam Kouta lá, um amiguinho seria bom para ele e daria tempo para você se recuperar também. Você pode não aceitar por mim, Kacchan, mas e por Katsumi?

 

O rosto de Bakugou novamente estava ilegível, Midoriya mordeu o lábio em nervosismo. As narinas dele expandiram algumas vezes para captar alguma irregularidade no seu cheiro, porém não encontrando nada, Bakugou lhe deu um olhar duplo de cima para baixo.

 

Depois do que seria uma longa pausa, Katsuki finalmente disse:

 

— Se eu não te conhecesse desde sempre, diria que você está tramando algo.

 

Um sorriso brilhante explodiu na face de Izuku.

 

— Então isso é um "sim"?

 

Bakugou grunhiu incomodado com tanta alegria repentina.

 

— Minhas coisas estão no armário à esquerda.

 

Se Izuku pudesse, estaria saltitando feliz. Até que foi fácil convencer Kacchan, ele estava esperando uma conversa delicada e mais alguns gritos. Mesmo assim, Izuku estava contente por ter dado certo.

 

Kacchan estaria se mudando com ele até o final do dia.





Como Bakugou recebeu alta ainda de manhã, eles tiveram que passar no apartamento do outro Pro-Herói para pegar roupas, suprimentos e qualquer coisa que Bakugou precisasse por pelo menos algumas semanas.

 

Sim, semanas. O quadro de Kacchan era seguramente estável, os dons dos médicos e médicas ajudaram significativamente em sua cura, porém isso custou sua energia, vitalidade e toda disposição. Kacchan não corria risco algum agora, porém imunologicamente falando, seu corpo e organismo estavam enfraquecidos com tanto esforço e revitalização sendo gasta dele para se curar, por isso eles deixaram alguns ferimentos para se curarem sozinhos e não sobrecarregar seu corpo. Levaria ainda um bom tempo para Kacchan estar cem por cento, tudo o que ele precisava agora, era um bom e longo descanso.

 

Izuku deixou Kacchan ter o tempo que precisasse para arrumar e empacotar todas as coisas, resultando em três malas e duas caixas, as quais Izuku levou quatro mesmo com resistência por parte do loiro. De jeito nenhum Izuku estava deixando ele levar algum peso recém saído do hospital e com fraturas ainda sendo curadas. Bakugou estava determinado a não entregar aquela caixa que levava a Midoriya, então o alfa cedeu.

 

Quando Midoriya abriu a porta do seu apartamento, ele estava vazio com Kouta ainda estando na escola. Havia poucas coisas a serem arrumadas como a roupa em cima do sofá que Izuku insistia em deixar em suas saídas apressadas para o trabalho e a louça do café da manhã, fora isso, não havia bagunça para se envergonhar, mesmo assim ele disse:

 

— Ahm, aqui estamos. Lar, doce lar — soou bem mais incerto do que Midoriya esperava, então limpou a garganta e pegou as caixas deixadas de lado para as moverem para o novo quarto de Bakugou. — Sinta-se livre para deixar do jeito que desejar, o quarto agora e todo seu.

 

Os grandes olhinhos âmbar piscaram para ele.

 

— Ca-ham, de vocês.

 

Bakugou apenas acenou em reconhecimento e encarou firme sem mexer um músculo quando Midoriya deixou as caixas e malas no chão do quarto.

 

— Oh! Eu vou… fazer uma ligação, então eu… já volto.

 

Num piscar de olhos ele já estava na sala, com o coração batendo feliz no peito deixando um sentimento bom rolar sobre seu sistema nervoso o que o deixou em êxtase. Um sorriso bobo apareceu em vitória.

 

Kacchan estava em seu apartamento afinal e eles morariam juntos por algumas semanas. Izuku não deveria, mas estava tão empolgado com a ideia. O fazia lembrar dos velhos tempos, em que ele e Kacchan eram apenas dois garotinhos de quatro anos, um visitando a casa do outro, ficando para o almoço, brincando o dia todo, tirando cochilo às tardes, tomando banho juntos, assistindo a seriados e filmes do All Might e até compartilhando um mesmo colchão.

 

Sem gêneros secundários os separando. Nem dons. Ou qualquer preocupação.

 

A memória desses anos que mais pareciam um sonho distante já nem pareciam tão distantes assim.

 

Porém, Izuku não podia se iludir. Eles não tinham mais quatro anos, Kacchan não estava aqui para se divertir ou reavivar esses tempos antigos. E outra, Kacchan tinha um filho e estava aqui principalmente por ele. Izuku precisava cair na real.

 

Finalmente pegou no telefone para fazer a bendita ligação e não parecer mais suspeito com seu silêncio no meio da sala. Ligou para Kouta avisando sobre os novos moradores enquanto segurava o peito com um pesar.

 

Porque, na verdade, ele estava com medo de sua solidariedade acabar sendo uma máscara para disfarçar seu egoísmo. Ele se convenceu durante esses dias de que ele estava preocupado com o estado de seu amigo, ele ficaria bem na casa dos pais dele, mas e se Bakugou não quisesse ir para a casa dos pais dele e preferisse se cuidar sozinho como sempre fez?

 

Esse orgulho e imponência poderia prejudicá-lo, ainda mais debilitado e tendo uma criança para cuidar. Izuku estava se forçando a acreditar que estava fazendo o certo, ele fez a proposta e Kacchan aceitou quando poderia muito bem ter recusado. Era pelo bem de Kacchan e até Kacchan viu isso, então não tinha com o que ele se preocupar.

 

Certo?

 

Querendo se livrar desses pensamentos, ele chacoalhou a cabeça veementemente. Ele olhou ao redor ponderando qual seria a primeira coisa que arrumaria no apartamento, foi quando seu par de olhos verdes pousaram num projeto de Bakugou logo atrás dele, amassando a barra da camisa meio nervoso e o encarando com os olhinhos arregalados em curiosidade.

 

— Oi, Katsumi. Não te vi aí — disse amigavelmente chegando perto e se agachando para ficar na altura dele depois de averiguar que Kacchan não estava por perto, provavelmente arrumando as coisas para o novo quarto.

 

Na verdade, ele nem tinha ouvido a aproximação nem sentido o cheiro da criança, agora de perto o aroma dele ficou mais claro, era algo como baunilha, flor de laranjeira e… cedro? Combinação interessante apesar de estar meio acuado. Em troca Katsumi também o farejou levantando o nariz não tão discretamente, Izuku enviou tons calmos e receptivos de seus feromônios para não assustá-lo. Ao não identificar perigo, os olhos de Katsumi ficaram impossivelmente maiores.

 

— Você é o Herói Deku — emitiu ele impressionado e baixinho. Então era isso que ele estava olhando desde o hospital.

 

— Sim, eu sou — respondeu em mesmo tom como se fosse um segredo de Estado.

 

— É que eu só te vejo na tevê.

 

— Seu pai contou que trabalhamos juntos?

 

Katsumi acenou.

 

— Você nos resgatou do buraco. — Ele fez uma pausa olhando para os lados como se pensasse nas palavras, então franziu as sobrancelhas numa seriedade idêntica a de Kacchan. — Obrigado.

 

Izuku teve que morder a bochecha para não soltar um gritinho de fofura. Ele era tão educado e fofo muito diferente de seu pai que era a própria bomba relógio nessa idade, tão serelepe e imperativo. Kacchan fez um ótimo trabalho em criá-lo.

 

— De nada, mas seu pai que fez o maior trabalho protegendo você — respondeu solenemente e Katsumi concordou com um aceno curto. — Você acha legal morar junto do Herói Número Um?

 

— Uhum.

 

Pelo visto, assim como o pai, não era uma criança de muitas palavras.

 

— Quantos aninhos você tem mesmo?

 

Katsumi olhou para os dedos de sua mão, gesticulando incerto quais dedos levantar, Izuku esperou pacientemente. Por fim, ele levantou quatro dedinhos meio gordinhos, o alfa de Izuku vibrou alegremente.

 

— Que menino grande e esperto você é! Já despertou seu dom?

 

O menino assentiu meio empolgado.

 

— Você gostaria de me mostrar?

 

As sobrancelhas de Katsumi formaram um vinco igual a do seu pai e ele encolheu os ombros em uma pose típica de vergonha-submissão com o cheiro ficando meio receoso, Izuku retrocedeu e arrumou a posição numa mais ereta se sentindo desconfortável pela criança ter lhe mostrado esse tipo de reação. Tudo bem que ele era um alfa, mas Katsumi não precisava mostrar submissão ou vergonha a ele mesmo dentro de seu território. Isso lhe doeu um pouco, Izuku não queria fazer ele ficar acanhado ou inseguro.

 

— Está tudo bem se não quiser — anuiu calmamente enviando mais daqueles seus feromônios tranquilos, a criança visivelmente relaxou e abandonou a pose. — Que tal eu te mostrar o apartamento?

 

Aceitando o convite, Katsumi ergueu a mão gordinha indicando para Izuku guiá-lo, e Izuku o fez, a mãozinha era quente e macia, ele foi andando e apresentando ao pequeno novo morador o apartamento.



No fim do tour, Katsumi bocejou e esfregou os olhos cansados. Deveria ser estressante para ele toda aquela situação, o acidente, a recuperação no hospital, seu pai ainda meio debilitado, mudar-se para outro apartamento e ter outro alguém além de seu pai para conviver, o cheiro diferente do que da casa dele… a rotina dele virou de cabeça para baixo, o menino realmente precisava de um descanso.

 

Em seu aroma não emitia mais aquelas notas de receio e submissão, estava deveras pacífico e tranquilo agora, o que era um grande avanço porque se Katsumi não se acostumasse com um novo ambiente, seria bem pior para ele e poderia prejudicá-lo. Ainda bem que ele levou facilmente.

 

Izuku o deixou no sofá e ligou num canal infantil para distraí-lo só até chamar Kacchan.

 

Espiando pela porta aberta, Kacchan ainda organizava as coisas no quarto julgando de seu gosto, ele parecia concentrado e bem ocupado, portanto Izuku não o incomodou e foi até seu próprio quarto pegar algumas cobertas e travesseiros para Katsumi.

 

No momento em que voltou, a criança bocejou de novo e piscou os olhos cansados quase se fechando. Meio desajeitado, Izuku tentou montar o que seria um ninho no sofá, arrumando os cobertores e colocando travesseiros para ele não cair na borda, ele não sabia como Kacchan fazia isso já que eram os ômegas que montavam ninhos e ele tinha quase zero de experiência nisso, mas deu pro gasto. Katsumi pareceu gostar se acomodando nos cobertores fofinhos e esfregando as bochechas nos travesseiros para marcar seu aroma, ele farejou um pouco e choramingou por não ser o cheiro de seu pai, porém o cansaço o venceu e logo ele caiu num sono brando.

 

Izuku julgou isso como uma vitória e suspirou esfregando a testa para se livrar um pouco da tensão.

 

Katsumi era um bom menino. Talvez só um pouco acanhado e tímido considerando todas as circunstâncias, porém Izuku tinha fé de que logo, logo ele se adaptaria podendo ficar mais à vontade.

 

Tão rápido quanto, aquele ar de solitude que pairava no ambiente quase como uma segunda presença rapidamente foi roubado dele. Sua parte alfa vibrou, era de sua natureza alfa que ele gostasse de casa cheia, talvez esse ambiente vazio e quase sem vida estava o estressando demais, talvez ele não gostasse de chegar e não ter ninguém ali, por isso ele passava a maior parte do tempo fora? Kouta cobria essa falta e era bom vê-lo lá quando vinha passar um tempo com ele, fazia seus instintos ficarem quietos.

 

Logo os aromas de Kacchan e Katsumi fariam presença no lugar e cobririam seus anseios, mostrando que havia vida ali, falando para ele que tudo estava nos conformes.

 

Izuku tinha se esquecido como era estar tão em paz.


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Notas finais do capítulo

[¹] sua matilha: O alfa de Izuku considera Bakugou e Katsumi como membros de sua família.

[²] Há pés descalços na sala gelada: Metáfora usada pela minha família a se referir um assunto que crianças não deveriam participar.

Mas no Japão, eles deixam as crianças descalças em casa mesmo no frio para criar um tipo de resistência a resfriados. Então pra mim se encaixou aqui.

[³] Crianças podem mamar até os 5 anos no máximo, e as mamães podem produzir leite até esse período, afinal, é uma fábrica, enquanto o bebê não para de mamar, ela continua produzindo. Katsumi mama às vezes quando se sente estressado.

Link para a arte do capítulo: https://www.deviantart.com/jubslyra/art/Bakugou-and-his-Son-876782825

Bem, bem, bem! Os capítulos vão ser dividos em pov do Katsuki e Izuku, porque eu acho mais fácil mediar os sentimentos PORQUE SÃO MUITOS E EU AMO EU DRAMA

Digam-me o que acharam ;)

Obrigado por ler.



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