Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 84
Juízo dos Monstros-do-Mar


Notas iniciais do capítulo

O Capitão e sua tripulação descem ao fundo-do-mar onde são recebidos pelo terrível Ikatere, filho de Tangaroa. E ele lhes diz que a Relíquia do Mar somente será revelada se eles passarem pelas provas de coragem dos monstros do mar.



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A noite aos poucos cai naquela ilha do Pacífico; os tripulantes, cansados de tanto brincar no mar, finalmente se recolheram ao vilarejo para aproveitar o acampamento e um farto banquete oferecido pelos moradores da vila. O clima é ameno e as estrelas do hemisfério sul iluminam as árvores e o oceano daquela região. Distante daquela festa noturna em que todos estavam envolvidos, Meko Kaire prepara uma bonita canoa na margem de um lago cristalino em que cai uma linda cachoeira alta.

— Onde pensa que vai sem a gente? — perguntou a voz de June às suas costas.

E quando o Capitão olhou para trás, viu seus oficiais todos ali trajando suas sagradas Armaduras: June de Camaleão, Geist de Argo, Seiya de Pégaso e até mesmo a pequena Lunara tinha suas correntes negras nos braços, como sempre, mas agora também tinha proteções toscas de vime nas perninhas e um diadema que ela mesmo havia confeccionado à semelhança da Armadura de Andrômeda, embora fosse escura feito a noite. Era um grupo distinto e ele sentia-se com muita sorte de tê-los ao seu lado.

— Vou aos domínios de Tangaroa. — anunciou ele. — Enfrentar Ikatere e selar a Relíquia do Mar.

— Não vai sozinho. — falou Seiya, já colocando-se dentro da canoa, junto de Lunara.

— Ikatere é filho do deus do mar. Essa Relíquia não será fácil como as outras.

— Mais um motivo para que todos nós estejamos ao seu lado. — falou Geist.

June entregou a ele sua Urna de Prata de Cetus, pois, afinal de contas, se aquele destino era tão perigoso assim, era bom que ele também estivesse protegido. E ao ver eles todos na canoa especial esperando por ele, percebeu que nada que ele pudesse dizer os demoveria da ideia de seguí-lo pelas profundezas. Ele puxou a corrente de sua Urna, revelando a maravilhosa baleia que dava forma ao Cetus, e as partes de prata tomaram seu corpo. Ele pisou na canoa junto de seus oficiais.

— Ikatere é traiçoeiro e muito poderoso. O reino de Tangaroa são os domínios do fundo do mar, onde ele pode nos surpreender de qualquer lado ou profundidade. Estejam atentos.

O Capitão Kaire sentou-se na parte de trás da canoa; não havia ali pá alguma para que eles pudessem remar, mas a canoa imediatamente começou a deslizar pelo lago cristalino na direção da ruidosa cachoeira que caía de uma enorme altura, escondendo o paredão de rocha atrás de um véu de água. A canoa atravessou a cortina de água, mas nenhum deles se molhou, como se magicamente protegidos. E assim adentraram uma caverna de profundo breu, onde suas vozes ecoavam e o rugido da cachoeira ficava mais e mais distante para eles.

Uma luz azulada apareceu no fim daquele túnel e quando a canoa rompeu a escuridão para a luz, ficaram todos maravilhados.

Pois estavam no fundo no mar.

Ao redor deles, podiam notar peixes que nadavam sozinhos, cardumes à distância, grandes animais marinhos que por vezes cruzavam o horizonte ocêanico; abaixo da canoa que flutuava nas águas submarinas, podiam ver arrecifes e corais multicoloridos. Seiya, que estava na frente, olhou para trás e percebeu que todos eles tinham o mesmo rosto surpreso, com exceção do Capitão Kaire. 

Lunara estendeu a mão direita e percebeu que ela podia sentir a água do oceano um pouco adiante de si, pois era como se a canoa houvesse criado uma bolha de ar para que eles pudessem respirar. Era algo mágico e fabuloso.

À frente de Seiya manifestou-se uma esfera de luz no casco da canoa que lentamente flutuou à altura de seus olhos para que pudesse iluminar o caminho pelo oceano.

— Esse é o domínio dos monstros de Tangaroa. — anunciou Meko atrás deles.

A canoa descia ligeiramente pelo oceano pacífico, revelando ao redor deles a mais rica fauna marinha que podiam imaginar: arraias e tubarões, peixes enormes e peixes pequenos, polvos que podiam trocar suas cores contra os corais, cavalos-marinhos e um tanto de outras criaturas escondidas. Ao longe, ouviram todos o canto de uma enorme baleia que surgiu no horizonte apenas como uma sombra distante, nadando por detrás de uma montanha oceânica.

E era para esse monte submarino para onde a canoa lentamente se dirigia; onde viviam recifes, esponjas, corais, peixes e animais. Na sua base havia a entrada para uma outra caverna, uma boca escura por onde a canoa foi engolida. Mas esta via não era de puro breu, mas tinha certas aberturas na pedra que deixavam entrar relances do oceano lá de fora, como também havia peixes de bonita luminescência clareando o caminho aqui e ali.

Por sobre o barulho das águas que se moviam pelos peixes e os cantos distantes e lindos de uma baleia, revelou-se mais proximamente, como se brotado do coração da terra, um riso rouco e grave que a princípio poderia ser confundido com a madeira de antigos navios naufragados rangendo, até que finalmente ficasse claro ser alguém que parecia rir deles.

— Ikatere. — balbuciou Meko, para que todos pudessem ouvir.

As risadas vinham de todos os lados, é claro. Assim como veio sua voz.

— Que surpresa enorme tanta visita.

Meko Kaire viu no rosto de Lunara um certo medo e pediu para que eles não respondessem a nada.

— Achei que ficariam para sempre loucos com o canto das sereias. — falou novamente a voz.

Perceberam, então, que havia sido aquela entidade que havia enviado as sereias para confundirem seus corações no Galeão dias atrás.

— Então aquele foi um presente seu, Ikatere? — perguntou Meko à escuridão, enquanto a canoa seguia caminho.

As risadas tornaram-se ainda mais ruidosas e, de certa forma, surpresas.

— É mesmo o grande Meko Kaire que vem me visitar? 

O Capitão não lhe respondeu, mas as risadas continuaram a soar antes de sua voz se manifestar novamente.

— Diga-me, Meko Kaire. Ainda sente saudades dela?

E novas risadas.

Meko não respondeu, engoliu em seco e fechou os olhos, como se para trancar dentro do seu peito a raiva que já lhe começava a assaltar o coração.

— Será um enorme prazer recebê-los em meu salão.

A voz se calou, enquanto a canoa finalmente alcançou o fim daquele corredor para desembocar em um enorme salão aberto formado pelas rochas do oceano, iluminadas por esferas de luz, mas totalmente descoberto, de modo que, ao olharem para cima, podiam ver uma maior claridade com as águas do oceano. No meio dessa clareira havia um único trono muito bonito feito de conchas e mexilhões e, sentado nele, uma criatura do mar fabulosa: Ikatere.

Ele era metade homem, metade polvo, com oito tentáculos escuros, o peito forte como os dos homens da ilha e tatuagens oceânicas pela pele, bem como diversas cicatrizes de batalhas antiquíssimas. Em seu braço esquerdo ele tinha um bracelete de ouro no punho, mas seu braço direito era como se feito de água, translúcido e aquoso, mesmo debaixo daquele oceano.

A canoa para a alguns metros do trono, flutuando diante daquela criatura fabulosa, digna das histórias mais antigas contadas entre aquele povo. Todos colocaram-se em guarda naquela canoa flutuante, mas foi Meko quem levantou-se para falar àquele seu antigo rival.

— Ikatere, filho de Tangaroa! — começou ele. — Onde está a Relíquia do Mar?

O rosto da criatura torceu-se em um sorriso, movendo-se no trono, seus tentáculos enrodilhados nas conchas ao redor.

— Meko Kaire. — repetiu Ikatere de seu trono, sua voz grave como as profundezas do oceano. — Cada vez que Meko Kaire vem até mim, Meko Kaire quer algo diferente.

— Isso nada tem a ver comigo ou com você, Ikatere. Nem mesmo com Tangaroa, seu pai. Ou será que vai mesmo se reduzir a um mero guarda de Poseidon?

— Quanto veneno em suas palavras, Meko Kaire. — comentou a criatura. — O treme-terras pouco me importa.

— Pois então? — falou Meko, chamando ao seu orgulho.

— É verdade que não gosto nem um pouco de Poseidon. — começou Ikatere com um sorriso no rosto. — Mas, para o seu azar, eu gosto ainda menos de Tāne ou de Maui, de quem você descende.

— Com muito orgulho. — respondeu Meko, desapontado. — Já Tangaroa, seu pai, deve estar envergonhado com o que você se tornou.

Ikatere deixou seu trono de conchas e flutuou diante deles todos com uma aura dourada poderosa, os cabelos tremeluzindo na água e os tentáculos escuros iluminados. Seu rosto furioso.

— Dobre sua língua para falar de Tangaroa! — vociferou ele.

Geist notou atrás dela que Meko Kaire tomou impulso e também colocou-se diante de Ikatere flutuando no oceano. Seu cosmo de prata iluminando sua Armadura de Cetus.

— Eu falo a verdade. — falou o Capitão, encarando aquela criatura mitológica. — Tome esta chance para fazer algo digno e nos permitir selar a Relíquia do Mar que envenena o reino de seu pai.

Por um instante ficaram no oceano aquelas duas auras enfrentando-se pelo olhar diante dos olhos de Seiya e seus parceiros. Ikatere aproximou-se tanto de Meko Kaire que seus tentáculos estavam agora ao redor do Capitão, mas muito próximo ele viu como a ira de seu rival aos poucos amainou-se e ele novamente exibiu um sorriso de escárnio no rosto.

— Se querem tanto a Relíquia de Ouro, terão de se virar no domínio dos monstros. E assim, se quiserem selar Poseidon, terão de encarar os testes de Tangaroa.

Ikatere então aproximou-se do rosto de Meko para falar-lhe ao ouvido, para que ninguém mais ouvisse.

— Tente não perder ninguém dessa vez.

E sorrindo distanciou-se de Meko Kaire, nadando para longe, enquanto seu riso ecoava no salão. A concha que antes era seu trono também nadou para longe, enquanto os detalhes de mexilhões também nadaram para outro lado, abrindo passagem para a canoa dos tripulantes seguir viagem.

Meko Kaire retornou para ela e assim, novamente, a canoa moveu-se sozinha para a base daquela clareira, onde outra boca de caverna se abria para o fundo do oceano. E com o coração pesado, aqueles cinco Cavaleiros de Atena adentraram a caverna de Tangaroa, para encontrar e selar a Relíquia do Mar. 

 

—/-

 

Ao contrário daquele primeiro túnel para a clareira de Ikatere, essa caverna era completamente escura. Roubava toda a claridade que existia e mesmo a esfera de luz que aquela canoa especial conjurava não iluminava absolutamente nada além de seus próprios rostos, como se navegassem por um infinito. Mas embora nada pudessem ver, seus ouvidos ainda podiam escutar o ranger da canoa e o canto de baleias à distância.

Conforme avançaram, no entanto, algo extraordinário aconteceu. A água do oceano, que antes os envolvia por todos os lados, aos poucos parecia escoar ao redor deles como se esvaziada até que se reduzisse a um rio que corria debaixo da canoa.

E, conforme o rio se formava adiante deles, também a luz e as cores voltavam àquela caverna.

— Segurem-se todos. — pediu Meko, sua voz ecoada.

O rio, que antes era calmo, logo tornou-se de correnteza poderosa e revoltosa; desciam uma corredeira na escuridão e cada um segurava-se como podia dentro da canoa para não cair naquele estranho rio viscoso. Os gritos dos navegantes ali não podiam ser ouvidos por ninguém e tampouco suas habilidades podiam servir de qualquer coisa, pois estavam à deriva e chacoalhando de acordo com os humores daquele rio.

Até que se chocaram fortemente contra a pedra e a canoa espatifou-se em muitos pedaços, jogando-os à margem escura do rio; mas nem todos pareciam estar em segurança.

— Seiya! — gritou Meko. — Seiya!

Seiya estava sendo arrastado pela correnteza.

— Segure a corrente, Seiya! — pediu Lunara, jogando sua corrente escura para dentro do rio, envolvendo o punho do garoto que lutava para se manter acima da superfície.

A força do rio, no entanto, carregou Lunara pelo chão, mas Meko Kaire a segurou e conseguiu puxar Seiya em segurança até o rio.

— Você está bem, Seiya?

— Está tudo certo, Capitão, não se preocupe. — falou ele, ainda um pouco ofegante, mas em segurança.

A canoa estava totalmente destruída e os restos de sua barca ainda estavam presos a um pedregulho grande onde havia batido; podiam respirar normalmente e a caverna, embora escura, era magicamente iluminada pelo próprio rio, que descia poderoso mais adiante. Geist olhou ao redor e notou um corredor cortado dentro daquelas paredes úmidas.

— Veja. Há um caminho por aqui, Capitão. — disse ela.

— Precisamos chegar até o fundo dessa caverna. — falou Meko para todos. — Eu tenho certeza de que a Relíquia do Mar encontra-se lá. Todos estão carregando seus Selos de Atena? Muito bem. Nem que apenas um de nós chegue até lá, essa Relíquia precisa ser selada. — falou o Capitão para sua tripulação.

E todos concordaram.

Lunara confeccionou uma tocha com o que havia sobrado da canoa e com seus cosmos, eles fizeram com que o fogo os guiasse na mão do Capitão Kaire, que foi na frente de seu grupo.

A trilha não era tão estreita, de modo que podiam seguir caminhando próximos uns aos outros, em silêncio e muito atentos pelo caminho, quando passaram a ouvir um ronco baixo e grave ao redor deles que, por um momento, os fizeram parar a marcha para tentar encontrar a fonte daquele barulho. Era constante, mas curiosamente baixo. Somente quando Geist olhou para cima que ela notou o problema: o teto lentamente retrocedia até eles.

— O teto, Capitão! — falou ela, e Meko olhou para cima, adivinhando a armadilha.

— Corram!

E assim eles começaram a correr pelo corredor enquanto o teto lentamente descia para esmagá-los ali mesmo; não conseguiam ver a saída daquele corredor e tudo que podiam fazer era correr o mais rápido que podiam. A impressão era de que desciam mais e mais naquela caverna, mas o teto também descia mais e mais.

E quando finalmente viram que havia uma saída para aquela caverna antes que ela se estreitasse totalmente, o teto já estava quase à altura de Meko, o maior entre todos, de modo que ele precisou abaixar-se para conseguir seguir, até que não fosse mais possível: ele teve de tentar segurar o teto com os próprios braços fortes. Geist juntou-se a ele para tentar segurar o teto que descia.

— Corre, Lunara! — gritou Seiya à frente dela, e ele também ergueu os braços para tentar parar o teto.

Lunara saltou para fora da caverna e viu com terror como o teto teimoso ia descendo para esmagá-los naquela saída enquanto Seiya, Geist, June e Meko o seguravam.

— Não tem nada aqui! — gritou a pequena, imaginando que houvesse qualquer engrenagem para ajudá-los, mas nada havia.

— June, Seiya, corram! — ordenou Geist, atraindo o olhar de Meko para si. — Vamos destruir esse teto, Capitão.

— Não. — discordou ele, ao ver June e Seiya em segurança mais adiante. — Eu destruirei.

— Não vou te abandonar, Capitão.

— É uma ordem, imediata. Não pretendo morrer aqui. Vá de uma vez!

Geist finalmente saltou para fora da caverna e o peso todo fez com que os pés de Meko Kaire afundassem naquele terreno úmido, mas seu urro fez seu Cosmo de prata manifestar-se iluminando aquela caverna e ele deu um gancho no teto, quebrando totalmente a plataforma que descia, surgindo logo depois todo coberto de sujeira escura.

— Essa foi por pouco. — falou ele.

 

—/-

 

Aquele imenso corredor traiçoeiro deu para uma maravilhosa caverna multicolorida, iluminada por muitas pedras preciosas cortadas na parede, peixes de cores diversas, pérolas espalhas e a própria rocha, por vezes eram âmbares, outras de um carmesim profundo, ou púrpura como a noite, ou verde como os corais. Era como se caminhassem dentro de um caleidoscópio, de tal modo que o caminho não era óbvio, mas Meko liderava o grupo adiante de qualquer forma.

Ao caminharem, seus reflexos nas paredes coloridas e brilhantes davam a sensação para todos eles que um grupo enorme movia-se na escuridão, mas na verdade era apenas a sombra de cada um deles refletindo de forma mesmerizante contra as pérolas e topázios. Mas June, de todos eles, caminhava com o peito um tanto mais cuidadoso, pois não parecia ser apenas as suas sombras que se moviam naquela caverna.

— Isso está estranho. — comentou ela. — Eu sinto como se alguém estivesse nos observando.

— June tem razão. — concordou Meko. — Tomem cuidado.

Mal ele acabou de falar, Seiya foi ao chão, sentindo muita dor.

— O que aconteceu, Seiya? — perguntou Meko.

— Fui atacado. Alguém me empurrou, mas… eu não pude ver.

E então Geist foi ao chão.

— Miserável. — reclamou ela. — Não estamos sós.

— Juntem-se todos. — pediu Meko.

E eles juntaram-se mais próximos, com as costas uns para os outros. Para onde olhavam não havia ninguém, apenas seus reflexos nas paredes coloridas e brilhantes.

— Ai, Seiya, eu queria que minha corrente fosse igual àquela do Shun de Andrômeda, pra poder sentir o inimigo. — falou Lunara, segurando suas correntes escuras.

— Não é uma ilusão. — comentou Geist, que sabia bem sobre truques.

June e Meko trocaram olhares e ela apertou forte o cabo de seu chicote.

— Fiquem aqui. — pediu Meko, quebrando o círculo entre eles.

— Capitão. — alertou Geist, mas ele pediu que ficasse em silêncio.

Ele caminhou cuidadosamente até uma poça de água que havia próxima dali, quando June viu claramente como o ar ao redor da parede parecia mais espesso e ligeiramente fora de padrão; o vulto de luz avançou no Capitão, mas o chicote veloz da Cavaleira de Camaleão o capturou no ar antes que acertasse Meko. O Capitão imediatamente olhou para trás para vislumbrar uma criatura de pé, mas que parecia uma salamandra-oceânica, cuja pele agora trocava de cor velozmente, como se refletisse o desespero de ter sido capturada.

— Credo! — exclamou Lunara ao ver o bicho.

— Filho de Punga. — falou Meko.

June puxou o bicho com seu chicote e acertou uma voadora nele, jogando-o contra a parede. A criatura era veloz, mas antes que se escondesse nas luzes e cores, ela percebeu que continuava presa ao chicote da garota, que tirou um frasco de suas vestes e arremessou um pó vermelho como sangue em cima dela, que viu-se incapaz de esconder suas metamorfoses.

Em desespero, a criatura finalmente desapareceu daquela caverna, deixando a tripulação em paz.

— Estão todos bem? — perguntou Meko.

— O que era aquilo?

— Parecia ser uma salamandra. — comentou Seiya.

— Mas tinha a habilidade de se camuflar nesse lugar cheio de formas e cores. — falou Geist olhando para June. — Como um camaleão.

— Punga também era filho de Tangaroa, mas foi o primeiro a abandonar o velho mar para viver nas ilhas. Pode parecer piada, mas dizem que ele é o ancestral de tudo que é horroroso.

Geist, assim como todos, imediatamente olharam para o Capitão Kaire. Seiya encostou perto de Lunara e falou para todos ouvirem.

— O quê, Lunara? Claro que não, a Geist num tem nada a ver com o Punga.

— Ai, que idiota, eu não falei nada imediata Geist!

June deu risada e levantou Meko, que estava ajoelhado próximo àquela poça de água. Mas então sua risada não foi a única que se fez ouvir naquela estranha caverna brilhante, pois era como se eles não fossem os únicos a dar risada da piada de Seiya. Eram risadinhas muito finas, entrecortadas por um barulho distinto, como se algo clicasse enquanto riam.

— Será que aquela salamandra foi buscar seus amigos? — perguntou June.

— Não. — respondeu Meko de pé. — Estes são os ponaturi. São pequenos e inofensivos quando estão separados, mas estão sempre juntos e podem nos causar problemas. Vamos logo embora daqui.

O grupo concordou e seguiram caminho, saindo daquela caverna brilhante para uma charneca alagada, onde as risadinhas continuavam seguindo-os, mas sem fazer nada contra eles a princípio. No teto brilhavam estalactites em uma luz baixa e curiosa, dando um aspecto singular ao lugar, pois essa luz baixa refletia na água empoçada do que parecia ser um pântano. 

Cruzando uma lagoa maior e aparentemente mais profunda, havia uma ponte de madeira para onde Geist já se dirigia, quando o Capitão fez um alerta.

— Por aí não, imediata. — falou ele. — Eu tenho certeza absoluta que os ponaturi devem ter feito algo nessa ponte. Vamos dar a volta pela margem do lago. Vai demorar mais, mas será mais seguro.

Ao longe, o som sincopado dos cliques alternava com alguns risos abafadinhos das criaturas, que nem por um instante apareceram entre eles. Seguiram a indicação de Meko e caminharam em silêncio, mas tensos, pela margem do que parecia ser um lago. Quando evidentemente algo de errado aconteceu.

O chão em que caminhavam simplesmente cedeu. Tão subitamente que todos eles saltaram adiante com destreza e distância, afinal eram exímios Cavaleiros de Atena. Menos Lunara.

— Capitão! — chorou ela, que havia ficado para trás.

Entre o grupo e a pequena um abismo e, do outro lado do abismo, Seiya e o grupo viram como a pequena foi rodeada de criaturinhas verdes e horrorosas, que dançavam ao redor dela dando risada pela peça bem pregada.

— Lunara! — gritou Meko, tomando distância e pulando a imensa distância de volta até ela.

Meko conseguiu chegar exatamente diante de Lunara, mas o piso onde havia pousado também cedeu e ele caiu barranco abaixo, segurando-se em uma reentrância da pedra. Lunara ajoelhou-se e chamou por ele, enquanto o grupo do outro lado também desesperou-se ao ver o Capitão Kaire prestes a ser engolido pelo abismo.

— Segura as correntes, Capitão! — pediu Lunara, jogando-as no abismo.

Ele segurou, mas ela era fraca demais para puxar um guerreiro maori enorme como era Meko. E Meko sabia bem disso. Ele olhou para ela, seus olhinhos surgindo no alto do abismo com uma tristeza enorme no rosto; ele sentia que havia medo em seus olhos.

— Escute, Lunara. Eu preciso que você seja forte.

— Não, Capitão. Eu vou te puxar! — falou ela.

— Luna, desse jeito cairemos eu e você nesse abismo.

Ela olhou ao redor e não viu nada onde pudesse amarrar suas correntes para que ele pudesse usar sua própria força para subir; o Capitão Meko escorregou alguns metros a mais e, do outro lado do abismo, Seiya e June estavam desesperados, enquanto Geist já se preparava para saltar, quando June a impediu.

— Não vai conseguir. Mesmo sendo uma Cavaleira de Prata, serão vocês três no fundo desse abismo.

Lunara começou a chorar, pois não era forte como eles. E não percebeu que as pequenas criaturas verdes se amontoaram ao redor dela e da corrente escura. Ela abriu os olhos e assustou-se ao vê-los tão de perto, seus olhinhos de peixe muito pequenos, suas orelhas pontiagudas e os dentes serrilhados falando algo com ela, que a pequena não podia compreender, mas Meko sim. Ele envolveu a corrente na sua mão direita e sentiu que lentamente os ponaturi estavam puxando ele de volta; hábil, ele encontrou reentrâncias para ajudar na escalada e não demorou para estar diante de Lunara e os pequenos goblins.

Os dois extremamente aliviados.

Lunara o abraçou e Meko respirou fundo com a pequena no peito.

— Eu fiquei com muito medo. — choramingou ela. — Não queria que me deixassem pra trás.

— Eu jamais te deixaria pra trás, Lunara. — falou ele.

Ela estava ainda muito amedrontada por tudo aquilo e mesmo Seiya e June do outro lado do abismo estavam terrivelmente aflitos e respiraram aliviados quando viram o Capitão surgir outra vez do outro lado.

— Quanto a vocês, sumam daqui! — ordenou Meko para aquele grupo de ponaturi extremamente arruaceiros, que sumiram tal como apareceram, guinchando de medo, embora outros ainda dessem risadas.

O Capitão Kaire abraçou novamente Lunara para acalmá-la do susto e então levantou-se para falar ao grupo do outro lado do abismo, que ainda o esperava.

— Vocês precisam seguir em frente! — gritou ele. — Eu e Lunara tomaremos o caminho pela ponte!

— Tem certeza, Capitão? — perguntou Geist.

— Caímos na armadilha dos ponaturi. A ponte era o caminho mais seguro no final das contas. — respondeu ele. — Precisamos selar a Relíquia, nem que seja apenas um de nós. 

— Está certo. — concordou Geist. — Nos encontraremos na Relíquia!

— Escutem! — exclamou Meko. — Tomem muito cuidado com o labirinto dos portais! Há muitas armadilhas. Estejam precavidos.

Seiya e June olharam-se entre si, mas Geist garantiu que seguiriam com cuidado. 

E assim o grupo se separou. Seiya, Geist e June seguiram caminho ladeira abaixo para longe daquela charneca, enquanto Meko e Lunara voltaram pelo caminho do pântano para a ponte de madeira.


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Notas finais do capítulo

SOBRE ESSE CAPÍTULO: A segunda parte das aventuras na terra de Meko os leva para o fundo dos mares. Eu busquei inspiração em algumas criaturas e histórias dos povos polinésios tentando ao máximo me distanciar daqueles que aparecem em Moana. A ideia do grupo passando por várias armadilhas veio do episódio da Série Clássica onde Seiya e seus amigos passam por várias provações na Casa de Sagitário, inclusive o teto que vai baixando o Shiryu precisa quebrá-lo inteiro para salvar os amigos. =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: O CORAÇÃO DE TANGAROA

Meko e seus oficiais chegam ao final daquele teste dos mares e precisam travar uma batalha feroz para conseguirem selar a Relíquia dos Mares.



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